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INFORMAÇÃO E INTERSECCIONALIDADE NA BIBLIOTECONOMIA: A REPRESENTATIVIDADE POLÍTICA SOCIAL A PARTIR DE AUDRE LORDE

INFORMATION AND INTERSECTIONALITY IN LIBRARIANSHIP: THE SOCIAL POLITICAL REPRESENTATIVENESS FROM AUDRE LORDE

RESUMO

O presente artigo apresenta um panorama discursivo que busca apresentar à pessoa leitora um cenário possível e emergente na busca pela construção de um contexto epistêmico-político interseccional na Biblioteconomia brasileira. Tem como objetivo apresentar a representatividade política social e informacional de Audre Lorde nos movimentos sociais, destacando a forma como se constroem as narrativas alinhados aos marcadores sociais apontados, na Biblioteconomia brasileira. Como aspectos metodológicos deste estudo, desenvolvemos uma pesquisa bibliográfica, de caráter documental e exploratório, acessando produções de Audre Lorde e outras intelectuais negras interseccionais, além de estudos produzidos na Biblioteconomia sobre classe, raça e gênero. Por fim, apontamos que na Biblioteconomia, a busca pelo fortalecimento de novas discussões teóricas é um exemplo da necessidade do uso da interseccionalidade enquanto ferramenta analítica, visto que a hegemonia de certas teorias na formação da pessoa bibliotecária contribui/contribuiu para o crescente das desigualdades sociais, perpetuando a ausência de discussões interseccionais na prática da pessoa bibliotecária.

Palavras-chave:
Biblioteconomia; Representação política social; Interseccionalidade; Audre Lorde

ABSTRACT

This article presents a discursive panorama that seeks to present the reader with a possible and emerging scenario in the search for the construction of an intersectional epistemic-political context in Brazilian Librarianship. It aims to present the political, social and informational representation of Audre Lorde in social movements, highlighting the way in which narratives are constructed in line with the social markers mentioned, in Brazilian Librarianship. As methodological aspects of this study, we developed a bibliographical, documentary and exploratory research, accessing productions by Audre Lorde and other intersectional black intellectuals, in addition to studies produced in Librarianship on class, race and gender. Finally, we point out that in Librarianship, the search for the strengthening of new theoretical discussions is an example of the need to use intersectionality as an analytical tool, since the hegemony of certain theories in the formation of the librarian person contributes/contributed to the growing social inequalities, perpetuating the absence of intersectional discussions in the practice of the librarian.

Keywords:
Librarianship; Social political representation; Intersectionality; Audre Lorde

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta um panorama discursivo que busca apresentar à pessoa leitora um cenário possível e emergente na busca pela construção de um contexto epistêmico-político interseccional na Biblioteconomia brasileira. A interseccionalidade, como práxis crítica, possibilita a identificação e a correção de problemas sociais gerados por desigualdades sociais complexas, como o racismo e o patriarcado, com os aspectos classistas existentes.

Trazemos para o contexto desta discussão a voz política e alguns escritos de Audre Lorde, que buscaram criar alguns movimentos para impulsionar a luta pela promoção e estabelecimento da equidade social, produzindo ‘conhecimento’ como medida de luta e “instrumentos informacionais” como objetos para combater as opressões de gênero, classe e raça, articulando-as não como excludentes entre si, mas sim como opressões interseccionadas. Visualizamos na figura de Audre Lorde o protagonismo do feminismo negro decolonial que, de acordo com Vèrge (2020), reivindica uma teoria multidimensional do movimento feminista: antirracista, antipatriarcal, anticolonial e anticapitalista. Desse modo, esse estudo tem como objetivo apresentar a representatividade política social e informacional de Audre Lorde nos movimentos sociais, destacando a forma como se constroem as narrativas alinhados aos marcadores sociais apontados, na Biblioteconomia e Ciência da Informação brasileiras.

É esse território, onde autores da Biblioteconomia brasileira habitam, que definimos como o escopo deste estudo. O que estimula os pesquisadores da área a buscarem produzir discussões acerca das questões de gênero, de classe e raça? Quais são as narrativas? Essas discussões são apresentadas a partir de uma ótica interseccional? Ou elas são evidenciadas a partir de uma única perspectiva?

Para tanto, e em que pese os aspectos metodológicos deste estudo, desenvolvemos uma pesquisa bibliográfica, de caráter documental e exploratório, acessando produções de autoria de Audre Lorde (2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro).) e, também, de algumas de outras intelectuais negras interseccionais como, Patricia Hill Collins e Silma Bilge (2021COLLINS, Patrícia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021.) e Lélia Gonzalez (2020GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro Latino Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 375 p.), para colocarmos em discussão aspectos da interseccionalidade e do feminismo negro. Lançamos mão também de afirmações de autores considerados pós-coloniais ao abordarmos a questão da colonialidade, uma vez que discutir esse ponto a partir da perspectiva da colonialidade do saber é evidenciar a reprodução das lógicas econômicas, políticas, cognitivas, da existência, da relação com a natureza que foram forjadas no período colonial.

Para orientar os caminhos deste estudo, é evocando Audre Lorde e nos amparando em algumas de suas contribuições que propomos elucidar alguns apontamentos sociopolíticos a partir de uma ótica decolonial, com a intenção de trazer discussões preliminares voltados para um cenário interseccional também na Biblioteconomia brasileira.

2 CLASSE, RAÇA E GÊNERO: BREVES APONTAMENTOS PRESENTES NA BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Um dos debates mais difundidos na biblioteconomia brasileira é aquele relacionado à política como processo de análise, ação e tomadas de decisão no âmbito da prática acadêmica estudantil e docente, da prática profissional e da representação político-institucional (atuação dos órgãos de classe) de forma individual ou integrada. De acordo com Carvalho (2016CARVALHO, Jonathas. Tópicos em Biblioteconomia e Ciência da Informação: epistemologia, política e educação. Rio de Janeiro: Agência Biblioo, 2016.), existem múltiplos conceitos de política nas ciências humanas e na Filosofia. Este autor aponta que,

Pensar a relação entre Biblioteconomia e política, é promover sentido informacional à atuação da área. Não há garantia imediata de êxito expressivo, mas o primeiro êxito é o fortalecimento interno da Biblioteconomia enquanto corpus político. A informação para a Biblioteconomia tem seu sentido mais efetivo no contexto pragmático, ou seja, quando contribui direta ou indiretamente para determinados sujeitos ou grupos de sujeitos (Carvalho, 2016CARVALHO, Jonathas. Tópicos em Biblioteconomia e Ciência da Informação: epistemologia, política e educação. Rio de Janeiro: Agência Biblioo, 2016., p. 61)

No Brasil, Vieira (1983), Mostafa (1985MOSTAFA, Solange Puntel. Epistemologia da Biblioteconomia. 1985. 145 p. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1985.), Milanesi (1986), Souza (1993) e Almeida Junior (1997ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Participação política do bibliotecário ou Por uma biblioteconomia guerrilheira. In: ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São Paulo: Polis : APB, 1997. p. 89-93.), citados por Tanus e Silva (2019TANUS, Gabrielle Francine de Souza Carvalho.; SILVA, Daniela Cândido da. Biblioteconomia social, crítica e progressista. Revista Informação na Sociedade Contemporânea, Lagoa Nova, v. 3, n. 1, p. 1-28, 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/123997. Acesso em: 10 abr. 2023.
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), no estudo intitulado “Biblioteconomia Social, Crítica e Progressista: mapeamento da produção científica nacional e internacional”, apresentam uma intensa discussão sobre o

caráter social na Biblioteconomia e a importância de se afastar de uma base puramente tradicional, conservadora e tecnicista. Nesses textos, são levantados fortes questionamentos sobre uma biblioteconomia excludente, que se volta para organização dos acervos como uma atividade-fim e se abstém de uma discussão crítica relativa aos processos, aos instrumentos e aos serviços prestados pelas pessoas bibliotecárias, parecendo estar estes absortos do meio social. Esse olhar político-crítico referente à Biblioteconomia conduz a diversas denominações: Biblioteconomia Guerrilheira e Subversiva (Almeida Junior, 1997ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Participação política do bibliotecário ou Por uma biblioteconomia guerrilheira. In: ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São Paulo: Polis : APB, 1997. p. 89-93.); Biblioteconomia Crítica (Doyle, 2018DOYLE, Andréa. Ideologia e competência crítica em informação: um olhar para movimentos de biblioteconomia crítica. Revista Folha de Rosto, Juazeiro do Norte, v. 4, n. 1, p. 25-33, 2018. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/39843. Acesso em: 21 abr. 2023.
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); Biblioteconomia Social (Mostafa, 1985MOSTAFA, Solange Puntel. Epistemologia da Biblioteconomia. 1985. 145 p. Tese (Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1985.); Biblioteconomia Progressista (Moraes, 2018MORAES, Marielle Barros de. Biblioteconomia progressista: elementos para repensar a formação. Revista Folha de Rosto, Juazeiro do Norte, v. 4, n. [Especial], p. 5-14, 2018. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/119234. Acesso em: 21 abr. 2023.
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) e Biblioteconomia Política (Carvalho, 2016CARVALHO, Jonathas. Tópicos em Biblioteconomia e Ciência da Informação: epistemologia, política e educação. Rio de Janeiro: Agência Biblioo, 2016.).

Diante do exposto, e alinhando ao objetivo proposto desse estudo, apresentamos alguns cenários possíveis para visualizar de quais formas os autores da biblioteconomia brasileira, vêm discutindo classe, raça e gênero, aspectos políticos sociais, dentro do campo. Ressaltamos que esses autores foram destacados por serem autores que desenvolvem pesquisas relacionados aos aspectos políticos sociais que se conectam com os objetivos desse estudo e também são visibilizados/citados em outras pesquisas. Em se tratando de outras pesquisas, utilizamos como referência a pesquisa realizada por Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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), intitulado “Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial ”, onde a autora apresenta três cenários de discussões acerca dos marcadores aqui apontados (Quadro 1):

Quadro 1
Publicações científicas voltadas às perspectivas de classe

De acordo com o que foi contextualizado por Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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), o quadro apresentado aponta o envolvimento das pessoas bibliotecárias com os espaços de atuação: ensino, bibliotecas e no movimento associativo. Esses estudos evidenciam as mudanças de paradigmas no que tange suas posturas e atitudes enquanto profissionais da informação.

A mesma autora destaca duas pesquisas. Aqui, vamos ressaltar o estudo, intitulado “Responsabilidade Social em Biblioteconomia: caminhos históricos e possibilidades no ensino”, da bibliotecária e professora Marielle de Moraes (2021MORAES, Marielle Barros de. Responsabilidade social em biblioteconomia: caminhos históricos e possibilidades no ensino. Informação & Informação, Londrina, v. 26, n. 1, p. 112-135, 2021. DOI 10.5433/1981-8920.2021v26n1p112.
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), que buscou refletir acerca das contribuições das discussões da responsabilidade social para o ensino de biblioteconomia, abordando as vertentes de Responsabilidade Social presentes na história da American Library Association (ALA), apresentando os autores e a historicidade dessa área nos Estados Unidos, a fim de reconhecer a importância dessa disciplina no âmbito da formação dos bibliotecários no Brasil.

Em se tratando dos estudos voltados para a questão de raça, Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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) traz as seguintes pesquisas e seus respectivos autores (Quadro 2):

Quadro 2
Publicações científicas voltadas ás perspectivas de raça

O quadro exposto acima, de acordo com Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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), foi construído visando à promoção de práticas informacionais antirracistas para o combate ao racismo e ao fortalecimento da educação, além de discussões que fortaleçam os ideais do trabalho das pessoas bibliotecárias acerca das temáticas que possibilitem o desenvolvimento de ações que estabeleçam a equidade racial e social dos afro-brasileiros.

Além disso, a autora evidencia a variedade de produções que buscam pelo protagonismo das pessoas afro-brasileiras e indígenas, a preservação dos seus saberes e o acesso e a produção da informação e do conhecimento étnico-racial. Diante disso, foi destacado a produção que relaciona raça e classe: “Afrocentricidade: discutindo as relações étnico-raciais na biblioteca”, da bibliotecária Elisangela Gomes (2016GOMES, Elisangela. Afrocentricidade: discutindo as relações étnico-raciais na biblioteca. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 21, n. 3, p. 738-752, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/71694. Acesso em: 21 out. 2021.
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), que nos traz olhares voltados tanto para a atuação da pessoa bibliotecária como mediadora da informação (classe) como para a importância das discussões acerca de atuações afrocentradas (raça) nas bibliotecas, a partir do que é preconizado pela teoria da afrocentricidade.

Por último, Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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) traz o quadro, onde foram apresentadas pesquisas que abordam a questão de gênero (Quadro 3):

Quadro 3
Publicações científicas voltadas as perspectivas de gênero

Vê-se, acima, algumas produções que mostram questões ligadas às discussões sobre gênero na biblioteconomia, visto a necessidade de fomentar estudos e debates voltados às teorias feministas, à violência de gênero sofridas pelas mulheres, ao acesso à informação pelas pessoas da comunidade LGBTQI+ e à forma como essas estão organizadas (Silva, 2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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).

Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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) evidência, neste marcador, o trabalho “Gênero e sexualidade na biblioteca escolar: algumas reflexões” escrita pelas pessoas bibliotecárias Guilherme Martins e Daniella Pizarro (2018MARTINS, Guilherme; PIZARRO, Daniella Camara. Gênero e sexualidade na biblioteca escolar: algumas reflexões. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 175-188, 2018. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/66555. Acesso em: 22 out. 2021.
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), onde os autores apresentaram a importância do papel da pessoa bibliotecária no processo de ensino-aprendizagem das questões que envolvem a temática de gênero e sexualidade na escola.

Analisando as produções apresentadas nos quadros acima, observa-se a preocupação com relação à atuação da pessoa bibliotecária com o contexto social e a sua consciência de classe e, a necessidade de, a partir das práticas informacionais, combaterem as desigualdades sociais evidentes no contexto brasileiro. Mas, como pode ser verificado, algumas produções trazem discussões sobre raça e gênero ou gênero e classe, ou apenas dão ênfase a um desses marcadores sociais. Não encontramos, no universo investigado, uma produção que retrate esses marcadores a partir da perspectiva interseccional, que intersecciona e tensiona raça, gênero e classe dentro do campo da biblioteconomia.

Assim, é a partir desse ponto que buscaremos destacar a interseccionalidade trabalhada por Audre Lorde e sua conexão com a biblioteconomia, com a informação e com a política.

3 A INFORMAÇÃO INTERSECCIONAL A PARTIR DE AUDRE LORDE

Diante do exposto, percebe-se que existe uma intenção da classe bibliotecária em atuar fortalecendo uma postura política e socialmente consciente, em prol do engajamento com o compromisso social, redução da desigualdade e das injustiças por meio de intervenções responsáveis, com o intuito de relacionar as práticas biblioteconômicas com as realidades existentes. Para tanto, é necessário que o profissional de Biblioteconomia esteja atento a essas realidades, como, por exemplo, às Diversidades. Por isso, Almeida Junior (2018ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. O bibliotecário é um profissional apolítico? In: SPUDEIT, Daniela; PEREIRA, Danielle Borges; LOBÃO, Irajayna de Sousa Lage; DAVID, Jéssica Glienke (org.). Formação e atualização política na Biblioteconomia. São Paulo: ABECIN Editora, 2018., p. 272) nos levanta alguns questionamentos:

Quantas são as mulheres que conhecemos na história da Biblioteconomia antes e no século XX? Sei que esse não é um problema apenas da Biblioteconomia. Por ser um problema geral, devemos deixá-lo de lado, entendê-lo como uma questão para outra área? Quantos são os pesquisadores da área da Biblioteconomia que se preocupam com as questões de gênero?

Posto isso, gostaríamos de trazer ao debate os ensinamentos da bibliotecária norte-americana Audre Lorde. Audrey Geraldine Lorde, nascida em 18 de fevereiro de 1934, em Nova Iorque, era apaixonada por poesia e literatura e estudou Biblioteconomia na Universidade de Hunter College entre 1954 e 1959. Trabalhou em diversos espaços laborais, chegando a atuar como operária de fábrica e técnica de raio X.

Em 1961, obteve o título de mestre em Biblioteconomia pela Universidade de Columbia e passou a atuar na Biblioteca Pública de Mount Vernon, em Nova Iorque. No ano de 1962, casou-se com Edward Rollins, com quem teve dois filhos. Entre 1966 e 1968, atuou como bibliotecária-chefe em uma escola de Nova Iorque e, em 1969, começou a lecionar no Lehman College. Em 1970, tornou-se professora de literatura no Jonh Jay College. Ainda na década de 1970, tornou-se editora de poesia no jornal feminista Chrysalis (em 1977). No ano seguinte, 1978, foi diagnosticada com câncer de mama.

Em 1980 fundou, junto com a escritora Barbara Smith, a editora Kitchen Table: Women Collor Press, para disseminar a produção de feministas negras dos Estados Unidos e em 1981, foi nomeada professora no programa de escrita criativa da Hunter College. Três anos depois, foi diagnosticada com câncer de fígado e, mesmo assim, continuou atuando como professora na referida Faculdade. Nesse mesmo ano, 1984, foi convidada para trabalhar como professora convidada na Universidade Livre de Berlim e começou a colaborar para a construção do movimento feminista afro-alemão, onde atuou até o final dos anos 1980, quando se mudou para Saint Croix, uma ilha no Caribe, e lá permaneceu até 1992, ano de seu falecimento. Todos seus arquivos pessoais, incluindo escritos não publicados, foram doados para a Spelman College, integrando as coleções especiais da biblioteca da instituição, em Atlanta, Estados Unidos da América. Uma coleção constituída por correspondências, artigos de jornais, livros e outros materiais produzidos por Lorde em vida e por seus biógrafos.

Suas teorias foram desenhadas na década de 1960, onde a mesma buscou elaborar narrativas críticas em relação a forma como se manifestavam os movimentos feministas da época, pois, para ela, esses movimentos focavam apenas em experiências particulares e individuais das mulheres brancas de classe média e tinham características relacionadas com a “teoria da diferença”. A oposição binária entre homens e mulheres, para a Lorde, era reducionista e não alcançava todas as demandas das mulheres.

Para ilustrar melhor o cenário observado por Lorde à época, Collins e Bilge (2021COLLINS, Patrícia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021., p. 17) apresentam o seguinte:

Nas décadas de 1960 e 1970, as ativistas negras estadunidenses enfrentaram o quebra-cabeça que fazia suas necessidades relativas a trabalho, educação, emprego e acesso à saúde simplesmente fracassarem nos movimentos sociais antirracistas, no feminismo e nos sindicatos que defendiam os direitos da classe trabalhadora. Cada um desses movimentos sociais privilegiou uma categoria de análise e ação em detrimento de outras: por exemplo, raça no movimento em favor dos direitos civis; gênero no movimento feminista; classe no movimento sindical. Considerando que as afro-americanas eram também negras, mulheres e trabalhadoras, o uso de lentes monofocais para abordar a desigualdade social deixou pouco espaço para os complexos problemas sociais que elas enfrentam.

Audre Lorde direcionou seus trabalhos poéticos e teóricos à discussão das diferenças existentes dentro do grupo de mulheres, como, por exemplo, as questões raciais e de classe. Dentro do universo do feminismo negro decolonial, a escritora tornou-se uma referência para compreender a questão da subjetividade como algo constituído pelas multiplicidades das mulheres e de suas opressões. Como mulher negra, lésbica, socialista, mãe de dois filhos, no artigo Não existe hierarquia de opressão”, publicado no Interracial Books for Children Bulletin14, em 1983, e encontrado no livro “Sou Sua Irmã” (Lorde, 2020), a autora afirmou que:

Com minha presença em todos esses, aprendi que a opressão e a intolerância com a diferença podem se manifestar em todas as formas, cores e sexualidades; e que, entre aqueles com quem compartilhamos os objetivos de libertação e de um futuro possível para nossos filhos, não podem existir hierarquias de opressão (Lorde, 2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro)., p. 63).

Foi através da literatura, da poesia e de seus discursos que ela evocou a existência das diversas diferenças presentes nos contextos sociais, para que os “diferentes” pudessem se organizar para criar estratégias de ações que promovessem o combate às discriminações (o racismo estrutural, a homofobia, o classismo, o etarismo etc.).

Além disso, defendeu o autoconhecimento como meio de preceder o entendimento e estabelecer novas ferramentas destinadas à ação e à transformação. Lorde acreditava na potencialidade das palavras, escritas e faladas, para a promoção da disseminação da informação e do conhecimento.

No que se refere à representatividade, Audre Lorde, no texto Minhas Palavras Estarão lá”, publicado em 1983 numa obra organizada por Mari Evans, intitulado Black Women Writers (1950-1980): A Critical Evaluation, também encontrado no livro “Sou Sua irmã” (Lorde, 2020), destacou o seguinte:

Escrevo sobretudo para aquelas mulheres que não falam, que não verbalizam, porque elas, nós, estamos aterrorizadas, porque fomos ensinadas a respeitar mais o medo que a nós mesmas. Fomos ensinadas a respeitar nossos medos, mas devemos aprender a nos respeitar e a respeitar nossas necessidades (Lorde, 2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro)., p. 79).

E mais:

Agora, quando uma comunidade literária é oprimida pelo silêncio exterior, como os escritores negros são na América, e ocorre esse tipo de insistência tácita em uma definição unilateral do que é “negritude” ou do que ela exige, então alguém está efetiva e dolorosamente silenciando algum dos nossos talentos mais criativos e dinâmicos, pois toda mudança e todo progresso interior vêm do reconhecimento e do uso da diferença entre nós (Lorde, 2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro)., p. 80).

Podemos afirmar que a escrita de Lorde tem por finalidade promover o olhar atento ao registro das narrativas produzidas pelas pessoas negras e o quanto o registro e a disseminação desses registros podem servir como instrumento emancipatório. O quanto a informação produzida pode e deve servir como mecanismos de liberdade, de combate a qualquer tipo de opressão.

Guimarães (2019GUIMARÃES, Maíra. Os efeitos de narrativa de vida em escritas feministas: uma perspectiva racial e de classe. 2019. 213 f. Tese (Doutorado em Linguística) -Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/LETR-BAPRKL. Acesso em: 23 jul. 2024.
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) aponta que as teorias de Lorde foram desenhadas na década de 1960, criticando movimentos feministas que focavam apenas em experiências particulares e valores de mulheres brancas da classe média. A autora, em suas reflexões, afirma que o silenciamento de existências, vivências, experiências e vozes de mulheres negras se deram pelo fato de muitas autoras feministas, que se situam na vertente do feminismo branco/clássico, tratar o grupo de mulheres como um grupo que é sólido, estável e homogêneo. Ao longo do tempo, o olhar de Lorde passou a enxergar também os contextos vivenciados pelas mulheres negras no âmbito do trabalho, fechando a relação interseccional entre gênero, raça e classe.

Guimarães (2019GUIMARÃES, Maíra. Os efeitos de narrativa de vida em escritas feministas: uma perspectiva racial e de classe. 2019. 213 f. Tese (Doutorado em Linguística) -Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/LETR-BAPRKL. Acesso em: 23 jul. 2024.
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, p. 90), apresentando um olhar sobre o pensamento de Audre Lorde, afirma que:

Ao se tratar das mulheres negras, portanto, não devemos deixar de relacionar a questão racial, a questão de gênero e a questão de classe simultaneamente. Com isso, nas reflexões de Lorde, começa-se a construir e definir uma teoria que será nomeada e ampliada pela autora Kimberle Willians Creshaw, em 1991: a interseccionalidade.

Vale trazer outras referências que dedicam o seu trabalho em apresentar os aspectos da interseccionalidade. Collins e Bilge (2021COLLINS, Patrícia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2021., p. 15) apresentam o seguinte:

A interseccionalidade investiga como as relações interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana. Como ferramenta analítica, a interseccionalidade considera que as categorias de raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e faixa etária são inter-relacionadas e moldam-se mutuamente. A interseccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências.

Ainda sobre a interseccionalidade, Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, p. 210) afirma que:

Vemos a interseccionalidade como forma de investigação crítica que invoca um amplo sentido de usos de estruturas interseccionais para estudar uma variedade de fenômenos sociais, fenômenos esses que colocamos em destaque na [Biblioteconomia e Ciência da Informação] BCI quando se estuda e discute as políticas educacionais (lei 10.639/03 por exemplo), os estudos sobre feminismo, o protagonismo social, a biblioteconomia negra, as relações étnico-raciais, as políticas de memória e informação, a literatura afro-brasileira dentre outros, todos a partir da ótica das teorias pós coloniais.

Diante deste quadro conceitual a respeito da interseccionalidade, podemos afirmar que essa é uma ferramenta importante que ajuda a conectar teoria e prática, teoria e contextos sociais. Ademais, ajuda a identificar a estrutura de intersecção entre desigualdades sociais e econômicas presentes nos ambientes acadêmicos, ativistas, organizacionais, políticos etc. Por fim, pode ainda auxiliar no empoderamento de comunidades e indivíduos.

Trazendo novamente a Lorde para esse contexto, evidenciamos o quanto as ações, informações e conhecimentos interseccionais e sua representatividade política e social, compartilhados por ela, reforçam o quanto a mesma foi e ainda é relevante para os movimentos sociais. Suas produções, suas participações nesses contextos ecoam até os dias de hoje por conta da sua consciência em apontar a necessidade de se produzir, registrar e disseminar aquilo que foi produzido para que esse tivesse um alcance amplo e duradouro e que por fim, oportunizasse as mudanças e transformações nos indivíduos.

4 O FEMINISMO NEGRO DECOLONIAL E INTERSECCIONAL: EM BUSCA DE UMA BIBLIOTECONOMIA EQUÂNIME

A biblioteconomia brasileira atenta aos aspectos sociais evidencia-se quando se alia ao pensamento crítico-reflexivo, para que as pessoas bibliotecárias percebam seu papel e sua responsabilidade social e atuem como protagonistas de transformações na sociedade. De acordo com Gomes (2017GOMES, Henrriette Ferreira. Mediação da informação e protagonismo social: relações com vida ativa e ação comunicativa à luz Hannah Arendt e Jürgen Habermas. In: GOMES, Henrriette Ferreira; NOVO, Hildenise Ferreira (org.). Informação e protagonismo social. Salvador: EDUFBA, 2017., p. 27), “o protagonismo social representa o caminho humanizador do mundo e, portanto, promissor da construção ética de relações sociais capazes de assegurar o espaço crítico, de dialogia, criatividade e alteridade”.

A biblioteconomia, por muitos anos, ocupou-se da organização da informação sem olhar, de modo mais profundo, para as realidades dos usuários de informação e sem, por conseguinte, fortalecer sua diversidade e promover sua inclusão, o que a colocou num patamar de idealização deslocada, em que a história da informação e dos sujeitos que a utilizam estavam distantes. Segundo Araújo (2018ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O que é Ciência da Informação. Belo Horizonte: KMA, 2018., p. 13), isso se relaciona com os “aspectos de tratamento técnico dos documentos”.

É sabido que a biblioteconomia se configura como um campo devotado aos processos técnicos da organização do conhecimento, mais detidamente nos espaços das bibliotecas, as quais são marcadas pela tônica do pensamento hegemônico como sendo o foco dos fazeres e dos saberes. Tanus e Silva (2019TANUS, Gabrielle Francine de Souza Carvalho.; SILVA, Daniela Cândido da. Biblioteconomia social, crítica e progressista. Revista Informação na Sociedade Contemporânea, Lagoa Nova, v. 3, n. 1, p. 1-28, 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/123997. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, p. 5), apontam que:

Uma mudança na Biblioteconomia ecoou a partir dos escritos de Jesse Shera e Margareth Egan (1952) com a “Epistemologia social”, em que focalizaram o contexto cultural das bibliotecas como instituições sociais, o indivíduo e suas necessidades informacionais contextualizadas, e o aumento da utilidade dos registros gráficos. O objeto dessa nova disciplina não se concentraria no livro ou nas formas de organização, mas na abstração que, por meio do modelo social, perpassa o fluxo, produção, integração e consumo de todas as formas do pensamento comunicado.

Assim, mesmo que o pensamento de Shera e Egan (1952), citados por Tanus e Silva (2019TANUS, Gabrielle Francine de Souza Carvalho.; SILVA, Daniela Cândido da. Biblioteconomia social, crítica e progressista. Revista Informação na Sociedade Contemporânea, Lagoa Nova, v. 3, n. 1, p. 1-28, 2019. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/123997. Acesso em: 10 abr. 2023.
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), seja associado a uma corrente funcionalista, isto é, de “um ordenamento social”, e vinculado ao positivismo, vê-se, a partir dessa Epistemologia social, as raízes para uma virada epistemológica da biblioteconomia, que se contrapõe à Biblioteconomia tradicional, conservadora e elitista.

Trazendo Audre Lorde para a discussão deste tópico, no Primeiro Retiro Feminista Negro, ocorrido em 06 de julho de 1977, promovido pelo coletivo Combahee River (uma organização negra feminista ativa em Boston entre 1974 à 1980, fundada por Barbara Smith, que tinha como intuito o estímulo a troca de ideias e ações e o fortalecimento do movimento negro feminista), Lorde proferiu um discurso curto onde a mesma se mostrou interessada em despertar no coletivo uma organização das questões urgentes e específicas, e que essas fossem pautadas e ao mesmo tempo no desenvolvido de uma visão contínua para a promoção de teorias mais abrangentes:

Se nos restringirmos ao uso dos jogos de poder dominantes que fomos ensinadas a temer, mas que ainda respeitamos por que funcionaram num contexto anti-humano, correremos o risco de definir nosso trabalho simplesmente trocando papéis dentro das relações de poder opressoras, em vez de tentarmos alterar e redefinir a natureza delas (Lorde, 2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro)., p. 47).

As questões específicas que afligiam as mulheres negras permaneciam relegadas dentro dos movimentos, porque nenhum movimento social iria ou poderia abordar sozinho todos os tipos de discriminação que elas sofriam. As mulheres negras usaram a interseccionalidade como ferramenta analítica em resposta a esses desafios.

Próximo a essa citação de Lorde, alguns autores adeptos à decolonialidade, mais precisamente Bernardino-Costa, Maldonado-Torres e Grosfoguel (2019, p. 09), afirmam que:

[A] colonização no âmbito do saber é produto de um longo processo de colonialidade que continuou reproduzindo as lógicas econômicas, políticas, cognitivas, da existência, da relação com a natureza que foram forjadas no período colonial.

Silva (2021SILVA, Andréia Sousa da. Discussões preliminares sobre interseccionalidade na Biblioteconomia e Ciência da Informação: uma análise relacional a partir de uma ótica decolonial. In: SILVA, Franciéle Carneiro Garcês da (org.). Bibliotecári@s negr@s: perspectivas feministas, antirracistas e decoloniais em Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis: Rocha gráfica e editora, 2021. (Selo Nyota). p. 205-226. Disponível em: https://www.nyota.com.br/catalogo. Acesso em: 10 abr. 2023.
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, p. 212) aponta que:

[…] diante dessa lógica da modernidade/colonialidade podemos identificar diversos momentos, ações, eventos de resistência política e epistêmica, que nomeamos como decolonialidade, giro colonial ou projeto colonial.

Percebe-se, no trecho do discurso de Lorde, a intenção de propor um olhar decolonial às feministas negras no que tange aos objetivos da luta feminista negra. Em se tratando da construção e manutenção de um feminismo negro, e que seja decolonial e interseccional, Lélia Gonzalez (2020GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro Latino Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 375 p., p. 147) nos alerta o seguinte:

Cabe aqui um dado importante da nossa realidade histórica: para nós, amefricanas do Brasil e de outros países da região assim como para as ameríndias- a conscientização da opressão ocorre, antes de qualquer coisa, pelo racial. Exploração de classe e discriminação racial constituem os elementos básicos da luta comum de homens e mulheres pertencentes a uma etnia subordinada.

Lorde (2020LORDE, Audre. Sou Sua Irmã: escritos reunidos. Tradução: Stephanie Borges. São Paulo: Ubu Editora, 2020. (Apresentado por Djamila Ribeiro).) e Gonzalez (2020GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro Latino Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 375 p.) convergem entre si. As duas nos apontam o quanto as opressões de gênero e raça estão interligadas e que, por isso, o nosso olhar, as nossas posturas, as estratégias de ações que nós promovemos, devem ser construídas por elementos sólidos, pontuais e indissociáveis.

Diante do exposto, por que estabelecer o protagonismo e um diálogo com Audre Lorde? Por que trazer essa ativista para o contexto da Biblioteconomia brasileira? Quais são os impactos que podem ser identificados a partir da insistência em desenvolver estudos que apontem a necessidade de se promover uma biblioteconomia focada em colaborar para o estabelecimento de uma sociedade equânime e justa socialmente?

Audre Lorde foi uma figura emblemática. Durante toda a sua vida, sempre buscou atuar em prol dos direitos humanos, da justiça social, da igualdade de gênero, além de destacar a questão das condições vivenciadas pelas mulheres negras. E ela foi uma pessoa bibliotecária! E foi por meio dos seus discursos, dos seus escritos, dos seus poemas, das suas aulas, que as suas bandeiras ganharam visibilidade.

Desde 1960, período em que também atuou como bibliotecária, Lorde já chamava atenção para a interseccionalidade existente entre os grupos sociais que ela estava inserida (negro e lésbico), tornando-se assim uma das intelectuais negras pioneiras a tratar dessa ferramenta analítica dentro dos seus espaços de militância. Foi a partir desse período que a ativista denunciou a relação de opressão ocorrida dentro do próprio movimento feminista, sinalizando como as questões colocadas por mulheres negras eram subjugadas diante das pautas colocadas pelo movimento femininista branco. Audre afirmava que para sujeitos interseccionais, como no caso de mulheres negras e lésbicas, a opressão ocorria de forma simultânea e não hierarquizada, ou seja, o racismo, o machismo, e além das questões relacionadas à classe, aconteciam (e acontecem) sempre ao mesmo tempo, porque a identidade dessas mulheres é vivida como um todo e não de forma fragmentada. É interseccional!

Consideramos que a biblioteconomia brasileira, sendo uma ciência e um campo sócio-político, não pode permanecer inerte, ou negligente, a esses contextos, visto que o retrato da sociedade brasileira é tecido por uma complexidade absolutamente interseccional. Como podemos, no contexto próprio da Biblioteconomia, ou a partir da Biblioteconomia, enfrentar a violência do racismo estrutural, do patriarcado e do capitalismo a partir de uma representatividade social e política, em busca da equidade e da justiça social? Acreditamos que os ditos e escritos de Audre Lorde podem nos indicar os caminhos para uma postura interseccional urgente e necessária.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse texto buscou retratar o papel político da pessoa bibliotecária a partir de um olhar ampliado sobre uma parte da trajetória da bibliotecária e ativista afro-americana Audre Lorde, no sentido de evidenciar uma representatividade social e informacional manifesta em seus discursos e suas posturas dentro dos movimentos negros e feministas, movimentos promovidos por ela, e que apresentam um cunho interseccional e decolonial.

Na Biblioteconomia, a busca pelo fortalecimento de novas discussões teóricas é um exemplo de uso da interseccionalidade enquanto ferramenta analítica, visto que a hegemonia de certas teorias na formação da pessoa bibliotecária contribui/contribuiu para o crescente das desigualdades sociais, perpetuando a ausência de discussões interseccionais na prática da pessoa bibliotecária.

Dessa forma, deslocamos nosso olhar para as questões que retratam os aspectos que buscam descolonizar o pensamento, apresentando o quanto a colonização do saber ainda está presente nos contextos de produção da informação e do conhecimento e o quanto difundir teorias com a intenção de descolonizar o que está posto são ações necessárias para que sejam promovidos modos de se pensar a Biblioteconomia brasileira de uma maneira mais plural e equânime, alinhada estreitamente às demandas sociais e políticas presentes no cotidiano, evidenciando novos saberes e novos conhecimentos, como o fez Audre Lorde.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    18 Jun 2023
  • Aceito
    10 Jul 2024
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