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Diferenças e Semelhanças Artísticas entre o Classicismo, o Romantismo e Walden Two

Artistic Differences and Similarities between Classicism, Romanticism, and Walden Two

Resumo:

O interesse de B. F. Skinner pela arte pode ser observado em diferentes publicações, com destaque para o livro Walden two (1948). Nele, Skinner considera as produções artísticas fundamentais para o estabelecimento de um ambiente social igualitário e feliz, mencionando, por consequência, uma pluralidade de obras de arte. Dada a relevância teórico-científica do livro, bem como sua diversidade artística, este artigo buscou compreender a arte descrita em Walden two com base nas vertentes artísticas tradicionais do classicismo e do romantismo. Trechos do livro que mencionavam palavras-chave associadas à arte foram compilados em tabelas e analisados de acordo com atributos clássicos e românticos, descritos por textos especializados. Foram identificadas seis principais modalidades artísticas na ficção skinneriana (literatura, teatro, música, artes plásticas, arquitetura e moda), que apresentam similaridades com o racionalismo clássico e o sentimentalismo romântico, bem como outras características que as diferenciam dessas vertentes. Conclui-se, assim, que a arte de Walden two está situada em um pluralismo artístico, que também indica a possibilidade de o comportamentalismo radical ser interpretado como uma filosofia da arte.

Palavras-chave:
Arte; Análise do Comportamento; Classicismo; Romantismo

Abstract:

B. F. Skinner’s interest in artistic productions can be seen in different publications, with the book Walden two (1948) standing out. In it, Skinner considers the artistic production for establishing an equalitarian and happy social environment, mentioning, thus, an array of artworks. Given the theoretical-scientific relevance of the book, as well as its artistic diversity, this article aimed understand the artworks described in Walden two based on a classic and romantic traditional artistic styles. Excerpts of the book that mentioned keywords related to art were researched and compiled in tables and analyzed according to classical and romantic attributes, described by specialized texts. Six main artistic categories were identified in Skinnerian fiction (literature, theater, music, visual arts, architecture, and fashion), that show similar characteristics to classic rationalism and romantic sentimentalism, as well as other characteristics that differentiate them from these strands. In conclusion, the art on Walden two exists in a state of artistic pluralism, which also highlights the possibility of radical behaviorism being interpreted as a philosophy of art.

Keywords:
Art; Behavior Analysis; Classicism; Romanticism

Resumen:

El interés de B. F. Skinner por el arte puede ser observado en diferentes publicaciones, especialmente en el libro Walden two (1948). El autor plantea en esta obra las producciones artísticas fundamentales para el establecimiento de un entorno social igualitario y feliz, mencionando, en consecuencia, una pluralidad de obras de arte. Dada la relevancia teórico-científica del libro, así como su diversidad artística, este artículo busco comprender el arte descrito en Walden two desde las corrientes artísticas tradicionales del clasicismo y el romanticismo. Los extractos del libro que mencionaban palabras clave asociadas con el arte se recopilaron en tablas y se analizaron de acuerdo con los atributos clásicos y románticos descritos por textos especializados. Se identificaron seis modalidades artísticas principales en la ficción skinneriana (literatura, teatro, música, artes plásticas, arquitectura y moda), que presentan similitudes con el racionalismo clásico y el sentimentalismo romántico, así como otras características que las diferencian de estas vertientes. Así, se concluye que el arte de Walden two se sitúa en un pluralismo artístico, lo que destaca la posibilidad de que el conductismo radical sea interpretado como una filosofía del arte.

Palabras clave:
Arte; Análisis del Comportamiento; Clasicismo; Romanticismo

A vida pessoal do psicólogo norte-americano B. F. Skinner (1904-1990) foi marcada por diferentes tipos de obras de arte: de acordo com sua autobiografia, o autor dedicava grande parte de seu tempo livre a atividades artísticas, seja tocando piano e saxofone ou lendo obras de ficção (Skinner, 1976Skinner, B. F. (1976). Particulars of my life. Knopf. ). A importância conferida por Skinner às produções artísticas também pode ser verificada em algumas de suas obras, como o romance Walden two , publicado em 1948. No livro, o autor descreve uma comunidade utópica, de aproximadamente mil habitantes, localizada no interior estadunidense, a qual é planejada e gerida com base nos princípios da análise do comportamento (Fernald, 1989Fernald, D. L. (1989). Walking tour of Walden two: A student’s guidebook. Macmillan. ).

Embora seja uma obra fictícia, a comunidade retratada em Walden two (1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) ) foi defendida seriamente por Skinner ao longo de sua produção acadêmica, pois ele considerava a proposta do romance uma etapa fundamental na construção de um ambiente social justo e aprazível (Skinner, 1969/ 2013Skinner, B. F. (2013). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis. B. F. Skinner Foundation. (Obra original publicada em 1969) ). Desse modo, para além da ficção, Walden two tem sido utilizado por diversos teóricos para examinar diferentes aspectos da teoria skinneriana, como questões relacionadas à filosofia da ciência (Moxley, 2006Moxley, R. A. (2006). B. F. Skinner’s other positivistic book: Walden two. Behavior and Philosophy, 34, 19-37. ), política (Lopes, 2020 Lopes, C. E. (2020). Could Walden two be an anarchist society? Behavior and Social Issues, 29, 195–217. https://doi.org/10.1007/s42822-020-00036-w
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; Nobuhara & Lopes, 2021 Nobuhara, M. M., & Lopes, C. E. (2021). Walden two: A república de Skinner? Revista Brasileira de Análise do Comportamento, 17(2), 106-117. https://doi.org/10.18542/rebac.v17i2.11007
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), princípios e conceitos comportamentais (Glenn, 1986 Glenn, S. S. (1986). Metacontingencies in Walden two. Behavior Analysis and Social Action, 5, 2-8. https://doi.org/10.1007/BF03406059
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; Martins, Carvalho Neto & Mayer, 2017 Martins, T. E. M., Carvalho Neto, M. B., & Mayer, P. C. M. (2017). Walden two: Uma sociedade utópica não aversiva? Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 19(1), 78-93. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v19i1.953
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) e problemas sociais (Wolpert, 2005 Wolpert, R. S. (2005). A multicultural feminist analysis of Walden Two. The Behavior Analyst Today, 6(3), 186-190. http://dx.doi.org/10.1037/h0100063
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).

Walden two constitui-se, portanto, como uma obra de relevância científico-filosófica para pesquisadores(as) interessados(as) nos desdobramentos éticos, políticos, sociais e, até mesmo, artísticos do comportamentalismo radical, na medida em que a arte está dentre as práticas deliberadamente fomentadas pelo planejamento cultural da comunidade skinneriana. É possível encontrar, por exemplo, menções a diferentes produções artísticas em Walden two (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) ), como música, teatro, arquitetura, literatura e artes plásticas.

Mais do que isso, em um prefácio da obra, de 1971, Skinner atribui à arte elevada importância em sua comunidade utópica, pois “um mundo que se tornou belo e estimulante por meio dos artistas, compositores, escritores e intérpretes é tão importante para a sobrevivência quanto aquele que satisfaz as necessidades biológicas” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. XIII). Nesse cenário, Walden two apresenta-se como trabalho impreterível nas discussões sobre arte no âmbito da análise do comportamento.

A despeito de existirem trabalhos na literatura que se propõem a discutir arte e estética sob uma perspectiva comportamental (como Arantes & de Rose, 2009 Arantes, A. K. L., & de Rose, J. C. C. (2009). Controle de estímulos, modelagem do comportamento verbal e correspondência no “Otelo” de Shakespeare. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 11(1), 61-76. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v11i1.384
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; Dittrich, 2020Dittrich, A. (2020). Para que serve a música? Funções comportamentais de estímulos musicais (para ouvintes). In C. A. A. Rocha, B. C. Santos, & H. M. Pompermaier (Orgs.), Comportamento em foco: Volume 12. Reflexões sobre teoria e prática do analista do comportamento (pp. 57-77). Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental. ; Guerin, 2019 Guerin, B. (2019). Contextualizing music to enhance music therapy. Perspectivas em Análise do Comportamento, 10(2), 222-242. https://doi.org/10.18761/PAC.2019.v10.n2.03
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; Luke, 2003 Luke, N. M. (2003). Analysis of poetic literature using B. F. Skinner’s theoretical framework from Verbal Behavior. The Analysis of Verbal Behavior, 19, 107-114. https://doi.org/10.1007/BF03392984
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; Mechner, 2019 Mechner, F. (2019). A naturalistic and behavioral theory of aesthetics. The Polish Journal of Aesthetics, 51(1), 73-93. https://doi.org/10.19205/52.19.4
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; Palmer, 2018 Palmer, D. C. (2018). A behavioral interpretation of aesthetics. The Psychological Record, 68, 347-352. https://doi.org/10.1007/s40732-018-0306-z
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), é raro – salvo algumas exceções (Silveira, 2021 Silveira, H. V. (2021). O comportamentalismo radical como uma filosofia da arte [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca digital da UEL. http://tinyurl.com/pnxatats
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; Vitti & Laurenti, 2019 Vitti, G. R., & Laurenti, C. (2019). Arte e comportamentalismo radical: Um estudo de caso de Walden two. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 21(3), 332-349. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v21i3.1377
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) – encontrar pesquisas que objetivem investigar essas temáticas por meio de um exame acurado de publicações do próprio Skinner, como Walden two . Esse tipo de investigação poderia contribuir, ainda que preliminarmente, para ampliar as discussões artísticas no escopo da análise do comportamento, averiguando o posicionamento de Skinner sobre essa temática. Ademais, uma análise de Walden two sob esse viés poderia indicar proximidades do comportamentalismo radical a discussões características da filosofia da arte, identificando semelhanças e diferenças entre a teoria skinneriana e certos movimentos tradicionais da história da arte.

Como argumenta Coli ( 1995Coli, J. (1995). O que é arte (15a ed.). Brasiliense. ), existe uma pluralidade de vertentes artísticas estabelecidas pelas autoridades no campo da arte, como críticos e historiadores, que classificam as obras de acordo com seu período histórico, suas características estilísticas e, até mesmo, as técnicas empregadas em sua produção. Entretanto, Argan ( 1992Argan, G. C. (1992). Clássico e romântico. In G. C. Argan (Org.), Arte moderna (pp. 11-34). Companhia das Letras. ) defende a tese de que, apesar dessa multiplicidade, o classicismo e o romantismo são vertentes artísticas capazes de englobar todos os movimentos que permeiam a história da arte ocidental, especialmente a europeia. Como explica o autor: “a cultura artística moderna mostra-se de fato centrada na relação dialética, quando não de antítese, entre esses dois conceitos [clássico e romântico]” (Argan, 1992Argan, G. C. (1992). Clássico e romântico. In G. C. Argan (Org.), Arte moderna (pp. 11-34). Companhia das Letras. , p. 11), sendo que “o ‘clássico’ está ligado à arte do mundo antigo, greco-romano, e àquela que foi tida como seu renascimento na cultura humanista dos séculos XV e XVI; o romântico, à arte cristã da Idade Média e mais precisamente ao Românico e ao Gótico” (p. 11).

Considerando, então, a relevância científico-filosófica de Walden two , o destaque conferido à arte na comunidade fictícia de Skinner, bem como o incremento às discussões comportamentais sobre filosofia da arte, este estudo teórico teve como objetivos: (a) identificar as características e funções das obras de arte descritas em Walden two ; (b) averiguar se essas características e funções definem todas as produções retratadas por Skinner em seu romance; e (c) avaliar semelhanças e diferenças entre a arte descrita no romance skinneriano e dois movimentos estilísticos tradicionais da história da arte, o classicismo e o romantismo.

Método

Foi conduzida uma pesquisa de natureza teórico-conceitual, que teve como fonte o livro Walden two em seu idioma original, o inglês. Para a investigação, palavras-chave diretamente associadas à arte foram pesquisadas no livro digital, em formato PDF, inserindo cada termo na ferramenta de busca textual do programa Adobe Acrobat Reader DC, utilizado para a leitura do arquivo do livro.

No total, foram selecionadas 28 palavras-chave, sendo elas: art , artist , entertain , fame , leisure , idleness , audience , talent , literature , library ( ies ), theater , music , Mozart, Bach, Beethoven, concert , arts and crafts , painting , sculpture , pictures , gallery , museum , architect , buildings , facilities , fashion , dress e movie . Esses vocábulos foram escolhidos tendo como base o índice remissivo de Walden two , publicado por Knapp ( 1975Knapp, T. J. (1975). An index to B. F. Skinner’s “Walden two”. Behaviorism, 3(2), 222-228. ), bem como uma leitura prévia do livro, o que permitiu identificar palavras recorrentes em trechos da obra que discutiam temas relacionados à arte.

Após a busca dos termos listados, todos os trechos do livro que continham alguma das palavras-chave foram categorizados e analisados com base em aspectos definidores do classicismo e do romantismo, descritos em dois livros especializados organizados por Guinsburg: O Classicismo (1999/ 2012Rosenfeld, A., & Guinsburg, J. (2012). Romantismo e classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (pp. 261-274). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ) e O Romantismo (1978/ 2013Guinsburg, J. (Org.). (2013). O romantismo (4a ed.). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ). Além dessas obras, outros textos pertinentes a essa temática foram consultados para complementar informações relativas aos movimentos artísticos investigados.

Todos os dados obtidos foram sistematizados em uma tabela, cujas entradas permitiram especificar, em cada linha, as principais modalidades artísticas identificadas em Walden two e, em cada coluna, as características e funções de tais produções no classicismo, no romantismo e na ficção skinneriana. A partir dessa compilação, foi elaborado um texto síntese com o objetivo de identificar semelhanças e diferenças entre a arte do romance e as vertentes clássica e romântica.

As obras de arte em Walden two

Pautando-se nos trechos do livro que apresentaram alguma das palavras-chave elencadas, foi possível identificar seis principais tipos de arte em Walden two: literatura, teatro, música, artes plásticas, arquitetura e moda. Cada uma dessas produções tem suas especificidades, o que exige que as análises realizadas neste estudo considerem, separadamente, as semelhanças e diferenças de cada uma dessas modalidades para com o classicismo e o romantismo.

Antes, porém, é importante ressaltar que, além das produções artísticas já listadas, Walden two (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) ) também menciona outros tipos de obras de arte, como cinema e dança. No entanto, optou-se por descartar as menções a essas modalidades, pois, em primeiro lugar, a análise dos trechos referentes à arte cinematográfica ultrapassaria o escopo estabelecido, uma vez que o classicismo e o romantismo se desenvolveram, respectivamente, nos séculos XV e XVIII, ao passo que o cinema só foi inventado ao final do século XIX. Já com relação à dança, as escassas menções feitas por Skinner a essa modalidade artística em Walden two impossibilitaram uma análise adequada de suas características, o que justifica sua exclusão deste estudo.

Cabe salientar também que a averiguação de semelhanças e diferenças entre as seis modalidades artísticas e o classicismo e o romantismo não se restringiu apenas a suas características estilísticas, pois, como defendem Rosenfeld e Guinsburg (1999/ 2012Guinsburg, J. (Org.). (2012). O classicismo. Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ), as vertentes clássica e romântica não se constituem apenas pelos atributos de suas obras, mas também por concepções sociais, políticas e éticas acerca do que é arte e qual sua função. Desse modo, este estudo buscou não apenas comparar as produções descritas no livro com as obras de tais vertentes, mas também confrontar as concepções filosóficas que fundamentam esses movimentos com os posicionamentos de Skinner.

Assim, as seis modalidades artísticas retratadas em Walden two serão apresentadas separadamente em seções, considerando: (i) seus principais aspectos no romantismo e no classicismo; e (ii) suas semelhanças e diferenças com a arte de Walden two . Vale destacar que os aspectos artísticos da ficção skinneriana serão evidenciados pelas vozes de duas personagens protagonistas do romance: Frazier e Burris.

Literatura

De modo geral, as obras literárias do classicismo, sobretudo na França, se destacaram por seu padrão de linguagem claro e preciso, que evitava termos populares e neologismos, bem como pela delimitação e hierarquização dos gêneros literários e a ausência de detalhamento psicológico dos personagens. Para serem de fato considerados arte, os livros dessa vertente deveriam seguir uma série de regras pré-definidas, como a elaboração de histórias com temáticas universais, não individuais, e, principalmente, a isenção total da subjetividade do escritor (Gonçalves, 1999/ 2012Gonçalves, A. J. (2012). O classicismo na literatura europeia. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 115-138). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

No que diz respeito ao objetivo de tais produções, a obra dos escritores clássicos foi marcada por histórias que propagavam normas de conduta consideradas ideais a todos os indivíduos, contribuindo para a educação moral da população. Desse modo, a literatura clássica foi um dos principais meios de transmissão dos princípios éticos dominantes da época, expondo, em suas histórias, os problemas sociais desencadeados pelos sujeitos que ultrapassavam os limites racionais da civilização (Gonçalves, 1999/ 2012Gonçalves, A. J. (2012). O classicismo na literatura europeia. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 115-138). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

Diferindo-se de tais características, a literatura romântica foi definida, como explica Carpeaux (1978/ 2013Carpeaux, O. M. (2013). Prosa e ficção do romantismo. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 157-165). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ), pelo excesso de carga emocional, pela valorização da natureza e pelo uso de elementos místicos, medievais e orientais. Para os românticos, só poderiam ser consideradas produções artísticas aqueles livros que buscassem enaltecer a originalidade e a subjetividade de seu autor, o que resultou em obras melancólicas ou cômicas, nas quais prevaleceram temáticas intensamente sentimentais, como o amor. Nesse cenário, era predominante a linguagem em versos e rimas, com dois gêneros principais: o romance gótico, marcado pelas narrativas medievais situadas em castelos e masmorras, e o romance histórico, que retratava enredos fantasiosos transcorridos em épocas reais do passado, o que possibilitou que tais obras desempenhassem uma importante função social de idealização da história nacional (Carpeaux, 1978/ 2013Carpeaux, O. M. (2013). Prosa e ficção do romantismo. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 157-165). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Ao comparar essas características com as obras descritas em Walden two , é possível perceber que a literatura retratada no livro não possui semelhanças significativas para com as produções do classicismo, apresentando, inclusive, aspectos que a diferenciam dos pressupostos estilísticos dessa vertente. As obras literárias da comunidade skinneriana, por exemplo, não parecem ser delimitadas por regras rígidas impostas aos escritores, uma vez que a educação de Walden two propõe-se a ensinar aos alunos técnicas que possibilitem que eles aprendam diferentes temáticas, inclusive literatura, com criatividade e autonomia. O personagem Frazier explica esse ponto: “ensinamos apenas as técnicas de aprendizagem e pensamento. Quanto à geografia, literatura [ênfase adicionada], ciências, damos às nossas crianças oportunidade e orientação, e elas aprendem por si próprias [ênfase adicionada] ” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 110).

Consequentemente, não há, ao contrário do classicismo, um estilo único de literatura em Walden two , o que permite que os livros da comunidade variem abundantemente, sendo citadas, por exemplo, obras com temáticas técnicas e filosóficas e, até mesmo, literatura francesa. As produções literárias da ficção skinneriana parecem ser caracterizadas pela criatividade e diversidade, uma vez que os planejadores da comunidade organizam contingências que favorecem o contato dos moradores com livros de diferentes temas e estilos. Como sugere Frazier: “aqui temos o coração de uma grande biblioteca . . . . Nós subtraímos de nossas prateleiras tão frequentemente quanto adicionamos a elas. O resultado é uma coleção que nunca perde o interesse” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 112).

A literatura de Walden two também diverge da vertente clássica devido a seus objetivos, pois as obras presentes no local não visam a instrução moral dos habitantes, e sim mantê-los em contato com o estilo de vida norte-americano, evitando que se sintam deslocados ou constrangidos em ambientes fora da comunidade. Para Frazier: “nossa arte e literatura, nossos filmes, nosso rádio e nossas excursões ocasionais para fora da comunidade nos mantêm em contato constante com a vida americana. Uma ruptura completa traria mais problemas do que o necessário” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 30).

Entretanto, a literatura de Walden two tampouco pode ser identificada estritamente com o romantismo. Isso porque, ao estar pautada nos princípios analítico-comportamentais, a comunidade utópica de Skinner não compreende a arte como manifestação da subjetividade dos escritores, mas como resultado de contingências ambientais planejadas para aumentar a probabilidade de ocorrência de comportamentos artísticos. Dando voz a Frazier: “por que nossa civilização não pode produzir arte tão abundantemente quanto produz ciência e tecnologia? Obviamente porque faltam as condições certas. É aí que entra Walden two. Aqui, as condições certas podem ser alcançadas [ênfase adicionada] ” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 80).

Além dessas questões, as análises realizadas neste estudo teórico evidenciaram outro atributo da literatura de Walden two que não possui correspondência na vertente clássica e nem na romântica: o papel ativo da audiência. Dentre as contingências planejadas para favorecer o comportamento dos escritores de Walden two , o papel dos leitores no controle de tais ações parece ser fundamental, uma vez que os livros da comunidade são divulgados ainda inacabados, o que permite que o comportamento do autor esteja sujeito, de maneira imediata, aos comentários e sugestões de sua audiência. Como narra o personagem Burris:

No quarto andar, uma mulher lia para três meninas que tomavam bebidas com um canudinho. Um homem, sentado de costas para a leitora, olhando para o gramado, de vez em quando virava a cabeça como se estivesse acompanhando a história com grande interesse. Eu soube, ao final do capítulo, que ele era o autor e que os capítulos posteriores ainda deveriam ser escritos

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 198).

O caráter ativo da audiência na produção das obras de arte se configura, portanto, como característica específica da literatura de Walden two na medida em que, nas vertentes artísticas tradicionais, o público não desempenhava funções significativas nesse processo.

Teatro

Como elucida Faria (1999/ 2012Faria, J. R. (2012). O classicismo no teatro: A dramaturgia do classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 139-174). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ), o teatro clássico foi constituído por peças pouco flexíveis e de ação limitada, fundamentadas em pressupostos que, sob pena de censura, controlavam a produção de todos os dramaturgos. Isso significa que as obras teatrais do classicismo foram elaboradas por meio da observância a uma série de normas estéticas, dentre as quais se destacam a regra da verossimilhança e a das conveniências. A primeira determinava que as situações narradas e interpretadas nas produções teatrais fossem logicamente coerentes e críveis, pois a peça deveria ser capaz de convencer a audiência de que os acontecimentos retratados no palco poderiam, de fato, ocorrer no mundo real. A regra das conveniências, por sua vez, estipulava que a peça teatral não deveria apresentar conteúdos que contrariassem os ideais do bom-senso e da moral predominante, o que acarretou a proibição de cenas de cunho sexual ou de violência extrema, sendo também vetado o uso de palavras consideradas obscenas e grosseiras (Faria, 1999/ 2012Faria, J. R. (2012). O classicismo no teatro: A dramaturgia do classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 139-174). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

As atuações clássicas se caracterizavam pelo equilíbrio e expressão das falas dos personagens de maneira forte, ritmada e lenta, pois o texto era escrito em versos, de maneira erudita, eloquente e, quase sempre, com rimas. Nessa acepção, Faria (1999/ 2012Faria, J. R. (2012). O classicismo no teatro: A dramaturgia do classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 139-174). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ) argumenta que as produções teatrais do classicismo tinham como principal objetivo entreter a nobreza por meio da apresentação de histórias que retratavam seus dilemas característicos, instruindo moralmente a audiência, assim como a literatura.

No entanto, a partir do século XVII, ocorre uma transformação no público dos espetáculos teatrais, que começa a exigir um teatro menos idealizado, capaz de abandonar as regras rígidas e a atuação declamatória em detrimento de uma interpretação mais próxima da realidade (Faria, 1999/ 2012Faria, J. R. (2012). O classicismo no teatro: A dramaturgia do classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 139-174). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ; Garcia, 1999/ 2012Garcia, S. (2012). O classicismo no teatro: A cena classicista. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 175-203). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ). Por consequência, o teatro do romantismo se caracterizou por aspectos opostos aos do classicismo, como a ausência de preceitos estéticos rígidos, a valorização da criatividade dos dramaturgos, bem como a apreciação do sentimento e da contradição das experiências humanas (Prado, 1978/ 2013Prado, D. A. (2013). O teatro romântico: A explosão de 1830. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 167-184). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Outro aspecto fundamental do teatro romântico foi a combinação de elementos cômicos e trágicos em um único enredo ou personagem, o que pode ser apreendido no gênero típico dessa vertente, o drama. Como explica Prado (1978/ 2013Prado, D. A. (2013). O teatro romântico: A explosão de 1830. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 167-184). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ), o drama romântico é uma combinação entre a tragédia e a comédia clássica, apresentando temáticas predominantemente amorosas, bem como temas vulgares que outrora eram estritamente proibidos, como o adultério, o incesto, o suicídio e, até mesmo, o estupro. A linguagem das peças se tornou mais próxima do idioma coloquial e, com o passar dos anos, o teatro romântico começou a discutir e denunciar as condições vulneráveis em que viviam determinados grupos (Prado, 1978/ 2013Prado, D. A. (2013). O teatro romântico: A explosão de 1830. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 167-184). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

No que concerne a Walden two , as produções teatrais parecem apresentar algumas semelhanças com as do classicismo, especialmente no que diz respeito aos papéis sociais desempenhados por tais obras. Isso porque o teatro da ficção de Skinner é utilizado com a finalidade de encorajar o cumprimento do código de normas do local, o que pode ser observado em um comentário de Frazier sobre a implementação de uma nova regra que visava facilitar a expressão de aborrecimentos por parte dos habitantes:

Um membro escreveu uma peça denominada The Man Who Bored Everybody. Ele também obteve créditos de trabalho pelo tempo gasto. A peça considera o dilema de um homem que nunca abre a boca sem que lhe digam que é chato. Ele finalmente capitaliza sua idiossincrasia fazendo aparições públicas como o maior chato do mundo, mas a polícia fecha o espetáculo porque a multidão que se aglomera para vê-lo prova que o tédio não pode ser genuíno se for tão interessante. Minha sinopse não faz jus às situações engraçadas que o autor conseguiu desenvolver, mas não importa. Graças a toda essa publicidade, o costume de expressar desinteresse tornou-se bastante comum e sem ressentimento [ênfase adicionada]

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , pp. 152-153).

Vê-se que a utilização do teatro para favorecer o cumprimento de regras de conduta na sociedade de Skinner se assemelha à função teatral clássica, que visava educar moralmente a audiência, tornando-a mais civilizada. No entanto, o teatro de Walden two também possui discrepâncias para com tal vertente, sendo a principal delas decorrente do fato de que as peças teatrais descritas no livro se caracterizam pela diversidade de estilos e temáticas, uma vez que a homogeneidade não é fomentada pelos planejadores do local. No teatro da comunidade de Skinner, por exemplo, são encenadas histórias que abrangem diferentes assuntos, como filosofia e até mesmo religião. Ao descrever as reuniões de domingo de Walden two , Frazier afirma que “geralmente há algum tipo de música, às vezes religiosa. E uma obra filosófica, poética ou religiosa é lida ou encenada [ênfase adicionada] . Gostamos do efeito disso na fala da comunidade. Isso nos dá um estoque comum de alusões literárias” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 185).

A diversidade temática demonstra, ainda, que as obras teatrais de Walden two não são orientadas por normas rígidas, o que parece aproximá-las da espontaneidade e originalidade típica da vertente romântica. Assim como no romantismo, o teatro descrito na ficção skinneriana parece valorizar a criatividade dos dramaturgos e, mais especificamente, a pluralidade da audiência, uma vez que, como afirma Frazier: “não somos um grupo selecionado e nossos gostos variam. Não temos modismos. Ninguém nos diz que devemos nos interessar por isso ou aquilo” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 36). Dada essa diversidade, os locais destinados à exibição de apresentações teatrais em Walden two estão em constante uso, pois as peças encenadas são repetidas reiteradamente em horários escalonados, a fim de que todos os moradores possam apreciar, se desejarem, o espetáculo apresentado.

Entretanto, diferentemente do romantismo, o teatro em Walden two não objetiva denunciar injustiças vivenciadas por determinados grupos, haja vista que, em tese, não parecem existir tais disparidades sociais no local. Como descreve Frazier: “qualquer pessoa nascida em Walden two tem direito a qualquer lugar entre nós para o qual possa demonstrar talento ou habilidade necessária. Não existem privilégios hereditários de qualquer tipo” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 218). Mesmo possuindo semelhanças para com o classicismo e o romantismo, os espetáculos da comunidade de Skinner não se ajustam completamente a essas vertentes.

Música

Para descrever os atributos da música clássica, é necessário compreender que as composições dessa vertente estilística decorrem de um contexto histórico marcado pelo aumento da demanda da população geral por obras musicais que não estivessem diretamente associadas à Igreja Católica ou ao teatro (Coelho, 1999/ 2012Coelho, L. M. (2012). O classicismo na música: A música do classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 231-262). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ). Assim, buscando atender às novas exigências, os compositores desse período começaram a desenvolver novos gêneros, como os concertos para solistas, as sinfonias e as sonatas, o que acarretou a substituição da música sacra e vocal pelas canções seculares e instrumentais.

Nesse cenário, Seincman (1999/ 2012Seincman, E. (2012). O classicismo na música: O classicismo e a música. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 205-230). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ,) assevera que as produções musicais do classicismo se distinguiram por critérios como simplicidade, equilíbrio, harmonia e coesão, apresentando, também, uma série de características técnicas diferenciais, como: a organização racional da orquestra por naipes, a maior dinâmica nas composições e a diminuição da rigidez no andamento da música. Ademais, os compositores do classicismo se destacaram pela utilização de técnicas de notação metódicas nas partituras, pois a música clássica era avessa ao improviso, logo o artista deveria manter controle total sobre a obra (Seincman, 1999/ 2012Seincman, E. (2012). O classicismo na música: O classicismo e a música. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 205-230). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ,).

No que concerne aos objetivos sociais de tais produções, é importante ressaltar que, ao adquirirem certa independência da Igreja Católica e de outros tipos de obras artísticas, as produções musicais clássicas deixaram de se restringir à nobreza, adentrando a realidade cotidiana das classes sociais mais baixas. A arte clássica cumpriu, assim, um importante papel social de ampliação do acesso da população à música instrumental, o que também contribuiu para a simplificação das produções desse período, marcadas pela homofonia em detrimento da polifonia (Seincman, 1999/ 2012Seincman, E. (2012). O classicismo na música: O classicismo e a música. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 205-230). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ,).

No entanto, o crescimento e enriquecimento da burguesia no século XVIII impactou fortemente o cenário musical europeu, na medida em que contribuiu para que os compositores e intérpretes se tornassem profissionais autônomos. Ao serem financiados pelas quantias ganhas com a bilheteria de seus próprios concertos, os artistas clássicos buscaram atrair, cada vez mais, diferentes estilos de público, o que os levou a abandonar as características clássicas e inaugurar um novo estilo: o romântico (Kiefer, 1978/ 2013Kiefer, B. (2013). O romantismo na música. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 209-237). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Começaram a surgir, então, produções musicais que se destacaram não apenas pelo aperfeiçoamento técnico no manejo do instrumento musical, mas também pela espontaneidade do músico e a livre expressão de seus sentimentos. Ao abandonar as regras racionais clássicas, os compositores românticos recusaram modelos formais previamente estabelecidos e consagrados, como a sonata, passando a valorizar coletâneas e músicas tecnicamente simples e curtas, uma vez que nelas o artista era capaz de expressar seus conflitos e sentimentos, revelando, até mesmo, aspectos de seu país de origem (Kiefer, 1978/ 2013Kiefer, B. (2013). O romantismo na música. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 209-237). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ). Observa-se, portanto, que a música romântica, além de apreciar o sentimentalismo, a melancolia, o exagero e o improviso, desempenhou importante papel social de expressão do nacionalismo (Kiefer, 1978/ 2013Kiefer, B. (2013). O romantismo na música. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 209-237). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Analisando esses aspectos, é possível constatar que a música descrita em Walden two é similar às obras do classicismo, dado que suas produções são descritas por meio de características tipicamente clássicas, como ordem e simplicidade. Em dado momento da narrativa, por exemplo, Burris escuta em seu quarto um concerto da orquestra da comunidade que havia sido gravado e estava sendo reproduzido na rede interna de rádio. Segundo ele: “a música zombava de mim com sua ordem e simplicidade angustiantes e aumentava minha confusão” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 266). Tais particularidades também podem ser observadas na organização metódica dos concertos em Walden two , os quais têm duração máxima de uma hora e aparentam ser predominantemente monotemáticos, ou seja, não apresentam composições de diferentes artistas em uma mesma apresentação.

Similarmente, as produções musicais de Walden two parecem desempenhar funções sociais próximas àquelas exercidas pelas obras clássicas, que contribuíram, como já mencionado, para a ampliação do acesso popular à música. Isso porque o planejamento cultural da comunidade skinneriana estabelece condições que possibilitam que todos os habitantes do local possam produzir ou apreciar as produções musicais, como exemplifica Frazier:

Se você quiser ouvir [música], há uma extensa biblioteca de discos e, claro, muitos concertos, alguns deles bastante profissionais. Todos os bons programas de rádio são transmitidos pelo sistema de alto-falantes que chamamos de Rede Walden, e são monitorados para remover a publicidade. Se você quiser se apresentar, pode obter instruções sobre quase todos os instrumentos de outros membros – que recebem créditos por isso. Se você tiver alguma habilidade, logo encontrará um público. Todos nós vamos aos concertos [ênfase adicionada] . Nunca estamos muito cansados e a noite nunca é muito fria ou muito molhada

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , pp. 81-82).

Todavia, a música do romance utópico de Skinner não se ajusta perfeitamente a todos os aspectos distintivos do classicismo, porque a característica que melhor a define é a diversidade. Desse modo, as produções musicais de Walden two se afastam de tal categoria estilística, na medida em que fazem uso de instrumentos diversos, como piano, fonógrafo, saxofone, trombone e tuba, sendo também citadas obras de diferentes compositores, como Mozart, Sousa, Suppé, Schumann, Bach e Handel.

Além desses aspectos, verifica-se que a música da obra possui características que a aproximam da vertente romântica, como o sentimentalismo das produções. Assim como as obras do romantismo, as composições descritas em Walden two apresentam elevada carga dramática, a qual parece provocar reações corporais específicas na audiência. Nas reuniões de domingo, por exemplo, as canções são utilizadas para estabelecer estados emocionais que facilitam a reafirmação da importância do código de conduta da comunidade, como elucida Frazier:

Geralmente há algum tipo de música, às vezes religiosa . . . . Em seguida, há uma breve “lição” – da importância em manter a observância do Código . . . . A música tem o mesmo propósito que em uma igreja – torna a reunião agradável e estabelece um clima [ênfase adicionada]

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , pp. 185-186).

No entanto, foi possível identificar uma característica singular na música de Walden two , que a distingue tanto do classicismo quanto do romantismo: o caráter “inacabado” das produções. Assim como a literatura, as composições musicais da comunidade skinneriana são elaboradas pelos artistas em conjunto com a audiência, a qual é responsável por tecer comentários e críticas capazes de aprimorar as produções e reforçar o comportamento dos produtores de arte. Para Frazier: “pense no que isso significa para o jovem compositor! Às vezes, sua obra é executada antes mesmo de ser concluída! Talvez seja terminada para ele por amigos entusiasmados. E é discutida por públicos que o conhecem e conhecem sobre música” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 82). Diferentemente das vertentes clássica e romântica, uma audiência ativa é imprescindível para o comportamento musical na comunidade de Skinner.

Artes plásticas

Asseverando a influência da antiguidade clássica, as artes plásticas do classicismo pretendiam imitar a natureza de maneira idealizada, representando as paisagens naturais não em perfeita correspondência para com a realidade, mas de acordo com critérios pré-definidos, como ordem, proporção e simetria. Nesse sentido, as artes plásticas clássicas, especialmente a pintura e a escultura, caracterizavam-se pelo equilíbrio, concisão e objetividade, distinguindo-se de outros estilos pela ausência de detalhes exagerados e pela valorização da técnica, da harmonia e da perspectiva (Fabris, 1999/ 2012Fabris, A. (2012). O classicismo nas artes plásticas. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 263-291). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

Quanto a seus objetivos, Fabris (1999/ 2012Fabris, A. (2012). O classicismo nas artes plásticas. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 263-291). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ) enfatiza que as produções do classicismo adquiriram certo aspecto moralizante na medida em que difundiam valores sociais considerados ideais. Tal fato pode ser observado, por exemplo, na valorização da figura do corpo humano, que era representado nu e de maneira simétrica, ressaltando características como força, coragem e virilidade (Fabris, 1999/ 2012Fabris, A. (2012). O classicismo nas artes plásticas. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 263-291). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

Em oposição, as artes plásticas românticas se caracterizavam pela diversidade e complexidade cultural, combinando elementos medievais, greco-romanos, renascentistas e orientais (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ). Devido aos pressupostos filosóficos contrários ao racionalismo, as produções românticas renunciavam as regras inflexíveis do classicismo, se destacando por aspectos como o sentimentalismo, a subjetividade e a originalidade. A arte plástica romântica também foi marcada pelo uso de diferentes técnicas, como a litografia e a aquarela, e pela expansão dos locais destinados à exposição de suas obras, pois os artistas começaram a exibir suas criações em exposições individuais fora dos salões da nobreza, bem como em jornais e livros (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Outra particularidade das artes plásticas românticas encontra-se nas temáticas abordadas por tais produções, tendo em vista que, no romantismo, o ser humano passou a ser retratado em constante estado de guerra e conflito. Dessa forma, muitas obras aludiam a temas considerados hediondos ou grotescos, como indivíduos em estado de loucura ou sofrimento, embora também fosse habitual encontrar representações de paisagens que buscavam enaltecer a natureza e reintegrar o ser humano ao universo (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

Ao analisar as artes plásticas de Walden two , foi possível constatar que as semelhanças para com as obras clássicas parecem se restringir à ênfase na qualidade técnica das produções. Como descreve Burris: “elas [as pinturas] eram surpreendentemente vigorosas e frescas, em muitos estilos, e quase sem exceção, feitas com competência. Eu já tinha visto muitos trabalhos profissionais menos interessantes do ponto de vista técnico e certamente muito menos emocionantes” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 23). Mesmo com tal semelhança, as artes plásticas da obra parecem diferir do classicismo por não fazerem uso de normas estéticas de maneira impositiva, uma vez que, como pode ser observado na citação anterior, o atributo mais utilizado para descrevê-las é a diversidade de estilos.

Já em relação ao romantismo, é possível perceber uma relativa afinidade das artes plásticas na ficção de Skinner com tal movimento estético, devido à ampliação dos locais de exposição das obras de arte. Como já mencionado, foi no romantismo que os artistas abandonaram o trabalho exclusivo para a nobreza e o clero, expondo suas criações em lugares diferentes dos comumente utilizados, como castelos e catedrais (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ). Similarmente, as artes plásticas de Walden two também não são expostas em locais tradicionalmente dedicados à arte, como museus e galerias, estando presentes em espaços da comunidade cotidianamente ocupados pelos habitantes, como corredores dos prédios e, até mesmo, quartos individuais.

Há, contudo, uma diferença fundamental entre as artes plásticas de Walden two e as do romantismo: o antinacionalismo. Como explica Frazier, as produções artísticas da comunidade não são utilizadas para enaltecer figuras históricas como planejadores e fundadores, pois o mérito e o louvor individual não são fomentados no local:

Duvido que haja meia dúzia de membros, além dos administradores, que possam nomear corretamente todos os seis planejadores . . . desencorajamos qualquer sentido da história [ênfase adicionada] . A fundação de Walden two nunca é lembrada publicamente por ninguém que dela tenha participado. Nenhuma distinção de antiguidade é reconhecida. É de muito mau gosto referir-se a si mesmo como um dos primeiros membros

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , pp. 220-221).

As críticas ao engrandecimento individual também permitem identificar outra divergência entre a arte de Walden two e a vertente romântica: o abandono da figura do gênio. Como explica Nunes (1978/ 2013Nunes, B. (2013). A visão romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 51-74). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ), o gênio correspondia, no romantismo, ao indivíduo que não apenas possuía um talento imanente para as artes, mas também expressava, em sua produção, certo grau de rebeldia, por meio da contestação à racionalidade clássica e da transgressão às normas e padrões sociais. Nessa perspectiva, Walden two distancia-se fortemente do romantismo, pois não apenas desencoraja o orgulho pessoal, como também compreende o talento artístico como resultado de contingências ambientais que não possuem relação com uma suposta genialidade ou rebeldia inata ao indivíduo. Como reitera Frazier: “o tipo brilhante, mas instável, não é familiar aqui” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 118).

Arquitetura

A arquitetura clássica foi concebida tendo como base critérios como equilíbrio, simetria e proporção, o que permitiu que suas construções tivessem a simplicidade e a funcionalidade como elementos fundamentais. Desse modo, os edifícios clássicos considerados belos deveriam ser úteis e exibir elementos ornamentais modestos, além de serem construídos por meio da utilização de formas geométricas proporcionais e da aplicação de leis matemáticas, principalmente a perspectiva (Fernandes, 1999/ 2012Fernandes, F. (2012). O classicismo na arquitetura. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 293-315). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

Essas características tipicamente clássicas foram criticadas e abandonadas no romantismo, pois a arquitetura desse movimento foi fortemente influenciada pela Idade Média, e não pela antiguidade greco-romana (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ). As edificações românticas valorizavam aspectos característicos das antigas construções nacionais, como os castelos e palácios, enaltecendo a originalidade e a extravagância. Assim, prevaleceu a abundância de elementos decorativos e pitorescos, além do uso de novos materiais, como o ferro fundido e o aço (Zanini, 1978/ 2013Zanini, W. (2013). A arte romântica. In J. Guinsburg (Org.), O romantismo (4a ed., pp. 185-207). Perspectiva. (Obra original publicada em 1978) ).

O exame geral da arquitetura clássica e romântica permite observar as afinidades e diferenças que tais construções mantêm com os prédios de Walden two . Existem semelhanças claras em relação ao classicismo, por exemplo, especialmente no que diz respeito à funcionalidade, uma vez que as edificações da comunidade skinneriana são elaboradas visando determinadas atribuições, o que evita quaisquer aspectos arquitetônicos desnecessários e extravagantes. Ao descrever os prédios do local, Burris afirma que “eles eram da cor da terra e pareciam construídos em pedra ou concreto, em um design simples e funcional [ênfase adicionada]” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 12).

A ênfase na funcionalidade em Walden two também pode ser observada na existência de salas específicas para determinadas tarefas, como estudo, alimentação e artes, as quais são planejadas para aumentar a probabilidade de ocorrência de tais comportamentos por meio do oferecimento de condições adequadas para tal. Além disso, muitos espaços públicos da comunidade são erigidos a fim de atender múltiplas funções, como as escadas que conectam diferentes edifícios e também são decoradas para servir como espaços de lazer e convivência.

Existem, no entanto, elementos na arquitetura da utopia skinneriana que divergem do classicismo, dentre os quais se destaca, novamente, a diversidade. Os ambientes internos da comunidade, por exemplo, são decorados com base em uma pluralidade de estilos, o que pode ser visto no relato de Burris acerca das salas de jantar:

As salas foram decoradas em vários estilos. Era possível jantar rapidamente em uma sala de paredes brancas, movimentando-se com velocidade e eficiência, ou calmamente em uma sala de jantar de estilo colonial americano com painéis de pinho à luz de velas de cera de abelha, ou em uma pousada inglesa cujas paredes exibiam quadros de corrida, ou em uma sala colorida sueca. . . . Fiquei bastante ofendido com essa mistura arquitetônica [ênfase adicionada]

(Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 40).

Já em relação ao romantismo, percebeu-se que a arquitetura de Walden two não apresenta nenhuma afinidade significativa com tal estilo, uma vez que as construções descritas no livro evitam o excesso de ornamentos. Como explica Frazier, as edificações da comunidade foram elaboradas visando economizar recursos financeiros, devido ao escasso patrimônio do local. Logo, sua arquitetura pode ser descrita como simples e orgânica, isto é, com prédios que seguem os contornos e níveis do terreno natural, buscando harmonizar as construções humanas com a natureza.

Constata-se, então, outro atributo da arquitetura descrita por Skinner que não encontra correspondência com a vertente clássica e nem com a romântica: a preocupação com o meio ambiente (ver Dittrich, 2004 Dittrich, A. (2004). Behaviorismo radical, ética e política: Aspectos teóricos do compromisso social [Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos]. Repositório institucional da UFSCar. http://tinyurl.com/5n7ymuj2
http://tinyurl.com/5n7ymuj2...
) 1 1 De acordo com Dittrich ( 2004 ), Skinner antecipa, em Walden two , algumas das preocupações com a preservação do meio ambiente características dos movimentos ecológicos da década de 1960. Entretanto, faz-se necessário salientar que tal atitude decorre da relação de codependência entre o ser humano e a natureza defendida pelo autor no romance utópico e, desse modo, a comunidade skinneriana não pode ser interpretada como uma sociedade ecológica, sob o risco de incorrer em eventuais anacronismos. . Em sua maioria, os prédios de Walden two foram construídos com materiais sustentáveis, como pedras ou terra seca compactada, sendo também reutilizados edifícios de uma antiga fazenda, como celeiros e casas. Ao reduzir os impactos ambientais causados por sua comunidade fictícia, Skinner parece distanciar sua arquitetura das construções clássicas e românticas, que, ao enfatizar a funcionalidade ou a imponência, negligenciavam os impactos ao ecossistema.

Outro fator que impede a classificação da arquitetura de Walden two com base nessas vertentes artísticas é o aspecto coletivo da construção dos edifícios. A comunidade podia contar com a expertise de um casal residente de arquitetos e também com os demais habitantes do local, que auxiliavam na edificação dos prédios. Isso pode ser observado quando, em certo momento da narrativa, alguns membros da sociedade são descritos construindo os próprios quartos individuais em conjunto com seus parceiros ou cônjuges. Segundo Frazier: “há uma certa satisfação em construir seus próprios aposentos. Uma espécie de instinto de aninhamento. Isso se tornou parte do processo de estar apaixonado em Walden two” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 74). Em síntese, a arquitetura de Walden two não se enquadra completamente no classicismo e nem no romantismo.

Moda

De acordo com Oliveira e Cunha (1999/ 2012Oliveira, A. C., & Cunha, K. C. (2012). Moda e classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 317-345). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ), o classicismo foi fortemente influenciado, no âmbito da moda, pelas ideias iluministas que preconizavam um retorno à antiguidade greco-romana. Logo, as roupas dessa vertente destacavam-se por seu aspecto mais simples e discreto, bem como pelo uso de cores neutras, como vermelho, azul e branco. Tais vestimentas tinham como base o equilíbrio e a harmonia, eliminando qualquer abundância de detalhes típica das cortes europeias, como o volume exagerado, as estampas e as perucas. Essa simplicidade possibilitou que as peças clássicas desempenhassem um importante papel social, favorecendo a locomoção e a execução das atividades cotidianas em um período em que a ociosidade deixava de ser valorizada.

Oliveira e Cunha (1999/ 2012Oliveira, A. C., & Cunha, K. C. (2012). Moda e classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 317-345). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ) também argumentam que a moda clássica foi marcada por um fenômeno decorrente do processo de industrialização: a divisão em ciclos. Em outras palavras, ao adotar um estilo de produção industrial, houve um aumento na oferta de vestimentas, o que exigiu que os trajes comprados pela população fossem trocados constantemente. Originou-se, assim, as temporadas de estilo, como moda de verão, outono, inverno e primavera (Oliveira & Cunha, 1999/ 2012Oliveira, A. C., & Cunha, K. C. (2012). Moda e classicismo. In J. Guinsburg (Org.), O classicismo (pp. 317-345). Perspectiva. (Obra original publicada em 1999) ).

A moda romântica, por sua vez, caracterizou-se pelo retorno dos elementos típicos do vestuário medieval, utilizando peças semelhantes às da nobreza e da aristocracia feudal. Por conseguinte, essas vestimentas se distinguiam pelo excesso de detalhes e acessórios, como xales, cintos, chapéus e guarda-chuvas de renda, bem como por trajes de uma peça só, principalmente os vestidos femininos (Fogg, 2013Fogg, M. (2013). De 1800 a 1899: O vestuário romântico. In M. Fogg (Ed.), Tudo sobre moda (pp. 129-133). Sextante. ). Nesse período, as cinturas foram cada vez mais afinadas pelo uso de espartilhos, as saias se tornaram mais volumosas devido ao uso de anáguas com várias camadas e as mangas dos vestidos se caracterizaram pelo aspecto volumoso e bufante (Lima & Brasileiro, 2017Lima, L. B., & Brasileiro, T. S. A. (2017). A roupa e a moda: Retrospectiva histórica. Revista Ensino de Ciências e Humanidades, 1(1), 260-284. ).

Ao comparar a moda descrita em Walden two com as duas vertentes, vê-se que as vestimentas da comunidade skinneriana possuem algumas semelhanças com as peças do classicismo, dado que as roupas do local são retratadas como simples e pouco formais. Ao descrever uma das habitantes, por exemplo, Burris relata que “ela estava muito bem-vestida, mas com grande simplicidade de estilo” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 24). Contudo, o vestuário da ficção de Skinner não pode ser classificado categoricamente como clássico, na medida em que os planejadores do local encorajam uma moda diversificada e cosmopolita, o que permite que as roupas dos moradores sejam marcadas pela pluralidade de cores e estilos.

Outro fator que diferencia a moda de Walden two do classicismo é a maior durabilidade das vestimentas. De modo geral, o planejamento cultural da utopia de Skinner estabelece condições para que os habitantes acompanhem os padrões estilísticos da moda externa à comunidade de maneira menos datada e mais duradoura. Sem descartar totalmente a moda vigente, o estilo predominante na comunidade não é trocado com frequência, o que evita o desperdício comum à substituição de padrões de vestuário. Como explica Frazier: “estar fora de moda não é um processo natural, mas uma mudança manipulada que destrói a beleza do vestido do ano passado para torná-lo inútil. Nós nos opomos a isso ampliando os nossos gostos” (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , p. 28).

Mesmo existindo discrepâncias para com o classicismo, a moda de Walden two tampouco apresenta afinidades com o romantismo, sendo possível elencar aspectos que na verdade a diferenciam veementemente de tal movimento. O principal deles diz respeito ao caráter simples e funcional das vestimentas descritas no livro, as quais visam possibilitar que os habitantes confortavelmente exerçam suas atividades diárias, sendo citados, até mesmo, uniformes para alguns dos trabalhos desempenhados (Skinner, 1948/ 2005Skinner, B. F. (2005). Walden two. Hackett. (Obra original publicada em 1948) , pp. 65, 72). Vê-se, portanto, que o aspecto utilitário, bem como a simplicidade das peças de roupa, impossibilita a classificação romântica da moda da comunidade fictícia de Skinner.

Considerações finais

Embora não seja possível descartar a influência das preferências artísticas pessoais de Skinner na construção de sua comunidade utópica, o próprio autor argumentou que o propósito de Walden two não era defender seus interesses individuais, e sim utilizar os princípios da análise do comportamento para promover mudanças culturais e, com isso, possibilitar a sobrevivência humana (Skinner, 1969/ 2013Skinner, B. F. (2013). Contingencies of reinforcement: A theoretical analysis. B. F. Skinner Foundation. (Obra original publicada em 1969) ). Nesse sentido, Skinner não apenas descreve uma elevada pluralidade de produções artísticas em sua obra, como também defende que a arte é fundamental para a sobrevivência da cultura, sendo levada em consideração no planejamento cultural de sua comunidade fictícia.

Dada essa relevância, o objetivo deste trabalho teórico foi identificar semelhanças e diferenças entre as características e funções da arte retratada em Walden two e os movimentos artísticos do classicismo e do romantismo. As análises indicaram que a arte descrita no romance apresenta algumas afinidades com a vertente clássica, como a ordem, a simplicidade, o destaque à qualidade técnica e a ênfase na funcionalidade e na função educativa das produções. Não obstante esses aspectos, as produções artísticas da utopia de Skinner também possuem aspectos que as afastam desse enquadre, como a diversidade de temáticas e estilos, a ausência de regras estéticas rígidas e o uso de tais obras para ampliar o contato dos moradores com o mundo externo à comunidade.

Pôde-se constatar, também, que a arte mencionada no romance possui semelhanças com aspectos tipicamente românticos, o que pode ser visualizado nos estados emocionais evocados na audiência pelas produções, na ampliação do acesso às produções artísticas e na valorização da criatividade dos artistas. Mesmo assim, cabe ressaltar que a arte de Walden two apresenta aspectos discrepantes para com essa vertente, como a ausência de ornamentos exagerados nas produções e as críticas ao nacionalismo e ao conceito de gênio.

Tendo em vista esses aspectos, vê-se que a arte retratada na comunidade experimental de Skinner não pode ser integralmente identificada com nenhuma das vertentes artísticas investigadas. Sendo assim, Walden two parece estar situado em um pluralismo artístico, pois sua arte não apenas possui semelhanças e diferenças com o classicismo e o romantismo, mas também apresenta aspectos singulares que não possuem nenhuma relação com tais movimentos. O primeiro deles é evidenciado na relação entre técnica e diversidade, uma vez que, diferentemente do classicismo e do romantismo, as obras de arte da comunidade apresentam alta qualidade técnica sem abandonar a criatividade.

Outro aspecto que diferencia as produções de Walden two das vertentes artísticas estudadas diz respeito à relação entre tecnologia e natureza. Ao considerar os impactos ambientais dos edifícios de sua utopia, Skinner defende que a relação entre o ser humano e a natureza em Walden two não é de controle total (clássica) e nem de submissão completa (romântica), mas de codependência. Por fim, outra característica singular do livro é a relevância conferida à audiência. Diferentemente do classicismo e do romantismo, as obras de arte de Walden two são produtos diretos da interação entre o artista e sua audiência, o que explica os motivos pelos quais as produções são divulgadas antes de sua conclusão, que é executada posteriormente, com a ajuda do público.

Essa pluralidade artística identificada na comunidade skinneriana permite destacar elementos que sinalizam a possibilidade de que o comportamentalismo radical se aproxime de discussões da filosofia da arte. Como demonstra Silveira ( 2021 Silveira, H. V. (2021). O comportamentalismo radical como uma filosofia da arte [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Londrina]. Biblioteca digital da UEL. http://tinyurl.com/pnxatats
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), essa área da filosofia se propõe a examinar questões relacionadas ao processo e ao produto artístico, como a relação entre arte e técnica, a função das obras de arte, o papel do artista e as condições e contextos em que a arte é produzida. Muitas dessas questões foram tangenciadas pelas análises conduzidas neste estudo, as quais mostraram, por exemplo, que: a) embora não abandone a diversidade, Skinner compreende a técnica como imprescindível ao processo artístico; b) a arte desempenha funções importantes para a sobrevivência das práticas culturais que definem a comunidade de Walden two , pois contribui para a educação dos habitantes; e c) a obra de arte é resultado de contingências contextuais compartilhadas pelo artista e sua audiência.

Apesar das afinidades temáticas identificadas entre o comportamentalismo radical e a filosofia da arte, uma investigação pormenorizada dessas relações ultrapassaria o escopo estabelecido neste artigo. Além disso, outros limites deste estudo devem ser considerados: em primeiro lugar, o cotejamento realizado entre as vertentes artísticas clássicas e românticas e o comportamentalismo radical utilizou-se de uma única obra de Skinner. Ainda que Walden two apresente eminente relevância científica-filosófica, o autor também discutiu questões relacionadas à arte em outros trabalhos (Skinner, 1968Skinner, B. F. (1968). The technology of teaching. Appleton-Century-Crofts. , 1970/ 1999Skinner, B. F. (1999). Creating the creative artist. In B. F. Skinner, Cumulative record: Definitive edition (pp. 344-352). B. F. Skinner Foundation. (Obra original publicada em 1970) ). Assim, estudos subsequentes que explorem a relação entre tais vertentes artísticas e outras publicações de Skinner poderiam aprimorar as discussões apresentadas.

Outra limitação diz respeito à restrição das análises conduzidas nesta pesquisa a apenas duas vertentes artísticas. A despeito de o classicismo e o romantismo terem ressonância em todas as correntes da história da arte ocidental (Argan, 1992Argan, G. C. (1992). Clássico e romântico. In G. C. Argan (Org.), Arte moderna (pp. 11-34). Companhia das Letras. ), trabalhos futuros que comparem a arte descrita em Walden two a outros movimentos artísticos predominantes no contexto de publicação do livro, como o modernismo e o futurismo, poderiam contribuir para adensar o debate sobre arte na análise do comportamento. Além de serem contemporâneas a Skinner, tais vertentes também defendiam uma maior proximidade entre arte e ciência, o que poderia contribuir para o exame de aspectos que não puderam ser totalmente elucidados neste texto (ver Bud, Greenhalgh, James, & Shiach, 2018 Bud, R., Greenhalgh, P., James, F., & Shiach, M. (2018). Being modern: The cultural impact of science in the early twentieth century. UCL Press. https://doi.org/10.2307/j.ctv550d3p
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; D’Arcais, 1974D’Arcais, F. (1974). Evolution of the influences between science and art. Impact of Science on Society, 24(1), 31-40. ). Persiste, portanto, a necessidade de pesquisas futuras que visem ampliar os resultados deste estudo, sondando o potencial heurístico do comportamentalismo radical como filosofia da arte.

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    De acordo com Dittrich ( 2004 Dittrich, A. (2004). Behaviorismo radical, ética e política: Aspectos teóricos do compromisso social [Tese de doutorado, Universidade Federal de São Carlos]. Repositório institucional da UFSCar. http://tinyurl.com/5n7ymuj2
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    ), Skinner antecipa, em Walden two , algumas das preocupações com a preservação do meio ambiente características dos movimentos ecológicos da década de 1960. Entretanto, faz-se necessário salientar que tal atitude decorre da relação de codependência entre o ser humano e a natureza defendida pelo autor no romance utópico e, desse modo, a comunidade skinneriana não pode ser interpretada como uma sociedade ecológica, sob o risco de incorrer em eventuais anacronismos.
  • Como citar:

    Vitti, G. R., & Laurenti, C. (2024). Diferenças e semelhanças artísticas entre o classicismo, o romantismo e Walden two. Psicologia: Ciência e Profissão, 44, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003260433
  • How to cite:

    Vitti, G. R., & Laurenti, C. (2024). Artistic differences and similarities between classicism, romanticism and Walden two. Psicologia: Ciência e Profissão, 44, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003260433
  • Cómo citar:

    Vitti, G. R., & Laurenti, C. (2024). Diferencias y similitudes artísticas entre el clasicismo, el romanticismo y Walden two. Psicologia: Ciência e Profissão, 44, 1-15. https://doi.org/10.1590/1982-3703003260433

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jun 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    27 Jan 2022
  • Aceito
    10 Jan 2023
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