Resumo
Este artigo pretende discutir o impacto da participação no programa Studienreise, uma viagem acadêmico-cultural à Alemanha financiada pelo DAAD para 15 estudantes de Letras-Alemão da Universidade de São Paulo. O projeto para o pedido da verba para a viagem foi desenvolvido por uma docente da USP e realizado em cooperação com quatro universidades alemãs nas cidades de Berlim, Leipzig e Jena, além do engajamento ativo das estudantes envolvidas no programa. Para compreender as consequências da participação no projeto, a partir da perspectiva das estudantes, realizamos duas coletas de dados anônimas (antes e depois da viagem) por meio de questionários online. Este levantamento teve o intuito de averiguar o impacto da participação no programa tendo em vista os seguintes conhecimentos e experiências prévias e posteriores: língua e cultura alemã; objetivos individuais; motivação e participação; perspectivas futuras profissionais e pessoais. Os resultados indicam a grande relevância do envolvimento de estudantes de Letras-Alemão em programas como a Studienreise no que tange os seus conhecimentos e perspectivas profissionais, acadêmicas e individuais. Não obstante, foi possível observar a importância da preparação e seleção do projeto, das universidades parceiras e das estudantes envolvidas, como determinantes para experiências (inter)culturais e linguísticas críticas e decoloniais.
Palavras-chave:
Studienreise; Letras-Alemão; aprendizagem Intercultural; motivação; perspectiva crítica e decolonial
Abstract
This article aims at discussing the impact on students from participating in the Studienreise program, an academic-cultural travel to Germany, funded by DAAD, in which fifteen students from the German undergraduate course at the Universidade de São Paulo (USP) participated. The project which the group submitted for funding was developed by an USP professor and accomplished both with the cooperation of four German universities (in Berlin, Leipzig and Jena), and the active engagement of students. To understand the impact of participating in the project, from the students’ perspectives, two online forms for data collection were employed (before and after the trip). They aimed at verifying the impact of participating in the program considering the subsequent knowledge and previous and subsequent experiences with regard to: German language and culture; individual objectives; motivation and participation; future professional and personal perspectives. The results indicate the relevance of the German course students’ engagement in programs such as Studienreise regarding their knowledge and professional, academic and individual perspectives. Nonetheless, the importance of preparing and selecting the project by the partner universities and by the students themselves as determinants for the (inter)cultural and linguistic cultural and decolonial experiences was observed.
Key-words:
Studienreise; German undergraduate course; Intercultural learning; Motivation; Critical and decolonial perspective
1 Introdução
O Brasil e a Alemanha mantêm uma eminente cooperação econômica, política e cultural, intensificada a partir de 2002 com o estabelecimento de uma Parceria Estratégica (BRASIL 2023BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. República Federal da Alemanha. 04 jan. 2024. Disponível em: Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt-br/assuntos/relacoes-bilaterais/todos-os-paises/republica-federal-da-alemanha Acesso em: 08.07.2023.
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). Atualmente, a Alemanha é o principal parceiro comercial brasileiro na Europa e o quarto principal parceiro global. No campo do ensino superior, especificamente no contexto das humanidades da USP, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que apresenta o maior curso de alemão da América Latina, possui convênios com oito universidades alemãs. A habilitação de Letras-Alemão da USP é uma das maiores do Brasil, com a entrada de mais de 80 estudantes por ano (em dois turnos). A maioria das estudantes inicia a habilitação de alemão na USP com pouco ou nenhum conhecimento de língua e cultura alemã, devendo alcançar ao final de apenas quatro anos o nível intermediário (B1)6
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De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - CEFR.
. O curso oferece possibilidade de formação em bacharelado e/ou licenciatura, com duração ideal de 8 semestres com 146 créditos (66 de disciplinas obrigatórias e 26 de disciplinas optativas). As disciplinas obrigatórias englobam aulas de língua, linguística, literatura e tradução alemã.
Tendo em vista a escassez de bolsas no Brasil e na Alemanha nos últimos anos, a distância geográfica entre o Brasil e países de língua alemã e o fato de que muitas estudantes não têm a oportunidade e recursos financeiros para realizar intercâmbios e cursos particulares, a participação em programas como a Studienreise do DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst)7
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Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico.
, representa uma grande oportunidade para uma formação plena e pertinente em Letras-Alemão. Levando em conta a cada vez maior desmotivação das estudantes em seguir carreira docente ou acadêmica (AQUINO 2020AQUINO, M. A monitoria acadêmica no ensino de alemão como língua adicional em contexto universitário: reflexões sobre um projeto de formação crítica. Ensino & Pesquisa, Curitiba, v. 18, n. 2, 23-35, 2020. DOI https://doi.org/10.33871/23594381.2020.18.2.23-35
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), consideramos que projetos complementares à formação em Letras podem abrir novas perspectivas e possibilidades, fazendo com que as estudantes se sintam mais motivadas e engajadas no seu processo de formação e decisão sobre seu futuro profissional e pessoal (MARQUES-SCHÄFER, BOLACIO FILHO 2020MARQUES-SCHÄFER, G.; BOLACIO FILHO, E.S. Der Beitrag einer vom DAAD finanzierten Studienreise zur Ausbildung von angehenden DaF-Lehrenden. Info DaF, v. 47, n. 5, 570-593, 2020. DOI: https://doi.org/10.1515/infodaf-2020-0088
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; AQUINO; GALLI NO PRELOAQUINO, M.; GALLI, L. Motivação, participação e pesquisa em Letras: o papel da acolhida acadêmica na perspectivas de estudantes. Cadernos de Letras da UFF, no prelo.).
Com o intuito de procurar alternativas para esta complexa conjuntura, a professora responsável submeteu um projeto para uma viagem de 12 dias à Alemanha com a participação de 15 estudantes8 8 Limite de datas e de estudantes máximo estipulado pelo DAAD. com visita às seguintes universidades: Freie Universität Berlin, Humboldt-Universität zu Berlin, Universität Leipzig e Friedrich-Schiller-Universität Jena. O projeto foi elaborado em concomitância com os projetos de ensino e pesquisa atuais da professora e baseado em sua experiência de observação das necessidades das estudantes nas disciplinas que ministra, isto é, Língua Alemã (desde turmas iniciais até avançadas), Introdução à Linguística Alemã e Metodologia de Pesquisa em Letras. Com relação à atuação em pesquisa que auxiliou na elaboração do projeto, destaca-se a produção de um livro didático local para o ensino de alemão, a coordenação de programas de Teletandem nacionais e internacionais e estudos sobre motivação e participação no curso de Letras.
A seleção das estudantes foi realizada com foco nas seguintes prioridades que se referem ao projeto encaminhado para o DAAD: estar no final do curso (a partir do sétimo semestre); ter conhecimento intermediário ou avançado (entre B1 e C1) de língua alemã; preferencialmente estudantes que ainda não haviam recebido bolsa pelo DAAD e não tiveram experiências em países de língua alemã; estudantes ativas em atividades de ensino e acadêmicas na USP. Assim, o objetivo principal do projeto era o de possibilitar uma experiência linguística, cultural e acadêmica na Alemanha a estudantes no final do curso que se destacaram na habilitação, mas ainda não haviam tido a oportunidade de uma experiência de imersão em países de língua alemã. Tendo em vista as restrições financeiras (das estudantes e do valor da verba do DAAD) e de tempo, decidimos realizar a viagem em cidades que não exigiam longos deslocamentos e em regiões que englobam universidades conceituadas com programas de interesse para o grupo da USP, isto é, dentro das três principais áreas de conhecimento da germanística (ensino, tradução e literatura) e que, de preferência, já mantinham colaborações acadêmicas com a USP9 9 Três das quatro universidades mantêm acordos de colaboração ativos com a área de alemão da USP: Freie Universität Berlin, Humboldt-Universität zu Berlin, Universität Leipzig. Espera-se que esse contato possa resultar em uma colaboração com a Friedrich-Schiller-Universität Jena. .
O projeto teve a verba concedida pelo DAAD em Janeiro de 2023 e foi dividido da seguinte forma: duas visitas a Centros de Línguas (Sprachenzentrum) das Universidades Freie Universität Berlin e Humboldt-Universität zu Berlin, que ofereciam perspectivas profissionais para atuação em cursos de alemão e português para estrangeiros; duas visitas a programas e grupos de pesquisa nas áreas de tradução, linguística e ensino de língua das Universidades de Leipzig e Friedrich-Schiller-Universität Jena. As atividades do projeto incluíram: participação (ativa ou como ouvinte) em aulas, seminários e workshops; sessões de discussão e informação sobre os programas de trabalho e pesquisas nas universidades visitadas; atividades culturais (visita a museus, parques e monumentos) com colegas das universidades; tempo livre para programação individual.
Para compreender as impressões e impacto pessoal, acadêmico e profissional das atividades do programa na visão das estudantes da USP, desenvolvemos dois questionários online pelo Google Forms: o primeiro antes da viagem, averiguando os objetivos, expectativas, motivações e conhecimentos a respeito da língua e cultura alemã; o segundo após o retorno da viagem, indagando sobre as experiências, conhecimentos adquiridos e o impacto nas perspectivas futuras após a participação no programa. Os questionários foram respondidos anonimamente (e com autorização) pelas 15 estudantes envolvidas no projeto e os resultados (qualitativos e quantitativos) serão analisados de forma transversal entre os temas principais dos dois questionários, relacionando: perfil; formação e perspectivas profissionais em língua alemã; reflexões sobre língua e cultura; expectativas e impacto do projeto de intercâmbio acadêmico (a nível pessoal, acadêmico e profissional). Além disso, os dados coletados no questionário serão discutidos com apoio de anotações de campo durante todo o desenrolar do projeto, assim como das atividades dos Grupos de Trabalho (desenvolvidos pelas estudantes e com coordenação da docente responsável) para organização da viagem e realização do programa na Alemanha.
Consideramos que a participação no projeto pode proporcionar experiências potencialmente motivadoras, uma vez que no contexto imersivo da visita a um país de língua alemã as estudantes se deparam com diversas situações relacionadas ao uso contextualizado do idioma. Tendo em mente que para muitas discentes o contato com a língua alemã se dá apenas no contexto universitário no Brasil, as atividades vivenciadas durante a visita à Alemanha podem permitir uma percepção individualizada do potencial e desafios do conhecimento linguístico alcançado durante a sua formação. Para além das questões do uso do idioma, o projeto permite às alunas uma aproximação e reflexão acerca de questões socioculturais e das perspectivas futuras de trabalho (ensino, pesquisa e tradução), o que potencializa a progressão da participação, motivação e confiança no curso e nos planos futuros.
Na próxima seção serão apresentados os objetivos do projeto financiado pelo DAAD, assim como as especificidades do ensino de língua alemã em contexto acadêmico na USP. Na terceira seção serão introduzidos os materiais e métodos de coleta e análise dos dados levantados nos dois questionários online. Na seção seguinte será desenvolvida a apresentação e discussão dos resultados e, na conclusão, finalizamos este trabalho com as últimas considerações e perspectivas futuras.
2 O intercâmbio acadêmico para o ensino de alemão em um curso de Letras
Para a realização do intercâmbio acadêmico financiado pelo DAAD, a docente precisa desenvolver um projeto delimitando e justificando as atividades a serem realizadas, selecionar as estudantes que se encaixam no projeto, entrar em contato com as universidades na Alemanha e negociar as datas e atividades a serem realizadas, as quais devem ser relacionadas a áreas específicas de estudo. O programa chamado Studienreisen für Gruppen von ausländischen Studierenden in Deutschland, referido neste artigo apenas como Studienreise para melhor fluxo de leitura, tem, portanto, o objetivo de fomentar financeiramente projetos desenvolvidos por docentes para que seja possível criar e manter relações entre universidades alemãs e de outros países.
O contato entre a USP, especificamente a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e as universidades alemãs se dá majoritariamente através dos convênios acadêmicos com as instituições10 10 DAAD, Universität Leipzig, Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg, Fakultät für Geisteswissenschaften - Universität Hamburg, Johannes Gutenberg-Universität Mainz, Katholische Universität Eichstätt Ingolstadt e Technische Universität Dresden. . No entanto, os editais de intercâmbio oferecem poucas vagas e a oferta de bolsas, realizada em edital separado, é limitada, de modo que apenas um pequeno número de estudantes tem a oportunidade de aprofundar os seus estudos em uma instituição alemã. Considerando este cenário, a iniciativa do projeto da docente, financiado pelo DAAD, foi fundamental para que a USP pudesse estreitar as relações com universidades na Alemanha.
O curso de Letras da USP envolve duas modalidades que podem ser integradas: a licenciatura e o bacharelado, abarcando habilitações em português, linguística e línguas e literaturas estrangeiras. Seu objetivo é o de estabelecer reflexões críticas com relação aos fenômenos da linguagem em todas as suas manifestações para formar profissionais de docência (no nível fundamental, médio ou superior) e pesquisa11 11 Serviço de Graduação da FFLCH-USP: https://graduacao.fflch.usp.br/descricao-do-curso. . É esperado, ainda, que as discentes sejam preparadas para desempenhar outras funções, como: editoração e produção de textos; crítica literária; tradução; e demais profissões que exigem conhecimentos da linguagem. Consequentemente, para alcançar os objetivos propostos, as alunas são confrontadas com a responsabilidade de compreender e produzir textos de diversas áreas e se dedicar ao ensino e à pesquisa de maneira crítica e reflexiva12 12 A Resolução Nº 7817, artigo 2º - III, de 30 de agosto de 2019, prevê que um dos objetivos da graduação na USP é “propiciar um processo de ensino-aprendizagem que incentiva a capacidade contínua de pensar, inovar e integrar o ensino, a pesquisa e a extensão universitária”. . Logo, consideramos primordial questionar até que ponto as discentes de Letras recebem o suporte adequado para alcançar as expectativas do curso, assim como as que elas estabelecem para si próprias.
Nos semestres iniciais da habilitação de alemão, observa-se a recorrência de dois perfis de estudantes: aquelas que, devido ao seu contexto familiar, educacional e/ou profissional, ingressam com maior proficiência na língua alvo e aquelas com pouco ou nenhum conhecimento prévio em relação a questões linguístico-culturais dos países de língua alemã. Esses diferentes níveis de exposição, que, em teoria, poderiam proporcionar interessantes discussões e maior interação e colaboração entre estudantes, na prática podem ser um desafio para docentes e discentes, podendo resultar em desmotivação e evasão. Além disso, diversas discentes, especialmente do noturno, trabalham em tempo integral, o que eventualmente pode afetar a produção e a aprendizagem. Ao fim do curso espera-se que as aprendizes alcancem o nível intermediário do idioma alvo, o que acarreta novos graus de estresse e dificuldades. Por fim, o reduzido quadro de docentes não permite uma separação, em diferentes turmas, dos diferentes perfis de estudantes, o que poderia possibilitar, dependendo do contexto, um maior nível de personalização das aulas.
Assim, um dos desafios que as estudantes de Letras enfrentam pode se configurar na oferta limitada de oportunidades para uma ampla reflexão e prática quanto ao uso, ensino e pesquisa em língua alemã. Tal cenário tende a influenciar diretamente na motivação, participação e sentimento de pertencimento no curso (AQUINO ET AL. 2022AQUINO, M.; MECHTENBERG, F. TASSINARI, M. G. Fremdsprachenlernen im Teletandem: Ein deutsch-brasilianisches Kollaborationsprojekt aus der Sicht teilnehmender Studierender. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, v. 25, n. 47, 122-147, 2022. DOI: 10.11606/1982-883724547122.
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). Desse modo, a distância que reside entre o conteúdo ministrado nas disciplinas do currículo e as experiências vividas no mundo interno e externo à sala de aula muitas vezes não atende aos objetivos reais de estudantes. Defendemos neste artigo que a participação em programas de intercâmbio acadêmico internacional pode contribuir de maneira eficaz para que estudantes de Letras não apenas acumulem conhecimentos, mas tenham a oportunidade de se envolver de forma ativa em diversos processos e experiências de interação com a cultura, o idioma e a sociedade dos países de língua alvo, podendo implicar em um aumento de motivação.
De maneira geral, a motivação pode ser definida como o processo pelo qual se estabelece uma relação entre o ambiente, a necessidade e o objetivo para mobilizar o indivíduo para a realização de uma determinada ação (CHAMBERS 1999CHAMBERS, G. Motivating language learners. Bristol: Multilingual Matters, 1999. ). No contexto do ensino de uma Língua Adicional (doravante LA), a motivação envolve mais do que meras habilidades ou conhecimentos (como de um sistema e regras), mas conecta circunstâncias mais complexas, como a modificação da autoimagem e a percepção de novos comportamentos sociais e culturais (WONG 2014WONG, R. M. H. An investigation of strategies for student motivation in the Chinese EFL context. Innovation in Language Learning and Teaching, v. 8, n. 2, 132-154, 2014. ). Além disso, devido ao fato de a aprendizagem de uma LA representar uma atividade complexa de longo prazo, a motivação não permanece constante durante todo o curso e, portanto, não pode ser caracterizada como linear e única (DÖRNYEI 2001DÖRNYEI, Z. Teaching and researching motivation. Harlow: Longman, 2001.: 16; AQUINO; GALLI NO PRELOAQUINO, M.; GALLI, L. Motivação, participação e pesquisa em Letras: o papel da acolhida acadêmica na perspectivas de estudantes. Cadernos de Letras da UFF, no prelo.).
Nesse sentido, partimos do pressuposto de que a participação no projeto de um intercâmbio acadêmico para a Alemanha com bolsa, que financiaria pelo menos parte da viagem, poderia proporcionar uma experiência motivadora para as estudantes de alemão fora de um contexto de imersão. A viagem, que durou 12 dias e se concentrou na visita a quatro Instituições de Ensino Superior na Alemanha e seis cidades, pode permitir também trocas socioculturais, por meio das experiências econômicas, sociais, geográficas e linguísticas para estudantes e docentes do Brasil e da Alemanha.
Finalmente, na maioria dos contextos de ensino de Alemão como Língua Estrangeira no Brasil é possível identificar o uso de materiais didáticos importados que veiculam a língua e cultura padrão dos centros europeus. Pela ausência de uma diversidade linguística e sociocultural, tal modelo hegemônico de ensino propicia abordagens de pouca relevância social local, o que pode interferir negativamente na motivação e na participação de estudantes em diversos contextos de ensino. Nesse sentido, consideramos essencial o debate atual sobre as perspectivas críticas e locais no ensino de línguas, na qual se fomenta um descolamento decolonial, especialmente no contexto de formação de professoras, como é o caso nos cursos de Licenciatura em Letras Português-Alemão (AQUINO; FERREIRA, 2023AQUINO, M.; FERREIRA, M.; Ensino de alemão com foco decolonial: uma discussão sobre propostas didáticas para o projeto Zeitgeist. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 17, e1709, 2023. DOI: 10.14393/DLv17a2023-9.
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). Acreditamos que experiências como a da Studienreise possam ser concebidas para colaborar e dialogar com as novas tendências, abrindo espaço tanto para a aprendizagem de língua e cultura, como para descobertas individuais e uma formação mais motivadora e consciente.
O projeto desenvolvido pela docente para o pedido de verba do DAAD apresentava os seguintes propósitos: (i) proporcionar uma experiência de intercâmbio acadêmico para estudantes de alemão em um curso de Letras; (ii) selecionar estudantes com nível intermediário e avançado de alemão que estavam ao final da graduação (a partir do sétimo semestre); (iii) dar preferência para a participação de estudantes que ainda não tiveram vivências (especialmente acadêmicas) em países de língua alemã; (iv) estabelecer e intensificar a colaboração entre as universidades envolvidas no projeto; (v) possibilitar uma experiência motivadora em nível pessoal e acadêmico para as estudantes. Para melhor compreender o perfil, expectativas e experiências das estudantes participantes neste projeto, realizamos dois questionários, um antes da viagem e outro depois. Neste artigo, apresentamos a análise (quantitativa e qualitativa) dos resultados dos dois questionários, assim como complementos das anotações de campo (da viagem e das atividades dos GTs).
Na próxima seção apresentaremos os objetivos, estrutura e formas de perguntas dos questionários online, assim como o perfil das participantes e as escolhas para as análises quantitativas e qualitativas dos dados.
3 A coleta e análise dos dados
Para que o impacto do projeto idealizado pela docente fosse avaliado, refletimos sobre os objetivos e expectativas para elaborar uma coleta e análise de dados relevantes. Tendo em vista que a viagem foi a primeira vivência no exterior para a maioria das estudantes que vão se formar em Letras-Alemão, consideramos o levantamento essencial para compreender os seguintes aspectos: (i) identificar o perfil das participantes e correlacioná-lo com suas expectativas acerca da viagem; (ii) refletir sobre as experiências e percepções individuais e coletivas acerca do programa; (iii) verificar a participação e necessidades das estudantes com relação ao projeto e a viagem; (iv) determinar o impacto da participação no projeto na vida acadêmica e pessoal das participantes.
Visando maior praticidade e melhores e mais rápidos resultados para o levantamento dos dados, optamos pela utilização do questionário da plataforma Google Forms para a realização da coleta sobre a participação na viagem acadêmica. Para o primeiro questionário, anterior à viagem, o objetivo da coleta foi, majoritariamente, reunir dados quanto às experiências de aprendizado no curso de Letras-Alemão oferecido pela USP (como, na questão 14, “Como você avalia o seu aprendizado de língua alemã nas disciplinas de alemão na USP?”)13 13 Para maior detalhamento das perguntas, apresenta-se o questionário completo em anexo. e às experiências e expectativas individuais com relação ao projeto elaborado pela docente, à viagem e ao futuro na área. Para o segundo questionário, posterior à viagem, as perguntas eram espelhadas às do primeiro, objetivando o estabelecimento de comparações entre as expectativas das estudantes e a concretização (ou não) destas expectativas, como na questão 15, “Na maior parte do tempo, você acha que o seu conhecimento de língua alemã foi suficiente para trocas em contextos informais durante a Studienreise?”, ou seja, permitindo uma adaptação ao objetivo do segundo questionário e uma continuação das informações coletadas no questionário inicial (questão 24, conforme anexo).
Em se tratando de um grupo de 15 participantes e tendo em vista que as perguntas elaboradas nos questionários são, em sua maior parte, focadas em percepções individuais, a escolha por um método de coleta online e anônimo se justifica por o considerarmos mais prático e confortável para as participantes. Levou-se em conta também o tempo de retorno para a obtenção dos dados e a taxa de respostas: questionários online possibilitam maior flexibilidade, de forma que as participantes podem adequar melhor suas rotinas e organizar um momento específico para preencher o questionário, o que resulta, portanto, em maiores taxas de resposta (GERHARDT 2009GERHARDT, T. E; RAMOS, I.C.; RIQUINHO, D.; SANTOS, D. L. . Estrutura do projeto de pesquisa. In: GERHARDT, T. E; SILVEIRA, D. T. (org). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009, 67-90.).
Os questionários foram elaborados de maneira a conter perguntas objetivas fechadas (em alguns casos dispondo da possibilidade de mais de uma opção a ser marcada), mistas (nas quais disponibilizou-se a opção “Outros…”, que poderia ser elucidada por escrito) e abertas (respostas discursivas), de modo que, quando necessário ou quando confortáveis para fazê-lo, as participantes pudessem desenvolver melhor suas respostas. A decisão de elaborar os questionários dessa forma foi tomada para que fosse possível alcançar um maior nível de participação e para que as respostas pudessem ser analisadas de maneira quantitativa e qualitativa, especialmente levando em consideração o número limitado de respondentes. Além disso, concluímos que seria mais adequado que as perguntas pudessem ser respondidas de forma rápida e intuitiva, mas também deixando oportunidades para aquelas que se sentissem confortáveis em compartilhar mais dados através da opção “Outros”.
Para a elaboração das questões, as autoras discutiram os objetivos, as possibilidades de estrutura e redação de cada questão dos dois questionários, conforme princípios de construção desse tipo de instrumento de coleta de dados (DÖRNEYEI 2007), isto é, antecipando possíveis problemas e com vistas a potencializar o aproveitamento de cada questão e da relação dos dados. Antes do envio do formulário às respondentes, as autoras preencheram o questionário como um teste piloto e, a partir de uma análise crítica, realizaram os ajustes e reformulações necessários. Para este artigo, além da análise dos dados dos dois questionários, foram consideradas as percepções da docente advindas de anotações de campo, conversas com as estudantes e socializações de impressões com os vários atores envolvidos no projeto.
Conforme posto por Gerhardt et al. (2009GERHARDT, T. E; RAMOS, I.C.; RIQUINHO, D.; SANTOS, D. L. . Estrutura do projeto de pesquisa. In: GERHARDT, T. E; SILVEIRA, D. T. (org). Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009, 67-90.), uma análise quantitativa baseia-se majoritariamente em uma análise estatística (gráficos de porcentagens), enquanto uma análise qualitativa aprofunda-se no conteúdo e no discurso (análise das respostas abertas e relação entre dados quantitativos, por exemplo respostas de perfil). Tendo em vista a natureza dos questionários analisados, anterior e posterior à Studienreise, e a existência de questões fechadas, mistas e abertas, considerou-se, para a composição deste artigo, a importância da realização de uma análise mista, estratégia utilizada também na elaboração das questões, ou seja, quantitativa e qualitativa. A despeito do tamanho da amostra (15 respondentes), o uso do instrumento questionário e a apresentação dos dados de modo quantitativo (em percentuais) permitem a visualização de tendências e mudanças nas percepções que podem sustentar análises e interpretações embasadas nos resultados qualitativos, fornecidos nas perguntas abertas. Dörnyei (2007DÖRNYEI, Z. Research Methods in Applied Linguistics: Quantitative, Qualitative and Mixed Methodologies. Oxford: Oxford University Press, 2007.) defende que, em pesquisas em linguística aplicada, a utilização de uma metodologia mista de coleta, análise e apresentação dos dados pode intensificar as vantagens e minimizar as fraquezas de pesquisas unicamente quantitativa ou qualitativa, possibilitando ainda uma visão simultaneamente mais panorâmica, mas também individual do fenômeno em investigação.
A elaboração de dois questionários justifica-se pela importância da comparação entre as respostas obtidas antes e depois da viagem (expectativas/necessidades e experiências). O primeiro questionário foi fundamental para apurar os dados a respeito do perfil e das expectativas das participantes, bem como verificar qual era, de maneira geral, sua perspectiva em relação a contextos culturais, sociais e linguísticos. O segundo questionário, conforme mencionado, teve como objetivo determinar quais foram os impactos da participação no programa, bem como apurar se as expectativas das alunas foram alcançadas, e quais passaram a ser as percepções culturais, sociais e linguísticas após a viagem.
A estrutura dos questionários apresentou as seguintes subdivisões: para o questionário anterior à viagem, cinco seções (perfil; experiência com a língua alemã; formação e perspectivas futuras; língua e cultura; expectativas acerca da Studienreise), enquanto para o questionário posterior estabeleceram-se quatro subdivisões, semelhantes às do anterior, optando-se por não retomar a seção de experiência com a língua,14 14 Não retomamos esta pergunta, pois essa seção não sofreria qualquer alteração de respostas, uma vez que focalizava as experiências de estudo/aprendizado de língua alemã antes da viagem. que foi diluída entre as questões referentes às experiências proporcionadas pela viagem, permitindo assim aprofundar a compreensão sobre a percepção das alunas pós-viagem. O questionário anterior (doravante QI) apresentou 28 questões e o questionário posterior (doravante QII), 18. Para ambos, foi inserido um campo de comentário livre ao final do questionário.
Como mencionado, as questões elaboradas em ambos os questionários propõem uma reflexão aprofundada das respostas de cada participante, pois acreditamos ser importante coletar não somente as opiniões e experiências do grupo como um todo, mas também as perspectivas de cada participante, como medos e crenças, permitindo, portanto, que as estudantes expressassem suas expectativas e ansiedades com relação à viagem, mas também ao estudo da língua alemã e às perspectivas futuras relacionadas ao estudo, à pesquisa ou ao trabalho. Este modelo de questões, de fundo mais pessoal, também se justifica ao levarmos em consideração as diferentes especificidades das estudantes, em especial considerando o tamanho e a pluralidade do grupo, e as diferentes experiências anteriores ao ingresso na USP.
Os dados coletados nos questionários, ambos respondidos por 100% das participantes, possibilitaram uma análise do impacto da participação no projeto fomentado pelo DAAD através do programa Studienreise a partir do ponto de vista das estudantes. Inicialmente, traçaremos o perfil das participantes, levando em conta suas interações com a língua alemã, experiências e perspectivas profissionais, o que contextualiza e posiciona suas perspectivas em relação às experiências acumuladas durante a viagem. Por fim, propomos uma discussão a respeito dos benefícios e desafios proporcionados pelo intercâmbio acadêmico, baseados em uma comparação entre motivação, expectativas e experiências.
4 O projeto pela perspectiva das estudantes
A mobilidade acadêmica tem se mostrado uma ferramenta relevante no cenário educacional contemporâneo, permitindo que estudantes universitárias tenham a oportunidade de vivenciar experiências de aprendizado em contextos culturais e linguísticos diversos. Mais recentemente, observa-se um crescimento da procura das universidades por parcerias acadêmicas, sobretudo após a extinção de importantes programas federais como o Ciência sem Fronteiras e outras propostas de fomento à mobilidade acadêmica atrelada ao ensino de língua estrangeira como meio e fim em si mesma (MARIANO, LORKE 2020MARIANO, T; LORKE, F. Das Programm Deutsch ohne Grenzen in Brasilien: Chancen und Herausforderungen für die Ausbildung von Deutschlehrerinnen und Deutschlehrern. Info DaF, v. 47 n.5: 552-569, 2020. DOI: https://doi.org/10.1515/infodaf-2020-0090.
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; AMORIM, FINARDI 2017AMORIM, G. B; FINARDI, K.R. Internacionalização do ensino superior e línguas estrangeiras: evidências de um estudo de caso nos níveis micro, meso e macro. Avaliação (Campinas) v. 22 n.3, Sep-Dec 2017 DOI: https://doi.org/10.1590/S1414-40772017000300003
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).
Nesse contexto, serviços como o DAAD e programas como a Studienreise desempenham um papel fundamental ao proporcionar uma oportunidade, para muitas estudantes única, de aprimoramento acadêmico, desenvolvimento profissional e a imersão cultural no campo de Letras-Alemão. Buscando compreender as motivações, experiências, aprendizados e perspectivas futuras das estudantes, os questionários elaborados para este estudo coletaram dados a respeito das expectativas e experiências das participantes antes e depois da viagem, analisando assim, através de comparação, o impacto da viagem acadêmica pela perspectiva das estudantes. Com foco na análise dos questionários, fornecemos abaixo uma análise crítica sobre os impactos dessa experiência no âmbito acadêmico, sociocultural e profissional.
4.1 O perfil das participantes e experiências com a língua alemã
O grupo de 15 participantes da Studienreise contou com estudantes entre 21 e 33 anos e de diferentes realidades socioeconômicas15 15 Apesar de não ter sido realizado nenhum levantamento quanto a esses dados, as próprias participantes, durante os preparativos para a Studienreise, muitas vezes conversaram entre si sobre os meios pelos quais, além da bolsa, conseguiriam custear a viagem: enquanto algumas realizaram arrecadações online que contaram com a contribuição de amigos e familiares, por exemplo, outras, não. , que têm como ponto comum o curso de Letras-Alemão da USP. Verificou-se que todas as participantes (100%) já haviam tido contato com pessoas cuja língua materna é o alemão, como docentes da Universidade, amizades, contato profissional e Teletandem. Para 60% das participantes, a Studienreise foi a primeira experiência em países de língua alemã (DACH-Ländern) e a primeira viagem ao exterior para pouco mais da metade. Tendo em vista que as estudantes estavam nos semestres finais do curso, tais resultados ressaltam a importância do aumento do incentivo e fomento acadêmico, já que para muitas esta experiência em um país de língua alemã representou sua primeira possibilidade de colocar em prática os aprendizados do curso de Alemão da USP fora do contexto de aprendizado no Brasil, que podem ser largamente ampliados em oportunidades de mobilidade acadêmica.
Ao todo, 46.7% das estudantes não tinham nenhum conhecimento de língua alemã quando ingressaram na universidade, sendo que 66.7% aprendeu o idioma principalmente no curso de Letras-Alemão da USP. Em resposta à pergunta 11 de QI, “Por que você escolheu cursar Letras-Alemão?”, 66.7% responderam, conforme opção pré-estabelecida, “Por curiosidade/ amor ao idioma alemão”, e os principais fatores de motivação respondidos em uma questão aberta foram: as oportunidades profissionais; o interesse acerca da literatura e cultura alemãs; sentimento de desafio pessoal; desejo de morar em país de língua alemã; as oportunidades de praticar o idioma em contextos autênticos (interação, séries, leitura). Quanto à desmotivação, as participantes evidenciaram: a distância cultural-geográfica com países de língua alemã; dificuldade com gramática e vocabulário; as limitações pessoais, especialmente a falta de tempo; a perspectiva de baixos salários; a dificuldade de atingir níveis mais altos de proficiência e, por conseguinte, a constante frustração com o aprendizado.
Por fim, no QI, 60% das alunas se manifestaram satisfeitas com a formação de língua alemã na USP, avaliando o curso como positivo ou muito positivo. No quesito aprendizado de cultura, ou seja, características específicas e singulares referentes às DACH-Ländern, 73% avaliaram a sua formação na USP como regular ou positiva, mesmo que o aprendizado de língua alemã no Brasil no contexto universitário seja moldado, salvo raras exceções, ao aprendizado de língua e cultura proveniente dos materiais didáticos internacionais. Não obstante, procura-se cada vez mais trazer discussões e materiais autênticos, que possam motivar as estudantes a dialogar com a cultura de língua alemã.
4.2 Experiências e perspectivas profissionais
Das respondentes, no QI, oito16 16 Em ambos os questionários, trabalhar com a língua alemã compreendia as seguintes áreas: ensino, tradução, revisão e/ou produção de texto e pesquisa em língua alemã e falar/usar alemão no trabalho. Além disso, foi dada a opção “Outros” para que a respondente inserisse manualmente alguma opção não contemplada anteriormente, mas que julgasse fazer parte dessa categoria. indicaram ainda não trabalhar na área de língua alemã, sendo que 12 delas mencionaram ter interesse em trabalhar em alguma área que envolva o alemão, e três afirmaram não ter certeza, enquanto no QII, após a viagem, 13 respondentes afirmaram ter interesse em trabalhar na área de língua alemã, e apenas duas informaram não ter certeza. Outro impacto visível nota-se pelas áreas de interesse de atuação profissional e como as estudantes se sentem com relação a estas perspectivas, isto é, no QI 67% (10 pessoas) demonstrou interesse em atuar no ensino, sendo que 73% (11 pessoas) se sentia bem ou regular com relação a estes panoramas de trabalho. Já no QII, notamos uma mudança significativa, na qual 86% (13 pessoas) das alunas indicaram interesse em pesquisa com 86% (13 pessoas) das respondentes se sentindo positivas ou muito positivas com relação ao seu futuro profissional após a viagem. Além disso, antes da viagem 13 participantes tinham interesse em morar em um país de língua alemã para trabalhar e/ou estudar e, após a viagem, 15 participantes (100%) indicaram ter perspectiva de morar na Alemanha para realizar pesquisa. Essa mudança pode indicar um afastamento de perspectivas colonizadoras, nas quais se perpetua crenças de que estudantes do Brasil não teriam nível suficiente para participar e contribuir com pesquisas no exterior. Nesse sentido, muitas estudantes mencionaram em conversas com a docente e entre o grupo que se sentiram mais seguras do que imaginavam nas aulas de graduação e pós-graduação de que participaram, evidenciando a qualidade da formação em Letras na USP.
Dados semelhantes também foram encontrados com relação a estudantes da Bósnia e Herzegovina que realizaram a Studienreise em 2019 (ĆURKOVIC 2019ĆURKOVIC, A. Fachlicher und landeskundlicher Bericht über die Studienreise nach Deutschland. Zbornik radova Filozofskog fakulteta, n. XVII, 88-91, 2019. Disponível em: https://www.ceeol.com/search/article-detail?id=833691.
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). Após a viagem, as estudantes de língua alemã vislumbraram novas possibilidades de prosseguirem seus estudos e de trabalho, o que corrobora com o potencial do aumento de engajamento e motivação de estudantes de alemão no exterior a partir de experiências semelhantes.
Para melhor representar os resultados referentes aos questionários aqui analisados, apresentamos a seguir dois gráficos que indicam o aumento da motivação e interesse com relação ao futuro profissional das estudantes de Letras-Alemão antes e depois da viagem:
Além dos fatores relacionados à viagem, averiguamos a implicação da participação ativa e voluntária das estudantes no projeto através dos grupos de trabalhos (doravante GTs). Considerando a amplitude do projeto da docente, os GTs tiveram funções importantes para toda a organização da viagem. Os GTs foram criados antes da viagem, e as participantes do projeto escolheram em quais grupos gostariam de se engajar. Essa divisão de trabalhos organizacionais proporcionou a todas as alunas a oportunidade de conhecer melhor os objetivos do projeto proposto pela docente, e também adquirir conhecimentos específicos a respeito das cidades e da história das universidades que seriam visitadas, quais as melhores formas de locomoção e opções de acomodação para que houvesse melhor aproveitamento do tempo para participação nas atividades previstas pelo projeto, entre outros. Assim, tendo em vista o contexto de formação acadêmica e o fomento de uma perspectiva crítica com relação ao planejamento de uma viagem acadêmica, as estudantes foram incentivadas a participar colaborativamente em funções organizacionais nos seguintes GTs: Estadia; Deslocamento; Comunicação; Artigo (desenvolvimento do presente trabalho). O GT Comunicação publicou fotos e informações por meio do Instagram17 17 STUDIENREISE USP. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/studienreiseusp/. e foi entrevistado pelo site da FFLCH18 18 VIANA, Eliete. FFLCH será representada por estudantes de Letras na Alemanha. São Paulo, 14 abr. 2023. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/49315. . Ao todo, 73.3% das alunas se envolveram ativamente nos GTs e, para 60% delas, o impacto da participação na organização da viagem foi muito positivo. Apesar de eventuais dificuldades, as alunas consideraram que, ao participarem dos GTs, puderam melhor compreender os objetivos da viagem, além de poderem se aproximar mais das colegas, aumentando o nível de pertencimento entre as participantes e incentivando um ambiente de cooperação entre todo o grupo.
Considerando a experiência relatada, para futuras oportunidades, algumas sugestões merecem destaque, como proporcionar um maior número de encontros entre o grupo, principalmente para alinhar os objetivos da viagem e esclarecer dúvidas a respeito do cronograma.
4.3 Experiências e aprendizados antes e durante a viagem
A Studienreise, além de impactar positivamente a motivação profissional, também cumpriu um papel importante na imersão cultural e linguística das estudantes. Considerando a distância geográfica entre o Brasil e países de língua alemã, bem como seus aspectos culturais e a forma limitada como são abordados nos materiais didáticos internacionais de ensino e aprendizagem de língua alemã, a percepção das alunas acerca da cultura e do idioma pode ser, em alguns casos, estereotipada. Visando compreender alguns desses aspectos, a coleta de dados buscou levantar expectativas e experiências, verificando se houve mudança na visão das alunas acerca de temas como língua e cultura (conferir as questões 7, 8 e 9 de QII, em anexo).
No QI, ao descrever a língua alemã (questão 19, “Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre língua alemã?”), as estudantes utilizaram termos como “lógica”, “difícil” e “desafio”. Embora essas respostas não sejam propriamente negativas, elas corroboram a ideia estigmatizada de que a língua alemã é muito complexa, limitando e dificultando a aprendizagem. Após a viagem, no QII, as respostas indicaram uma mudança de posicionamento, com descrições da língua alemã com termos como “conquista”, “oportunidade” e “bonita”. Com relação à descrição de cultura e povo de língua alemã, no QI as participantes utilizaram palavras como: tradição, cultura, história, distância, formalidade. No QII, os relatos continham novas visões: pluralidade, diversidade, praticidade, educação.
Esta análise qualitativa de respostas demonstra que a viagem impactou positivamente na visão linguística e pôde contribuir para desconstruir estereótipos relacionados à língua e à cultura, bem como diminuir a apreensão que tais estereótipos podem gerar através de um foco nas dificuldades da língua, sobretudo a gramática. Essa percepção inicial negativa, estereotipada, foi partilhada também por participantes de uma Studienreise realizada por estudantes brasileiras em 2019 (MARQUES-SCHÄFER, BOLACIO FILHO 2020MARQUES-SCHÄFER, G.; BOLACIO FILHO, E.S. Der Beitrag einer vom DAAD finanzierten Studienreise zur Ausbildung von angehenden DaF-Lehrenden. Info DaF, v. 47, n. 5, 570-593, 2020. DOI: https://doi.org/10.1515/infodaf-2020-0088
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) que também tiveram a oportunidade de refletir sobre as relações entre Brasil e Alemanha sob a perspectiva de língua e cultura.
Além do impacto positivo na motivação das estudantes, a participação no projeto também proporcionou uma mudança significativa na forma como as alunas percebem o próprio aprendizado. No QI, quando perguntadas se acreditavam ter o nível de fluência suficiente para interações em contextos formais, 53.3% afirmaram não ter certeza, e, no QII, 66.7% indicaram ter conhecimento suficiente para trocas em contextos formais. Com relação ao uso da língua em contextos informais, no QI 80% das alunas afirmaram que acreditavam ter nível suficiente, e, ao serem questionadas novamente no QII, 100% afirmou ter nível de alemão suficiente para contextos informais. Esses aumentos (de 13,4 e 20 pontos percentuais, respectivamente) sinalizam um impacto significativo na percepção das estudantes, que se sentem mais confiantes em relação ao idioma estrangeiro aprendido quase que exclusivamente durante a graduação. O desafio de aprender um novo idioma em cursos de Letras em poucos anos é recorrente na América Latina e constitui-se como um grande desafio, talvez o maior, para formação e motivação de futuras profissionais do idioma, ressaltando a importância de um trabalho com as emoções e experiências relacionadas ao aprendizado de língua, que envolve o sentimento de confiança e pertencimento (cf. MARQUES-SCHÄFER, BOLACIO FILHO 2020MARQUES-SCHÄFER, G.; BOLACIO FILHO, E.S. Der Beitrag einer vom DAAD finanzierten Studienreise zur Ausbildung von angehenden DaF-Lehrenden. Info DaF, v. 47, n. 5, 570-593, 2020. DOI: https://doi.org/10.1515/infodaf-2020-0088
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; AQUINO ET AL. 2022AQUINO, M.; MECHTENBERG, F. TASSINARI, M. G. Fremdsprachenlernen im Teletandem: Ein deutsch-brasilianisches Kollaborationsprojekt aus der Sicht teilnehmender Studierender. Pandaemonium Germanicum, São Paulo, v. 25, n. 47, 122-147, 2022. DOI: 10.11606/1982-883724547122.
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).
Com relação ao aprendizado de língua, as estudantes destacaram como positivos os seguintes aspectos da experiência: aumento gradativo da compreensão e uso da língua; satisfação em conseguir se comunicar e acompanhar as aulas e apresentações; necessidade de sair da zona de conforto para maior aproveitamento do aprendizado; valorização do conhecimento [em língua alemã] anterior. Para além dos aspectos linguísticos, o impacto da viagem nas percepções socioculturais foi expressivo. No âmbito acadêmico, as estudantes mencionaram diversas vezes que, diferente do esperado, conseguiram não apenas acompanhar e participar ativamente das aulas e cursos, como valorizaram a qualidade do curso de Letras oferecido pela USP. As estudantes destacaram também a importância do contato com a linguagem em uso e a percepção de diferenças regionais como sotaques e dialetos e a possibilidade de se vivenciar na prática o que até então era conhecido somente na teoria (livros didáticos, literários e aulas).
Destacamos também a percepção de problemas sociais na Alemanha como pobreza e o trabalho precário de imigrantes. Estes dados apontam para a diversidade de contatos e trocas socioculturais que proporcionaram para as estudantes uma visão mais crítica e decolonial, afastada da imagem distorcida que os livros didáticos internacionais procuram divulgar (AQUINO; FERREIRA 2023AQUINO, M.; FERREIRA, M.; Ensino de alemão com foco decolonial: uma discussão sobre propostas didáticas para o projeto Zeitgeist. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 17, e1709, 2023. DOI: 10.14393/DLv17a2023-9.
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). Além disso, um grupo de alunas relatou através do questionário ter sido vítima de assédios e importunações sexuais em transportes públicos e nas ruas das cidades: “em mais de uma ocasião e em todas as cidades fui vítima de assédio”. Tais circunstâncias, além de imporem desafios interculturais adicionais, são potenciais disparadores de insegurança e ansiedade e as colocam numa situação de vulnerabilidade totalmente oposta àquela desejada pelas estudantes e pela docente responsável, isto é, de que todas pudessem vivenciar essa experiência de maneira segura. Ainda neste sentido, outra participante relatou:
“O assédio constante, principalmente em Berlin, foi muito desagradável. Em um país que tanto se fala de privacidade, datenschutz, é bastante irônico que não tivemos a tranquilidade de andar pelas ruas sem nos preocuparmos com olhares e abordagens de assédio”.
Nessa fala veio à tona o quanto as situações de assédio lançam novo olhar sobre a percepção da Alemanha, muitas vezes construída sob bases idealizadas e veiculadas não raramente pelos materiais didáticos.
De acordo com dados do Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero, agência pertencente à União Europeia (UE), em 2016 quando perguntadas, “Em geral, quão comum você acha que é o assédio sexual contra mulheres em seu país?”, 22.6% das participantes mulheres da Alemanha responderam “Muito comum”. Em outros países da UE como Irlanda, França, Itália e Suécia esse percentual entre as mulheres foi superior a 30%19
19
GENDER Statistic Database. EIGE, 2024. Disponível em: https://eige.europa.eu/gender-statistics/dgs/indicator/genvio_att_inci_gene__eb_spec_sexharassfreq/bar/year:2016/geo:EU28,BE,BG,CZ,DK,DE,EE,IE,EL,ES,FR,HR,IT,CY,LV,LT,LU,HU,MT,NL,AT,PL,PT,RO,SI,SK,FI,SE,UK/sex:W/ANSWER:PCT_VERY_COMMON .
. Em dados de uma grande pesquisa chamada Gender-based Violence, Stalking and Fear of Crime, financiada pela Comissão Europeia e que coletou dados entre 2009 e 2011, apontou-se que 58% das respondentes já sofreram alguma forma de assédio e 56% das respondentes se sentiram afetadas psicologicamente pela ocorrência (LIST 2013LIST, K. Sexual violence and harassment against female students in Germany. Rivista di Criminologia, Vittimologia e Sicurezza, VII(2), Maggio-Agosto, p. 80-99, 2013. Disponível em: https://www.vittimologia.it/rivista/articolo_list_2013-02.pdf
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).
Para outras estudantes a vivência de assédio em um país europeu, além da revolta e do incômodo gerado, colocou a posteriori a possibilidade de pôr em paralelo as duas experiências culturais, no Brasil e na Alemanha: “Sofri assédio em um Tram em Berlim. (...) foi um choque porque nem no Brasil não sofri algo tão público”. Chama a atenção na fala da estudante a comparação com o Brasil, considerado um dos países em que mais ocorrem situações de assédio, violência contra a mulher e feminicídio. Segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e tornada pública em 2023, 46.7% das brasileiras sofreram algum tipo de assédio sexual no ano passado e uma em 10 mulheres relatam situações de “cantada” ou comentários desrespeitosos na rua. Esta experiência pode colocar em questão a necessidade de intensificar políticas públicas de pesquisa de opinião e da conscientização da população alemã sobre temas tão candentes como assédio, importunação sexual e violência de gênero.
Para além do assédio, as estudantes relataram no questionário terem sido vítimas de xenofobia em restaurantes e no transporte público, causadas pela aparência não tipicamente europeia do grupo. O Nationaler Aktionsplan gegen Rassismus20 20 BUNDESMINISTERIUM DES INNERN UND FÜR HEIMAT. Nationaler Aktionsplan gegen Rassismus. Frankfurt am Main: https://www.bmi.bund.de/SharedDocs/downloads/DE/publikationen/themen/heimat- , lançado pelo Governo Alemão em 2017, indica que há ainda muito o que ser realizado para que estudantes estrangeiras se sintam aceitas e bem-vindas em todos os ambientes e situações cotidianas. Outra situação relatada foi a mudança de comportamento de pessoas alemãs ao perceberem que estavam diante de estrangeiras: a interação, que havia sido iniciada em alemão, muitas vezes passava a ser realizada em inglês. O que pode ser interpretado como uma atitude educada, uma tentativa de facilitar a comunicação, pode também ser entendida como um sinal de que a proficiência da falante estrangeira não é satisfatória, podendo constituir um fator de ansiedade para aquelas que não se sentiam confiantes no uso do alemão. Em muitas ocorrências, então, a manutenção da interação em língua alemã, importante oportunidade de prática do idioma e um dos objetivos do projeto, demandava muito esforço.
4.4 Avaliação do Intercâmbio Acadêmico
Parte da experiência de um projeto tão amplo é o esforço para superar desafios. Nos questionários investigamos nas questões “Qual será o seu maior desafio na Studienreise?” (QI), e “Qual foi o seu maior desafio na Studienreise?” (QII) a percepção das estudantes entre as categorias de desafio: emocional; financeiro; linguístico; cultural; acredito que não vou ter nenhum desafio. No QI, 60% das estudantes acreditavam que o maior desafio seria linguístico, enquanto que 40% acreditavam que o maior desafio seria financeiro. No QII, as dificuldades linguísticas aparecem em número expressivo, mas menor, representando 46.7%, enquanto 40% afirmaram como maior desafio o aspecto emocional. Nesse sentido, podemos compreender que, apesar de os desafios linguísticos terem sido bastante frequentes, dificuldades emocionais foram mais representativas, apontando para a necessidade de uma maior preparação para viagens futuras considerando estes aspectos.
No QI, quando perguntadas sobre os objetivos de participar da Studienreise, as estudantes mencionaram uma série de perspectivas, como: interesse em imersão na língua e cultura alemã; vontade de conhecer universidades e avaliar as possibilidades de estudo e pesquisa no exterior; a vantagem de explorar perspectivas futuras pessoais e profissionais; o desafio de perder medos, especialmente relacionados à aprendizagem de língua alemã; sonho em conhecer a Alemanha. Já no QII, foi pedido para que as alunas avaliassem a experiência após a viagem, do qual destacamos as seguintes respostas: a experiência foi enriquecedora e importante; sentimento de realização; percepções positivas (conseguir se comunicar em alemão, conseguir participar e compreender em contextos formais e informais); espaço de oportunidade de reflexão individual; valorização do que sabem e reconhecimento do que precisam melhorar; muitas vivências culturais impactantes; sentimento de grande motivação para continuar no curso e com relação às perspectivas futuras; conseguir desmistificar crenças (individuais e culturais).
Por fim, podemos ressaltar que a experiência com a viagem foi considerada, pelas estudantes, como positiva e importante em aspectos pessoais e acadêmicos. Apenas uma pequena minoria pareceu não ter aproveitado tanto a oportunidade, pois, segundo as suas palavras, não saíram da sua zona de conforto, dependendo apenas das decisões da docente e das colegas. De qualquer forma, os resultados demonstram a importância de vivências socioculturais e acadêmicas fora da instituição sede, o que no caso deste estudo, resultou não apenas na recepção de conhecimentos de fora, mas de uma maior valorização da universidade brasileira e das perspectivas futuras no país. Evidenciamos também que a experiência de participação no projeto pareceu ter um impacto muito positivo para as universidades alemãs, já que as estudantes e professoras que nos receberam destacaram a relevância do projeto para o contato intercultural e colaborações acadêmicas, e ainda reconheceram e elogiaram o interesse e engajamento das estudantes da USP. Consequentemente, a estadia do grupo abriu portas para novas participações no projeto e propostas de cooperação.
4.5 Discussão
A Universidade de São Paulo enfrenta, atualmente, desafios expressivos no que tange à permanência estudantil. Um mapeamento da graduação em Letras, levantado pelo Escritório de Apoio ao Pesquisador,21 21 Relatório da Comissão de Reestruturação do curso de Letras - plenária de 07/08/2023. revela que os índices de abandono do curso são elevados, e esses números são ainda maiores ao analisarmos a habilitação em língua alemã. Entre os anos de 2017 a 2022, houve 563 encerramentos de matrícula de alunas da habilitação em Alemão, dos quais apenas 223 foram por conclusão do curso, enquanto 340 foram por evasão. Assim, o percentual de conclusão de curso é de apenas 39,60%, um número extremamente baixo se comparado a outras habilitações, como Inglês (67,06%) ou Linguística (57,41%). São muitos os motivos que contribuem com as altas taxas de evasão não só na USP, como no Ensino Superior em todo o país. Segundo a 13ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, publicado em julho de 2023 pelo Instituto Semesp, 55,5% das ingressantes em cursos superiores públicos e privados entre os anos de 2017 a 2021 não deram continuidade à graduação22 22 https://www.semesp.org.br/mapa/edicao-13/brasil/indicadores-de-trajetoria/ . Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Instituto Semesp, afirma ainda que uma das causas desse fenômeno é a falta de aderência da oferta do ensino superior com relação às expectativas das jovens de hoje.
A falta de otimismo em relação ao futuro profissional foi verificada também entre as estudantes participantes da Studienreise, principalmente antes da viagem. Ao serem perguntadas no QI como se sentiam em relação ao futuro profissional, em uma escala de um a cinco, sendo um “Nada motivado” e cinco “Muito motivado”, a maioria demonstrou desmotivação (60%). Ao responderem a mesma pergunta no QII, esse número caiu para 20%, o que significa que 80% das participantes disseram estar, após a viagem, motivadas ou muito motivadas em relação a seu futuro profissional. Os números refletem ainda um maior interesse pela pesquisa acadêmica: enquanto no QI apenas 46,7% das respondentes gostaria de cursar mestrado ou doutorado, após a viagem, esse número subiu 87,7%, um crescimento expressivo. Sabe-se que o incentivo à pesquisa acadêmica deve ser feito desde a graduação, portanto, a relevância de iniciativas como o programa Studienreise é grande não apenas para a formação das estudantes, mas também para a produção científica no Brasil. Além disso, após a viagem, o interesse em atuar nas áreas de ensino e tradução aumentou cerca de 25%.
Outro ganho proporcionado pelo projeto foi uma melhora na percepção da formação em Letras no Brasil. Recentemente, a USP foi classificada na 85ª posição no QS World University e se tornou a primeira universidade brasileira a ficar entre as 100 melhores do mundo23 23 YAMAMOTO, Erika. Pela primeira vez, uma universidade brasileira está entre as 100 melhores: https://jornal.usp.br/institucional/pela-primeira-vez-uma-universidade-brasileira-esta-entre-as-100-melhores-em-ranking/. . O curso de letras na USP ocupa o primeiro lugar de sua categoria no Ranking Universitário da Folha de 201924 24 RANKING de cursos de graduação. Folha de S. Paulo, 2019. Disponível em: https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-cursos/letras/. . Averiguamos que a experiência da viagem teve um impacto positivo no reconhecimento do potencial do curso de Letras-Alemão, já que a avaliação do curso passou de negativa e regular, para positiva ou muito positiva (aumento de 15%).
Com relação à confiança e à segurança quanto ao uso da língua, verifica-se uma mudança muito significativa. No primeiro questionário, a maioria das estudantes considerou que seu conhecimento de língua alemã seria insuficiente para interação na Alemanha, especialmente em contextos formais-acadêmicos. Já no QII, essa perspectiva foi bem mais positiva, já que 66,7% das respondentes considerou que seu conhecimento de alemão foi suficiente para trocas em contextos formais, enquanto a respeito de trocas em contextos informais, esse número subiu para 100%. Considerando que as estudantes que participaram da viagem estavam nos semestres finais da graduação, acreditamos que esse novo olhar terá uma repercussão muito benéfica nos seus horizontes profissionais e pessoais.
As respostas analisadas ao longo do presente artigo reforçam nossa percepção de que a participação no projeto teve um papel fundamental para o aumento do sentimento de pertencimento e da motivação das estudantes, além da taxa de satisfação dos cursos de graduação. O acesso a ofertas como esta, porém, ainda está limitado por alguns fatores significativos, como o financeiro. O edital do DAAD prevê um auxílio financeiro de €1460,00 (sendo €860,00 para a passagem aérea e €600,00 para os demais gastos), porém, na prática, há alguns complicadores. Primeiramente, o prazo para o recebimento do auxílio: via de regra, o montante fica disponível na conta da instituição brasileira (sendo necessário conversão da moeda) apenas seis semanas antes do dia da viagem, e caso o DAAD não tenha um convênio com a instituição brasileira, a verba é entregue apenas na Alemanha. Em segundo lugar, na situação econômica atual, com a alta inflação (a Alemanha registrou uma taxa média de inflação de 7,9% em 2022) e a queda do Real, o auxílio não foi suficiente para a viagem, fazendo com que muitas participantes tivessem que arrecadar fundos de outras formas. Assim, a falta de equiparação entre o auxílio e os valores reais pode vir a se tornar um impeditivo para o ingresso na Alemanha, uma vez que um dos requisitos para a entrada no país (e permanência no espaço Schengen) é “comprovar recursos financeiros suficientes para se manter durante a sua estadia”25 25 PERMANÊNCIA menor que 90 dias. Representações da República Federal da Alemanha no Brasil. Disponível em: https://brasil.diplo.de/br-pt/servicos/vistos/schengen/1010106. .
Mesmo com as adversidades financeiras, podemos constatar que a experiência de intercâmbio acadêmico é, sim, um fator que pode determinar e mudar as perspectivas pessoais e profissionais de estudantes de graduação, e, portanto, iniciativas como o projeto financiado pelo DAAD devem ser amplamente divulgadas e incentivadas. Finalmente, além dos fatores acadêmicos e pessoais, os dados da coleta indicaram que as estudantes tiveram a oportunidade de viver novas experiências e se tornar mais sensíveis a questões culturais através do contato com culturas e indivíduos plurais e com conhecimento e dados trazidos pelas visitantes.
5 Conclusão
Conforme exposto, os resultados desta pesquisa evidenciam a dimensão da contribuição da participação no programa para o desenvolvimento profissional, acadêmico e pessoal de estudantes brasileiras de Letras-Alemão. Os dados quantitativos e qualitativos analisados indicam um aumento significativo na motivação, como o interesse em pesquisa (aumento de 10% do QI para QII), sentimento positivo com relação ao futuro profissional (aumento de 15% do QI para QII), bem como uma maior confiança no conhecimento e nível de proficiência em língua alemã em contextos formais e informais (aumento de 20% do QI para QII). Não obstante, notou-se ainda que tal contribuição não foi unilateral, pois foi possível observar, com base em anotações de campo e feedback posterior, que a participação no projeto teve desdobramentos importantes para as universidades visitadas, como possibilidades de intercâmbios, novas percepções sobre a diversidade de contextos acadêmicos e socioculturais para além da Alemanha, contato com estudantes brasileiras, além de uma maior disponibilidade para futuras colaborações em pesquisa e programas semelhantes ao Studienreise.
Assim, pudemos evidenciar que oportunidades de estadias acadêmicas como esta são de extrema importância para a motivação das estudantes a respeito de suas perspectivas profissionais, contribuindo para uma formação mais sólida, podendo colaborar inclusive para a diminuição da evasão do curso. Para além da questão da motivação, as estudantes puderam, em decorrência da viagem, reconhecer e valorizar a qualidade do curso de Letras oferecido pela USP, além de desenvolverem uma visão mais crítica e decolonial da Alemanha, a partir das experiências vivenciadas e do afastamento das imagens geralmente distorcidas que os materiais didáticos importados oferecem. Esses aspectos aparecem ao final do QII, junto ao relato das alunas de como a viagem proporcionou, entre outras coisas, sentimentos de realização e compreensão pessoal, tratando-se, pois, de uma experiência enriquecedora e importante para seu desenvolvimento.
Em suma, verificou-se que os objetivos propostos para a Studienreise foram plenamente alcançados, isto é, propiciou-se uma gama de contatos acadêmicos e trocas culturais em contexto autêntico que possibilitaram um aumento de contato linguístico e cultural de valor ímpar para futuras professoras e pesquisadoras no âmbito Letras-Alemão. Ressaltamos como de expressiva significância o incremento de perspectivas futuras de trabalho com a língua alemã (inclusive no campo de pesquisa) e na confiança das estudantes no uso do idioma em situações formais e informais, bem como a desconstrução de estereótipos linguísticos e culturais. Apesar de eventuais ocorrências negativas, como assédio e xenofobia, a experiência foi largamente avaliada como positiva pelas estudantes que ratificaram a percepção de um impacto em sua relação de aprendizado de língua e cultura alemã no nível universitário. Sugere-se com este artigo que outros grupos de estudantes possam vivenciar a experiência da Studienreise e documentar suas percepções, avaliando, como aventamos aqui, em que aspectos o impacto da viagem pode ser sentido por estudantes de língua alemã no contexto Letras-Alemão.
Finalmente, evidenciamos a importância do alinhamento entre os objetivos do projeto com as estudantes selecionadas, o cronograma a ser desenvolvido e as universidades a serem visitadas. Uma das formas de encontrar um maior equilíbrio entre estes diferentes fatores seria a elaboração conjunta do projeto entre as universidades envolvidas, a ampliação dos encontros e reuniões entre as estudantes participantes, assim como o estabelecimento de metas e objetivos individuais. Ademais, é essencial que a participação em programas como a Studienreise configure-se como uma experiência representativa para os interesses e necessidades das estudantes, na qual elas têm a oportunidade e o espaço para refletir sobre o seu processo de aprendizagem, suas capacidades individuais e suas perspectivas profissionais na área de Letras, reconhecendo todo o seu potencial para as interações acadêmicas e interculturais.
Referências bibliográficas
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- JUBILEU de 50 anos do DAAD Brasil. Deutscher Akademischer Austauschdienst - Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico. Disponível em: Disponível em: https://www.daad.org.br/pt/quem-somos/50-anos/ (08/07/2023).
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-
6
De acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas - CEFR.
-
7
Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico.
-
8
Limite de datas e de estudantes máximo estipulado pelo DAAD.
-
9
Três das quatro universidades mantêm acordos de colaboração ativos com a área de alemão da USP: Freie Universität Berlin, Humboldt-Universität zu Berlin, Universität Leipzig. Espera-se que esse contato possa resultar em uma colaboração com a Friedrich-Schiller-Universität Jena.
-
10
DAAD, Universität Leipzig, Christian-Albrechts-Universität zu Kiel, Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg, Fakultät für Geisteswissenschaften - Universität Hamburg, Johannes Gutenberg-Universität Mainz, Katholische Universität Eichstätt Ingolstadt e Technische Universität Dresden.
-
11
Serviço de Graduação da FFLCH-USP: https://graduacao.fflch.usp.br/descricao-do-curso.
-
12
A Resolução Nº 7817, artigo 2º - III, de 30 de agosto de 2019, prevê que um dos objetivos da graduação na USP é “propiciar um processo de ensino-aprendizagem que incentiva a capacidade contínua de pensar, inovar e integrar o ensino, a pesquisa e a extensão universitária”.
-
13
Para maior detalhamento das perguntas, apresenta-se o questionário completo em anexo.
-
14
Não retomamos esta pergunta, pois essa seção não sofreria qualquer alteração de respostas, uma vez que focalizava as experiências de estudo/aprendizado de língua alemã antes da viagem.
-
15
Apesar de não ter sido realizado nenhum levantamento quanto a esses dados, as próprias participantes, durante os preparativos para a Studienreise, muitas vezes conversaram entre si sobre os meios pelos quais, além da bolsa, conseguiriam custear a viagem: enquanto algumas realizaram arrecadações online que contaram com a contribuição de amigos e familiares, por exemplo, outras, não.
-
16
Em ambos os questionários, trabalhar com a língua alemã compreendia as seguintes áreas: ensino, tradução, revisão e/ou produção de texto e pesquisa em língua alemã e falar/usar alemão no trabalho. Além disso, foi dada a opção “Outros” para que a respondente inserisse manualmente alguma opção não contemplada anteriormente, mas que julgasse fazer parte dessa categoria.
-
17
STUDIENREISE USP. Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/studienreiseusp/.
-
18
VIANA, Eliete. FFLCH será representada por estudantes de Letras na Alemanha. São Paulo, 14 abr. 2023. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/49315.
- 19
-
20
BUNDESMINISTERIUM DES INNERN UND FÜR HEIMAT. Nationaler Aktionsplan gegen Rassismus. Frankfurt am Main: https://www.bmi.bund.de/SharedDocs/downloads/DE/publikationen/themen/heimat-
-
21
Relatório da Comissão de Reestruturação do curso de Letras - plenária de 07/08/2023.
- 22
-
23
YAMAMOTO, Erika. Pela primeira vez, uma universidade brasileira está entre as 100 melhores: https://jornal.usp.br/institucional/pela-primeira-vez-uma-universidade-brasileira-esta-entre-as-100-melhores-em-ranking/.
-
24
RANKING de cursos de graduação. Folha de S. Paulo, 2019. Disponível em: https://ruf.folha.uol.com.br/2019/ranking-de-cursos/letras/.
-
25
PERMANÊNCIA menor que 90 dias. Representações da República Federal da Alemanha no Brasil. Disponível em: https://brasil.diplo.de/br-pt/servicos/vistos/schengen/1010106.
-
5
Financiamento: Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD).
Anexos
Questionário I (Studienreise | Antes)
Responda da maneira mais aberta e verdadeira tendo em vista a sua experiência, expectativas e opiniões:
-
1. Essa é sua primeira viagem ao exterior?
-
Sim Não
-
2. Essa é a sua primeira viagem para um país de língua alemã (DACH-Ländern)?
-
Sim Não
-
3. Você já recebeu alguma bolsa do DAAD?
-
Sim Não
-
4. Em caso positivo, qual bolsa, em qual cidade e por quanto tempo?
-
5. Você já interagiu com falantes nativos de língua alemã?
-
Sim Não
-
6. Em caso positivo, por favor, relate como foi (é) esse contato (ex: com docentes da Letras, com família, no ambiente de trabalho, com amiga/os próxima/os, pela internet...):
-
7. Atualmente, você trabalha com a língua alemã? É possível marcar mais de uma opção
-
Eu dou aula de alemão
-
Eu trabalho com tradução em alemão
-
Eu faço revisão e/ou produção de texto em alemão
-
Eu pesquiso no contexto Letras-Alemão
-
Nenhuma das alternativas, mas eu uso/falo alemão no meu trabalho
-
Não trabalho com a língua alemã
-
8. Você pretende trabalhar com a língua alemã no futuro (ensino, pesquisa, tradução, outros...)?
-
Sim Não Não tenho certeza
Experiência com a língua alemã
-
9. Você já sabia alemão antes de entrar na USP?
-
Sim Não
-
10. Eu aprendi alemão (principalmente): É possível marcar mais de uma opção
-
no curso de Letras na USP
-
em cursos de língua (particular ou de extensão da universidade)
-
em imersão em países de língua alemã
-
com família, amiga/os
-
de maneira autônoma
-
com livros ou materiais didáticos
-
com materiais autênticos (filmes, séries, Tandem, textos, mídias sociais)
-
Outros...
-
11. Por que você escolheu cursar Letras-Alemão?
-
Eu já sabia alemão e queria aprofundar meus conhecimentos
-
Não foi a minha primeira opção no ranqueamento
-
Pelas oportunidades profissionais
-
Por curiosidade / amor ao idioma alemão
-
Por motivos pessoais (parceiro/a, família, amizades)
-
Para ir morar em um país de língua alemã
-
Interesse na literatura de língua alemã
-
Interesse em Linguística e/ou Tradução
-
Interesse em ensinar a língua alemã
-
Não tenho certeza
-
Outros...
-
12. O que mais te motiva a aprender alemão?
-
13. O que menos te motiva a aprender alemão?
-
14. Como você avalia o seu aprendizado de língua alemã nas disciplinas de alemão na USP?
-
Muito negativo 1 2 3 4 5Muito positivo
-
15. Como você avalia o seu aprendizado de aspectos culturais nas disciplinas de alemão na USP?
-
Muito negativo 1 2 3 4 5Muito positivo
Formação e perspectivas futuras
-
16. Quais são as suas perspectivas com a formação em Letras? É possível marcar mais de uma opção
-
Professor/a de alemão
-
Professor/a de português
-
Professor/a de outros idiomas adicionais/estrangeiros
-
Professor/a de literatura
-
Mestrado, doutorado na área de alemão
-
Mestrado, doutorado em outras áreas
-
Tradução, produção e/ou revisão de texto
-
Ainda não tenho certeza
-
Não pretendo fazer nada relacionado com alemão
-
Não pretendo fazer nada relacionado a Letras
-
17. Como você se sente com relação ao seu futuro profissional?
-
Nada motivada/o 1 2 3 4 5 Muito motivada/o
-
18. Você espera morar em algum país de língua alemã? É possível marcar mais de uma opção
-
Sim, para trabalho
-
Sim, por motivos pessoais
-
Sim, para fazer mestrado ou doutorado
-
Sim, para fazer outra graduação
-
Sim, para fazer um curso de línguas
-
Não sei
-
Outros...
Língua e Cultura
-
19. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre língua alemã?
-
20. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre cultura alemã?
-
21. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre falantes de língua alemã?
Studienreise
-
22. Quais são os seus objetivos e expectativas com a Studienreise?
-
23. Você acha que o seu conhecimento de alemão vai ser suficiente para trocas em contextos formais/acadêmicos durante a viagem?
-
Sim Não Não tenho certeza
-
24. Você acha que o seu conhecimento de língua alemã vai ser suficiente para trocas em contextos informais durante a viagem?
-
Sim Não Não tenho certeza
-
25. Qual será o seu maior desafio na Studienreise? É possível marcar mais de uma opção
-
Emocional; Financeiro; Linguístico; Cultural; Acredito que não vou ter nenhum desafio; Outros.
-
26. Qual atividade da Studienreise mais te interessa? É possível marcar mais de uma opção
-
Sprachzentrum FU Berlin
-
Sprachzentrum Humboldt
-
Uni Leipzig
-
Uni Jena
-
Atividades culturais (museu, visita cidade, translado...)
-
Atividades interpessoais (sair, conhecer pessoas, fazer amizade...)
-
Colocar meu conhecimento de língua e cultura alemã em prática
-
Outros...
-
27. Você está participando de algum Grupo de Trabalho? (GT passagem, GT divulgação, GT deslocamento, elaboração de questionários/planilhas, GT artigo ...)?
-
Sim Não
-
28. Como está sendo essa experiência: É possível marcar mais de uma opção
-
Está sendo positiva (se achar relevante, justifique em "outros")
-
Está sendo negativa (se achar relevante, justifique em "outros")
-
Nem positiva, nem negativa (se achar relevante, justifique em "outros")
-
Me ajudou a me aproximar dos membros do grupo
-
Me ajudou a compreender melhor o projeto e as atividades do Studienreise
-
Me sinto mais responsável e participativa/o com relação as decisões
-
Não sinto que me ajudou em nada específico
-
Não participo e não senti falta
-
Não participo e senti falta
-
Outros...
-
Muito obrigada pela participação! Você gostaria de fazer mais algum comentário? (opcional)
Questionário II (Studienreise | Depois)
Responda da maneira mais aberta e verdadeira tendo em vista a sua experiência, expectativas e opiniões:
-
1. Essa foi a sua primeira estadia com objetivos acadêmicos na Alemanha?
-
Sim Não
-
2. Você trabalha com a língua alemã? É possível marcar mais de uma opção
-
Eu dou aula de alemão
-
Eu trabalho com tradução em alemão
-
Eu faço revisão e/ou produção de texto em alemão
-
Eu pesquiso no contexto Letras-Alemão
-
Nenhuma das alternativas, mas eu uso/falo alemão no meu trabalho
-
Não trabalho com a língua alemã
-
Outros...
-
3. Você pretende trabalhar com a língua alemã no futuro (ensino, pesquisa, tradução, outros...)?
-
Sim Não Não tenho certeza
Formação e perspectivas futuras
-
4. Quais são as suas perspectivas com a formação em Letras? É possível marcar mais de uma opção
-
Professor/a de alemão
-
Professor/a de português
-
Professor/a de outros idiomas adicionais/estrangeiros
-
Professor/a de literatura
-
Mestrado, doutorado na área de alemão
-
Mestrado, doutorado em outras áreas
-
Tradução, produção e/ou revisão de texto
-
Ainda não tenho certeza
-
Não pretendo fazer nada relacionado com alemão
-
Não pretendo fazer nada relacionado a Letras
-
Outros…
-
5. Como você se sente com relação ao seu futuro profissional
-
Nada motivada/o.1 2 3 4 5.Muito motivada/o
-
6. Você espera morar em algum país de língua alemã? É possível marcar mais de uma opção
-
Sim, para trabalho
-
Sim, por motivos pessoais
-
Sim, para fazer mestrado ou doutorado
-
Sim, para fazer outra graduação
-
Sim, para fazer um curso de línguas
-
Não sei
-
Outros…
Língua e Cultura
-
7. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre língua alemã?
-
8. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre cultura alemã?
-
9. Quais são as três primeiras palavras que vêm à mente quando você pensa sobre falantes de língua alemã?
-
10. Você gostaria de relatar alguma experiência negativa relacionada à uma situação cultural ou linguística durante a Studienreise? (opcional)
Studienreise
-
11. Descreva, resumidamente, como você avalia a sua experiência durante a Studienreise:
-
12. Qual foi o impacto da Studienreise no seu conhecimento de língua alemã?
-
13. Qual foi o impacto da Studienreise no seu conhecimento e percepções culturais (Alemanha/Brasil)?
-
14. Na maior parte do tempo, você acha que o seu conhecimento de alemão foi suficiente para trocas em contextos formais/acadêmicos durante a Studienreise?
-
Sim Não Não sei avaliar
-
15. Na maior parte do tempo, você acha que o seu conhecimento de língua alemã foi suficiente para trocas em contextos informais durante a Studienreise?
-
Sim Não Não sei avaliar
-
16. Qual foi o seu maior desafio na Studienreise? É possível marcar mais de uma opção
-
Emocional; Financeiro; Linguístico; Cultural; Nenhum desafio; Outros
-
17. Qual(is) atividade(s) da Studienreise você mais gostou?
-
Sprachenzentrum FU Berlin
-
Sprachenzentrum Humboldt
-
Uni Leipzig
-
Uni Jena
-
Atividades culturais (museu, visita cidade, translado...)
-
Atividades interpessoais (sair, conhecer pessoas, fazer amizade...)
-
Colocar meu conhecimento de língua e cultura alemã em prática
-
Outros...
-
18. Qual(is) atividade(s) da Studienreise você menos gostou?
-
Sprachenzentrum FU Berlin
-
Sprachenzentrum Humboldt
-
Uni Leipzig
-
Uni Jena
-
Atividades culturais (museu, visita cidade, translado...)
-
Atividades interpessoais (sair, conhecer pessoas, fazer amizade...)
-
Colocar meu conhecimento de língua e cultura alemã em prática
-
Muito obrigada pela participação! Você gostaria de fazer mais algum comentário? (opcional)
Disponibilidade de dados
Citações de dados
GENDER STATISTIC DATABASE. EIGE, 2024. Disponível em: Disponível em: https://eige.europa.eu/gender-statistics/dgs/indicator/genvio_att_inci_gene__eb_spec_sexharassfreq/bar/year:2016/geo:EU28,BE,BG,CZ,DK,DE,EE,IE,EL,ES,FR,HR,IT,CY,LV,LT,LU,HU,MT,NL,AT,PL,PT,RO,SI,SK,FI,SE,UK/sex:W/ANSWER:PCT_VERY_COMMON Acesso em: 08.07.2023.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Ago 2024 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2024
Histórico
-
Recebido
06 Set 2023 -
Aceito
20 Jan 2024