Resumo
A mais recente pandemia, caracterizada como SARS-CoV-2, se insere em uma linhagem conhecida de patógenos virais que podem desencadear infecções respiratórias severas. Em que pese a importância de se avançar no conhecimento biomédico como forma de garantir o tratamento e a eficácia na suposta erradicação da doença, não é menos urgente refletir acerca das circunstâncias sociais que modelam essa nova situação epidemiológica. Este ensaio analisa como as representações sobre e contágio e morte imbricadas na díade saúde-doença, como fenômenos tradicionais, se revestiram de proposições morais, particularmente entre os meses de janeiro e março de 2020, quando as definições de surto, epidemia e pandemia se tornaram inextricavelmente misturadas. Naquele contexto, e a partir da criação de um tipo de dispositivo de saúde animado por imperativos afeitos à forma mais mortal da doença, a Covid-19 ganhou materialidade. Constituído na confluência de concepções étnico-racializantes, este dispositivo pedagogizou as primeiras imagens da doença, sedimentadas em uma gramática altamente visual e linguística afeitas a um medo coletivo. Examinamos que o trabalho de recepção, nomeação e enquadramento da Covid-19 dependeu de regimes de visibilidade condicionados por processos tradicionais, relativos à materialização e animação do vírus enquanto uma ameaça não só epidemiológica e social, mas política e moral.
Palavras-chave:
Sociologia da ciência; Covid-19; Coronavírus; Biopolítica; Saúde; Educação.