Este estudo teve por objetivo investigar os relatos de psicoterapeutas idosos sobre sua infância, buscando identificar, nas experiências de vida narradas, elementos relacionados às vivências familiares. O estudo é de caráter descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa com a utilização do método clínico-qualitativo. Participaram cinco psicoterapeutas septuagenários, escolhidos pelo critério de prestígio desfrutado junto aos pares dentro e fora de instituições psicanalíticas. Foi utilizada entrevista aberta, audiogravada e, posteriormente, transcrita na íntegra. Os relatos foram submetidos à análise de conteúdo temática. Os dados foram interpretados com base no referencial teórico psicanalítico da transmissão psíquica. A análise resultou na construção de três categorias temáticas: (1) A família como rede simbólica que define a posição subjetiva de seus membros; (2) Entre a reverência e a rebeldia: a possibilidade de reinventar a tradição familiar; e (3) Construindo o pertencimento à cadeia geracional. Constatou-se que as narrativas dos psicoterapeutas sobre a infância se estruturaram em torno da vida familiar, pautada em hábitos e papéis familiares bem delimitados, com rígida divisão de funções entre pai, mãe e filhos. A posição ocupada pelo sujeito na fratria e a submissão a um mito fundador da linhagem são elementos que auxiliam na compreensão do engendramento de cada participante na cadeia intergeracional.
Psicoterapeutas; família de origem; velhice