Open-access Percepções e Expectativas de Homens Trans Acerca dos Relacionamentos Afetivo-Sexuais Pós-Transição

Trans Men’s Perceptions and Expectations of Post-Transition Affective-Sexual Relationships

Percepciones y Expectativas de los Hombres Trans sobre las Relaciones Afectivo-Sexuales Después de la Transición

Resumo

As identidades transmasculinas ganharam visibilidade social e acadêmica no Brasil a partir de 2010, contudo, as questões subjetivas dos homens trans ainda são pouco debatidas, em particular temas associados aos relacionamentos afetivos na experiência desses sujeitos. Este estudo qualitativo tem por objetivo identificar as percepções e expectativas dos homens trans acerca dos relacionamentos afetivo-sexuais no cenário pós-transição de gênero. Participaram da pesquisa 15 homens transexuais hormonizados, com idades entre 20 e 41 anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada nas modalidades presencial e on-line. Empregou-se análise temática reflexiva, que resultou em dois temas analíticos. Os resultados apontam que os homens trans, ao contrário de suas expectativas iniciais, percebem que tiveram menos oportunidades de relacionamentos afetivo-sexuais depois de sua transição de gênero. Os participantes atribuem essa dificuldade especialmente ao fato de não terem se submetido à cirurgia de redesignação sexual. O desconforto é acentuado por sua materialidade corpórea divergente da cisnormatividade, sistema regulador que associa pessoas pertencentes ao gênero masculino à presença de um pênis. Outra fonte de desconforto é o repúdio social, que alimenta a abjeção, exotização e fetichização dos corpos transmasculinos. Também são descritas as especificidades do relacionamento dos homens trans com mulheres cisgênero, heterossexuais e lésbicas. Os resultados evidenciam que a fixação persistente no genital, como referente e signo determinante do gênero e da sexualidade, modula e regula a busca e o encontro de parceira(o) íntima(o).

Palavras-chave: Transexualidade; Homens Trans; Relacionamentos; Conjugalidade; Gênero

Abstract

Transmasculine identities have gained social and academic visibility in Brazil since 2010, but subjective issues, especially those associated with affective relationships, are still little discussed. This qualitative study sought to identify trans men’s perceptions and expectations regarding post-transition affective-sexual relationships. A total of 15 transsexual men undergoing hormone therapy, aged between 20 and 41 years, participated in the research. Data were collected by means of in-person and online semi-structured interviews and analysed using reflexive thematic analysis, which resulted in two analytical themes. Results show that trans men, differently from their initial expectations, perceive fewer opportunities for affective-sexual relationships after their gender transition. The participants attribute this difficulty, especially, to the fact that they have not undergone sexual reassignment surgery. Discomfort isaccentuated by their bodily materiality diverging from cisnormativity, the regulatory system that associates people belonging to the male gender with the presence of a penis. Another source of discomfort is the social repudiation, which reinforces the abjection, exoticization, and fetishization of transmasculine bodies. The specifics of trans men’s relationships with cisgender, heterosexual, and lesbian women are also described. The results show that the persistent fixation on the genital, as a referent and determinant sign of gender and sexuality, modulates and regulates the search for and encounter of intimate partners.

Keywords:  Transsexuality; Trans Men; Relationships; Conjugality; Gender

Resumen

Las identidades transmasculinas han ganado visibilidad social y académica en Brasil desde 2010, sin embargo, las cuestiones subjetivas de los hombres trans son aún poco discutidas, en particular las cuestiones asociadas a las relaciones afectivas en la experiencia de estos sujetos. Este estudio cualitativo tiene como objetivo identificar las percepciones y expectativas de los hombres trans sobre las relaciones afectivo-sexuales después de la transición de género. Participaron en la investigación 15 hombres transexuales hormonados, de edades comprendidas entre los 20 y los 41 años. La recopilación de datos se realizó mediante una entrevista semiestructurada en las modalidades presencial y en línea. Se realizó un análisis temático reflexivo, que dio como resultado dos temas analíticos. Los resultados muestran que los hombres trans, al contrario de sus expectativas iniciales, perciben que han tenido menos oportunidades de relaciones afectivo-sexuales después de su transición de género. Los participantes atribuyen esta dificultad especialmente al hecho de no haberse sometido a cirugía de reasignación sexual. La incomodidad se acentúa por su materialidad corpórea divergente de la cisnormatividad, un sistema normativo según el cual las personas pertenecientes al género masculino deben tener pene. Otra fuente de malestar es el repudio social, que alimenta la abyección, la exotización y la fetichización de los cuerpos transmasculinos. También se describen las especificidades de las relaciones de los hombres trans con las mujeres heterosexuales, cisgénero y lesbianas. Los resultados muestran que la persistente fijación en los genitales, como referente y signo determinante del género y la sexualidad, modula y regula la búsqueda y el encuentro de parejas íntimas.

Palabras clave:  Transexualidad; Hombres Trans; Relaciones; Conyugalidad; Género

Introdução

As identidades transmasculinas ganharam visibilidade social e acadêmica no Brasil a partir de 2010, com a intensificação do movimento social de defesa dos direitos da população trans, potencializado pela massificação da internet (Ávila, 2014) e a inclusão dos homens trans no Processo Transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS), mediante a Portaria nº 2.803 (2013). Nessa década, a academia focou suas investigações acerca dos homens trans nas questões de saúde, especialmente suas demandas quanto à transição, como a hormonização e a mamoplastia masculinizadora (Braz, 2019; Sousa & Iriart, 2018).

As modificações corporais são impregnadas de significação para os homens trans que optam por realizá-las, com a esperança de que tais procedimentos possam propiciar a conquista de um espaço social de dignidade e fortalecimento da autoestima (Bishop, 2016; Boffi et al., 2022; Cunha Nascimento, 2019; Santos et al., 2020). A busca de tal reconhecimento social deriva da construção material dos símbolos generificados da masculinidade, como barba, voz grave e compleição muscular. As alterações podem resultar no fenômeno denominado passabilidade, que traduz uma situação na qual sujeitos trans são socialmente reconhecidos como pertencentes ao gênero do qual se sentem pertencentes (Almeida, 2012; Santos et al., 2019).

Pensar as identidades transmasculinas impõe desafios epistemológicos, desde suas especificidades em relação aos indivíduos que se encontram no espectro da transgeneridade. Ainda que o corpo de conhecimentos constituído nesse campo careça de robustez por ser novo, alguns estudos têm se destacado na contemporaneidade (Ávila, 2014; Sousa & Iriart, 2018). Contudo, as questões subjetivas dos homens trans ainda são pouco debatidas, em particular os temas associados aos relacionamentos afetivos na experiência desses sujeitos, um atraso considerável quando comparado à literatura acerca da conjugalidade de mulheres transexuais e travestis (Alexandre & Santos, 2019; Lomando & Nardi, 2013).

Os estudos que se dedicaram a abordar as questões afetivas e sexuais na perspectiva de homens trans são majoritariamente do cenário internacional e contemplaram a forma como esses sujeitos entendem e discursivamente significam os seus corpos, bem como de que modo a transição impacta suas práticas sexuais (Edelman & Zimman, 2014; Schilt & Windsor, 2014; Williams et al., 2013). Outra questão abordada refere-se às parceiras de homens trans heterossexuais, focando principalmente na negociação das suas próprias identidades sexuais e o trabalho emocional que realizam para validar as identidades de gênero de seus companheiros (Pfeffer, 2014; Tompkins, 2014; Whitley, 2013).

Nessa perspectiva, este estudo tem como objetivo identificar as percepções e expectativas dos homens trans acerca dos relacionamentos afetivo-sexuais no cenário pós-transição de gênero.

Método

Trata-se de um estudo exploratório, transversal, com abordagem qualitativa. Esse tipo de pesquisa tem como propósito proporcionar maior familiaridade com o problema investigado, com vistas a explicitá-lo e propor conjecturas sobre a realidade (Cardano, 2017). Particularmente, almeja-se explorar as expectativas e percepções dos homens trans acerca da possibilidade de experimentarem relacionamentos afetivo-sexuais após a transição de gênero a partir de sua passabilidade.

Por meio da técnica conhecida como bola de neve (Vinuto, 2014), foram arregimentados 15 homens trans, com idades entre 20 e 41 anos, residentes em quatro estados do Brasil. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: ter no mínimo 18 anos, autoidentificar-se como homem transexual, estar em uso de testosterona para hormonização cruzada (ou seja, transição do gênero feminino para o masculino) e apresentar condições plenas de comunicação. A Tabela 1 apresenta os dados sociodemográficos e clínicos dos participantes.

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica e clínica dos participantes.

Os dados foram obtidos entre março e junho de 2020 a partir de entrevistas em profundidade, que aconteceram de forma presencial - dois participantes - e remota via chamada de vídeo - 13 participantes. O dispositivo remoto decorreu da necessidade de ajustar-se às medidas de distanciamento social exigidas pelo contexto da pandemia da covid-19. As entrevistas on-line permitiram maior alcance geográfico e contato com experiências de diversas localidades, desde grandes centros urbanos até pequenos e médios municípios do interior dos estados. As entrevistas foram audiogravadas e duraram entre 55 minutos e 210 minutos (média de 95 minutos). Posteriormente, foram transcritas na íntegra e literalmente.

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: (1) Formulário de Dados Sociodemográficos, desenvolvido e validado pelos pesquisadores do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia da Saúde (LEPPS-FFCLRP-USP-CNPq); (2) Roteiro de entrevista semiestruturado, desenvolvido a partir de uma revisão não sistemática de artigos científicos sobre a temática realizada pela pesquisadora; (3) Critério de Classificação Econômica Brasil (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa [ABEP], 2020).

Os dados foram submetidos à análise temática reflexiva (Braun & Clarke, 2019; Clarke et al., 2019). O processo de análise foi organizado em seis etapas: leitura preliminar do corpus de análise para familiarização com os dados; geração de códigos iniciais; identificação e geração de possíveis temas emergentes a partir da relação estabelecida entre pesquisadora e narrativas; refinamento dos temas a partir da leitura minuciosa do corpus de análise para confirmação e emergência de novos temas; nomeação dos temas e identificação de relações de interdependência entre eles, permitindo seu agrupamento em eixos temáticos (temas analíticos) e a construção de um quadro que interligou narrativas, temas descritivos e temas analíticos; produção de relatório, com a identificação de narrativas significativas e uma discussão e problematização dos eixos temáticos.

Clarke et al. (2019) compreendem a análise como criativa, reflexiva e subjetiva, no sentido de incluir a subjetividade da pesquisadora como um recurso potencial da produção de conhecimento, incluindo os afetos vivenciados com os interlocutores durante a construção da pesquisa. Desse modo, trata-se de um processo que demanda uma atitude recursiva, com movimentos orgânicos e profundo envolvimento na interação estabelecida entre pesquisadores e os dados a partir de direcionamento desenvolvido em etapas graduais, e não uma mera aplicação e reprodução automática de passos metodológicos. Os dados foram sistematizados com o apoio do software QDA Mine Lite, que facilitou o agrupamento de informações, destacando-se que esse é um recurso auxiliar para a organização inicial das narrativas. O trabalho sensível e cognitivo de análise e interpretação dos dados é desenvolvido pelos pesquisadores, com amparo do referencial teórico.

A participação na pesquisa seguiu rigorosamente as normas vigentes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (2012, 2016), que dispõem sobre a realização de pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução nº 466, de 2012 e Resolução nº 510, de 2016). O projeto de pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa da instituição a qual os pesquisadores estão vinculados, sob o parecer 3.926.604, CAEE número 25897819.8.0000.5407. Ao serem convidados para participar da pesquisa, os colaboradores foram informados sobre o objetivo do estudo e, após o aceite, receberam de forma virtual o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o assinaram digitalmente, autorizando a gravação da entrevista e o uso dos dados. O TCLE garantiu a tomada de decisão em participar ou não do estudo voluntariamente e livre de constrangimentos. Os nomes próprios utilizados são fictícios e foram escolhidos pelos próprios participantes.

Resultados e discussão

A partir da análise temática reflexiva foram construídos sete códigos, agregados em três temas descritivos e dois temas analíticos (Tabela 2). Os temas descritivos correspondem à reconfiguração dos códigos iniciais gerados pela análise. Temas analíticos são constituídos a partir do refinamento dos temas descritivos e se articulam em torno de um conceito organizador central para a análise dos resultados, de acordo com o objetivo do estudo.

Tabela 2
Construção dos códigos e dos temas descritivos e analíticos.

Tema descritivo 1: Dificuldades dos homens trans de se relacionarem afetivo-sexualmente após a transição

A primeira expectativa que os homens transexuais nutriam no quesito relacionamentos pós-transição é a de que haveria um aumento do número de pessoas interessadas em manter um relacionamento ou mesmo uma relação sexual fortuita com eles. Essa foi uma expectativa frustrada segundo a percepção comum dos participantes. Ricardo comenta: “Antes era muito mais fácil porque duas mulheres lésbicas sabem pelo que elas se atraem. Hoje em dia é mais difícil porque as pessoas se atraem por ti, mas tu tem que contar sobre a situação e, a partir desse momento, já era”.

Felipe conta das negativas que normalmente recebe após revelar que é um homem trans:

[Pesquisadora] você acha que, depois da sua transição, o leque de pessoas com quem você poderia se relacionar diminuiu? [Felipe] É sim, bastante, porque quando eu falava que eu era trans as pessoas ficavam tipo: “Hum, legal, não rola então”. E eu ficava: “Eu sou um menino de qualquer jeito! Você gosta de homem, você gosta de mulher? Então, o quê que custa você ficar com um homem trans? É um homem de qualquer jeito!” Só que, na cabeça desse povo, não existe isso não.

Olliver comenta: “Esse negócio de relacionamento me preocupa porque eu não tenho um bom histórico com relacionamento, não estou conseguindo me relacionar agora e a transição está dificultando mais ainda essas questões”. Essa constatação dos homens trans, a partir de suas experiências negativas, gera especulações e tentativas de explicação. Nas suas reflexões, eles dividem pretendentes de acordo com a sexualidade: mulheres cisgênero lésbicas, bissexuais e heterossexuais. Pedro comenta: “Eu não me relaciono com mulheres de fato lésbicas, e as mulheres 100% hétero não se relacionam comigo”.

Alguns participantes, como Gabriel, comentam suas experiências e tecem reflexões sobre os relacionamentos de homens trans com mulheres cis lésbicas:

Eu nunca consegui me relacionar com mulheres lésbicas depois da transição, porque quando o homem trans se relaciona com uma mulher lésbica é pelo simples fato da aceitação, de ela aceitar o fato de que não temos pênis, só que a gente acaba se machucando porque a maioria delas acaba lendo a gente como uma mulher. Então ela invalida todo nosso processo de transição. Se eu sou casado com a Luana e ela é lésbica, a partir do momento em que ela está casada comigo ela não é lésbica mais, porque ela não é casada com uma mulher, ela é casada com um homem. Tem muitos meninos trans que ficam com as mulheres lésbicas pela aceitação do corpo deles, mas não entendem que, mesmo assim, tem um julgamento e pelo fato de elas serem lésbicas, elas não tão vendo eles como homens mesmo, estão vendo como uma lésbica bofinha (Gabriel).

Se for uma mulher cis lésbica, ou seja, se eu sentir uma atração - porque o contrário nunca vai rolar, ela nunca vai sentir atração por mim - mas se ela sabe que eu sou trans e ela sente essa atração por mim e quer ficar comigo, ela está interessada muito mais no meu biológico (Yoasi).

Sobre as relações com as mulheres heterossexuais, os participantes afirmam que tais mulheres também não os compreendem como homens, sendo essa a dificuldade de manter tais relacionamentos, como comenta Olliver: “As mulheres heterossexuais não querem a gente porque, de acordo com elas, e isso foram coisas que eu escutei, a gente tem um ‘defeito de fábrica’, elas querem algo que não vão encontrar na gente [risos]”.

Em uma ocasião, outra menina hétero disse: “Ai, eu não tenho preconceito”. Preconceito com o quê? Eu fico sem entender, preconceito com o quê, gente? “Ai, você não tem o principal, né?” “Quem falou que eu não tenho? E eu ainda posso escolher do tamanho que eu quiser”! Aí a menina ficou muito sem graça (Felipe).

Se eu tentasse me relacionar com uma mulher que soubesse que eu era um homem trans e ela nunca se relacionou com nenhuma outra pessoa que fugisse do homem-hétero-cis, ela nem se relacionaria comigo, porque na cabeça dela eu sou uma mulher. Eu sou um homem, mas lá dentro escondido pra ela eu sou uma mulher. E até porque tem muito essa coisa do pinto, a mulher heterossexual tem que gostar de pinto, e a partir do momento que eu não tenho a porra de um pinto, eu não encaixo no que ela procura, então diminuiu bastante a possibilidade de eu me relacionar (Pedro).

Em relação às mulheres bissexuais, Olliver comenta que consegue se relacionar com elas com certa facilidade, entretanto, ainda percebe que é interpretado como uma mulher quando está engajado em tais relações: “Às vezes elas ainda estão muito ligadas em ‘estou me relacionando com um homem trans, mas é uma mulher’”.

Percebe-se que as relações afetivo-sexuais são permeadas por definições estereotipadas e naturalizadas de sexualidade, com foco excessivo na genitália e não no gênero, em um contexto puramente material do corpo. Tal fenômeno dificulta as relações dos homens trans e cria zonas de exclusão, uma vez que eles, em sua maioria, não correspondem à normatização homem-pênis.

Com todas essas preocupações em mente, antes mesmo de iniciar um relacionamento, Olliver comenta sobre a necessidade que sente de expor sua identidade de gênero em aplicativos de relacionamento para evitar situações constrangedoras: “Eu fiz um perfil no Tinder e coloquei na descrição que eu era homem trans porque... se for um problema pra outra pessoa, ela não precisa nem começar uma coisa comigo, porque senão é tempo perdido.”

Renato reflete sobre como é importante que as pessoas cisgênero que se relacionam com pessoas trans entendam suas especificidades.

Isso é muito ruim porque impossibilita a gente de construir relações mais duradouras. Não é todo mundo que está preparado pra ter uma relação com uma pessoa trans.... Mas é possível, eu acredito que a questão das relações é muito aquela questão de você tentar ver o outro como pessoa. Eu, por exemplo, não fico com uma pessoa simplesmente por um título ou algum fetiche, igual as pessoas fazem com as pessoas trans. É mais pelo interesse na pessoa mesmo, entendeu?

As prescrições sociais cisheteronormativas culminam também na dificuldade do homem trans em se expressar a respeito de seus relacionamentos íntimos. Sobretudo após a transição, quando emerge uma nova preocupação: quando ele deve contar à pretendente sobre a transexualidade? Para muitos, tal questão não era preocupação premente antes da transição, até que ela adquire proeminência e se acumula com outras preocupações referentes às relações afetivo-sexuais (Nery & Maranhão Filho, 2017). Essas situações são descritas por Ricardo e Humberto.

E eu também me sinto com medo de chegar na pessoa... Então, hoje em dia é muito mais difícil, muito mais mesmo, porque as pessoas esperam um padrão, e quando o padrão é quebrado nem todo mundo consegue... nem todo mundo tem colhão pra assumir um relacionamento assim (Ricardo).

Eu me sinto bem mais inseguro porque eu não tinha essa preocupação de ter que contar e às vezes passar por uma situação constrangedora, ou às vezes você está a fim de alguém e a pessoa desiste de ficar com você. É muito chato porque antes, como eu era lido como mulher e meu órgão genital batia com essa idealização que se tem de mulher na sociedade, não tinha essa preocupação (Humberto).

A partir das descrições das experiências dos homens trans, percebe-se que, após a transição, eles enfrentam dificuldades em se relacionar afetivo-sexualmente, em especial com mulheres cisgênero heterossexuais e lésbicas.

Tema descritivo 2: Vivendo experiências da transição estando em um relacionamento

Poucos foram os participantes que estavam em um relacionamento estável quando começaram a vivenciar sua transição. Esses homens trans descrevem experiências divergentes em pelo menos dois sentidos: a possibilidade de fortalecimento da união e a separação. Esse duplo desfecho corrobora resultados obtidos em estudos anteriores (Brown, 2010; Cordeiro, 2016; Lomando, 2014). Essa dubiedade é problematizada por Nery e Maranhão Filho (2017, p. 286) quando afirmam: “Quando se tem um companheiro/a/e que aceita apoiar as modificações geradas para ambos, facilita o procedimento. Mas há muitos casos em que os conflitos gerados são intensos e confusos”.

Leonardo conta como sua namorada foi uma pessoa fundamental na sua transição porque se mostrou capaz de lhe fornecer suporte e o apoiar em todas as suas dificuldades, compartilhando os bons e maus momentos:

[Pesquisadora] E como foi para você ter ela nesse processo? [Leonardo] Olha, pra mim foi uma base e um apoio muito grande, porque pelo menos eu tinha alguém nas horas mais difíceis, e quando eu não me entendia, ela conseguia passar uma visão do que eu não estava vendo. [Pesquisadora] E como você acha que foi pra ela esse processo? [Leonardo] Pra ela foi uma reconstrução, porque ela se dizia lésbica militante, então pra ela foi uma desconstrução total e ela também foi entendendo e acompanhando e ela conseguiu mostrar que o amor consegue transcender a aparência e a gente não está com alguém só pela aparência, mas sim pela essência, foi isso que ela mostrou.

A experiência de Christopher de transicionar enquanto estava envolvido em um relacionamento acarretou questões para sua (até então) esposa, o que acabou resultando no fim do relacionamento. De acordo com o participante, na visão da ex-esposa sua identidade lésbica não condizia com a imagem de um casal heterossexual, como eles passaram a ser lidos após a transição de Christopher.

Quando começou a aparecer mudanças [físicas], ela estranhou porque ela sempre gostou de meninas masculinizadas, e ela falou pra mim: “Eu nunca me imaginei de mãos dadas com um homem”. No início foi bem complicado, então já era uma relação que já estava terminando. Então foi uma coisa que ajudou a terminar, porque ela não esperava tanta mudança. Ela sempre esteve em um relacionamento com uma sapatão e quando ela olhou no espelho, ela viu um casal hétero. A gente se transformou em um casal normal.

A especificidade das relações afetivo-sexuais, quando uma das partes se autoidentifica como transexual, é designada como casal cis-trans (Alexandre & Santos, 2019). Ricardo reflete sobre como, em um relacionamento cis-trans, os companheiros também sofrem preconceitos e isso pode se tornar difícil de lidar dentro de uma relação: “Minha namorada também vai sofrer preconceito, vai escutar piadinha, vai escutar que falta alguma coisa, então a pessoa tem que ter vontade mesmo pra assumir isso”. Além de manifestações de transfobia, indivíduos engajados em um arranjo afetivo do tipo cis-trans enfrentam questões específicas, como a influência do processo de transição da pessoa trans sobre o relacionamento do casal (Lenning & Buist, 2013).

A partir da escuta de tais experiências é possível compreender que há impactos divergentes nos relacionamentos, que decorrem da experiência de transição de gênero. Duas possibilidades frequentemente experienciadas são: a reafirmação da aliança e o rompimento do laço romântico. A dimensão da experiência amorosa é de especial importância, em especial quando a assunção pública do relacionamento por parte da(o) outra(o) - no caso dos participantes de nosso estudo, o outro cisgênero - oferece à pessoa trans a possibilidade de um lugar de pertencimento e legitimação (Alexandre & Santos, 2021). Tais narrativas demonstram que nem sempre o homem trans será aceito com todas as suas características e que a transição implica também no gradual ajustamento de familiares e conhecidos (Nery & Maranhão Filho, 2017), ou seja, a rede pessoal do homem trans precisa mudar enquanto ele “muda” para se tornar o que ele é.

Tema descritivo 3: Curiosidade e fetiche: o interesse pelos corpos trans

As narrativas trazem uma preocupação recorrente com a fetichização dos corpos após a transição. Como muitos homens trans, os participantes deste estudo possuem vulva, vagina, útero e trompas, e apenas dois se mostraram interessados em submeter-se à cirurgia de redesignação sexual. A curiosidade despertada por um corpo que ostenta caracteres sexuais secundários masculinos e, ao mesmo tempo, tem vulva e vagina, é o elemento que aproxima algumas pessoas dos homens trans, com desejo de ter uma “experiência sexual com um trans”. Os participantes lamentam que não é um desejo de aproximação com vistas a estabelecer um relacionamento. Marcos expressa seu desconforto: “Aconteceu de eu sentir que a pessoa se aproximou só para descobrir como é que é, ou ter uma experiência diferente, mas eu corto, então não aconteceu de eu deixar acontecer, mas já houve tentativas”.

Gabriel relata sua experiência de pós-transição, quando chegou a receber propostas para fazer sexo.

Até um certo tempo atrás eu ainda recebia mensagem falando que a pessoa tinha muita vontade de ficar com homem trans para saber como era porque tem fetiche em ficar com homem trans. Teve um cara que me mandou mensagem e falou mais ou menos assim: “eu tenho muita vontade de ficar com homem trans porque a aparência de vocês é masculina, mas por baixo da roupa a coisa é feminina e vai ser maravilhoso porque eu tenho fetiche em ficar com pessoas assim”.

Outros participantes também relataram que viveram experiências de serem lidos como fetiche ou que foram alvo de curiosidade mórbida:

Eu só mudei de fetiche na minha vida. Porque, quando eu era lésbica, os caras queriam ficar comigo pra falar: “Fiquei com uma lésbica, peguei uma sapatão”. Como trans, principalmente em aplicativos de relacionamentos, você está conversando com a pessoa e a pessoa fala: “Eu nunca fiquei com um trans” (Humberto).

Para esses homens é embaraçoso perceberem que são procurados apenas para satisfazer um fetiche ou serem lidos como uma curiosidade, “um ser exótico”, conforme comenta Marcos:

[Pesquisadora] E como é isso para você? [Marcos] É desagradável, porque ninguém quer ser uma curiosidade pra outra pessoa, a gente quer ser visto como um ser humano normal, então eu acho que isso não deveria ser confortável nem pra pessoa, nem pra mim.

Em seus relatos, os participantes compartilharam situações vivenciadas com a aproximação de pessoas motivadas apenas por interesse sexual, incrementado pela exotização dos corpos trans e pela curiosidade despertada em relação à composição de tais corpos raros (Butler, 2015). Esse cenário exige que os homens trans sejam cautelosos; a eventual aproximação de outras pessoas deve ser analisada de maneira criteriosa, utilizando um crivo refinado para identificar uma possibilidade efetiva de relacionamento afetivo-sexual com envolvimento emocional.

Tema analítico 1: O predomínio da materialidade corporal nas dificuldades de relacionamento dos homens trans

Este tema analítico tem como eixo organizador a percepção dos homens trans acerca das dificuldades em se relacionarem afetivo-sexualmente após a transição de gênero.

O sexo/gênero é atribuído precocemente pelos pais e demais cuidadores da criança, com base na diferença anatômica entre os genitais. Tal definição tem seu fundamento na materialidade dos corpos. Portanto, a definição do gênero tem uma base material, que configura a norma cisgênero e estabelece a lógica corporal do gênero a partir da relação compulsória mulher-vagina e homem-pênis.

De acordo com Bernardino (2021), as experiências transexuais desvelam e reconfiguram, das mais variadas formas, essas possibilidades transgêneras de ser: transhomem-masculino-vagina; transmulher-feminino-pênis; queer-genderfluid-vagina; travesti-feminino-pênis, entre outras, que se descolam do binarismo cisgênero. Nenhum dos homens trans que participaram da pesquisa havia se submetido à cirurgia de redesignação sexual, cujo objetivo é a construção de um pênis. Bishop (2016) afirma que a cirurgia de redesignação sexual não constitui uma prioridade para os homens trans. Sousa e Iriart (2018) apontam a ineficácia estética e funcional do órgão sexual resultante. Por essa razão, a lógica homem-pênis é rompida em grande parte das experiências dos homens trans, em decorrência da apresentação de um corpo que diverge do padrão cisnormativo. Os significados construídos em torno da “falta” do órgão sexual culturalmente associado ao gênero masculino contribuem para erguer barreiras que dificultam a manutenção dos relacionamentos afetivos (Bento, 2012).

Assim, compreende-se que as dificuldades reportadas pelos homens trans em se relacionarem afetivo-sexualmente resulta de uma compreensão social de que sua conformação corporal não os autoriza a serem classificados na categoria homem. Eles são alocados como pertencentes ao gênero feminino pelas potenciais parceiras íntimas, em decorrência de possuírem uma vagina, como referido por Gabriel: “A maioria delas acaba lendo a gente como uma mulher”. Essa leitura sustenta uma concepção essencialista que compreende o gênero não a partir da identificação de si mesmo como pertencente a um gênero ou outro, mas como decorrência dos sentidos atribuídos ao equipamento biológico e, particularmente, dos genitais. “Para a maioria dos transhomens, o corpo parece ser um obstáculo ao invés de um instrumento para a sedução, aumentando o sofrimento” (Nery & Maranhão Filho, 2017, p. 296).

Nossos resultados se alinham aos de outros estudos, que concluíram que os relacionamentos afetivo-sexuais das pessoas trans constituem uma dimensão importante em suas vidas, especialmente porque os papeis de gênero assumidos dentro do relacionamento podem estar intimamente relacionados ao seu desejo de reafirmação do gênero (Alexandre & Santos, 2019; Boffi et al., 2022; Galli et al., 2013; Lerri et al., 2017; Lomando & Nardi, 2013). Tal lógica reafirma a noção da heteronormatividade, que apregoa a heterossexualidade como uma regulação normativa válida para o conjunto da sociedade, ao passo que outras sexualidades são tomadas como desviantes e estigmatizadas como patológicas (Baptista-Silva et al., 2017; Boffi & Santos, 2021a, 2021b; Braga et al., 2017, 2018; Dullius & Martins, 2020; Gaspodini & Falcke, 2018; Lira & Morais, 2020; Martínez-Guzmán & Íñiguez-Rueda, 2017; Moscheta et al., 2016; Peixoto et al., 2021; Rosa et al., 2016; Santos et al., 2013; Tombolato et al., 2018, 2019). Assim, ao assumirem um relacionamento com uma pessoa do gênero oposto ao seu, os sujeitos trans reafirmam sua identidade com referência à heterossexualidade, responsabilizando a parceira pela reafirmação do gênero assumido (Silva, 2018).

A relação direta entre gênero e a materialidade corporal também é observada quando os homens trans classificam suas pretendentes em relação à sexualidade. Na percepção geral, eles sentem que não há chance de se relacionarem com mulheres cisgênero lésbicas, uma vez que elas supostamente não se interessariam pela aparência e pela identidade de gênero masculina que os homens trans apresentam. Contudo, quando essas relações ocorrem, eles partem da premissa de que o eventual interesse da mulher lésbica provavelmente está direcionado à sua genitália, sendo que a identidade do homem trans tende a ser apagada nessa experiência.

Por outro lado, os participantes percebem que há alguma probabilidade de se relacionarem com mulheres cisgênero bissexuais. Nessa compreensão, a lógica encoberta é a de que essas mulheres se interessam tanto pelo masculino quanto pelo feminino, e que por essa razão um homem equipado com uma vagina não será interpretado como um problema. Já em relação aos relacionamentos com mulheres cisgênero heterossexuais, os homens trans relatam que recebem muitas respostas negativas, que além de frustrantes reforçam a relação-clichê entre gênero masculino e presença de pênis. O órgão masculino é interpretado pelas mulheres cis heterossexuais como um elemento imprescindível na prática sexual. Desse modo, a análise dos relatos desvela uma percepção social que enfatiza a norma cisgênero que correlaciona o gênero à materialidade dos corpos e à configuração dos genitais.

De acordo com Lomando (2014), a sexualidade nos relacionamentos cis-trans é permeada por muitas negociações, descobertas e mudanças relacionais: os casais entrevistados, em seus processos conjugais, buscaram promover a identidade de gênero do sujeito trans, entretanto, tensionaram suas definições a partir de uma lógica genital, demostrando a força da cisheteronorma que se constrói em torno de processos corporificados. No tocante à identidade das parceiras dos homens trans, comumente lésbicas antes da transição, Brown (2010) afirma que os relacionamentos estabelecidos nessa configuração podem apresentar alterações tanto na dinâmica relacional quanto nas práticas sexuais. As mulheres cisgênero lésbicas relataram estranhamento diante da possibilidade de contato com uma genitália lida como masculina (prótese), uma vez que essa situação presentificaria um conflito com sua identidade lésbica e suas preferências decorrentes.

Esse processo foi visibilizado e descrito com clareza nos resultados da presente pesquisa. Os homens trans que iniciaram a transição de gênero estando em um relacionamento afetivo-sexual e que encerraram tais relações descrevem um movimento de questionamento das identidades por parte das parceiras, que antes se compreendiam e se autodefiniam como lésbicas e que concluem que o fato de estarem ao lado de uma figura masculina as reposicionaria como mulheres heterossexuais (Freitas, 2014).

Nesse contexto, a masculinidade é imediatamente relacionada à presença do “pênis” enquanto signo legitimador de tal vivência (Almeida, 2012). Por esse motivo, a identidade transmasculina e, em especial, o sentimento de pertencimento ao gênero masculino é colocado em descrédito, dado que uma parte do corpo do homem trans não cumpre as expectativas culturalmente associadas ao masculino (Oliveira & Parra, 2014), o que mais uma vez confirma o anseio social da masculinidade localizada e suportada pela presença do pênis. Freitas (2014) destaca a noção heteronormativa de “completude” heterossexual que pretende orientar a identidade de alguns transhomens em termos de validação, dentro e fora da comunidade transmasculina. Na impossibilidade de alcançar tal configuração corporal associada à cisgeneridade, o homem trans se vê impelido a trabalhar o tempo todo a negociação de sua identidade para se fazer inteligível, o que gera enorme desgaste.

Essa situação lembra o mito de Sísifo, naquilo que essa narrativa mítica tem de repetição exaustiva do personagem, que passou a executar um trabalho sem fim como punição por ter enganado os deuses. Sísifo é um personagem da mitologia grega que foi condenado a cumprir um castigo eterno, que exaure sua energia vital sem que ele tenha direito a um instante sequer de alívio e repouso. No presente estudo, os homens trans mostraram o quanto a busca de um relacionamento afetivo satisfatório resulta frequentemente em experiências de fadiga e frustração.

Há uma compreensão essencialista que enfatiza a soberania do genital e entroniza a materialidade corporal como referência irrefutável de masculinidade. Por outro lado, as relações que se mantiveram no pós-transição destacam a fragmentação da lógica binária homem-pênis e a necessidade de “revisão” das orientações sexuais das companheiras, anteriormente estabilizadas como lésbicas, o que evidencia a insuficiência das categorias binárias para classificar as identidades e a sexualidade das pessoas trans (Zambrano, 2006).

Cordeiro (2016) afirma que muitas companheiras dos homens trans passam a se considerar bissexuais por causa da relação com os parceiros que transicionaram, enquanto algumas continuam a se considerar lésbicas, posicionando o companheiro como uma exceção; assim, elas passam a considerar a relação do casal como heterossexual, reconhecendo a identidade de gênero do parceiro. A partir de tais flexibilizações de definições anteriormente estanques e estereotipadas, abre-se uma possibilidade de manter um relacionamento afetivo-sexual saudável e que oportuniza a validação da identidade de gênero do homem trans.

Vale ressaltar que não houve, entre os participantes, qualquer menção à possibilidade de terem parceiros transexuais, ou seja, de constituírem casais transcentrados (Alexandre & Santos, 2019, 2021). Tal resultado é consistente com o obtido por outro estudo (Maranhão Filho, 2014), que compreende esse achado como uma manifestação de discriminação da pessoa trans hétero em relação àquela que se autodefine como gay, bi, pan, poli ou assexual - além de, obviamente, evidenciar a intolerância em relação às pessoas trans que escapam à heteronormatividade. A enunciação de relacionamentos exclusivamente heterossexuais, a despeito de alguns participantes terem se autoidentificado como bissexuais, reitera o que Oliveira e Parra (2014) postulam como fundamento da permanência dos homens transexuais alocados nessa leitura estereotipada do gênero masculino, por força das prescrições heteronormativas que alicerçam a masculinidade.

Tema analítico 2: A relação condicionada ao fetiche do corpo trans

De acordo com Goulart (2018, p. 15), “o binarismo cisnormativo carrega a cisgeneridade de maneira compulsória. É dado como normal ser cisgênero e tudo o que foge deste padrão de normalidade é classificado como patológico ou até mesmo abjeto”. Todavia, se para algumas pessoas um corpo que diverge do sistema cisgênero é repulsivo, para outras, um homem com vagina pode ser eroticamente atraente. A linha tênue que separa o fascínio e o repúdio muitas vezes fica borrada.

Na percepção dos homens trans, grande parte das aproximações de que eles são alvos no momento pós-transição não envolve a intenção genuína da outra pessoa em estabelecer um laço emocional duradouro e iniciar um relacionamento estável; a intenção seria tão-somente ter acesso a um corpo exótico e vivenciar uma prática sexual casual com objetivo de classificá-la como uma “experiência”. Nesse sentido, não haveria real intenção de envolvimento romântico. Na lógica persecutória que anima essa narrativa, as aproximações derivam da curiosidade de se relacionar com alguém que se identifica e expressa uma imagem que se encaixa no estereótipo masculino, embora não tenha nascido em um corpo lido como de homem. Tal experiência contraria a constatação de que se nota uma tendência crescente nas últimas décadas de se valorizar o sentimento como componente fundamental da experiência amorosa (Da Mata et al., 2020; Nascimento et al., 2015), o que possivelmente desvela uma especificidade das relações afetivo-sexuais vivenciadas por homens trans.

Os resultados sugerem que os homens trans são lidos por potenciais pretendentes como “um corpo a explorar”, em um processo de contínua fetichização dos corpos não alinhados à cisgeneridade, que tendem a ser classificados como diferentes, incomuns e anormais (Butler, 2015). Nesse fenômeno, o interesse pelo corpo trans é reduzido à prática sexual, com objetivo imediatista de realizar uma fantasia e agregar ao repertório pessoal uma experiência sexual com uma pessoa trans. A principal característica da exotização consiste no apagamento de qualquer vestígio de laço afetivo entre os corpos. A perspectiva de um relacionamento só é concebível in extremis, sob o mais absoluto sigilo e no reduto secreto da intimidade. Assim, a fetichização dos homens trans, identificada no presente estudo, parece ser análoga às experiências vivenciadas por mulheres trans e pelas travestis, entendendo que a produção do fetiche é um fenômeno social de materialização e efetivação de estereótipos (Silva, 2018).

No período pós-transição os homens trans passam a vivenciar uma persistente desconfiança diante de uma interação de cunho afetivo-sexual. Ressabiados e traumatizados por experiências anteriores negativas, eles tentam entrever se o interesse de quem deles se aproxima é genuíno e autêntico ou se, mais uma vez, estão diante de uma fetichização da materialidade de seus corpos, isto é, de uma objetificação. Nesse processo de tentar desvendar qual é de fato a situação que se apresenta, a busca por relacionamentos afetivo-sexuais pautados no mútuo interesse de envolvimento emocional e no mais profundo respeito à identidade de gênero torna-se bem mais exaustiva, quando comparada ao período anterior à transição, em que sua imagem correspondia à norma cisgênero mulher-vagina.

Em linhas gerais, as narrativas produzidas com os participantes deste estudo corroboram a literatura sobre conjugalidades cis-trans. As tensões vividas na busca por um relacionamento afetivo-sexual começam antes mesmo do contato com uma possível parceira - e aqui falamos no feminino porquanto não foram mencionadas experiências concretas ou mesmo imaginárias com homens cis ou com outro homem trans. Essa busca é permeada pela dúvida sobre o melhor momento de revelar a identidade de gênero, sempre buscando modular essa exposição com o medo da rejeição pela parceira, o que gera incerteza e insegurança nos relacionamentos dos homens trans (Silva, 2018).

A fetichização dos corpos dos homens trans foi o fenômeno mais saliente identificado no presente estudo. Longe dos olhos da comunidade, protegidos pela penumbra e pelo sigilo dos recintos fechados, seus corpos são desejados e objetificados à medida que são percebidos como tendo uma potencialidade de proporcionar uma experiência erótica “diferente”. Essa aproximação almejaria sanar uma curiosidade que emana dos efeitos da divergência material corporal entre a genitália e o restante do corpo, sem que se reconheça de fato uma clara disponibilidade para assumir um compromisso de sustentar um laço afetivo. Nessa precarização do vínculo, a relação deve ser resguardada dos olhares alheios e se manter na clandestinidade, às escondidas, o que não é do interesse dos homens trans, que valorizam o investimento em um projeto de vida a dois com perspectiva de estabilidade no vínculo amoroso.

Considerações finais

Esta pesquisa empírica de metodologia qualitativa permitiu identificar as percepções e expectativas de homens trans acerca dos relacionamentos afetivo-sexuais no cenário pós-transição de gênero. Os resultados apontam que os homens trans reconhecem ter possibilidades mais restritas de se engajarem em relacionamentos afetivo-sexuais depois de transicionarem. Tal percepção decorre, especialmente, da leitura social que é feita em relação à corporalidade de tais sujeitos, não submetidos a cirurgias de redesignação sexual. Ou seja, sua materialidade corpórea é divergente do que prescreve a cisnormatividade, segundo a qual pessoas pertencentes ao gênero masculino devem necessariamente ser dotadas de pênis.

Um corpo insurgente, que subverte as imposições normativas, enfrenta dificuldades em se relacionar. É um corpo dissidente, lido como esquisito, estranho, inassimilável, abjeto. O relacionamento com mulheres lésbicas desvela um sentimento de desconforto por parte dos homens trans, de invalidação de sua identidade de gênero a partir da valorização do aspecto biológico, centrada na genitália. Tal problemática pode se dissolver quando a sexualidade da companheira é revista e ela passa a se compreender como heterossexual ou bissexual, podendo então validar a identidade de gênero do parceiro. Caso contrário, o relacionamento pode se fragilizar e até mesmo chegar ao fim.

O relacionamento com mulheres heterossexuais, apesar de validar a identidade de gênero dos homens trans, tem menor probabilidade de acontecer. Tal constatação decorre do fato de que essas mulheres tomam a ausência de pênis como algo que impede a continuidade da relação. As mulheres bissexuais são consideradas as parceiras mais prováveis para os homens trans estabelecerem relações, pois se sentiriam, em termos gerais, atraídas tanto pela aparência masculina quanto pela genitália feminina e pelo uso de próteses penianas.

Os homens trans percebem a diminuição da quantidade de pessoas disponíveis para um relacionamento afetivo-sexual em decorrência, principalmente, de sua não correspondência corporal à norma cisgênero que define homem-pênis. A ausência do pênis em uma figura masculina faz emergir questionamentos acerca de sua masculinidade, que implicam dificuldades na manutenção dos relacionamentos. Esses entraves se dão, especialmente, no relacionamento com mulheres cisgênero heterossexuais cuja noção de gênero está diretamente ligada ao genital.

As relações com as mulheres cisgênero lésbicas também são complexificadas, tendo em vista que elas se interessam pela genitália, lida como feminina, que os homens trans mantêm recôndita na intimidade de seus corpos. Contudo, tal fenômeno gera desconforto nos parceiros, já que invalida as identidades masculinas dos homens trans. Nesse processo de reconfigurar os contornos identitários, os arranjos afetivo-sexuais compostos por um homem trans e uma mulher lésbica contestam a norma, isto é, desembocam no questionamento da sexualidade das mulheres cis que permanecem nesse relacionamento. Tal problemática resulta em conflito de identidade, que em alguns casos pode resultar na dissolução do vínculo precipitando a separação do casal ou, pelo contrário, pode levar ao fortalecimento do laço afetivo, a partir da reestruturação de padrões cisheteronormativos. Nesse cenário, mulheres bissexuais são percebidas como aquelas mais prováveis de manterem um relacionamento afetivo-sexual com os homens trans pós-transição.

Em todos esses contextos, a fetichização dos corpos transmasculinos é um fenômeno altamente prevalente. Os homens trans são, em suas próprias percepções, tomados como corpos que “prometem” uma experiência a ser vivida furtivamente por pessoas cis de exercício de uma prática sexual envolta em segredo e mistério. Essa conjuntura institui uma relação de desconfiança dos homens trans em relação às aproximações de eventuais parceiras, resultando em desgaste emocional até que se confirme a inexistência desse viés.

É relevante destacar que os homens trans não mencionaram relações afetivo-sexuais com homens, sejam eles cis ou trans, apesar de quatro participantes se autodeclararem bissexuais. Além disso, os participantes não relataram relacionamentos com mulheres transexuais, sendo todas as experiências referenciadas às mulheres cisgênero. Essa peculiaridade deve ser objeto de futuras pesquisas, a fim de compreender as transmasculinidades a partir de outros vértices, como o de um relacionamento afetivo-sexual transcentrado. Por fim, é necessário destacar que esta pesquisa revelou a persistência da fixação na genitália como referente e signo determinante da sexualidade, modulando e regulando a busca por parceira(o) íntima(o). Por outro lado, confirmou-se que homens trans não querem ser vistos como corpos dóceis que podem ser objetificados e ocupar uma posição alienada no desejo do outro. Em todos os participantes foi identificado o desejo de manter relacionamentos profundos com envolvimento emocional.

Este estudo permitiu lançar luz às percepções e expectativas de homens trans sobre seus relacionamentos afetivo-sexuais, desvelando nuances e singularidades que recobrem essas relações e os efeitos produzidos nos processos de subjetivação desses sujeitos em transição. Dar visibilidade aos processos que regulam e modulam as relações amorosas no contexto da transição permite planejar estratégias de apoio e de cuidado em saúde mental, integrando os aspectos subjetivos e o modo como eles se inscrevem em corpos historicamente marcados por processos de apagamento.

Também é importante atentar para os limites do conhecimento produzido neste estudo, sobretudo quando se considera a diversidade de existências trans, que certamente não estão contempladas no corpus construído. Olhando dessa perspectiva, pode-se afirmar que a análise dos resultados oferece subsídios para a formulação de políticas públicas em uma lógica de produção de saúde, contribuindo para a construção de novas modalidades de existências possíveis.

Referências

  • Alexandre, V., & Santos, M. A. (2019). Experiência conjugal de casal cis-trans: Contribuições ao estudo da transconjugalidade. Psicologia: Ciência e Profissão, 39(n.spe 3), 75-87, 75-87. https://doi.org/10.1590/1982-3703003228629
    » https://doi.org/10.1590/1982-3703003228629
  • Alexandre, V., & Santos, M. A. (2021). Conjugalidade cis-trans: Reinventando laços, desestabilizando certezas. Psicologia: Ciência e Profissão , 41, 1-16. https://doi.org/10.1590/1982-3703003224044
    » https://doi.org/10.1590/1982-3703003224044
  • Almeida, G. (2012). “Homens trans”: Novos matizes na aquarela das masculinidades? Revista Estudos Feministas, 20(2), 513-523. https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000200012
    » https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000200012
  • Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa [ABEP]. (2020). Critério de Classificação Econômica Brasil. ABEP. http://www.abep.org/criterio-brasil
    » http://www.abep.org/criterio-brasil
  • Ávila, S. N. (2014). FTM, transhomem, homem trans, trans, homem: a emergência de transmasculinidades no Brasil contemporâneo [Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina]. Repositório Institucional da UFSC https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129050
    » https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/129050
  • Baptista-Silva, G., Hamann, C., & Pizzinato, A. (2017). Marriage in prison: Identity and marital agencies in a LGBT wing. Paidéia (Ribeirão Preto), 27(supl. 1), 376-385. https://doi.org/10.1590/1982-432727s1201702
    » https://doi.org/10.1590/1982-432727s1201702
  • Bento, B. (2012). A diferença que faz a diferença: Corpo e subjetividade na transexualidade. Bagoas - Estudos Gays: Gêneros e Sexualidades, 3(4), 96-112.
  • Bernardino, M. (2021). Gênero como modalidade existencial. Revista da Abordagem Gestáltica, 27(1), 47-55. http://dx.doi.org/10.18065/2021v27n1.5
    » http://dx.doi.org/10.18065/2021v27n1.5
  • Bishop, K. (2016). Body modification and trans men: The lived realities of gender transition and partner intimacy. Body & Society, 22(1), 62-91. https://doi.org/10.1177/1357034X15612895
    » https://doi.org/10.1177/1357034X15612895
  • Boffi, L. C., & Santos, M. A. (2021a). Corpos travestis: (Re)existências em territórios confinados e regulação do trabalho sexual na composição Mulher, de Linn da Quebrada. In L. R. S. Carvalho & A. C. Bortolozzi (Orgs.), Leituras sobre a sexualidade em filmes: Animações e músicas (Vol. 11, pp. 103-122, Coleção Sexualidade & Mídias). Pedro & João Editores.
  • Boffi, L. C., & Santos, M. A. (2021b). A violência não termina com a morte: Corpo travesti e performatividade de gênero a partir do curta-metragem “Os sapatos de Aristeu”. In A. C. Bortolozzi, P. R. M. Ribeiro, F. Teixeira, I. Chagas, T. Vilaça, P. O. S. P., Mendes, S. M. M. Melo, C. R. Rossi, & I. P. Martins (Orgs.), Questões sobre gênero: Novos paradigmas e horizontes (pp. 81-89). Gradus.
  • Boffi, L. C., Guijarro-Rodrigues, E. C., & Santos, M. A. (2022). Experience of masculinity performed by transgender men: Qualitative evidence and metasynthesis. Estudos de Psicologia, 39, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-0275202239e200221
    » https://doi.org/10.1590/1982-0275202239e200221
  • Braga, I. F., Santos, M. A., Farias, M. S., Ferriani, M. G. C., & Silva, M. A. I. (2018). As múltiplas faces e máscaras da heteronormatividade: Violências contra adolescentes e jovens homossexuais brasileiros. Salud & Sociedad: Investigaciones en Psicologia de la Salud y Psicologia Social, 9(1), 52-67. Recuperado de https://revistas.ucn.cl/index.php/saludysociedad/article/view/2868/pdf
    » https://revistas.ucn.cl/index.php/saludysociedad/article/view/2868/pdf
  • Braga, I. F., Silva, J. L., Santos, Y. G. S., Santos, M. A., & Silva, M. A. I. (2017). Rede e apoio social para adolescentes e jovens homossexuais no enfrentamento à violência. Psicologia Clínica, 29(2), 297-318.
  • Braun, V., & Clarke, V. (2019). Reflecting on reflexive thematic analysis. Qualitative Research in Sport, Exercise and Health, 11(4), 589-597. https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
    » https://doi.org/10.1080/2159676X.2019.1628806
  • Braz, C. (2019). Vidas que esperam? Itinerários do acesso a serviços de saúde para homens trans no Brasil e na Argentina. Cadernos de Saúde Pública, 35(4), 1-12. https://doi.org/10.1590/0102-311X00110518
    » https://doi.org/10.1590/0102-311X00110518
  • Brown, N. R. (2010). The sexual relationships of sexual-minority women partnered with trans men: A qualitative study. Archives of Sexual Behavior, 39(2), 561-572. https://doi.org/10.1007/s10508-009-9511-9
    » https://doi.org/10.1007/s10508-009-9511-9
  • Butler, J. (2015). Problema de gênero: Feminismo e subversão da identidade (R. Aguiar, Trad., 8a ed.). Civilização Brasileira.
  • Cardano, M. (2017). Manual de pesquisa qualitative: A contribuição da teoria da argumentação (E. R. Conill, Trad.). Vozes.
  • Clarke, V., Braun, V., & Hayfield, N. (2019). Análise temática. In J. A. Smith (Org.), Psicologia qualitativa. Um guia prático para métodos de pesquisa (pp. 295-327). Vozes.
  • Cordeiro, A. C. S. (2016). Gênero, corpo, saúde e direitos: Experiência e narrativas de homens (trans) e homens (boys) em espaços públicos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. ATTENA - Repositório Digital da UFPE https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/25960
    » https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/25960
  • Cunha Nascimento, J. F. S. (2019). Nem só de hormônio vive o homem: Representações e resistências de homens transexuais (1984-2018). ACENO: Revista de Antropologia do Centro-Oeste, 6(12), 95-112.
  • Da Mata, J. J., Santos, M. A., & Scorsolini-Comin, F. (2020). Conjugalidade e parentalidade em casais homossexuais e heterossexuais: Revisão integrativa da literatura. Pensando Famílias, 24(2), 32-45.
  • Dullius, W. R., & Martins, L. B. (2020). Training needs measure for health care of the LGBT+ public. Paidéia (Ribeirão Preto), 30, 1-11. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3034
    » https://doi.org/10.1590/1982-4327e3034
  • Edelman, E. A., & Zimman, L. (2014). Boycunts and bonus holes: Trans men’s bodies, neoliberalism, and the sexual productivity of genitals. Journal of Homosexuality, 61(5), 673-690. https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870438
    » https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870438
  • Freitas, R. V. (2014). Homens com T maiúsculo: Processos de identificação e construção do corpo nas transmasculinidades [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais]. Repositório Institucional da UFMG. https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AUGHLX/1/vasconcelos_2014.homens_com_t_mai_sculo__disserta__o_word_.pdf
    » https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-AUGHLX/1/vasconcelos_2014.homens_com_t_mai_sculo__disserta__o_word_.pdf
  • Galli, R. A., Vieira, E. M., Giami, A., & Santos, M. A. (2013). Corpos mutantes, mulheres intrigantes: Transexualidade e cirurgia de redesignação sexual. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(4), 447-457. https://doi.org/10.1590/S0102-37722013000400011
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722013000400011
  • Gaspodini, I. B., & Falcke, D. (2018). Sexual and gender diversity in clinical practice in Psychology. Paidéia, 28, 1-9. https://doi.org/10.1590/1982-4327e2827
    » https://doi.org/10.1590/1982-4327e2827
  • Goulart, V. P. (2018). Psicologia e despatologização da população de pessoas trans e travestis: Repensando as práticas psi [Monografia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. Repositório Digital LUME - UFRGS https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/193295/001091937.pdf?sequence=1
    » https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/193295/001091937.pdf?sequence=1
  • Lenning, E., & Buist, C. L. (2013). Social, psychological and economic challenges faced by transgender individuals and their significant others: Gaining insight through personal narratives. Culture, Health & Sexuality, 15(1), 44-57. https://doi.org/10.1080/13691058.2012.738431
    » https://doi.org/10.1080/13691058.2012.738431
  • Lerri, M. R., Romão, A. P. M. S., Santos, M. A., & Lara, L. A. S. (2017). Transsexual people’s experiences of childhood, adolescence, and adulthood: Understanding their stories. Journal of Sexual Medicine, 14(12), 383-384. https://doi.org/10.1016/j.jsxm.2017.10.050
    » https://doi.org/10.1016/j.jsxm.2017.10.050
  • Lira, A. N., & Morais, N. A. (2020). Psychosocial adjustment profiles of gay and lesbian individuals involved in marital relations: A cluster-based analysis. Paidéia, 30, 1-11. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3013
    » https://doi.org/10.1590/1982-4327e3013
  • Lomando, E. M. (2014). Processos, desafios, tensões e criatividade nas conjugalidades de homens e mulheres transexuais [Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul]. LUME - Repositório Digital da UFGRS https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/101427
    » https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/101427
  • Lomando, E., & Nardi, H. C. (2013). Conjugalidades múltiplas nas travestilidades e transexualidades: Uma revisão a partir da abordagem sistêmica e da psicologia social. Saúde em Debate, 37(98), 493-503. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-11042013000300013
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0103-11042013000300013
  • Maranhão Filho, E. M. D. A. (2014). (Re/des)conectando gênero e religião: Peregrinações e conversões trans* e ex-trans* em narrativas orais e do Facebook [Tese de doutorado, Universidade de São Paulo]. Repositório da USP https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-17122019-153700/publico/2014_EduardoMeinbergDeAlbuquerqueMaranhaoFilho_VOrig.pdf
    » https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-17122019-153700/publico/2014_EduardoMeinbergDeAlbuquerqueMaranhaoFilho_VOrig.pdf
  • Martínez-Guzmán, A., & Íñiguez-Rueda, L. (2017). Discursive practices and symbolic violence against the LGBT community within the university setting. Paidéia, 27(suppl. 1), 367-375. https://doi.org/10.1590/1982-432727s1201701
    » https://doi.org/10.1590/1982-432727s1201701
  • Moscheta, M. S., Souza, L. V., & Santos, M. A. (2016). Health care provision in Brazil: A dialogue between health professionals and lesbian, gay, bisexual and transgender service users. Journal of Health Psychology, 21(3), 369-378. https://doi.org/10.1177/1359105316628749
    » https://doi.org/10.1177/1359105316628749
  • Nascimento, G. C. M., Scorsolini-Comin, F., Fontaine, A. M. G. V., & Santos M. A. (2015). Relacionamentos amorosos e homossexualidade: Revisão integrativa da literatura. Temas em Psicologia, 23(3), 547-563. http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-03
    » http://dx.doi.org/10.9788/TP2015.3-03
  • Nery, J. W., & Maranhão Filho, E. M. A. (2017). Deslocamentos subjetivos das transmasculinidades brasileiras contemporâneas. Revista Periódicus, 1(7), 280-299. https://doi.org/10.9771/peri.v1i7.22279
    » https://doi.org/10.9771/peri.v1i7.22279
  • Oliveira, A. L. G., & Parra, C. R. (2014). Violência e identidade em Meninos não choram. Revista Inter-Legere, 14(14), 1-18.
  • Peixoto, M. F., Conceição, V. M., Silva, S. E. D., Santos, M. A., Nascimento, L. C., & Araújo, J. S. (2021). Compreensões hermenêuticas sobre as vulnerabilidades femininas pertencentes ao coletivo de lésbicas, bissexuais e transexuais. Revista Gaúcha de Enfermagem, 42, 1-12. https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200133
    » https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200133
  • Pfeffer, C. A. (2014). “I don’t like passing as a straight woman”: Queer negotiations of identity and social group membership. American Journal of Sociology, 120(1), 1-44. https://doi.org/10.1086/677197
    » https://doi.org/10.1086/677197
  • Portaria nº 2.803, de 19 de novembro de 2013. (2013, 19 de novembro). Ministério da Saúde. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt2803_19_11_2013.html
  • Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. (2012, 12 de dezembro). Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Conselho Nacional de Saúde. http://conselho.saude.gov.br/ resolucoes/2012/Reso466.pdf
    » http://conselho.saude.gov.br/ resolucoes/2012/Reso466.pdf
  • Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. (2016, 7 de abril). Dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana. Conselho Nacional de Saúde. http://www.conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
    » http://www.conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
  • Rosa, J. M., Melo, A. K., Boris, G. D. J. B., & Santos, M. A. (2016). A construção dos papéis parentais em casais homoafetivos adotantes. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(1), 210-223. https://doi.org/10.1590/1982-3703001132014
    » https://doi.org/10.1590/1982-3703001132014
  • Santos, M. A., Oliveira, W. A., & Oliveira-Cardoso, E. A. (2020). Inconfidências de abril: Impacto do isolamento social na comunidade trans em tempos de pandemia de COVID-19. Psicologia & Sociedade, 32, 1-19. https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240339
    » https://doi.org/10.1590/1807-0310/2020v32240339
  • Santos, Y. G. S., Scorsolini-Comin. F., & Santos, M. A. (2013). Homoparentalidade masculina: Revisando a produção científica. Psicologia: Reflexão e Crítica, 26(3), 572-582. https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000300017
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000300017
  • Santos, M. A., Souza, R. S., Lara, L. A. S., Risk, E. N., Oliveira, W. A., Alexandre, V., & Oliveira-Cardoso, E. A. (2019). Transexualidade, ordem médica e política de saúde: Controle normativo do processo transexualizador no Brasil. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 10(1), 3-19. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n1p03
    » https://doi.org/10.5433/2236-6407.2019v10n1p03
  • Schilt, K., & Windsor, E. (2014). The sexual habitush of transgender men: Negotiating sexuality through gender. Journal of Homosexuality, 61(5), 732-748. https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870444
    » https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870444
  • Silva, M. F. (2018). Trajetórias trans: Apoio social e relações afetivo-sexuais de transexuais [Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo]. Biblioteca Digital USP. https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-22082018-150609/en.php
    » https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-22082018-150609/en.php
  • Sousa, D., & Iriart, J. (2018). “Viver dignamente”: Necessidades e demandas de saúde de homens trans em Salvador, Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 34, 1-11. https://doi.org/10.1590/0102-311X00036318
    » https://doi.org/10.1590/0102-311X00036318
  • Tombolato, M. A., Maia, A. C. B., & Santos, M. A. (2019). A trajetória de adoção de uma criança por um casal de lésbicas. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 35, 1-11. https://doi.org/10.1590/0102.3772e3546
    » https://doi.org/10.1590/0102.3772e3546
  • Tombolato, M. A., Maia, A. C. B., Uziel, A. P., & Santos, M. A. (2018). Prejudice and discrimination in the everyday life of same-sex couples raising children. Estudos de Psicologia, 35(1), 111-122. https://doi.org/10.1590/1982-02752018000100011
    » https://doi.org/10.1590/1982-02752018000100011
  • Tompkins, A. B. (2014). “There’s no chasing involved”: Cis/trans relationships, “tranny chasers,” and the future of a sex-positive trans politics. Journal of Homosexuality, 61(5), 766-780. https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870448
    » https://doi.org/10.1080/00918369.2014.870448
  • Vinuto, J. (2014). A amostragem em bola de neve na pesquisa qualitativa: Um debate em aberto. Temáticas, 22(44), 203-220.
  • Whitley, C. T. (2013). Trans-kin undoing and redoing gender: Negotiating relational identity among friends and family of transgender persons. Sociological Perspectives, 56(4), 597-621. https://doi.org/10.1525/sop.2013.56.4.597
    » https://doi.org/10.1525/sop.2013.56.4.597
  • Williams, C. J., Weinberg, M. S., & Rosenberger, J. G. (2013). Trans men: Embodiments, identities, and sexualities. Sociological Forum, 28(4), 719-741. https://doi.org/10.1111/socf.12056
    » https://doi.org/10.1111/socf.12056
  • Zambrano, E. (2006). Parentalidades “impensáveis”: Pais/mães homossexuais, travestis e transexuais. Horizontes Antropológicos, 12, 123-147. https://doi.org/10.1590/S0104-71832006000200006
    » https://doi.org/10.1590/S0104-71832006000200006
  • Agradecimentos e fonte de financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), bolsa de mestrado concedida à primeira autora - Código de Financiamento 88887.600239/2021-00, e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil (CNPq), Bolsa de Produtividade em Pesquisa, categoria 1A, concedida ao segundo autor.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    08 Abr 2021
  • Aceito
    11 Jan 2022
location_on
Conselho Federal de Psicologia SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B, Edifício Via Office, térreo sala 105, 70070-600 Brasília - DF - Brasil, Tel.: (55 61) 2109-0100 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revista@cfp.org.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro