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EDITORIAL CONVIDADO

EDITORIAL CONVIDADO

Mara Behlau

Presidente da International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP)

Analisar as conquistas da Fonoaudiologia em 2007 requer um distanciamento saudável de fatos menores do dia-a-dia que por vezes nos desanimam e esgotam. Para ingressarmos em uma nova etapa de desafios, já temos todos os ingredientes imprescindíveis: a compreensão de que o trabalho com a comunicação é um fator essencial para a felicidade do ser humano e para a paz no mundo, a consciência de que já sobrepujamos os obstáculos iniciais do reconhecimento profissional e a possibilidade de titulação plena.

A comunidade fonoaudiológica brasileira corresponde à segunda maior concentração mundial da profissão superada apenas pelos Estados Unidos. Nosso congresso nacional é também o segundo maior evento da categoria, superado apenas pelo da American Speech-Language and Hearing Association (ASHA). Apesar da segunda posição quantitativa, nossa produção acadêmica é muito menor que a dos Estados Unidos. Dentre as prováveis causas desse fato, poderíamos destacar que menos de 10% dos 30 mil fonoaudiólogos inscritos no Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa) são associados à Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), apenas 13% têm algum título de especialista e uma estimativa de apenas 3% têm mestrado e 1% doutorado. Instiga a imaginação, pensar sobre o que seríamos capazes de fazer e produzir se elevássemos esses percentuais.

O cenário pode parecer desalentador, porém, em 2007, tivemos dois eventos tradicionais e de grande magnitude, bem sucedidos científica e financeiramente: o 22º Encontro Internacional de Audiologia (EIA), em Natal, RN, que contou com 860 congressistas e o 15º Congresso Brasileiro e 7º Congresso Internacional da SBFa, em Gramado, RS, que teve 1400 participantes. Além deles, a Fonoaudiologia brasileira mostrou torque para sediar o 2º Composium Internacional da International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP), em São Paulo, SP, com 744 participantes. Neste último evento, recebemos 17 estrangeiros que tiveram suas apresentações comentadas por 60 destacados professores brasileiros, constituindo-se na maior exposição da Fonoaudiologia nacional às variadas realidades internacionais, o que incluiu a avaliação do olhar norte-americano, líder inconteste da produção científica da área, a sofisticação das análises belga e alemã e a valiosa perspectiva de países onde a Fonoaudiologia enfrenta seus desafios iniciais como o Egito e as Ilhas Maltesas. O impacto real que a Fonoaudiologia brasileira produziu nos dirigentes da IALP certamente trará desdobramentos positivos. Os frutos iniciais já se fazem presentes: temos sete colegas participantes de comitês de áreas específicas da IALP e uma colega na força-tarefa especial sobre qualidade de vida e distúrbios da comunicação; um maior crescimento de brasileiros membros individuais da associação; e diversos colegas em formação solicitaram treinamento e educação continuada em instituições no exterior.

Em agosto do presente ano, assumi a presidência da IALP, na Cidade de Copenhagem, Dinamarca, fato celebrado de forma honrosa por mim e meus colegas que se manifestaram com grande consideração e orgulho. No mês passado, fui convidada para integrar o corpo de diretores internacionais da ASHA (ASHA International Board of Directors), associação que na última década também percebeu a necessidade de expandir as fronteiras profissionais para outros países do mundo e apreciar a fonoaudiologia internacional, como um de seus objetivos mais importantes.

Na IALP aprendi que o mundo não tem fronteiras para quem sabe se comunicar e que a comunicação é a estratégia mais efetiva para consolidar a rede internacional de relacionamentos necessária para o salto de qualidade que pretendemos no futuro próximo. A previsão é boa: teremos em agosto de 2009 o 6th International Congress of Fluency Disorders e, em 2010, o 30th International Congress of Audiology, ambos no Brasil, organizados respectivamente pela Doutora Cláudia Furquim de Andrade e Doutora Iêda Russo, colocando nosso país definitivamente na rota científica internacional.

Meus desejos pessoais são sempre ambiciosos e também reais: ter uma revista representativa da produção nacional brasileira Qualis IA, publicar estudos feitos no Brasil em periódicos internacionais com elevado fator de impacto, constatar que a nossa ciência é transformadora do pensamento científico internacional e contribuir para que as instituições brasileiras reúnam condições para receber estudantes internacionais que também têm o que aprender conosco. Seria querer muito ou apenas reunir forças para enfrentar um desafio que é do tamanho de nosso preparo e de nossa garra?

Em 2010, estaremos em Atenas, Grécia, para o 30th International IALP Congress celebrando a primeira década da Fonoaudiologia naquele país. O Brasil poderá ser modelo apresentando conquistas importantes em condições restritas. Preparem-se, jovens fonoaudiólogos e colegas líderes de grupos de pesquisa: as oportunidades estão à nossa frente, as agências de fomento de pesquisa prestigiam os bons projetos e há mãos suficientes para aplaudir os colegas de todas as nacionalidades e diferentes orientações científicas, imbuídos da certeza de que ninguém faz sucesso sozinho.

Um bom 2008 com muito trabalho, energia e a mente focada em nossa meta mais importante: o crescimento auto-sustentado da Fonoaudiologia.

Mara Behlau

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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