Editorial
O Sistema Único de Saúde, marco das políticas de atenção à saúde no país, é na verdade um arcabouço jurídico-legal e um conjunto heterogêneo de práticas que se estendem pelo território nacional, um grande experimento social que se desenrola em nosso país desde o fim do regime militar, tendo suas raízes no chamado Movimento da Reforma Sanitária. Este, por sua vez, teve participação decisiva no próprio processo de redemocratização. Visto desta forma, podemos entender o SUS como uma superfície de emergência onde novas experiências, novas formas de organização e novos atores sociais encontram expressão, criando inúmeros desafios também para o pensamento acadêmico que tanto contribuiu para sua criação. Destaca-se neste sentido um dos princípios registrados na Constituição, a participação popular, que redefine mesmo a noção de cidadania, com implicações tanto para a prática política cotidiana quanto para a reflexão acadêmica sobre o tema.
O tema deste número de Physis, que aborda um aspecto dessas experiências, foi organizado por Roseni Pinheiro, que coordena no IMS-UERJ, juntamente com Ruben Mattos, o LAPPIS (Laboratório de Pesquisas sobre Práticas de Integralidade em Saúde). Ao longo dos últimos anos, o LAPPIS tem se afirmado como ponto de aglutinação de pesquisadores da área de Saúde Coletiva em todo o Brasil, com expressiva produção na qual se destacam duas coletâneas que rapidamente se tornaram referência sobre o tema "integralidade". Os artigos contidos nesta edição articulam-se a essa grande área temática, com destaque para as leituras sobre as políticas públicas e a sociedade civil.
A apresentação de Roseni detalha o escopo do tema desta edição, e é ocioso repeti-la aqui; seguem-se os artigos temáticos, de Francini Guizardi e colaboradores, Eymard Vasconcelos, Ricardo Ceccim e Laura Feuerwerker, e Alcindo Ferla.
Nos artigos de temática livre, temos Carlos Augusto Peixoto Jr., que analisa as concepções de desejo em Lacan e Deleuze, correlacionando-as com diferentes tradições filosóficas e apontando-as como bases para se pensar de diferentes maneiras o processo de subjetivação, seguido pelo artigo de Hélia Borges e André Martins, que abordam, pelo viés da psicanálise, o sofrimento psíquico do trabalhador migrante.
Fecham esta edição quatro resenhas sobre publicações de alta relevância: Rachel Menezes escreve sobre A solidão dos moribundos, de Norbert Elias; Ronaldo Castro resenha O pensamento social no Brasil, de Luis Antônio de Castro Santos; André Augusto Brandão faz o mesmo com Negros na universidade: identidade e trajetórias de ascensão social no Rio de Janeiro, de Moema Teixeira, e finalmente Anna Paula Uziel apresenta Prisioneiras: vida e violência atrás das grades, de Bárbara Soares e Iara Ilgenfritz.
KENNETH R. DE CAMARGO JR.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
25 Jun 2008 -
Data do Fascículo
Jun 2004