Resumo
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) encontra-se entre os transtornos psiquiátricos infantis mais prevalecentes na atualidade e considera-se, nas áreas biomédicas e neurobiológicas, que ele apresenta uma base biológica. No presente trabalho serão analisados, a partir de uma perspectiva filosófica, os discursos que se desdobram das pesquisas das áreas referidas, com o objetivo de detectar e esclarecer diversos aspectos fenomênicos, teóricos e ontológicos que lhes são subjacentes. Em termos gerais, encontramos que a conceitualização do TDAH está atravessada por pelo menos quatro níveis de organização diferentes: genético-molecular (genes e proteínas), tissular (partes do cérebro), órgão (cérebro como um todo) e o organismo (indivíduo). Esses níveis ocupam papéis sumamente diferentes, estando nos níveis inferiores de organização papéis predominantes no explicativo, assim como apresentam as entidades fundamentais em termos ontológicos. Por sua vez, o discurso neurocientífico contém um viés relacionado com a perda de consideração da heterogeneidade, a omissão dos níveis superiores ao organismo e simplificadores do âmbito genético-molecular e da relação genótipo-fenótipo. Assim, o tipo de indagação simplificadora e preponderante dos níveis inferiores da hierarquia biológica parece mostrar mais dificuldades que êxitos e epistemicamente mostra fissuras que não saldadas.
Palavras-chave:
transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; neurociências; pressupostos epistemológicos; pressupostos ontológicos; transtornos psiquiátricos