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CONSTRUÇÃO MULHER-MÃE: DISPOSITIVOS QUE ENVOLVEM MATERNIDADE, MÍDIA E SEUS MOVIMENTOS ATUAIS

CONSTRUCCIÓN DE LA MADRE-MUJER: DISPOSITIVOS QUE INVOLUCRAN LA MATERNIDAD, MEDIOS DE COMUNICACIÓN Y SUS MOVIMIENTOS ACTUALES

RESUMO.

O pré-natal tornou-se um modo de investir na gestação, porém, a forma como cada mulher vai exercer o cuidado envolve um conjunto heterogêneo de práticas. O objetivo deste artigo é problematizar como os discursos se articulam nas redes sociais e direcionam a mulher a um modelo específico de maternidade. O percurso metodológico dá-se pela cartografia, com apoio de ferramentas foucaultianas: verdade, poder e subjetividade. Nas discussões e resultados, percebemos que o discurso de medicalização do corpo se desdobra em um investimento na família moderna, que seria um agente privilegiado de medicalização, e que as mulheres são interpeladas diretamente por este processo. Concluiu-se que o processo de medicalização atua, no corpo, por meio de uma série de saberes e discursos e compõe uma política normativa de um modelo de maternidade a partir de diferentes enunciações.

Palavras-chave:
Cartografia; maternidade; corporeidade

RESUMEN.

El prenatal se hizo una manera de invertir en la concepción, sin embargo, la forma en que cada mujer ejercita el cuidado involucra un grupo heterogéneo de las prácticas. El objetivo de este artículo es problematizar como todos los discursos que se articulan en las redes sociales y van dirigiendo a la mujer hacia un modelo específico de maternidad. El itinerario metodológico se da por la cartografía, con el soporte de herramientas foucaultianas: la verdad, el poder y la subjectividad. En las discusiones y los resultados, nos dimos cuenta de que el discurso de medicalización del cuerpo se desdobla en una inversión en la familia moderna, que sería un agente privilegiado de medicalización, y que las mujeres son interpeladas directamente por este proceso. Se concluyó que el proceso de medicalización actúa en el cuerpo a través de una serie de saberes y discursos y compone una política normativa de un modelo de maternidad basado en diferentes enunciados.

Palabras clave:
Cartogrfía; maternidad; corporeidad

ABSTRACT.

Prenatal care has become a way to invest in gestation, but the way each woman will carry it out involves a heterogeneous set of practices. This article is aimed to problematize how the discourses are articulated in the social networks and may direct the woman to a specific model of maternity. The methodological course is given by cartography, having as a basis the Foucauldian tools: truth, power and subjectivity. In the discussions and the results, it is possible to realize that the medicalization discourse of the body unfolds in an investment for the modern family, which would be a privileged agent of medicalization, and that women are directly interpellated by this process. It was concluded that the medicalization process acts in the body through a series of knowledge and discourses and composes a normative policy of a maternity model based on different enunciations.

Keywords:
Cartography; motherhood; corporeity

Introdução

Neste artigo, inserimo-nos em um campo de discussão que relaciona a gestação, a mídia como ferramenta de investimento e a maternidade. O objetivo do artigo é problematizar como os discursos se articulam na rede social e direcionam a mulher a um modelo específico de maternidade. Esse objetivo apoia-se na perspectiva de que os discursos direcionados à ‘educação do corpo grávido’ se destacam no processo de maternidade, pois, de acordo com a forma como as mulheres serão conduzidas durante a gravidez (parto e puerpério, além da gestação), eles atuam e interferem na maneira como elas se constituirão como mães, a partir da modalidade de subjetivação da ‘Boa Mãe’.

A relevância de discutir e problematizar as formas pelas quais os cuidados com a gestação vêm sendo enunciados midiaticamente está na atuação pedagógica, no investimento político no corpo da mulher grávida, por meio de tecnologias da mídia (neste caso, eletrônica e digital), o que constitui eficientes ferramentas de educação para formar um modo de ser mãe. Nesse processo, se estabelece um jogo de estratégias de poder e verdades que investem nesse corpo, preparando-o para a maternidade.

Conforme Iungano e Tosta (2009Iungano, E. M., & Tosta, R. M. (2009). A realização da função materna em casos de adoecimento da criança.Boletim - Academia Paulista de Psicologia , 29(1), 100-119. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2009000100009&lng=pt&tlng=pt
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), baseado no conceito de Winnicott, sobre a mãe suficientemente boa. O estado de preocupação materna primária garante sua identificação com o filho, facilitando que ela possa compreender e atender as necessidades dele. Para garantir o exercício do seu papel, o meio social auxilia garantindo à genitora um entorno seguro.

A mídia é um espaço privilegiado de circulação e produção de discursos, que nela estão presentes de várias formas, capilarizando a política do corpo grávido. A mídia vai além do espaço para comunicação; com o desenvolvimento das mídias sociais e páginas pessoais, ela está cada vez mais presente na construção da identidade da maternidade. Esse espaço permite que relações poder-verdade, discursos e tecnologias se tornem uma ferramenta pedagógica para ensino de determinado modelo de maternidade. Atua sobre as mulheres e as instrui; é um espaço onde elas se reconhecem e também produzem materiais que se entrelaçam a outros saberes, uma materialidade que obedece aos mecanismos da economia, do interesse e do poder.

Para pensar como saberes normativos são operacionalizados no espaço midiático, como se articula e se investe no corpo da mulher grávida, visando a instruir para um modelo específico de maternidade, tomado aqui como conceito de ‘Boa Mãe’, e também como tem atuado como quem precisa realizar uma série de atribuições, que educa essa mulher para este processo, busca-se mostrar como o poder pode articular-se em diversos espaços, assim como a mídia e produzir discursos e formas de regular e governar as mulheres grávidas, considerando-se a mídia e as redes sociais.

Este artigo é um recorte de uma pesquisa cujo percurso metodológico é orientado pela cartografia, apoiando-se em ferramentas foucaultianas: verdade, poder e subjetividade.

Referimos a esse processo em curso como ‘politização do corpo grávido’ (Meyer, 2004Meyer, D. (2004). Direitos reprodutivos e educação para o exercício da cidadania reprodutiva: perspectivas e desafios. In C. Fonseca, V. Terto, & C. Alves (Org.), Antropologia, diversidade e direitos humanos: diálogos interdisciplinares (p. 87-100). Porto Alegre, RS: UFRGS.), uma vez que está colocada no centro das políticas de gestão da vida “[...] uma rede de práticas e de saberes - cuidado pré-natal, cursos especializados, consultas, academias - que objetivam maximizar, através da saúde materna, a saúde do feto” (Schwengber & Meyer, 2012Schwengber, M. S. V., & Meyer, D. E. (2012). Modos de ser e estar grávida na contemporaneidade: uma análise a partir da revista Pais & Filhos. In M. N. Strey, A. Botton, E. Cadoná, & Palma, Y. A. (Orgs.), Gênero e ciclos vitais - desafios, problematizações e perspectivas (p. 125-146). Porto Alegre, RS: EdiPUCRS., p. 134).

Para Foucault (2011Foucault, M. (2011). Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina. In M. Foucault. Ditos & escritos VII(V. L. A. Ribeiro, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes.), o desenvolvimento de uma medicina moderna e privada que começa a se instaurar no âmbito do cenário europeu voltada à medicalização da família. Descreve-se como essa medicalização ocorre, surgindo uma corporação médica e de mercado, e ao mesmo tempo, um fortalecimento de uma ‘nosopolítica’. Posteriormente, esse conceito de nosopolítica também é fundamental porque, de acordo com Foucault (2011Foucault, M. (2011). Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina. In M. Foucault. Ditos & escritos VII(V. L. A. Ribeiro, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes., p. 363), incide no “[...] privilégio da infância e da medicalização da família”.

A educação do ‘corpo grávido’ submete o corpo da mulher a um rigoroso regime de vigilância e de regulação, conduzindo para um modelo materno normalizado. Segundo Meyer (2004Meyer, D. (2004). Direitos reprodutivos e educação para o exercício da cidadania reprodutiva: perspectivas e desafios. In C. Fonseca, V. Terto, & C. Alves (Org.), Antropologia, diversidade e direitos humanos: diálogos interdisciplinares (p. 87-100). Porto Alegre, RS: UFRGS.), trata-se de um processo amplo que podemos entender como politização do corpo grávido, que produz subjetividades. É possível perceber, pela trajetória da pesquisa, que o discurso de medicalização do corpo se desdobra em um investimento na família moderna, que seria um agente privilegiado de medicalização, e que as mulheres são interpeladas diretamente nesse processo. Para acompanhar a constituição dessa modalidade de subjetivação - ‘Boa Mãe’ - pela cartografia, foram selecionadas postagens na mídia social Facebook que envolvessem a temática ‘gestação’. Dentre elas, destaca-se a revista Pais & Filhos, que conta inúmeros acessos e compartilhamentos na rede social.

Segundo Ferigato e Carvalho (2011Ferigato, S. H., & Carvalho, S. R. (2011). Pesquisa qualitativa, cartografia e saúde: conexões. Interface: Comunicação Saúde Educação, 15(38), 663-75.), as pesquisas cartográficas em saúde buscam valorizar uma política pública com diversas subjetivações, pois reconhecem as linhas de subjetivação livres na produção de conhecimento e na produção de saúde. Para as autoras, “[...] os processos de saúde-doença-intervenção, a subjetividade e a objetivação do cuidado estão em constante metamorfose nos programas de saúde que os promovem, assim como os sujeitos que os operacionalizam” (p. 669).

A revista selecionada, em um primeiro momento, foi a Pais & Filhos. A escolha dessa revista deve-se ao fato de ela ser de ampla circulação no país e é reconhecida por ser destinada a mães e pais e também por ter suas postagens compartilhadas por mulheres grávidas em suas respectivas páginas pessoais. Durante esse caminhar, outras fontes surgiram e tinham postagens com grande número de acesso nas redes, como blogs sobre maternidade. Posteriormente, a revista Crescer, que também é nacionalmente conhecida, surge com diversas postagens dessa temática e então foi incluída como fonte de consulta para esse trabalho.

A mídia: práticas e subjetivação

Para pensar no discurso como objeto de reflexão no pensamento de Foucault (1979Foucault, M. (1979). Microfísica do poder. Rio de Janeiro, RJ: Graal.), precisamos considerar o modo como as narrativas encontradas na mídia tornam-se possíveis por meio de discursos, ou seja, emergem como condições de atualização de regimes de verdade. Ao tomarmos esse corpo social - corpo grávido -, o comportamento e as narrativas não são individuais, mas arranjos possíveis entre o discurso e o real em um determinado tempo, do que se vive, da época, dos saberes, verdades e investimentos.

Nas materialidades aqui apontadas pelas postagens, percebe-se o processo de subjetivação, onde as próprias mulheres que procuram afirmar-se e reconhecer-se como ‘Boas Mães’ produzem falas e condutas que reforçam o modelo de maternidade; são julgadas e julgam pelas mesmas atitudes; são reforçadas como bom ou mau exemplo de conduta. Ser ‘Boa Mãe’ torna-se um regime de verdades que se atualiza por relações de força e produz certa modalidade de experiência. Há, nesse caso, uma forma de relação do sujeito com a verdade por meio de um conjunto heterogêneo de tecnologias que estabelecem os modos de cuidar-se, sentir, pensar, desejar, conduzir-se. A ‘Boa Mãe’ torna-se uma substância mediante a qual o sujeito transforma a própria experiência que faz de si.

Destacamos a fala de Iungano e Tosta (2009Iungano, E. M., & Tosta, R. M. (2009). A realização da função materna em casos de adoecimento da criança.Boletim - Academia Paulista de Psicologia , 29(1), 100-119. Recuperado de: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2009000100009&lng=pt&tlng=pt
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, p. 111) ao afirmarem que

Winnicott (1987/2006) incansavelmente afirmava que um bebê não é somente um bebê, mas que seu ambiente deve ser considerado, o mesmo pode ser dito, talvez em menor proporção, sobre cada um dos indivíduos inseridos em um contexto social específico.

Ao tomar a mídia como um espaço onde se constituem arranjos entre o discurso e o real, a emergência de uma política do corpo grávido aparece em um jogo entre o público e o privado, na medida em que localizará a experiência de gravidez não apenas em uma existência individual, mas em uma experiência coletiva de como conduzir-se. Realizando um deslocamento do privado para o público a partir deste corpo grávido, que gesta, há nesse movimento a produção de um tipo de experiência em que o corpo privado se torna coextensão do corpo público. A relação do indivíduo consigo mesmo e a forma como ele vai pensar, comportar-se e conduzir-se o transformam. O individual torna-se público.

A figura materna e seu modelo de mãe deixam de ser a gestação/criação dos filhos no interior do espaço doméstico e tornam-se um modo de subjetivação, uma conduta, um ato público que requer uma espécie de ‘prestação de contas’ da maternidade. O sujeito mãe, além de exercer seu papel no modelo materno, também tem a necessidade de exposição, de comprovação de tais atos e de reafirmação do mesmo discurso. Fotos nas redes sociais, postagens, opiniões e condutas materializam esse processo.

A condução da gravidez, progressivamente, foi se tornando intervencionista (Schwengber, 2007Schwengber, M. S. V. (2007). Distinções e articulações entre corpos femininos e corpos grávidos na Pais & Filhos. História: Questões & Debates, 47(2), 123-138.). A sociedade moderna é marcada pelo investimento nos corpos. Para Foucault (1999Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade: curso no College de France (1975-1976) (M. E. Galvão, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original de 1997.), nesse momento, o corpo individual e o corpo coletivo ingressam no registro da política. Nas intervenções para regulação e controle da vida, o corpo e a saúde tornam-se evidentes.

Essas intervenções ocorrem por códigos dos regimes de verdades, que estão em constante mudança, atuando sobre a mulher. A ciência valida certos saberes em formato de conhecimentos e utiliza modos de divulgar (discurso médico, a mídia e as políticas) para educar, difundindo e formando verdades, estabelecendo modelos de maternidade. Esse discurso e saberes são forjados por estratégias de investimento político e divulgados (e reforçados) por instituições, como a universidade, a ciência e a mídia. Trata-se de uma forma de investimento, de governamentalidade de corpos e produção de subjetividades, de maneira a fazer da gestação uma modalidade de condução de si e do outro para produzir certa experiência, ou seja, certa subjetividade.

Essa subjetividade está relacionada às experiências de si mesmo, com base em seu histórico e nas ‘verdades que têm para si’, convidando o sujeito a analisar-se e reconhecer-se. Existem diversas práticas que direcionam as mulheres a pensarem na forma da ‘Boa Mãe’ que desejam ser e tomarem as atitudes necessárias para tornarem-se esse modelo materno. Os processos de subjetivação estão atrelados a fatores e interesses políticos e históricos; são formas aprendidas dentro da relação de poder e saber que estão em processo de mudança e adaptação, conduzindo para determinada possibilidade.

Considera-se a mídia social como um espaço do que pode ser dito ou não. Há diferentes jogos de verdade que, apesar de serem articulados, apontam distintos procedimentos de veridicção: essas diferenças marcam espaços onde certas enunciações podem ocorrer e outras não. Trata-se, assim, de considerar que os experts se multiplicam - além dos ‘técnicos da saúde’, outras figuras e espaços são criados como modos de condução de si e do outro.

Tecnologias de regulação e a mídia

Em razão do que foi supracitado, ou seja, de como a mídia constitui-se como uma forma de investimento no corpo grávido, é importante, seguindo essa linha de reflexão, voltar-se para o modo como o discurso, que se atualiza e se produz na própria mídia, torna-se uma ferramenta de produção de subjetividades. A potência do discurso, enquanto constitutivo de um regime de verdade, se faz, justamente, além de forjar verdades - o discurso atualiza-as por meio de técnicas, de tecnologias que operam sobre o sujeito. Há, nesse caso, um trabalho que o sujeito faz sobre si mesmo a partir da relação com a verdade, portanto, a verdade torna-se um modo de condução de condutas, na medida em que se atualiza como relações de poder. O poder é exercido de forma difusa, é implantado, cria forças que se entranham nos mais diversos locais, e o saber canaliza essas forças.

Na sociedade moderna, não é só nas instituições que estão as tecnologias; elas estão em todos os lugares, permeando todos os espaços. A proliferação do investimento no corpo a partir das experiências e de como estas são reguladas normaliza a gravidez em diversos espaços. Portanto, “[...] por trás de todo saber, de todo conhecimento, o que está em jogo é uma luta de poder. O poder político não está ausente do saber, ele é tramado com o saber” (Foucault, 2005Foucault, M. (2005). A verdade e as formas jurídicas (3a ed.). Rio de Janeiro, RJ: NAU. Original 1973., p. 51). Um saber permeado pelos costumes tem relevância para determinada significação, e a mídia é um meio de propagação do modelo materno. As verdades são reguladas pela disciplina, e por ela observamos as relações de poder operando sobre os corpos, tornando-os dóceis e úteis. Como a política de saúde é fundamental para governar, “[...] na gestão da existência humana, toma uma postura normalizante, que não a autoriza apenas a distribuir conselhos da vida equilibrada, mas a reger as relações físicas e morais do indivíduo e da sociedade em que vive” (Foucault, 2003Grávidas Online. (2017). O melhor da vida. Recuperado de: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=10155520149320312&substory_index=0&id=386619355311
https://m.facebook.com/story.php?story_f...
, p. 39). Nos materiais analisados previamente, percebe-se que o cuidado com o corpo grávido vai além do cuidado corporal, de saúde ou estética; é um cuidado com a moral, o comportamento - o modelo prévio de mãe para preparar o corpo durante a gestação, cuidando-se e cuidando do outro. O corpo é vigiado por ele mesmo e deve cuidar de si e dos demais. Na gestação social, todos podem e devem ‘ajudar a orientar cuidados’, como na postagem a seguir:

Ela estava em um restaurante com seu marido, Caio, e seu filho mais novo, que estava dormindo nas cadeiras, enquanto o casal jantava e conversava. No meio disso, uma mulher deixou um bilhete em sua mesa com a mensagem ‘Você é uma péssima mãe’ (Simonini, 2017Simonini, A. (2017). Mãe recebe bilhete em restaurante: “Você é uma péssima mãe”. Recuperado de: https://revistacrescer.globo.com/Curiosidades/noticia/2017/11/mae-recebe-bilhete-em-restaurante-voce-e-uma-pessima-mae.html
https://revistacrescer.globo.com/Curiosi...
, grifo do autor).

O corpo grávido torna-se um instrumento privilegiado de regulação, não apenas porque torna-se dócil e útil, mas porque subjetiva em termos de tornar-se uma ‘Boa Mãe’; trata-se efetivamente de um regime de vida.

Ninguém me disse que todo mundo teria uma opinião sobre o seu bebê - como alimentá-lo, como vesti-lo, como chamá-lo, como carregá-lo, por que você deve embalá-lo somente por cinco segundos por dia, ou então ele será um mimado, ou como você é uma péssima mãe se não o carregar 24 horas por dia, 7 dias por semana […] E assim por diante (Leonardi, 2017Leonardi, C. (2017). Mãe compartilha desabafo na internet sobre a maternidade real. Recuperado de: https://bebe.abril.com.br/familia/mae-compartilha-desabafo-na-internet-sobre-a-maternidade-real/
https://bebe.abril.com.br/familia/mae-co...
).

Embora o período de gestação vá acabar após o parto, o regime de regulação da mulher-mãe se estenderá por toda a vida. Novos saberes e novas tecnologias surgirão, direcionando certos modos de parir, amamentar, cuidar e educar.

Um dos fatores fundamentais presentes neste percurso foi o poder de ‘fazer viver’ os indivíduos e a população, buscando assegurar sobre eles uma regulação “[...] através de um poder contínuo e científico” (Foucault, 1999Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade: curso no College de France (1975-1976) (M. E. Galvão, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original de 1997., p. 294). O aparecimento de práticas e interesses políticos e observações econômicas, relacionados, neste caso, com problemas da natalidade e de mortalidade materna e neonatal, leva a diversas técnicas e pedagogias para governar as populações. No processo de condução da gravidez, neste corpo político, a mulher grávida é tomada como responsável pelo cuidado com seu corpo, por sua vida e pela saúde da criança a ser gestada.

Pensando na capilarização dos discursos e seus diferentes arranjos na mídia social, pela cartografia, encontra-se o Programa nacional de humanização do parto: humanização no pré-natal e nascimento (Brasil, 2002Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. (2005). Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada - manual técnico. Brasília, DF.), que organiza o pré-natal em três fases, a saber: cadastramento, acompanhamento, conclusão do pré-natal junto ao parto; tal estratégia intensifica o próprio foco de investimento das mídias sociais. Estas, por sua vez, são organizadas e descritas apenas com as condutas e rotinas de procedimentos a serem executados, não sendo citadas, no artigo, a atenção e a escuta ativa da gestante.

Essa articulação cartográfica entre a política e a mídia social surge em uma postagem de 03/11/2011, que foi compartilhada por algumas mulheres: “[...] está vendo, fulana, precisa fazer pré-natal até o fim”. A reportagem dizia ‘Exames que você precisa fazer antes de tornar-se mãe’ (Pais & Filhos, 2011Pais & Filhos. (20113). Exames que você precisa fazer antes de tornar-se mãe. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/exames-que-voce-precisa-fazer-antes-de-se-tornar-mae/
https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/...
), com o seguinte trecho:

Esse acompanhamento gestacional ajuda a identificar problemas que possam vir a assolar a mãe e o feto. A ação preventiva é a melhor maneira de evitar o desenvolvimento de doenças que possam prejudicar a gravidez. Os exames pré-natais devem ser feitos por todas as mulheres gestantes, apresentem elas gravidez de risco ou não (Pais & Filhos, 2011Pais & Filhos. (20113). Exames que você precisa fazer antes de tornar-se mãe. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/exames-que-voce-precisa-fazer-antes-de-se-tornar-mae/
https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/...
).

Diante desse encontro que naturaliza certos aspectos técnicos ou mostra a relevância do saber técnico, entende-se que na mídia social há uma articulação entre diferentes discursos - política pública, biomedicina e maternidade, entre outros - que se fortalecem. Em pesquisa realizada por Haberland (2015Haberland, D. F (2015). “Fantástica fábrica de leite”: problematizando o discurso de apoio à amamentação (Dissertação de Mestrado em Psicologia). Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande.), as gestantes verbalizaram em suas falas a relação com profissionais de saúde: “É assim mesmo, médico não fala muito, né?”; “Aproveito quando ele está medindo a barriga para fazer perguntas, mas uma vez ele falou: ‘faz o que eu digo que vai dar certo’!”

As falas indicam a falta de tempo para responder questões que envolvem as mães e familiares, pois a consulta se torna muito técnica e restrita a palpação, ausculta e avaliação dos exames laboratoriais. Segundo Brasil (2005Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. (2002). Programa nacional de humanização do parto: humanização no pré-natal e nascimento. Brasília, DF., p. 13),

O acolhimento é indicado como aspecto essencial da política de humanização; ele implica a recepção da mulher, desde sua chegada à unidade de saúde, responsabilizando-se por ela, ouvindo suas queixas, permitindo que ela expresse suas preocupações, angústias, garantindo atenção resolutiva e articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência, quando necessário.

Uma forma de buscar os sujeitos é pela mídia, como estratégia micropolítica de colonização do cotidiano. Por meio dela, produzem-se sentidos e sujeitos mediante biopolíticas e tecnologias de controle (Bernardes & Guareschi, 2007Bernardes, A. G., & Guareschi, N. (2007). Estratégias de produção de si e de biotecnologias. Psicologia Em Estudo, 12(1), 151-159. Recuperado de: https://doi.org/10.1590/S1413-73722007000100018). As mulheres foram reinventando as suas identidades maternas por intermédio de saberes, discursos e aspectos culturais com que se identificavam (Schwengber, 2007Schwengber, M. S. V. (2007). Distinções e articulações entre corpos femininos e corpos grávidos na Pais & Filhos. História: Questões & Debates, 47(2), 123-138.). As famosas surgem como referência para a gestação. Uma postagem em Pais & Filhos (2018aPais & Filhos. (2018a). Veja quais são as mães famosas mais procuradas na web! Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/familia/veja-quais-sao-as-maes-famosas-mais-procuradas-na-web/
https://paisefilhos.uol.com.br/familia/v...
) dizia: ‘Veja quais são as mães famosas mais procuradas na web!’. As mulheres, além de se identificarem, criam modelos de mães, destacando-se as mulheres famosas, as novas especialistas no processo de gestar.

A escolha da mídia como um lugar privilegiado para tratar (ou orientar) sobre os cuidados com o corpo e seu preparo para a maternidade deu-se pela compreensão de que se trata de um esforço da sociedade brasileira em educar a mulher para tornar-se uma ‘Boa Mãe’. Hoje, tem-se uma abordagem de ‘mãe moderna’, em razão das novas funções que a mulher ocupa, como mulher e trabalhadora. Não há só orientações sobre os cuidados com o bebê, mas especialmente diretrizes a respeito do próprio corpo da mulher, que deveria cuidar-se para melhor cuidar dos filhos e da família.

A quantidade de informações científicas e saberes populares, orientações, blogs, livros, produtos para mãe e bebê, orientações que ‘educam’ os pais para a criação de filhos e para a forma como a mulher vai realizar o cuidado com a família e com seu corpo, sinaliza a mídia como espaço privilegiado para controle dessa população. Ao fazer uma busca na internet com os descritores ‘Como ser uma boa mãe’, surgiram aproximadamente 148.000.000 resultados. Impressionante como os primeiros conteúdos usam exatamente estes descritores. A imagem da ‘Boa Mãe’ é vendida em livros e disseminada em dicas de blogs, reportagens e cursos de gestantes, que funcionam como uma espécie de manual e receita para se atingir determinada figura. Muitos anunciam modelos famosas como exemplos; outros trazem discursos de especialistas técnicos; outros abordam desde saúde e educação até formas de consumir produtos para cuidados com o corpo e aulas (a ‘boa mãe’ deve pensar em tudo: quarto do bebê, enxoval, chá de bebê).

Deve-se também citar que, embora a tecnologia proporcione essa facilidade de acesso às informações, estas não possuem apenas uma interpelação do discurso médico científico, mas inúmeras formas, com testemunhos baseados em experiências pessoais disponíveis para acesso e ‘orientação’ das mulheres que estão vivenciando esse processo. O intuito aqui não é naturalizar a gestação ou a maternidade; conforme afirma Medeiros (2008Medeiros, P. F. (2008). Políticas da vida: entre saúde e mulher (Tese de Doutorado em Psicologia). Faculdade de Psicologia, PUCRS, Porto Alegre.), passa-se de vê-las como fatos naturais a pensá-las com uma multiplicidade de forças em determinado campo histórico. Apesar de Foucault não se dedicar a analisar a mídia, há um comentário sobre o século XVIII no livro Microfísica do poder (Foucault, 1979Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade: curso no College de France (1975-1976) (M. E. Galvão, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original de 1997.) que diz que os reformadores desconheciam as condições reais de opinião e a mídia: “[...] uma materialidade que obedece aos mecanismos da economia e do poder em forma de imprensa, edição, depois de cinema e televisão” (Foucault, 1979Foucault, M. (1999). Em defesa da sociedade: curso no College de France (1975-1976) (M. E. Galvão, trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . Original de 1997., p. 224).

A mídia constrói sentidos por meio de diferentes estratégias e afirma o discurso da relação entre saúde e biotecnologia, forjando os modos de conceito e de experiência de saúde (Haberland & Scisleski, 2018Haberland, D. F., & Scisleski, A. C. C. (2018). “Fantástica fábrica de leite”: problematizando o discurso de apoio à amamentação.Revista Polis E Psique, 7(3), 161-179. Recuperado de: https://doi.org/10.22456/2238-152X.75568). Ações de poder produzem formas de regular a mulher trabalhadora pelo próprio processo gestacional; educa-se o corpo para a gestação e para a maneira de conduzi-la, com vistas a produzir uma mãe saudável e trabalhadora.

‘Como minimizar a volta ao trabalho depois da licença maternidade’ (Pais & Filhos, 2017aPais & Filhos. (2017a). Como minimizar a volta ao trabalho depois da licença maternidade. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/familia/como-minimizar-a-volta-ao-trabalho-depois-da-licenca-maternidade/
https://paisefilhos.uol.com.br/familia/c...
). Essa postagem trata da experiência de um casal no retorno ao trabalho após o nascimento do filho. Trouxe dicas para atender às duas situações de forma proativa. Outra postagem, de 02/03/2016, anunciava: ‘Chegou a hora de voltar ao trabalho após a licença-maternidade. E agora?’ (Pais & Filhos, 2016Pais & Filhos. (2016). Chegou a hora de voltar ao trabalho após a licença-maternidade. E agora? Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/especiais/seminario/chegou-a-hora-de-voltar-ao-trabalho-apos-a-licenca-maternidade-e-agora/
https://paisefilhos.uol.com.br/especiais...
). Um profissional psicólogo dizia como poderia ser conduzido este processo.

A primeira coisa que deve se pensar é no que o emprego e a profissão representam para a mulher. Yuri diz que a mulher não deve achar que após o nascimento do filho ela não pode mais ter um emprego. Além disso, também é interessante para família ter uma mãe satisfeita, seja em casa ou no trabalho. ‘Onde deixar o filho na volta ao trabalho? Em casa ou na escolinha?’ (Pais & Filhos, 2016Pais & Filhos. (2016). Chegou a hora de voltar ao trabalho após a licença-maternidade. E agora? Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/especiais/seminario/chegou-a-hora-de-voltar-ao-trabalho-apos-a-licenca-maternidade-e-agora/
https://paisefilhos.uol.com.br/especiais...
, p. 5, grifo do autor).

Existem diferentes investimentos políticos no corpo da mulher burguesa e trabalhadora. Focaliza-se, neste estudo, a mulher de classe média que trabalha, mas que precisa ser mãe e corpo grávido no mundo do trabalho. Independentemente dos experts que vivenciaram a situação ou o discurso técnico, a forma com que a mulher se subjetivará conduzirá suas atuações de corpo trabalhador e também de cuidador para gestão das famílias.

A política do ‘Corpo Grávido’

O corpo aqui não é o corpo biológico, repleto de funções fisiológicas, mas o corpo como experiência de corpo, em que há interesse político. Especialmente, considera-se o que é focalizado como objeto desta pesquisa - o corpo grávido -, para a compreensão de um processo de subjetivação para tornar-se uma ‘Boa Mãe’. Este conceito sobre o corpo aparece ao longo da obra de Michel Foucault (2000Foucault, M. (2000).A arqueologia do saber. Rio de Janeiro, RJ: Forense Universitária. Original de 1969.) como conjunto de forças que se esbarram e estão em constante conflito. O corpo não se limita aos conceitos orgânicos; primordialmente, ele se apresenta como campo sobre o qual operam diferentes dispositivos, ou seja, a materialidade do corpo ganha densidade a partir de um conjunto heterogêneo de investimentos políticos. Portanto, a figura do corpo biológico, neste caso, com a gestação, é vista apenas do ponto de vista fisiológico da formação fetal e não será o conceito que se utiliza para referência ao corpo. Segundo Foucault (1979Foucault, M. (2003). A ordem do discurso (9a ed.). São Paulo, SP: Edições Loyola. Original de 1970.), o corpo é moldado e ganha forma na sua relação com os mecanismos de poder presentes nos discursos e práticas sociais, constituindo-se subjetividades em relação e em função do corpo, ou sendo uma realidade biopolítica, onde se inicia o controle social.

Essa complexa rede de sentidos operacionalizada para a promoção de objetivações desses corpos colabora para a produção contínua de práticas corpóreas ligadas à maternidade. As relações de poder fazem articulação entre poder e saberes, produzindo verdades e determinados discursos para a criação de um modo de maternidade, um modo de ser mãe. As tecnologias do cuidado de si, constantes nas postagens, veiculam procedimentos voltados para a relação dos indivíduos-mãe com eles mesmos, estabelecendo modos de subjetivação feminina e ligando cuidado de si - do seu corpo - e cuidado do outro - do filho a ser gestado.

Figura 1
A mãe moderna na mídia social.

A postagem acima apresenta a relação da ‘prestação de contas da gestação e maternidade’. Muitas mulheres sentem a necessidade de comprovar, por meio de sua rede social, que têm realizado os cuidados pré-natais, que tiveram parto normal, que estão amamentando, tudo com fotos e quase em tempo real. Muitas postagens ainda são compartilhadas por pessoas desconhecidas, com comentários como ‘meta de parto’, ‘também irei conseguir parir de parto normal e mostrarei para vocês’, ‘fazendo a dieta da gestação’. Esse post caracteriza o momento em que estamos, quando a mídia social exerce ação sobre as mulheres grávidas em relação aos seus corpos e às suas vidas.

O dispositivo presente e veiculado na mídia social, especialmente, possibilita rápida disseminação de informações e participação das pessoas, que as leem e podem recomendá-las a outra pessoa instantaneamente, atuando na produção de sentidos e condutas sobre os cuidados com o corpo e a maternidade, na figura da ‘Boa Mãe’. Assim, o poder produz sujeitos - o sujeito mãe - e permite-lhes visibilidade, além de conduzir e sistematizar modos como as mulheres se relacionam consigo mesmas na fase de gestação. Essas formas de visibilidade pelas quais as mulheres se reconhecem como mães as direcionam para que se reconheçam responsáveis por seus corpos, pelo seu comportamento e pela maneira como exercerão a maternidade.

Conforme Marcello (2003Marcello, F. A. (2003). Dispositivo da maternidade: mídia e produção agonística de experiência (Dissertação de Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre., p. 203), ao reconhecer a si mesma pelo dispositivo da maternidade, a mulher se “[...] dirija e que se empregue em direção a si própria investimentos de visibilidade e também de enunciabilidade”. Quando se torna objeto de si mesma, a mãe deve observar-se, em um processo contínuo de vigilância, produzindo formas específicas e previamente orientadas de ver-se e falar de si mesma, como encontramos na postagem de 23/04/2017, na página Mamãe, com 5.362 compartilhamentos. A postagem dizia: ‘12 coisas que a gestante nunca deve esquecer’ (Mamãe, 2017Mamãe. (2017). O que a gestante nunca deve esquecer. Recuperado dehttps://www.facebook.com/mamaetucaamor/photos/a.1848518958713445.1073741828.1848494688715872/1953008681597805/?type=3&theater
https://www.facebook.com/mamaetucaamor/p...
). O primeiro item iniciava com comer a cada três horas; os demais envolviam cuidados corporais, dormir oito horas diárias, não se estressar e praticar exercícios.

A política do corpo grávido constitui-se por um conjunto de tecnologias, e um exemplo muito característico trazido na postagem acima citada é a alimentação durante a gestação. As falas, sejam sobre como montar um prato para determinada fase da gestação, sobre exercícios que devem ser realizados pelas grávidas, ou ainda, cuidados para manter o peso ou o equilíbrio durante a gestação, materializam os discursos sobre esses corpos. Essas tecnologias aparecem como resposta a um campo social e atuam modificando as práticas médicas para regular a gravidez. São orientações e cuidados que deixam de ser um processo natural para investir-se na gravidez. Conforme Marcello (2003Marcello, F. A. (2003). Dispositivo da maternidade: mídia e produção agonística de experiência (Dissertação de Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.), ações como controlar-se, organizar-se, enunciar-se, além de constituírem tecnologias de si, também estão relacionadas ao caráter de resistência do dispositivo da maternidade produzido. É preciso divulgar, dar visibilidade e afirmar que essas práticas são importantes, para que as mulheres-mães não escapem de tais lógicas. Tanto quanto fazer de uma determinada forma de vivenciar a maternidade um fato natural, trata-se de caracterizar e administrar as modalidades fora do padrão, caracterizadas e inquiridas na diferença, fazendo com que esta se torne objeto de saber.

O corpo grávido, portanto, é produzido a partir de um modelo específico de maternidade, constituído por uma política do corpo grávido, que possui padrões para cuidar e orientar. Assim, aquele que escapa a este padrão deve ser também governado, gerando uma caracterização deste desvio. Atualmente, a relação entre o privado e o público, na maternidade, tornou-se cada vez mais misturada, vindo a ser local de interesse na gestão da vida contemporânea. Ao relacionar-se o conceito de saúde com o comportamento intitulado como ‘normal’, qualquer mudança no padrão predeterminado fugirá à regra e será relacionado ao não saudável e ao patológico.

A mídia pode agir com uma ‘naturalização da verdade’, mas trata-se, sobretudo, de uma estratégia da política do corpo grávido, de maneira a potencializar a impressão negativa de ações fora da norma e atuar como parte de uma sociedade ‘normalizadora’ (Grohmann, 2009Grohmann, R. N. (2009). Michel Foucault, discurso e mídia. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação, 3(2).). As biotecnologias, que são agenciadas pelas biopolíticas e que compõem a política do corpo grávido, vêm ganhando um espaço cada vez maior na produção de formas de pensar e relacionar-se consigo mesmo. Criaram-se a possibilidade de controle sobre os corpos e existências, e é possível adquirir artefatos que sirvam melhor à vida; a saúde tornou-se produto de consumo (Haberland & Scisleski, 2018Haberland, D. F., & Scisleski, A. C. C. (2018). “Fantástica fábrica de leite”: problematizando o discurso de apoio à amamentação.Revista Polis E Psique, 7(3), 161-179. Recuperado de: https://doi.org/10.22456/2238-152X.75568).

Diante do exposto, é importante pensar sobre o uso da ferramenta da mídia no controle das populações, ensinando um comportamento aprendido e delineando uma forma exata de proceder. As mulheres não optam pelo cuidado do corpo ensinado nas revistas, pelo parto normal por ser um fato biológico ou porque receberam informações sobre sua vantagem no tipo de gestação que estão passando, mas optam por certos comportamentos porque se sentem confiantes com a imagem de pessoas famosas ou com a reprodução de um comportamento; assim, isso tem impacto direto na maneira como agem e pensam: ‘9 famosas que arrasaram falando sobre amamentação’ (Pais & Filhos, 2017bPais & Filhos. (2017b7). 9 famosas que arrasaram falando sobre amamentação. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/pais/9-famosas-que-arrasaram-falando-sobre-amamentacao/
https://paisefilhos.uol.com.br/pais/9-fa...
). Leia-se nesse texto: “Para ser bem-sucedida na amamentação você precisa de bastante suporte e é ótimo saber que as celebridades estão aqui também para nos apoiar com depoimentos nas redes sociais” (Pais & Filhos, 2017bPais & Filhos. (2017b7). 9 famosas que arrasaram falando sobre amamentação. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/pais/9-famosas-que-arrasaram-falando-sobre-amamentacao/
https://paisefilhos.uol.com.br/pais/9-fa...
).

O uso da ferramenta da mídia no controle das populações ensina e incita um comportamento aprendido, delineando uma forma exata de proceder. As mulheres sentem-se confiantes com a imagem de pessoas famosas, com quem estão tão familiarizadas, e isso tem impacto direto na maneira como agem e pensam. O modelo de cuidados com o corpo durante a gestação, parto ou maternidade não postula uma única via para o exercício de governo, mas justamente uma diversidade de elementos constitutivos de relações que impactam o sujeito e a população. Nesse sentido, não é aleatória ou fortuita a escolha de celebridades para estamparem campanhas relacionadas com maternidade, parto e aleitamento materno, uma vez que o estado percebe o impacto que isso gera em termos de efeito social.

A gravidez, que anteriormente, era tomada como um assunto familiar, desloca-se para uma relação ‘social’ que envolve inúmeros especialistas, e há a necessidade de ‘comprovar’ determinado modelo de mãe. Inúmeros discursos sobre a gravidez reafirmam a concepção da centralidade da mulher em um modelo de mãe no processo gestacional.

Foucault (1979Foucault, M. (1979). Microfísica do poder. Rio de Janeiro, RJ: Graal.) nos diz sobre este ‘regime de verdade’, instalado e produzido todo o tempo. A partir dele, constroem-se condições de possibilidade para constituição dos objetos de conhecimento, assim como a possibilidade de modos de subjetivação dos indivíduos. É possível afirmar que aqui já há a celebração da flexibilidade e da mobilidade dos corpos. Não há lugar para inatividade. Entre padrões diferentes, encontra-se o exercício físico como nova política de verdade científica (Foucault, 2000). Desde modo de andar e autodisciplina até os cuidados com o corpo, tudo ajuda a construir a potência muscular dos corpos grávidos e, ainda, a agregar jovialidade e mobilidade (Schwengber & Rohr, 2015Schwengber, M. S. V., & Rohr, D. R. (2015). Imagens de uma nova economia identitária dos corpos grávidos. Educação & Realidade, 40(3). Recuperado de: http://dx.doi.org/10.1590/2175-623644756). Podemos ver isso nos casos: ‘IMC das grávidas - ganho de peso ideal para grávidas’ (Pais & Filhos, 2018bPais & Filhos. (2018b). IMC das grávidas. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/ferramentas/imc-da-gravida/
https://paisefilhos.uol.com.br/ferrament...
); ‘Ivete Sangalo posta vídeo dançando com barrigão’ (Pais & Filhos, 2017cPais & Filhos. (2017c). Ivete Sangalo posta vídeo dançando com barrigão. Recuperado de: https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/ivete-sangalo-posta-video-dancando-com-barrigao/
https://paisefilhos.uol.com.br/gravidez/...
).

Cuidar do corpo grávido, orientando o exercício para um corpo saudável que também beneficiará o corpo em formação, fundamenta-se na verdade dos saberes médicos quando articulados a outros discursos que permitem deslocamentos para o próprio cotidiano: é o médico que fala, mas também um expert do esporte, assim como uma celebridade. A política do corpo grávido constitui-se na medida em que permite certas junções de diferentes elementos, sejam eles técnicos ou cotidianos. O que também chama atenção na postagem é que, ao final dela, surgem links para acessar outras postagens do mesmo teor: uma ensinando a mulher a exercitar-se em casa - ‘Como se exercitar em todas as fases da gravidez’, o que poderia ser realizado mesmo sem local específico; outra sobre a cantora Ivete Sangalo, que foi ativa fisicamente durante toda a gestação gemelar. Neste caso, havia uma reportagem que tratou sobre o assunto. Logo, isso indica muitas formas de subjetivação em que as mulheres se reconhecem ou se identificam como sujeitos mães, mulheres grávidas.

A forma como esses discursos circulam e atuam sobre esses corpos não está apenas na mídia - está no cuidado, nos saberes religiosos, nos protocolos das políticas públicas de saúde, que se disseminam e ganham campos de visibilidade e grades de inteligibilidade. Criam-se códigos morais a partir dos quais as mulheres passam a relacionar-se consigo mesmas para tornarem-se corpos grávidos e ‘boas mães’.

Ao pensar a mídia social como um local onde práticas circulam, ensinam e produzem a educação de corpos grávidos, é possível considerar que a identidade do sujeito mãe é formada, produzida e representada no interior de uma imensa rede de verdades e relações de poder de forma capilarizada. Além de produzir verdades, este processo de construção da mãe moderna articula-se em diversas instâncias: da saúde, da moral, da religião e da cultura. Multiplica-se com a possibilidade de discursos criados e veiculados e com a validação de verdades dos experts. O amplo uso das redes sociais permitiu que diversos experts participem deste processo e possibilitou também que a gravidez saísse da dimensão privada e atingisse a dimensão pública. As próprias mulheres-mães publicizam a experiência do corpo grávido, e a gravidez deixa de ser uma experiência individual, tornando-se pública.

Considerações finais

A necessidade de afirmar-se e falar de si, de expor como prestação de contas, interfere na forma como a mãe se subjetiva. A cartografia feita até agora permite considerar, a partir da análise de uma política do corpo grávido, por meio de discursos e tecnologias, como se produz um manual que orienta e direciona a produção da ‘Boa Mãe’ e como esse processo de subjetivação ocorre e se cria, sinalizando toda uma política de interesse no corpo - o corpo grávido.

Essa política do corpo grávido e a forma que ela assume em termos de um manual de condutas apontam um deslocamento do privado para o público, a partir do corpo grávido, que se torna coextensão do corpo público. O sujeito-mãe, exerce seu papel no modelo materno, papel de ‘Boa Mãe’, mas também tem a necessidade da exposição, de comprovação, de reafirmação do mesmo discurso, as postagens materializam este processo. Cabe dizer que não estamos contextando a importância dos pré-natais e nos cuidados realizados na assistência, estamos propondo uma reflexão como esse processo ocorre.

A partir do que foi descrito até agora, temos a atuação da mídia compondo diferentes discursos, articulações e experts que surgem na mídia social, o que aponta o caráter de dispersão da política de investimento nos corpos e as formas de subjetivação que se constituem no processo em que as mulheres se constroem (e são construídas) como mães. A politização do corpo grávido apresenta discursos e saberes que levam à educação deste corpo e os dispositivos que direcionam a um modelo específico de maternidade: a ‘Boa Mãe’. Observa-se que a mulher, se quiser ser mãe, deverá observar-se (cuidar-se), como em um processo contínuo de vigilância. Todo esse investimento, na forma de cuidar de si e do outro, conduz formas de agir e pensar, atua na disciplina de si e dos outros. As mesmas mulheres que são julgadas e passam pela experiência de gestação social também reproduzem o comportamento em relação às outras mulheres, atualizando o discurso.

Ao pensar na gestação como um processo social, repleto de saberes, dispositivos da mídia surgem como mais uma estratégia que regula como a mulher moderna, gestante, deve cuidar do seu corpo e da condução da gestação, que formará um novo corpo biologicamente e um corpo também político. Logo, o micro e o macro são partes um do outro, envolvidos em interesses e investimentos contínuos que se articulam em todas as fases da vida. Essas estratégias efetivamente atuam sobre as formas como as mulheres cuidam do seu corpo; as práticas valorizam, julgam, ensinam, reforçam, qualificam ou desqualificam, enunciam, identificam e dão visibilidade aos sujeitos-mãe, à figura da ‘Boa Mãe’, neste dispositivo que promove modos específicos de subjetivação das mulheres-mães.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    05 Jun 2020
  • Aceito
    06 Set 2021
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