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Novas perspectivas em Saúde Coletiva

Novas perspectivas em Saúde Coletiva

Joel Birman

O que caracteriza este número de Physis são as novas perspectivas abertas para a Saúde Coletiva, nos diferentes níveis de complexidade que são constitutivos deste campo - ao mesmo tempo de pesquisa, assistência, planejamento e políticas públicas. Foi realizado aqui um inventário, cujo re pertório entreabre novas possibilidades. Como qualquer inventário, no entanto, este se marca também por limites estritos, qual seja, o universo de trabalhos a que tivemos acesso e recebemos para publicação.

Isso implica dizer que não existem apenas, na Saúde Coletiva, as novas perspectivas aqui apresentadas, bem entendido. O dinamismo presente neste campo, nas suas diversas dimensões e nos diferentes saberes que nele se inscrevem, oferece também outras possibilidades, que são da maior importância.

Dito isso podemos afirmar, sem pestanejar, que são oferecidas aqui - embora não se pretenda compor um elenco exaustivo de novas aberturas - perspectivas inovadoras, sem dúvida.

Procurou-se contemplar um leque variado de discursos do campo, de maneira que, da Sociologia e da Política, passando pela Epidemiologia e pela Psicanálise, um cardápio diversificado foi oferecido. Além disso, o mesmo pode ser dito no que concerne aos temas explorados. Indicar as diferentes possibilidades entreabertas para a Saúde Coletiva, não apenas por diferentes saberes mas também por diversas problemáticas, ao invés de se restringir a um único tema e a referências discursivas limitadas, terminou por configurar uma intencionalidade não definida a priori pelo Conselho Editorial.

Assim, do lugar estratégico ocupado pelo conceito de desamparo em algumas tendências presentes no pensamento psicanalítico - que tem um impacto seguro na leitura do mal-estar psíquico na atualidade - até a revisão teórica do campo da política e de sua incidência nos projetos de planejamento de saúde, o inventário de pesquisas aqui inscritas indica ainda outras matizações cruciais do campo da Saúde Coletiva na atualidade.

Destaca-se inicialmente aqui a releitura do conceito de narcisismo, fundada agora não mais numa referência restrita à Psicanálise mas ao campo da História, no qual se enuncia a existência da cultura do narcisismo na contemporaneidade1 1 Lasch, C. A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983. . Desta maneira, Lasch indica o impacto do mundo globalizado sobre a economia narcísica dos indivíduos, na qual os registros da temporalidade e da historicidade dos acontecimentos são subvertidos.

Em seguida, numa incursão epistemológica e histórica instigante se tece a aproximação entre os campos da Psiquiatria e da Geriatria, quando este foi concebido pelo conceito de terceira idade e aquele foi desvinculado de uma estrita leitura médico-biológica e inscrito no registro social. Privilegiou- se com isso uma leitura daqueles campos como construções sociais, sobre as quais se enfatiza uma interlocução interdisciplinar.

Em outra investigação, enfatizou-se a construção da rede de terapias alternativas, inscrita inicialmente no campo esotérico e posteriormente num registro eminentemente terapêutico. Com isso, as ditas terapias alternativas se transformaram no caldo de cultura para uma reflexão renovadora sobre o próprio conceito de terapêutica nos anos 90.

Porém, isso não é tudo, ainda. O ensino médico foi colocado também nessa ciranda das novas perspectivas da Saúde Coletiva, como tem sido também o caso em outras publicações recentes. Numa reflexão instigante, aquele foi colocado em pauta pela via do currículo existente nas escolas de Medicina, num referencial teórico centrado na teoria da ação comunicativa de Habermas2 2 Habermas, I. Teoria de la acciôn comunicativa: complementos y estudios previos. Madrid: Cátedra, 1994. .

Além disso, os instrumentos utilizados na pesquisa foram colocados também em questão. É caso do questionário, fartamente presente no campo da Epidemiologia. Com efeito, um novo conceito de questionário avançou aqui de forma técnica inventiva, indicando assim a renovação dos instrumentos de investigação na área.

Enfim, pela exploração sistemática de diferentes temas e pelo uso diversos referenciais teóricos, o que está sempre em debate aqui são as novas perspectivas da Saúde Coletiva, que indicam a fertilidade desse campo.

Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1999

  • 1 Lasch, C. A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983.
  • 2 Habermas, I. Teoria de la acciôn comunicativa: complementos y estudios previos. Madrid: Cátedra, 1994.
  • 1
    Lasch, C.
    A cultura do narcisismo. A vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983.
  • 2
    Habermas, I.
    Teoria de la acciôn comunicativa: complementos y estudios previos. Madrid: Cátedra, 1994.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Nov 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 1999
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