Desde cedo foram destacadas as contribuições de Foucault no campo de estudos da infância, porém tendeu-se a ignorar uma discussão potente: o estabelecimento, no cerne das políticas de proteção dos direitos das crianças, da indubitabilidade das necesidades infantis. Embora a categoria necessidade não tenha sido diretamente trabalhada por Foucault, sua concepção sobre poder, que se constitui principalmente de conjuntos de domínios e rituais de verdade e resistência, sua definição de práticas discursivas como produtoras tanto de sujeitos como de retóricas e sua concepção sobre tecnologias de governo - que reúnem formas de conhecimento e o ambiente familiar como modos privilegiados de regulação da população - foram retomadas por Nancy Fraser e Nicholas Rose para problematizar o lugar do discurso de necessidades e o discurso psi nas políticas sociais no capitalismo tardio. A partir daí exploraremos a potência desta retórica e seus modos específicos de articulação com o discurso dos direitos das crianças.
infância; discurso científico (psicologia); políticas