Open-access Ideologia, Confiança Institucional e Representações Sociais de Universitários Sobre o Cenário Político Brasileiro de 2016-2017

Ideology, Institutional Trust, and Social Representation of University Students About the Brazilian Political Scenery from 2016-2017

Ideología, Confianza Institucional y Representaciones Sociales de Universitarios Sobre el Escenario Político Brasileño de 2016-2017

Resumo

O objetivo deste estudo foi testar um modelo teórico-explicativo para as representações sociais sobre o cenário sociopolítico brasileiro de 2017, de acordo com as seguintes relações: as representações seriam influenciadas diretamente pela confiança nas instituições, e essa confiança, determinada pelas simpatias ideológicas. Participaram 164 estudantes universitários - cuja idade média era 24 anos - que responderam a escalas intervalares. Realizaram-se modelagens de equações estruturais para testar o modelo teórico proposto. Os resultados indicaram: adequabilidade do modelo; dois grupos de variáveis apresentando relações positivas entre as variáveis do mesmo grupo e negativas na comparação intergrupos. No primeiro grupo constaram as variáveis: ideias-força de esquerda, confiança nos movimentos sociais, avaliação do governo Dilma e avaliação das políticas de esquerda; no segundo: ideias-força de direita, confiança nas instituições de controle, confiança na mídia, avaliação do governo Temer e avaliação das políticas de esquerda. Concluiu-se que a confiança institucional e a simpatia ideológica ancoravam as representações sociais do cenário brasileiro na população universitária estudada.

Palavras-chave: Ideologia; Confiança Institucional; Representações Sociais; Cenário Político Brasileiro; Estudantes Universitários

Abstract

The aim of this study was to test an explanatory theoretical model about the social representations about Brazilian social-political scenario in 2017, based on the following relations: representations were directly influenced by the trust in institutions, and this trust, determined by ideological sympathies. A sample of 164 college students - whose average age was 24 years - answered interval scales. We performed structural equation modeling to test the proposed model. The results indicated: the suitability of the model; two groups of variables presenting positive relations in the in-group comparison and negative relations in the comparisons between groups. The first group showed the variables: Leftist ideas-forces, trust in social movements, evaluation of Dilma’s administration, and evaluation of Leftist policies; the second: Rightist ideas-forces, trust in control institutions, trust in the media, evaluation of Temer’s administration, and evaluation of Leftist policies. In conclusion, the institutional trust and ideological sympathies anchored the social representations of the Brazilian scenery for the studied university population.

Keywords:  Ideology; Institutional Trust; Social Representations; Brazilian Political Scenario; University Students

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo probar un modelo teórico explicativo de las representaciones sociales en el escenario sociopolítico brasileño de 2017 según las siguientes relaciones: las representaciones estarían directamente influenciadas por la confianza en las instituciones, y esta confianza, determinada por las simpatías ideológicas. Participaron en este estudio 164 estudiantes universitarios, con edad media de 24 años, quienes respondieron a escalas intervalares. Se llevaron a cabo modelos de ecuaciones estructurales para probar el modelo teórico propuesto. Los resultados indicaron: adecuación del modelo; dos grupos de variables que presentaban relaciones positivas entre las variables del mismo grupo y negativas en la comparación intergrupal. El primer grupo incluía las variables: ideas-fuerza de la izquierda, confianza en los movimientos sociales, evaluación del gobierno de Dilma y evaluación de las políticas de la izquierda; el segundo: ideas-fuerza de la derecha, confianza en las instituciones de control, confianza en los medios de comunicación, evaluación del gobierno Temer y evaluación de las políticas de la izquierda. Se concluyó que la confianza institucional y la simpatía ideológica funcionaron como fundamentos de las representaciones sociales del escenario político brasileño en la población universitaria estudiada.

Palabras clave:  Ideología; Confianza Institucional; Representaciones Sociales; Escenario Político Brasileño; Estudiantes Universitarios

Introdução

Esta pesquisa foi realizada no ano de 2017, e teve como principal motivação os acontecimentos políticos que vinham ocorrendo no Brasil. Desde as eleições presidenciais de 2014, com a vitória no segundo turno de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), sobre Aécio Neves, candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), estabeleceu-se no país um quadro de constantes conflitos entre os simpatizantes de ideologias políticas de esquerda e os de direita, mostrando-se, estes últimos, descontentes com o resultado das urnas (Chaia & Brugnago, 2014; Pinto, 2017). Esse fato, aliado à queda da popularidade da presidenta Dilma decorrente de uma gestão que não agradou a nenhum dos dois lados do espectro, juntamente com uma crise econômica derivada de fatores externos e internos - que não serão discutidos aqui - e com a cobertura ampla, por parte da mídia, dos resultados de investigações que apontavam a participação de membros de diversos partidos - incluindo o PT - em esquemas de corrupção, contribuiu para o agravo da situação de instabilidade política no país (Oliveira, 2016; Telles, 2015).

Acusada de cometer crime de responsabilidade pelas chamadas pedaladas fiscais, a presidenta passou a ser alvo de um processo de impeachment, foi afastada do cargo em maio de 2016, e sofreu o impeachment em agosto do mesmo ano. Com isso, o vice-presidente Michel Temer, do então Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), assumiu a Presidência da República, defendendo um programa de governo ideologicamente oposto ao de Dilma. Temer instaurou uma política de austeridade nas áreas de saúde, educação, ciência e tecnologia, promovendo cortes em programas sociais e significativas reformas na área trabalhista e na previdência. Ademais, as notícias de escândalos de corrupção supostamente envolvendo membros dos mais altos escalões do governo Temer, que contava com uma aprovação de apenas 5% da população (Agência Brasil, 2017) - a menor aprovação de um presidente nos últimos 28 anos - apontavam para o momento de grande instabilidade política e crise institucional pelo qual o país estava passando.

Diante desse cenário, diversos segmentos sociais e políticos de esquerda, e partidos da oposição ao governo Temer passaram a defender o discurso de que o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff constituiu um golpe de Estado realizado com o intuito de alçar ao poder um programa político neoliberal que não havia sido aprovado nas urnas pelo voto popular e proteger das investigações os políticos suspeitos de corrupção pertencentes aos partidos de direita (Jinkings, Doria, & Cleto, 2016; Oliveira, 2016; Telles, 2015).

Diante do contexto sócio-político brasileiro da época, caracterizado por um aumento da discussão sobre temas políticos por parte da população, pela intensa polarização político-ideológica, pela extrema instabilidade das instituições democráticas e ampla cobertura da mídia, julgou-se relevante a realização de estudos que investigassem as representações da população sobre esses acontecimentos, o papel das diferentes instituições na propagação das narrativas existentes e as ideologias que estariam atuando por trás dessas representações e instituições. Como uma tentativa de contribuir para uma maior compreensão desse cenário, surgiu este trabalho, que se propôs a testar um modelo hipotético explicativo para as representações sociais (RS) acerca do cenário sociopolítico, com base na simpatia ideológica e na confiança institucional.

Representações Sociais

Para entender as formas como os diferentes indivíduos organizam suas percepções do contexto social em que estão inseridos, esta pesquisa faz uso da teoria das representações sociais. Esta teoria, elaborada por Serge Moscovici (1961/2012), explica como o ser humano utiliza representações construídas e compartilhadas socialmente para compreender a realidade que o circunda e orientar suas ações e percepções sobre ela, ainda que de forma inconsciente. Moscovici (2003) elucida que é através das interações sociais em ambientes favoráveis, chamados de universos consensuais, que as representações surgem, a partir do compartilhamento de informações.

Baseando-se na teoria das representações sociais, Willem Doise e seus colaboradores dedicaram-se a pesquisar a temática dos direitos humanos (DH) (Clémence, Doise, Rosa, & Gonzalez, 1995; Doise, 2003; Spini & Doise, 1998). As pesquisas citadas, bem como outras (Camino et al. 2007; Camino, Pereira, Paz, Zenaide, & Dias 2001; Doise, 2002; Doise, Staerkle, Clémence, & Savory, 1998), seguiram o método proposto por Doise, Bordieu, Clémence e Lorenzi-Cioldi (1992) do estudo das RS a partir de três níveis de análise, focando principalmente no primeiro nível, que se dedica à verificação de um consenso sobre as RS dos DH.

Este trabalho se insere sobretudo no terceiro nível de análise proposto por Doise et al. (1992). Esse nível de análise é caracterizado por Doise (2002) como mais societal, partindo do princípio de que são as características culturais e ideológicas que dão significado ao comportamento individual e grupal ao buscar compreender e explicar as dinâmicas sociais a partir dos sistemas de crenças e normas sociais.

As investigações realizadas a partir desse terceiro nível de análise (Camino, Camino, Pereira, & Paz, 2004; Camino et al., 2007; Clémence et al., 1995; Diaz-Veizades, Widaman, Little, & Gibbs, 1995; Doise, 2002; Doise et al., 1998; Pereira & Camino, 2003; Spini & Doise, 1998) mostraram a existência das ancoragens das RS dos DH no posicionamento político, na confiança em diferentes instituições, na simpatia ideológica e no contexto socioeconômico. Na mesma linha metodológica, este estudo pretende investigar como as RS acerca do cenário sociopolítico brasileiro relacionam-se com a simpatia ideológica e a confiança institucional.

Ideologia, Ideias-Força e Confiança Institucional

Em revisão sobre o tema, Moreira (2017) destaca que a conceituação de ideologia como um conjunto de valores e crenças é, em certa medida, compartilhada por vários teóricos da sociologia, da psicologia social e das ciências políticas (Conolly, 1967; Conover & Feldman, 1981; Converse, 2006; Cornwell & Higgins, 2013; Devine, 2015; Eccleshall, Kenny, & Wilford, 1994; Eagleton, 1991; Evans, Heath, & Lalljee, 1996; Feldman & Johnston, 2014; Freeden, 1994; Harrison & Boyd, 2003; Heiphetz, Spelke, Harris, & Banaji, 2012; Jost, Nosek, & Gosling, 2008; Lakoff, 1996; Malka & Lelkes, 2010; Piaget, 1965; Raaijmakers & Hoof, 2006; Rosenberg, 1988; Saeri, Iyer, & Louis, 2015; Selinger, 1976; Swedlow, 2008; van Djik, 1998; van Stekelenburg, 2006, citados em Moreira, 2017).

Adota-se, neste estudo, a concepção de ideologia utilizada por Doise (2002), a partir do conceito de ideias-força. As ideias-força podem ser compreendidas como valores e crenças de origens diversas (religiosas, filosóficas, políticas), construídos historicamente a partir das interações e conflitos sociais. O autor compara esse conceito com a noção de visões de Paul Gordon Lauren (1998), que têm como características estarem sujeitas a interpretações diversas e se projetarem num futuro imaginado como diferente do presente. Para Doise (2002), as ideias-força (como as de solidariedade, dignidade, respeito ao próximo e de um mundo mais igualitário), representando valores de como a sociedade e as relações sociais deveriam se organizar, muitas vezes surgiram e se propagaram em contestação aos contextos da época, em que eram predominantes realidades e ideias-força opostas, gerando conflitos sociais.

Por fim, da resolução desses conflitos, novas ideias podem ser incorporadas e consolidadas na sociedade através de sua institucionalização - por exemplo, a partir de novas leis. Porém, sendo as instituições presentes na sociedade muito variadas (como Igreja, mídia, governos, sindicatos, bancos), observa-se, dentro de uma mesma sociedade, e num mesmo período, a existência de instituições que promovem ideias-força distintas, muitas vezes conflitantes. (Silva & Camino, 2015). Dessa forma, a confiança em instituições pode ser considerada uma atitude política (Clémence, 2001; Scheidegger & Staerklé, 2011), sendo objeto de estudos nas áreas das ciências políticas e da psicologia social (Arnoso, Bobowik, & Beristain, 2015; Arnoso, Cárdenas, & Páez, 2012; Arnoso, Muratori, Páez, Zubieta, & Cárdenas, 2014; Cárdenas, Páez & Rimé, 2013a; Cárdenas, Páez & Rimé, 2013b; Mesquita, Moisés & Rico, 2014; Moisés, 2005; Moisés, 2008; Silva & Camino, 2015; Scheidegger & Staerklé, 2011).

A confiança nas instituições, enquanto atitude política, pode ser compreendida como um processo em que os indivíduos se posicionam em relação às regras constitutivas e aos conteúdos normativos compartilhados de determinada instituição (Moisés, 2005; Scheidegger & Staerklé, 2011). Nesse sentido, as instituições são mecanismos de formação e de compartilhamento de RS - universos consensuais, segundo Moscovici (2003) -, de acordo com as ideias-força que as constituem, que estão, de alguma forma, relacionadas aos objetivos coletivos que essas instituições se propõem a realizar (Moisés, 2005). Dessa forma, entendendo que as RS surgem de interações mediadas por instituições, e que estas estão impregnadas de determinadas ideias-força, pode-se entender como essas ideias interferem na construção e manutenção das RS.

Considerando que, para um funcionamento democrático sadio das instituições governamentais, é importante que haja, por parte da população, algum nível de confiança depositado nessas instituições (Mesquita, Moisés & Rico, 2014; Scheidegger & Staerklé, 2011), diversos estudos têm sido realizados sobre o tema (Arnoso, Cárdenas & Páez, 2012; Arnoso et al., 2014; Cárdenas et al., 2013a; Cárdenas et al., 2013b; Scheidegger & Staerklé, 2011). Esses estudos utilizaram uma escala para verificar a confiança institucional, considerando-a unifatorial. Aqui, julga-se pertinente considerar essa mesma escala como multifatorial (Silva & Camino, 2015), uma vez que as diversas instituições representam ideologias distintas e, consequentemente, constituirão RS distintas (Camino et al., 2007; Doise, 2002; Doise, 2003; Doise et al., 1998; Pereira & Camino, 2003; Silva & Camino, 2015; Spini & Doise, 1998).

A partir dessas reflexões teóricas, elaboramos um modelo hipotético que estrutura as relações existentes entre as ideias-força do sujeito, sua confiança nas instituições e suas representações sobre as situações concretas do cenário político nacional. Em um primeiro momento, supõe-se que as ideias-força do indivíduo influenciam sua confiança nas diferentes instituições sociais, à medida que ele é capaz de identificar, ainda que de maneira subconsciente, os valores e princípios que subjazem a tais instituições. Isso o leva a confiar mais nas instituições que representam ideias-força congruentes com as suas e a confiar menos naquelas instituições cujas ideias-força opõem-se às que ele valoriza. A título de exemplo, pode-se pensar que uma pessoa que valoriza ideias-força como as de autoridade, obediência, hierarquia e poder tenderá a confiar em instituições percebidas como representantes desse mesmo grupo de ideias, como as Forças Armadas. Por outro lado, essa mesma pessoa provavelmente nutrirá uma menor confiança em instituições que promovam ideias-força como as de autonomia, coletividade, pensamento crítico e horizontalidade nas relações.

A segunda parte do modelo proposto diz respeito à relação que se estabelece entre essa confiança institucional e as representações sobre a realidade social apreendidas pelo sujeito. Partindo da compreensão de que as instituições atuam como produtoras e reprodutoras das ideologias existentes na sociedade (Althusser, 2006), entende-se que as ideias-força que governam uma determinada instituição são - a partir de seus membros e de seu funcionamento - “traduzidas” em opiniões e narrativas acerca dos mais variados acontecimentos da sociedade. Ou seja, as instituições constituem o espaço privilegiado, em que há um certo repertório ideológico compartilhado, para que as ideias-força sejam objetivadas em determinadas representações ou posicionamentos concretos sobre a realidade social. Assim, supõe-se que quanto maior for a confiança depositada nessas instituições por um indivíduo, mais ele tenderá a aderir às representações veiculadas por tais instituições.

Posto de maneira simplificada, o modelo propõe que as ideias-força influenciam a confiança dos indivíduos nas instituições que, então, determinam quais são as representações sociais concretas que esses indivíduos terão sobre o contexto político (ideologia>confiança institucional>RS do cenário político). Há de se considerar, no entanto, que este modelo (que será referido como modelo principal) não representa a única leitura possível para as relações que se estabelecem entre as variáveis estudadas.

Nesse sentido, levanta-se uma perspectiva que propõe uma ordem alternativa da influência das variáveis. Essa perspectiva, que será referida como modelo alternativo, propõe que a confiança nas instituições influencia as ideias-força do sujeito, à medida que ele internaliza aquelas ideias das instituições em que mais confia. Essas ideias-força, por sua vez, organizariam as RS do sujeito acerca da sociedade (confiança institucional>ideologia>RS do cenário político).

Objetivos e Hipóteses

O objetivo geral deste trabalho foi verificar a pertinência de um modelo hipotético explicativo para as representações do cenário político brasileiro de 2017, com base na confiança institucional e nas ideias-força. Para tanto, teve como objetivos específicos:

  1. Verificar as relações entre os tipos de confiança institucional e as RS do cenário político da época, aferidas a partir das avaliações dos governos de Dilma Rousseff e de Michel Temer e de uma série de políticas e programas governamentais em evidência na época.

  2. Verificar as relações entre as dimensões das ideias-força e as de confiança nas instituições.

Metodologia

Optou-se por fazer uso de um delineamento de pesquisa correlacional ex-post-facto com uma amostra não probabilística e formada por conveniência (Breakwell, Hammond, Fife-Schaw, & Smith, 2010; Cozby, 2003; Richardson, 1985; Shaughnessy, Zechmeister, & Zechmeister, 2012). Utilizou-se uma amostra composta por 164 estudantes do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Participaram da pesquisa universitários de ambos os sexos, em sua maioria, mulheres (59,8%). A faixa etária dos participantes variou de 18 a 60 anos, dando uma média de idade de 24,1 anos (DP=7,67). A maioria dos estudantes (55,3%) tinha renda mensal de até três salários-mínimos e declarava-se de etnia parda (48,4%) ou branca (40,3%).

Instrumentos

Foi utilizado um questionário composto pelos seguintes instrumentos:

  1. Escala de avaliação de políticas governamentais: escala composta por nove itens que correspondem a diferentes programas e políticas de governo, como o programa Bolsa Família, a reforma educacional proposta pelo governo de Michel Temer e o programa Minha Casa Minha Vida. O respondente deve indicar o quanto acredita que cada um desses programas e políticas é útil para o país, numa escala Likert que varia de 1 (“Nada”) a 5 (“Muitíssimo”). A escala é formada por dois fatores: políticas de direita e políticas de esquerda, que apresentaram coeficientes de consistência interna (Alfa de Cronbach) α=0,82 e α=0,74, respectivamente.

  2. Escala de avaliação do governo Dilma Rousseff: instrumento composto por 16 itens, em que se pede ao participante que avalie o governo de Dilma Rousseff em relação a diversas áreas numa escala Likert de 1 (“Muito negativo”) a 5 (“Muito positivo”). Os itens correspondem aos seguintes temas: direitos trabalhistas; saúde; pessoas sem-teto; educação; população LGBT; meio ambiente; segurança; pessoas com deficiência; população negra; cultura; população mais pobre; direitos das mulheres; direitos humanos; população indígena; direitos das crianças e reforma agrária.

  3. Escala de avaliação do governo Michel Temer: escala análoga à de avaliação do governo Dilma Rousseff, mas que pede que os participantes avaliem o governo de Michel Temer. Possui 16 itens que dizem respeito às mesmas áreas do questionário supracitado, e que devem ser respondidos segundo uma escala Likert que varia entre 1 (“Muito negativo”) e 5 (“Muito positivo”).

  4. Escala de ideias-força: escala elaborada por Doise et al. (1998) e adaptada no Brasil por Camino et al. (2007), em que são propostas nove ideias (liberdade, solidariedade, direitos do homem, partidos de direita, igualdade, democracia, poder, dinheiro, partidos de esquerda e tradições) para que os participantes indiquem seu grau de simpatia por cada uma delas, a partir de uma escala tipo Likert que vai de 1 (“Eu não acho nem um pouco importante”) a 4 (“Eu acho muito importante”). Para as análises, foram utilizados os dois fatores encontrados por Silva e Camino (2015): ideias-força de esquerda e ideias-força de direita (α=0,63).

  5. Escala de confiança institucional: lista com 14 itens, cada um referente a uma instituição, em que o respondente deve indicar o seu nível de confiança em cada uma das instituições, de acordo com uma escala tipo Likert de 1 (“nenhuma confiança”) a 4 (“muita confiança”). A escala foi originalmente utilizada por Cárdenas et al. (2013a), em espanhol. No Brasil, foi traduzida e aplicada inicialmente no trabalho de Silva e Camino (2015). Possui quatro fatores: instituições governamentais (α=0,84); instituições de controle (α=0,8); movimentos sociais (α=0,75) e mídia (α=0,69).

Procedimentos

Foram seguidos todos os cuidados éticos concernentes à pesquisa envolvendo seres humanos, conforme preconizado pela Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram coletados no Campus I da UFPB, localizado na cidade de João Pessoa (PB). Os questionários foram respondidos individualmente, em ambiente coletivo de sala de aula, e a duração variou entre 25 e 40 minutos.

Para realizar as análises dos dados, foi utilizado o software Pacote Estatístico para as Ciências Sociais (SPSS) - versão 21, bem como o programa IBM SPSS AMOS. Para a testagem do modelo hipotético proposto, foram realizadas análises de modelagens de equações estruturais (MEE). A MEE é uma estatística utilizada para examinar “a estrutura de inter-relações expressas em uma série de equações, semelhante a uma séria de equações de regressão múltipla” (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009, p. 543), e é considerada o método de análise mais apropriado para testar hipóteses mediacionais (Hair et al., 2009; Scheidegger & Staerklé, 2011). Existem alguns índices que permitem avaliar a qualidade de ajuste do modelo proposto em uma MEE. Foram utilizados aqueles considerados pela literatura (Hair et al., 2009; Hox & Bechger, 1998; Jöreskog, 1993; Pilati & Laros, 2007) como os mais importantes, a saber: qui-quadrado (χ²); Goodness of Fit Index (GFI); Adjusted Goodness of Fit Index (AGFI); Comparative Fit Index (CFI); Root Mean Square Residual (RMR) e Root-Mean-Square Error of Approximation (RMSEA). Estes índices serviram como parâmetros para a avaliação dos modelos testados neste trabalho.

Resultados

Inicialmente, foram realizadas análises correlacionais, com o intuito de verificar se seriam encontradas relações que suportassem a realização das MEE. A Tabela 1 apresenta as correlações entre os fatores ideias-força e os fatores de confiança institucional. Observou-se a presença de correlações significativas entre os dois grupos de variáveis, e que as ideias-força de esquerda e as ideias-força de direita apresentavam padrões diferentes de relações com os fatores de confiança institucional. Esses resultados suportam a relação hipotetizada entre a ideologia e a confiança institucional, mas não nos dizem nada a respeito da direção da influência entre essas variáveis.

Tabela 1
Correlações entre os fatores de ideias força e de confiança institucional.

Realizaram-se, em seguida, análises de correlação para verificar se as variáveis relativas às representações concretas do cenário político nacional, a saber, as avaliações dos governos e das políticas de governo, estariam relacionadas com os fatores de ideias-força e/ou com os fatores de confiança institucional (Tabela 2). A existência de relações significativas entre as avaliações (das políticas e dos governos) e os fatores de confiança institucional suportariam o modelo hipotético proposto (ideologia>confiança institucional>RS do cenário político). Por outro lado, relações significativas entre as avaliações e os fatores de IF reforçariam o modelo alternativo (confiança institucional>ideologia>RS do cenário político).

Tabela 2
Correlações das avaliações das políticas e governos com os fatores de ideias força e de confiança institucional.

Como pode ser observado na Tabela 2, foram encontradas diversas correlações significativas tanto para os fatores de ideias-força quanto para os de confiança institucional. As análises correlacionais não permitiram fazer inferências sobre a direção das influências exercidas pelas variáveis em questão e tampouco tirar conclusões quanto à superioridade de um ou outro dos modelos levantados. No entanto, a abundância de associações estatisticamente significativas encontradas permitiram a investigação subsequente dos modelos a partir do método de MEE.

Para testar o principal modelo proposto (ideologia>confiança institucional>RS do cenário político), elaborou-se um modelo não recursivo em três níveis, tendo como base as premissas teóricas discutidas e os resultados encontrados em pesquisas anteriores. No primeiro nível, como principais variáveis independentes (exógenas), foram alocados os dois fatores de simpatia ideológica. Os quatro fatores de confiança institucional ocuparam o nível intermediário, e foram explicados pelos fatores de simpatia ideológica, relacionando-se diretamente com as RS do cenário político. Para o terceiro nível, foram selecionadas as quatro variáveis representativas das RS do contexto político da época, a saber: avaliação das políticas de esquerda; avaliação das políticas de direita; avaliação do governo Dilma e avaliação do governo Temer. Foram realizadas testagens do modelo descrito para cada uma dessas quatro variáveis dependentes, separadamente, cujos resultados podem ser observados nas Figuras 1 e 2.

Figura 1
Modelo teórico da influência da simpatia ideológica e da confiança institucional sobre a avaliação das políticas governamentais.

Figura 2
Modelo teórico da influência da simpatia ideológica e da confiança institucional sobre a avaliação dos governos Dilma e Temer.

O modelo apresentou bons índices de ajustamento para as quatro variáveis dependentes testadas (Tabela 3). Verificou-se que, em todas as situações, as ideias-força de esquerda associaram-se de forma positiva e significativa com a confiança nos movimentos sociais e de forma negativa e significativa com a confiança nas instituições de controle. Por sua vez, as ideias-força de direita relacionaram-se de forma positiva e significativa com a confiança nas instituições governamentais e nas instituições de controle, bem como com a confiança na mídia.

Tabela 3
Índices de ajustamento dos modelos teóricos testados.

Como se observa na Figura 1, a avaliação das políticas de esquerda teve uma associação positiva com a confiança nos movimentos sociais, e negativa com a confiança nas instituições de controle, enquanto a avaliação das políticas de direita seguiu um padrão inverso, relacionando-se positivamente com as instituições de controle e negativamente com os movimentos sociais, apresentando ainda uma associação positiva com a confiança na mídia. No que diz respeito à avaliação dos governos (Figura 2), observa-se que a avaliação do governo Dilma apresentou uma relação positiva com a confiança nos movimentos sociais, enquanto a avaliação do governo Temer esteve positivamente associada com a confiança nas instituições de controle e com a mídia.

Apesar de o modelo testado ter obtido índices bons e apresentado relações esperadas e teoricamente congruentes, foram realizadas novas análises de MEE propondo uma ordem de causalidade alternativa. Neste modelo alternativo (confiança institucional>ideologia>RS do cenário político), as instituições foram colocadas num primeiro nível, como principal variável independente, enquanto os fatores de simpatia ideológica ocuparam uma posição intermediária, relacionando-se diretamente com as variáveis dependentes. Seguindo o mesmo processo metodológico das análises anteriores, foram realizadas testagens para cada uma das quatro variáveis dependentes separadamente. Dentre as quatro variáveis dependentes testadas no modelo alternativo, apenas duas apresentaram indicadores de ajustamento aceitáveis (Tabela 3).

Na Figura 3 está ilustrada a testagem do modelo alternativo para uma das variáveis dependentes que apresentaram indicadores aceitáveis, referente à avaliação das políticas de esquerda. Apesar de as relações encontradas serem teoricamente coerentes e condizentes com o que foi encontrado no modelo principal, observaram-se tanto um número menor de relações significativas como uma menor força das relações. Além disso, o programa AMOS indicou uma relação direta entre a confiança nos movimentos sociais e a avaliação das políticas de esquerda, que não seria esperada para esse modelo. Ao computar-se essa relação, constatou-se que a confiança nos movimentos sociais apresentou uma relação maior com a variável dependente do que as ideias-força de esquerda e de direita, o que indica a maior adequação do modelo principal. Esses mesmos fenômenos também foram observados na testagem das outras variáveis para o modelo alternativo, e reforçam a maior adequabilidade do modelo principal.

Figura 3
Modelo teórico alternativo da influência da confiança institucional e da simpatia ideológica sobre a avaliação das políticas de esquerda.

Discussão

Os resultados da verificação do modelo teórico proposto a partir das MEE confirmaram a hipótese inicial de que, para a amostra universitária estudada, as representações sociais do cenário sociopolítico brasileiro estavam ancoradas na confiança em diferentes instituições, e que essa confiança, por sua vez, era determinada pela simpatia ideológica (ideias-força) dos estudantes. Portanto, é possível afirmar que as ideias-força - de maneira indireta, a partir da mediação da confiança institucional - exerciam influência sobre as representações dos universitários acerca do contexto da época.

No que diz respeito às relações verificadas entre as ideias-força e a confiança nas instituições, os resultados são compreensíveis ao considerarem-se as proposições teóricas de Doise (2002) de que as diferentes instituições surgem a partir das ideias-força presentes na sociedade, e passam a atuar como meios de manutenção e propagação das ideias-força que representam. Dessa forma, percebe-se como os fatores de confiança institucional representam grupos de instituições que refletem ideias de força distintas, algumas delas mais valorizadas pela ideologia de esquerda, e outras, pela de direita.

Concernente a esse tópico, verificou-se que as ideias-força de esquerda apresentaram uma influência positiva sobre a confiança nos movimentos sociais. Essa associação pode ser compreendida ao considerar-se que, de maneira geral, as ideologias de esquerda foram as mais predominantes nos diversos movimentos sociais em suas lutas contra o status quo e as injustiças existentes na sociedade, ao longo da história (Chomsky, 1992; Trindade, 2002). Em contrapartida, constatou-se que as ideias-força de esquerda influenciaram de forma negativa a confiança nas instituições de controle. Se, por um lado, os movimentos sociais têm um papel histórico de combate ao status quo, as instituições de controle assumem o papel contrário, de preservar a ordem social tal como ela está estabelecida, frequentemente por meio da repressão (Althusser, 2006; Marx & Engels, 1970).

Por sua vez, as ideias-força de direita seguiram um padrão de relações contrário ao da esquerda. A influência positiva das ideias-força de direita sobre a confiança nas instituições de controle reflete como essas instituições encarregadas da manutenção do status quo estão impregnadas de ideias de valorização das tradições, do poder e do dinheiro, bem como o fato de que elas atendem aos interesses dos partidos de direita. Já a influência positiva dessas ideias-força sobre a confiança nas instituições governamentais é entendida a partir do fato de que o governo da época contava com um presidente considerado de direita, além de um Congresso também majoritariamente de direita (que realizou o impeachment da presidenta Dilma).

Nesse sentido, os resultados encontrados corroboram a pesquisa de Silva e Camino (2015), que verificou que a confiança nas instituições de controle está associada ao posicionamento de direita, e que a confiança nos movimentos sociais associa-se ao posicionamento de esquerda. Os resultados também vão na mesma direção dos da pesquisa de Doise (2002) e Camino et al. (2007), em que os fatores ideológicos de liberalismo (Camino et al., 2007) e coletivismo (Doise, 2002), ambos semelhantes ao fator de ideias-força de esquerda do presente estudo, influenciaram positivamente o posicionamento diante dos direitos fundamentais, públicos e de recusa, já que a reinvindicação desses grupos de direitos é uma causa muito presente em grande parte dos movimentos sociais.

Observou-se que a confiança na mídia está relacionada com as ideias-força de direita, o que é condizente com os posicionamentos que a mídia brasileira tem adotado ao longo de décadas, mostrando-se mais favorável a programas de governo comprometidos com ideologias neoliberais e tentando construir imagens negativas da esquerda e de seus candidatos e governantes (Chaui, 2006; Chomsky, 2002; Costa & Camino, 2005; Herman & Chomsky, 2010; Jinkings et al., 2016; Oliveira, 2016; Telles, 2015).

De acordo com a MEE realizada, o principal papel que a confiança na mídia parece desempenhar, no entanto, é o de promover posicionamentos mais favoráveis aos tópicos relacionados à ideologia de direita. Isso pode ser observado na influência positiva que a mídia exerce sobre a avaliação das políticas de direita e sobre a avaliação do governo de Michel Temer. Este resultado reflete as principais narrativas empregadas pela mídia ao tratar essas questões, propagando o discurso de que as políticas de austeridade propostas pelo governo de Temer são necessárias para a recuperação do país (Chaui, 2006; Jinkings et al., 2016).

No que se refere às outras associações encontradas entre os fatores de confiança institucional e as RS do cenário sócio-político brasileiro, constatou-se que as variáveis que mais influenciaram as RS em questão foram a confiança nas instituições de controle e a confiança nos movimentos sociais. Ressalta-se que esses fatores seguiram, um em relação ao outro, padrões contrários de influência, em todas as situações testadas. Dessa forma, enquanto a confiança nas instituições de controle exerceu influência negativa sobre a avaliação das políticas de esquerda e positiva sobre a avaliação das políticas de direita, o fator movimentos sociais influenciou positivamente a avaliação das políticas de esquerda e negativamente a avaliação das políticas de direita. De forma similar, em relação aos governos, a confiança nos movimentos sociais associou-se positivamente com a avaliação do governo Dilma, enquanto a confiança nas instituições de controle apresentou uma associação positiva com a avaliação do governo Temer. Tais achados confirmam a hipótese de que esses dois grupos de instituições defendem ideias-força opostas, e, como consequência, reforçam visões de mundo também opostas uma à outra.

Em relação aos modelos alternativos testados, inverteu-se a ordem entre os fatores de ideias-força e de confiança institucional, que ficaram, respectivamente, no segundo e no primeiro nível de análise. Esta ordem poderia também ser teoricamente explicada na medida em que as instituições atuam como disseminadoras de determinadas ideologias (Althusser, 2006; Doise, 2002; Marx & Engels, 1970), e que a confiança nessas instituições determinaria uma maior concordância com os conteúdos ideológicos que elas transmitem. No entanto, os resultados indicaram uma maior adequabilidade dos modelos iniciais, tanto pela superioridade dos índices de ajustamento quanto pela maior força e quantidade de associações encontradas. Parece, portanto, ser adequado concluir que existe uma maior tendência a escolhermos em que instituições confiar com base em nossas ideias prévias do que a aderirmos às ideias-força daquelas instituições que nos parecem confiáveis. Não obstante, esta interpretação não exclui a possibilidade de um relacionamento bidirecional entre as variáveis em questão, de modo que a simpatia ideológica determine as instituições dignas de confiança, e que, ao mesmo tempo, os conteúdos propagados por estas instituições reforcem as ideias-força preexistentes, numa espécie de retroalimentação.

A partir da confirmação do modelo teórico proposto, pode-se deduzir logicamente que a simpatia ideológica influencia, ainda que de forma indireta (por intermédio das instituições), a forma como os indivíduos se posicionam perante as questões sócio-políticas do contexto em que se inserem. Esse achado é condizente com as proposições de diversos teóricos que afirmam que a ideologia atua como organizadora das percepções e ações do indivíduo sobre a realidade social, como Doise (2002), Freeden (1994 citado em Moreira, 2017), Lakoff (1995), Moscovici (2003), Piaget (1965) e Rosenberg (1998, citado em Moreira, 2017).

Em relação aos temas sociais específicos deste trabalho, é plausível admitir, com base no raciocínio exposto, que as ideias-força de esquerda ancoram uma avaliação positiva das políticas de esquerda e do governo Dilma, bem como uma avaliação negativa das Políticas de direita e do governo Temer. Por outro lado, admite-se que as ideias-força de direita seguem um padrão inverso, ancorando uma avaliação mais positiva das políticas de direita e do governo Temer, e uma avaliação mais negativa das políticas de esquerda e do governo Dilma. Esses resultados parecem logicamente compreensíveis, uma vez que o governo de Dilma Rousseff era popularmente reconhecido como de esquerda, enquanto o de Michel Temer, como de direita. Ao mesmo tempo, nota-se que as políticas de esquerda parecem ser de fato reconhecidas, pelas pessoas com um posicionamento político-ideológico de esquerda, como representantes de boas medidas de governo, enquanto o mesmo ocorre com as políticas de direita e as pessoas que se posicionam politicamente como de direita.

Os resultados encontrados somam-se às pesquisas que demonstraram a influência do posicionamento político-ideológico e institucional, dentre outras variáveis, sobre os posicionamentos de diversas representações sociais (Camino et al., 2004; Camino et al., 2007; Clémence et al., 1995; Diaz-Veizades et al., 1995; Doise, 2002; Doise et al., 1998; Pereira & Camino, 2003; Spini & Doise, 1998). Nesse sentido, os achados também corroboram as pesquisas sobre as Comissões da Verdade (CV) na América Latina (Arnoso, Arnoso, & Pérez-Sales, 2012; Arnoso, Cárdenas, & Páez, 2012; Arnoso et al., 2014; Cárdenas et al., 2013a; Silva & Camino, 2015), em que as RS sobre as CV variavam de acordo com o posicionamento político dos respondentes.

Portanto, os resultados deste estudo corroboram as proposições teóricas de Moscovici (2003), que descrevem como as instituições, exercendo o papel de universos consensuais, servem como espaço de criação e manutenção das representações sociais para os indivíduos e grupos que nelas se inserem. Além disso, os resultados também reforçam a tese de Doise (2002) de que as ideias-força orientam a visão dos indivíduos sobre a sociedade, bem como regem as instituições nela inseridas.

Considerações Finais

Este trabalho testou um modelo teórico para a explicação das representações sociais do cenário sociopolítico brasileiro com base na simpatia ideológica e na confiança institucional, utilizando uma amostra de universitários. A partir da realização de modelagens de equações estruturais, foi possível comprovar o referido modelo. De acordo com os resultados obtidos a partir do modelo, observou-se que as representações sociais dos estudantes estavam diretamente associadas às instituições em que eles confiavam, e que essa confiança pôde ser explicada por suas simpatias ideológicas.

Apesar das relevantes contribuições do trabalho, é possível destacar algumas de suas limitações. Primeiramente, ressalta-se o número reduzido de participantes da pesquisa, bem como o fato de a população estudada compor uma parcela não representativa da população brasileira como um todo. Ademais, as análises realizadas não abarcaram uma série de variáveis possivelmente relevantes para uma compreensão maior sobre o tema, como as inserções socioeconômicas dos respondentes.

Julga-se que seria relevante investigar a adequação do modelo teórico proposto ao estudo de outras populações, que não de universitários, para uma análise mais ampla das representações sociais existentes do cenário marcante da atualidade. A inclusão de variáveis associadas à ação política dos respondentes também constituiria uma adição válida para estudos futuros.

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  • 1
    Agradecemos ao CNPq pelo financiamento que permitiu a realização dessa pesquisa.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jun 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    16 Out 2020
  • Aceito
    03 Nov 2021
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