Resumo
O artigo analisa o piquenique como prática constitutiva de processos educativos e de divertimentos realizados em meio à natureza no Brasil, entre 1900 e 1950. Em seu desenvolvimento examina, em suas singularidades sociais, culturais e econômicas, algumas representações e formatos do piquenique, prática realizada por populações urbanas. As fontes foram constituídas pela imprensa brasileira (revistas de variedades e jornais), imagens (pinturas e fotografias) e obras clássicas sobre o tema. A análise realizada demonstra uma abundância de referências à prática do piquenique como lugar de educação e divertimento e expressa compreensões de uma natureza benéfica, generosa, acolhedora: um lugar para se ir.
Palavras-chave piquenique; vida ao ar livre; educação pela natureza
Abstract
The article analyzes the picnic as a constitutive practice of educational and entertainment processes carried out in the midst of nature in Brazil, between 1900 and 1950. In its development, it examines some representations and formats of the picnic, a practice performed by urban populations in their social, cultural and economic singularities. The sources were made up of the Brazilian press (variety magazines and newspapers), images (paintings and photographs) and classic works on the subject. The analysis demonstrates an abundance of references to the practice of picnics as a place of education and fun, expressing understandings of a beneficial, generous, welcoming nature: a place to go.
Keywords picnic; outdoor living; education through nature
Resumen
El artículo analiza el pícnic como práctica constitutiva de procesos educativos, y de esparcimiento, realizada en espacios naturales de Brasil entre 1900 y 1950. En su desarrollo examina algunas representaciones y formatos del pícnic, práctica realizada por las poblaciones urbanas en sus singularidades sociales, culturales y económicas. Se tomaron como fuentes, materiales de prensa brasilera (revistas de variedades y periódicos), imágenes (pinturas y fotografías) y obras clásicas sobre el tema. El análisis realizado da cuenta de una importante cantidad de referencias a la práctica del pícnic como lugar de educación y de diversión, expresando la comprensión de una naturaleza beneficiosa, generosa, acogedora: un lugar al que ir.
Palabras clave pícnic; vida al aire libre; educación por la naturaleza
O piquenique e a vida ao ar livre
O piquenique pertence à grande família dos encantamentos voluntários, ele reinventa o novo a partir do que é banal e o transforma no prazer de partilhar.
(Barthe-Doloizy, 2008, p. 200)
Pitoresco, ingênuo e banal são palavras que surgem em um primeiro momento para fazer referência ao piquenique, acrescidas, ainda, de uma ideia de que essa prática esbanja leveza e simplicidade à medida que se populariza. Talvez seja exatamente por essa descrição que o piquenique – esse encontro ao ar livre – possa também expressar novas ideias e ideais acerca da natureza e de seus elementos, sobretudo, de suas transformações para assinalar aventura e contentamento onde antes habitavam medo e perigo. Trata-se, portanto, de uma prática1 que, em seus diferentes formatos e atividades desenvolvidas, vem sendo realizada em uma longa duração2 segundo interesses de distintos grupos e expressa uma compreensão da natureza como boa, generosa, bela – efetivamente, como um lugar para se ir. Esse encontro ao ar livre comporta, ainda, uma ideia de tempo descontextualizado e festivo e convida a compartilhar o que se come e bebe entre amigos ou familiares; é possível inferir que a noção de prazer também lhe é inerente.
Sua realização sugere a escolha de um lugar para se ir na natureza – e aqui, o que problematiza Certeau (1994) em relação ao espaço pode contribuir para pensarmos em como o piquenique é parte de um cotidiano sempre inventado, espaço e lugar de educação e de divertimento de populações urbanas no Brasil do período, pois “o espaço é um lugar praticado” (p. 202). Podemos também retomar aqui o que escreveu Le Goff (1990) acerca do espaço quando afirma que não
existe lugar de encontro mais importante entre o homem biológico e o homem social, que o espaço. E o espaço é objeto eminentemente cultural, variável ao sabor das sociedades, das culturas e das épocas, espaço orientado, impregnado de ideologia e de valores. (pp. 59-60)
O presente artigo toma o piquenique como expressão de um ideário de vida ao ar livre, portanto, lugar de educação e divertimento no Brasil entre 1900 e 1950, recorte temporal aqui delimitado. Ao folhearmos textos e observarmos imagens de um amplo conjunto de fontes, especialmente da imprensa (jornais e revistas de variedades) e de obras clássicas, constatamos significativa recorrência ao piquenique. Trata-se de reportagens, pequenas notas, colunas e fotografias que exortam os benefícios da vida ao ar livre e de práticas na natureza, em que se destaca o piquenique. Sua recorrência é instigante, considerando que sua promoção se dá tanto por associações de trabalhadores urbanos, clubes recreativos e esportivos quanto como prática de divertimento das elites urbanas, cada vez mais impregnadas de um ideário de vida ao ar livre que exorta os benefícios de uma natureza ajardinada. O piquenique3 parece ser uma atividade que permanece na composição do que se faz ao ar livre.
Assim, nosso artigo dirige atenção especial – mas não exclusiva – às fontes oriundas da imprensa que, em seus diferentes formatos e pela considerável circulação no período, fornece indícios de realização de piqueniques por diferentes grupos sociais. Ao circular e, assim, divulgar ideias, conselhos e prescrições ao lado de significativo conjunto de imagens, cuidadosamente escolhidas, acerca dos benefícios, do potencial educativo e dos prazeres de atividades realizadas ao ar livre, a imprensa supunha abarcar anseios e expectativas sociais e, de certo modo, sugerir e universalizar comportamentos coletivos. Entre textos e imagens, a imprensa contribuiu para uma mudança de sensibilidade em relação a certas práticas na natureza que passam a ser consideradas não somente como muito adequadas, mas também convenientes e mesmo necessárias, como é o caso dos esportes aquáticos, dos jogos ao ar livre e dos piqueniques.
A primeira metade do século XX, período recortado para nosso artigo, concentra em suas primeiras duas décadas explicações, argumentos e comprovações acerca dos benefícios do ar puro do campo, da montanha e da beira-mar, bem como do sol e de sua positividade para a saúde, componentes do que denominamos de ideário de vida ao ar livre (Soares, 2016, 2022). Nunca é demasiado recordar que o sol e seus majestosos raios foram, por muito tempo, considerados perigosos, nocivos, e esconder-se deles era um gesto comum de cuidado, acrescido de um conjunto de artefatos de proteção como chapéus, sombrinhas, roupas, assim como, mais tarde, óculos e cremes (Corbin, 2001, 2005; Dalben & Silva, 2020; Dalben & Soares, 2021; Granger, 2013; Ory, 2008; Soares, 2011, 2022).
O advento do ideário e da realização das curas pelos elementos da natureza já no fim do século XIX (Baubérot, 2004; Villaret, 2005) opera uma revolução no sistema de representação dos raios solares que, de nocivos, passam a ser de extrema positividade. Pouco a pouco, vemos crescer o lugar privilegiado que o sol ocupa, pois a natureza que é evocada deve ser sempre ensolarada, e uma literatura médica vai, pouco a pouco, explicar e recomendar essa relação mais íntima e direta com a natureza e seus elementos e restaurar não apenas a praia, mas também a montanha e o campo como lugares que devem ser ensolarados (Corbin, 2001, 2005; Dalben & Silva, 2020; Dalben & Soares, 2021; Granger, 2013; Ory, 2008). Veremos mais adiante como os piqueniques exaltavam os dias claros e ensolarados para a realização dessa festa campestre, como também era denominado o piquenique na imprensa.
O período por nós recortado expressa uma inédita compreensão acerca da vida ao ar livre e opera novas formas de educar os indivíduos urbanos e estimulá-los a buscar espaços de natureza nos arredores das cidades e a valorizar parques e praças; jardins e ruas arborizadas; banhos de rio, de mar e em águas termais; e piqueniques. Novas relações com a natureza e seus elementos estabelecem-se e anunciam, assim, uma nova sensibilidade que desenvolve, também, novas formas de educação, divertimento e cura (Araújo, 2006, 2007; Baubérot, 2004; Burbage, 1998; Dalben, 2014; Marrichi, 2015; Medeiros, 2016, 2021; Montenegro, 2020; O’Donnel, 2013; Schama, 1996; Schossler, 2013; Soares, 2022; Soares & Santos, 2018; Thomas, 1985, 1988; Villaret, 2005, 2016).
Parece ser essa compreensão bastante nova de uma natureza acolhedora que permite exaltar a prática do piquenique que, desde a primeira década do século XX, surge com frequência e regularidade na imprensa (J. Jorge, 2016; O’Donnel, 2013; T. P. Jorge, 2017; T. P. Jorge & Vaz, 2016). Efetivamente, o piquenique parece ser expressão daquilo que se mostra comum, similar, partilhado, e concentra em seu conteúdo e forma os traços mais visíveis acerca de uma relação mais amorosa e singela com a natureza e dela como um lugar para se ir. Trata-se, pois, do Brasil na aurora da República, período em que é possível constatar os tênues ecos de uma leitura acerca dos benefícios da natureza e de seus elementos, já evocados desde fins do século XIX com a construção de parques, praças, hortos, jardins, passeios públicos; e a conservação de bosques e lagos nos arredores das cidades (Kliass, 1993; Segawa, 1996). Também é notória a proliferação de clubes recreativos e esportivos nas margens de rios que banham aglomerações urbanas do período, ou naquelas situadas à beira-mar. Uma nova sociabilidade urbana atesta a frequência nesses espaços de natureza controlados, e inúmeras práticas ao ar livre são realizadas (Araújo, 2006, 2007; Medeiros, 2021; Melo, 2015; Montenegro, 2020; Moraes, 2017; Soares, 2016, 2022; Terra, 2016).
O que queremos sublinhar neste momento em relação ao período ora delimitado é que, em praças e parques urbanos, em clubes recreativos e esportivos, nas margens dos rios ou nos arredores das cidades, os habitantes pertencentes a diferentes grupos sociais dançam, praticam jogos e esportes ao ar livre e realizam piqueniques. Se conselhos e prescrições de autoridades públicas indicam os benefícios da natureza e de seus elementos na aurora do século XX – e inúmeras transformações urbanas atestam essa preocupação e esse interesse –, são as práticas cotidianas relativas aos usos desses novos lugares inventados pela cidade que indicam sua possível incorporação por parte de seus habitantes.
Parece ser consenso entre historiadores a ideia de que são os anos de 1920 o período em que se constata, no Brasil, um crescimento acelerado das cidades em suas singularidades e similitudes, período que vai expressar preocupações inéditas com a educação, a saúde e os divertimentos das populações urbanas, em que jogos e esportes praticados ao ar livre ganham destaque (Del Priore & Melo, 2009; Sant’Anna, 1994, 2022; Sevcenko, 1992, 1998). O piquenique, expressão alegre de uma proximidade com a natureza e seus elementos, parece também confirmar esse destaque que compreende a natureza como um lugar para se ir (Medeiros, 2021; Montenegro, 2020; Moraes e Silva, 2011; Musa et al., 2021; Pardim, 2005; Jorge & Vaz, 2016).
No conjunto das fontes constituídas e nas margens ampliadas do recorte temporal, constatamos que o piquenique também é tema de pinturas desde a segunda metade do século XIX com as telas realizadas por Almeida Jr., como, por exemplo, Salto de Itú, pique-nique da família do Dr. Elias Chaves (Figura 1), de 1866, na qual o artista retrata esse singelo encontro ao ar livre em família tendo a paisagem formada pelo rio Tietê e suas margens como o cenário para o piquenique. Conforme analisa Pardim (2005), afirma-se ali “uma iconografia de lazer em relação ao rio. O tema piquenique ... demonstra uma autonomia na diversão relacionada ao rio que só voltará a aparecer nas fotografias esportivas do Tietê da primeira metade do século XX” (p. 147). Outra tela de Almeida Jr. (Figura 2), Piquenique no Rio das Pedras, de 1899, emoldura com o verde da mata atlântica da região, ainda bastante densa, o fino fio de água que delimita a margem em que vemos uma família. Vestidos com roupas claras, em sua maioria, alguns estão sentados na relva, enquanto outros buscam seu lugar em volta de uma toalha estendida no chão. É um nítido retrato dessa pequena e íntima festa campestre, um singelo piquenique em família. Em ambas as telas o pintor inclina-se a representar divertimentos de uma elite paulista tocada pelo ideário de vida ao ar livre em que o piquenique se destaca. Por volta de 1950, outro pintor, Arcângelo Ianelli, realiza a tela Pic Nic (Figura 3), composição na qual retrata sua família em uma paisagem campestre que evoca silêncio e calma. As cores contrastam-se em tons delicados e a paisagem destaca-se do branco das roupas, de um chapéu e da toalha estendida na relva, sobre a qual repousa a cesta, sugerindo que se vai comer e beber.
Já na imprensa o piquenique é evocado desde a primeira década do século XX em jornais e em revistas de variedades, destacado como uma prática moderna (Camargo, 2007; Ferreira, 1998; Jorge, 2016, 2017; Jorge & Vaz, 2016; O’Donnel, 2013). Como sublinhou Martins (2008), o Brasil viveu uma fértil cultura de revistas que, em suas singularidades e semelhanças, efemeridade ou perenidade de circulação, permitiu esboçar um quadro vivo da vida social do período e, no presente artigo, dos modos como o piquenique surgia em suas páginas.
A década de 1950 delimita temporalmente o recorte final de nosso artigo, pois nela o piquenique já fora incorporado, banalizado, e ele já não era mais acontecimento, novidade e símbolo destacado de modernidade; desse modo, não havia mais razão para sua constante e insistente divulgação. Sua presença na imprensa tornava-se mais rara, na mesma medida em que sua prática parecia ser mais comum, ordinária e corriqueira – e perdiam-se, assim, os ares de novidade e desafio tão característicos de seu surgimento e dos modos como foi lentamente concebido e vivido. Sua permanência ao longo das cinco primeiras décadas do século XX atesta, de um lado, as adaptações, as remodelagens e os objetivos dessa prática que efetivamente se popularizou e, de outro, uma degradação da própria natureza, que, desde fins da década de 1940, impõe ao piquenique limitações antes inexistentes, dada a forma como deixou rios e praias poluídos e impróprios para os banhos, antes quase sempre presentes nesse encontro ao ar livre (Jorge, 2006; Medeiros, 2021; Sant’Anna, 2007).
O ideário de vida ao ar livre que exalta a positividade da natureza e se constitui lentamente no Brasil desde fins do século XIX, sem dúvida, deve à imprensa sua divulgação e mesmo sua consolidação. Em textos e imagens o piquenique ganha destaque nas revistas de divulgação que, conforme analisou O’Donnell (2013),
ofereciam ao leitor uma verdadeira cartilha a partir do cotidiano do novo ideal de cidade, valorizando, na mesma medida, paisagens paradisíacas e inovações tecnológicas. Era dentro dessa chave que os piqueniques [ênfase adicionada] emergiam como prática moderna por excelência, digna de ser reportada ao grande público como sugestão de uso das recém criadas esferas do espaço urbano que os bondes (e, sem tardar, os automóveis), tornavam acessíveis. (p. 59)
Sem dúvida, a circulação da imprensa contribui largamente para a apreensão e universalização de certos valores e ideais urbanos (Luca, 2005; Martins, 2008). A exortação de uma vida ao ar livre constituía esses ideais, e a imprensa esboçava conselhos variados, em linguagem de fácil assimilação, cujo conteúdo sublinhava a natureza como lugar para se ir e colocava em destaque o piquenique, no interior do qual uma miríade de ações corporais ao lado da simples contemplação de uma paisagem se faziam presentes. Efetivamente, o piquenique
é um marcador identitário e transmite códigos de diferenciações sociais e culturais que evidenciam formas de sociabilidade inéditas. [Ele] alegra os espíritos nutrindo os estômagos. Simples felicidade prosaica, ele impregna o cotidiano e toma, segundo as culturas, formas e significações diferentes. ... Fermento de união social, ele evidencia uma forma de comensalidade, demonstra o interesse de exprimir o pertencimento a uma mesma comunidade e borra hierarquias. ... Ele representa um modo de sociabilidade alimentar fortemente impregnada de rituais que correspondem a momentos de intimidade partilhada, ancorada em lugares e momentos de liberdade.
(Barthe-Deloisy, 2008, p. 10)
Traços de uma felicidade simples, banal, cotidiana, constituem a prática do piquenique, evidenciam uma relação mais amorosa e positiva com a natureza e expressam prazer e encantamento com seus elementos. A palavra “piquenique”, contudo, é mais tardia, e por muito tempo ele foi narrado e descrito com muitas palavras na ausência de uma só que o definisse por completo. Efetivamente, a palavra parece não existir antes do século XVII, mesmo que referências às refeições conviviais ao ar livre já fossem encontradas desde há muito tempo e em diferentes fontes (Barthe-Deloizy, 2008; Chappey, 2008).
Nas iluminuras, em textos medievais e do Renascimento que tratam do continente europeu, podemos identificar cenas de refeições ao ar livre em que se consomem a caça, o pão e algumas frutas e se bebe vinho (Birlouez, 2011; Thomas, 2011). Trata-se de representações que evidenciam, também, lugares diferenciados sobre a relva para camponeses e nobres, identificáveis por traços de vestimenta, adornos ou, ainda, rudimentos de louças, talheres e toalhas estendidas no chão ou sobre uma mesa. Também os livros de caça, com relativa frequência, apresentam descrições precisas de preparação de uma refeição ao ar livre, ao lado de imagens (Figura 4) em que vemos a mesa posta sob as árvores e o cavalheiro e seus convidados ao seu redor, compartilhando a comida e a bebida4.
Barthe-Deloizy (2008) sugere que a prática do piquenique resultaria, então,
da união sutil destas duas esferas sociais. No fio do tempo, por meio de um jogo de influências recíprocas, o piquenique se populariza, as refeições de caça das elites aristocráticas tomam ares corriqueiros enquanto que a refeição dos camponeses se aburguesa. (p. 12)
Assim, no que se refere à palavra “piquenique”, e seguindo as análises da autora, ela parece mesmo ter surgido somente no século XVII e, inicialmente, designava uma partilha econômica do que se vai consumir ao ar livre em uma refeição convivial. Ela é evocada na edição de 1649 de um livro de autor anônimo (Les Charmants Effets des Barricades, 1649), que apresenta em 88 versos leitura mais alegre da vida e evoca, também, a amizade e a partilha do que se bebe e se come na companhia de pessoas próximas (Prévost, 2011). A utilização da palavra “piquenique” nos meios mais eruditos da sociedade parisiense ocorre por volta de 1694, ano em que é incluída no dicionário elaborado pelo linguista Ménage (1750)5. A palavra, portanto, resulta da justaposição da expressão “pique” – correspondente ao inglês “pick” e oriunda do verbo “piquer”, que significa pegar, ou apropriar-se de pequenas porções; ciscar – com a expressão “nique”, que designa uma coisa pequena. Assim, a palavra “piquenique”, ao se sobreporem os dois significados, resultaria na ideia de petiscar, ampliada para o conceito de refeição convivial ao ar livre (Csergo, 2008).
O século XVII é, portanto, considerado no continente europeu como o período clássico do piquenique, e o significado ao qual se associa o termo consagra-se: o de ser uma refeição, habitualmente comunal, ao ar livre, durante um passeio fora da cidade. Essa prática seria a antítese da rotina social estabelecida, por ser sem restrições de horários e, ainda, com a possibilidade de abranger diferentes formas de diversão. Seria nesse século que a prática do piquenique se tornaria, progressivamente, corriqueira entre a nobreza e a aristocracia, engajaria inúmeras atividades e, ao mesmo tempo, incrementaria um comércio de artigos específicos para uso nessa convivial refeição ao ar livre6.
Uma extensão dessa prática para outras classes sociais teria lugar somente no século XVIII7, com o advento do Iluminismo. No que se refere à França, em particular, foi com a Revolução Francesa e a abertura dos parques reais à população em geral que o piquenique se popularizou e se enraizou profundamente entre os costumes parisienses (Barthe-Deloisy, 2008; Csergo, 2008).
Em um período de três séculos, o piquenique institucionaliza-se como forma de diversão, difunde-se para além da Europa e, também, para outras classes sociais. Desde fins do século XIX, mas sobretudo na aurora do século XX, novas relações de trabalho são conquistadas e estabelecem-se as férias pagas e o descanso dos dias de domingo aos trabalhadores, que passam a ter, assim, um tempo disponível para as atividades de divertimento, em que se destaca o piquenique.
Há, ainda, múltiplos fenômenos que desde o fim do século XIX contribuem para o alargamento e a aceitação social do piquenique, como a ascensão do naturismo (Baubérot, 2004; Villaret, 2005, 2016) e de certa sacralização de hábitos bucólicos em que a natureza é louvada como benfazeja, bela, como um lugar palmilhado pela ciência e tornado previsível, seguro. O piquenique contribui para a expansão dessa compreensão forjada por um ideário de vida ao ar livre que confirma a natureza como um lugar para se ir e onde se realizam atividades mais alegres e aventureiras – expressão de nítida transformação das sensibilidades urbanas face à natureza e a seus elementos. Efetivamente, ele ocupa um lugar na composição do que se faz ao ar livre.
Em um tempo longo, seus participantes empenharam-se nas múltiplas escolhas do local de sua realização, das atividades presentes, do alimento e da bebida a serem consumidos. Também os diferentes grupos sociais que se apropriaram do piquenique nele imprimiram valores e escolhas próprias de lugares nos arredores ou no coração das cidades. O piquenique poderia ser, então, tempo e lugar de expressão mais elaborada de uma nova relação com a natureza e seus elementos e da exortação de um ideário de vida ao ar livre, mais especificamente, de uma educação pela natureza.
O piquenique e uma educação pela natureza no Brasil
É possível inferir que, no extenso e diversificado território brasileiro nas cinco primeiras décadas do século XX, recorte temporal de nosso artigo, o piquenique foi vivido em diferentes formatos, por distintos grupos sociais, os quais, cada um à sua maneira, reinterpretaram-no e imprimiram-lhe novos significados (Camargo, 2007; Freitas, 2014; J. Jorge, 2016; Medeiros, 2021; Montenegro, 2020; Moraes e Silva, 2011; O’Donnel, 2013; Schossler, 2013; T. P. Jorge, 2017; T. P. Jorge et al., 2012; T. P. Jorge & Vaz, 2016).
A extensa argumentação baseada na ciência acerca dos benefícios de uma vida mais próxima da natureza coloca a prática do piquenique em evidência para os habitantes das cidades. Como sublinha Csergo (2008),
em torno das patologias da modernidade que são a fadiga nervosa, o esgotamento, a anemia, o higienismo irá favorecer as representações, amplamente esboçadas desde o século XVII, de uma natureza como espaço sanitário e lugar de repouso físico e moral. (p. 26)
Ou seja, valoriza-se uma vida ao ar livre e a ela dão-se novos significados, todos ancorados em uma positividade que concebe a natureza como lugar para se ir, pois a cada dia ela é mais conhecida, previsível, e tem suas qualidades mais evidenciadas. Também os sentimentos em relação a ela ganham novas espessuras, e o medo dá lugar à aventura. Como observou Sirost (2009), o termo “ar livre”, por exemplo, não mais “evoca ... o vazio dos espaços desmedidos de uma natureza transcendente, mas um espaço aberto fora dos muros da grande cidade num período de intensa urbanização” (pp. 21-22).
Essa inédita compreensão que se expressa muito mais nitidamente no período aqui recortado opera, também, novas formas de educar os indivíduos urbanos e estimulá-los a buscar espaços de natureza; a valorizar parques, praças, jardins e ruas arborizadas; e a realizar piqueniques. Novas relações com a natureza e seus elementos estabelecem-se e desenham, assim, sensibilidades inéditas que impactam e produzem novas formas de educação e de divertimento (Dalben, 2014; Dalben & Silva, 2020; Dalben & Soares, 2021; Dias & Soares, 2014; Montenegro, 2020; Musa et al., 2021; Sant’Anna, 2022; Soares, 2016, 2022; Soares & Santos, 2018).
Efetivamente, o objeto de nosso artigo – o piquenique – emerge, com regularidade e frequência, no âmbito de amplo conjunto de práticas realizadas na natureza, conforme podemos constatar em nossas fontes constituídas, organizadas em partes, no item que segue.
O piquenique em jornais e revistas ... uma alegria singela
No Brasil, o piquenique parece ter sido inicialmente uma prática de divertimento da família real desde a chegada de D. João VI e que se estendeu às classes abastadas ao longo do século XIX e no início do século XX. Esses grupos deslocavam-se para a beira de rios, praias ou pequenos bosques próximos às cidades para respirar o ar puro, contemplar uma paisagem, tocar algum instrumento musical, comer e beber (Camargo, 2007; Ferreira, 1998; Jorge, 2017; O’Donnel, 2013; Pardim, 2005).
Já na primeira década do século XX e ainda no âmbito desses mesmos grupos sociais, surgem outras apropriações da prática do piquenique, que passa a integrar o conjunto de atividades escolares das elites; ali ele é compreendido como lugar de uma educação corporal em que o esforço físico vigoroso se impõe, tanto para alcançar a paisagem desejada carregando o que se irá consumir quanto pelo conjunto de atividades próprias a uma cultura física em desenvolvimento no período, tais como jogos de força e destreza, banhos de rio, de cachoeira ou de mar (Jorge, 2017; Jorge et al., 2012; Jorge & Vaz, 2016).
Contudo, o piquenique, com todas as características que lhe são próprias e das quais já tratamos aqui, não poderia ser analisado no Brasil apenas como uma prática da família real, desde sua chegada, e das classes abastadas. Isso porque diferentes grupos sociais dele se apropriaram, criaram diferentes formatos e o reinterpretaram, sobretudo a partir da primeira década do século XX, e no âmbito de uma vida urbana em lenta constituição. Assim, no extenso e diversificado território brasileiro, o piquenique surge multifacetado, polissêmico, e pode ser analisado como uma prática que se localiza no universo mais sensível da vida social. O motivo para isso é que, se ele apresenta uma dimensão higiênica, de desenvolvimento físico, moral e psicológico; se ele é disciplina e rigor com o corpo e o tempo das ações físicas em um meio físico (a natureza e seus elementos); se ele é simples contemplação de uma paisagem idílica no seio das elites, momento de distinção8 em que se come e se bebe ao ar livre, ele também é contentamento, aventura, alegria, desafio corporal face à natureza, partilha de afetos entre companheiros ou familiares em lugares outros que a casa, o trabalho ou a escola.
Desse modo, seria adequado pensar em como esse encontro ao ar livre foi, no Brasil, tanto uma prática das elites locais, conforme já afirmamos aqui, quanto uma prática genuinamente popular, de forte cultura imigrante que ocupou espaços bem definidos no coração das cidades e nos seus arredores, como pudemos constatar em nossas fontes.
Em São Paulo, o depoimento de Carlos Vergueiro indica ser o piquenique uma prática genuinamente popular, de cultura imigrante e muito frequente na capital e no interior desde a primeira década do século XX, quando se elegiam locais de natureza exuberante. Na cidade de São Paulo os locais mais concorridos eram “o Jabaquara - onde havia um grande bosque -, a Cantareira e a Vila Galvão, onde havia um lago e que se tornou o local mais típico dos piqueniques das classes populares” (Vergueiro, 1979, p. 43), piqueniques cheios de brincadeiras, jogos e mesmo práticas esportivas, como era o caso do futebol. Tratava-se, portanto, de um encontro na natureza para brincar e jogar, rir e comer e, talvez, também contemplar a paisagem.
Sobre a escolha da Vila Galvão, encontramos também alusão na revista mensal do Clube Esperia, que, ao publicar nota sobre o seu Azul Club, em uma seção destinada a promover passeios, festas e piqueniques, indica ser esse o local mais apropriado para um piquenique. Em sua edição de novembro de 1928, além de observarmos a fotografia (Figura 5) de um grupo de participantes, lemos:
Um dia magnifico, com sol a pino, e um céu azul, sem uma nuvem que viesse tolher a sua claridade, era sinal de que a concorrência ao pic-nic do Azul Club seria enorme. E foi por isso que a estação do Tamanduatehy estava aquela hora matinal, com movimento fora do comum. ... A chegada na Villa Galvão até parecia sahida de formigueiro, tal era a quantidade de pessoas que alli foram.
(“O Pic-Nic no Azul Clube”, 1928, p. 19)
Sol e céu azul emolduravam a festa campestre que se traduzia em felicidade simples, pois, ainda conforme a nota: “não encontramos uma só pessoa que viesse se queixar por não ter se divertido” (“O Pic-Nic do Azul Clube”, 1928, p. 19).
Para além da Vila Galvão, outro local escolhido em São Paulo era a represa de Santo Amaro, a Guarapiranga, que desde 1905, conforme analisa J. Jorge (2016), “tornou-se imediatamente uma grande atração para os paulistanos ... local apropriado para contemplar a natureza, descansar, fazer piqueniques e praticar esportes náuticos” (p. 189).
Os piqueniques, contudo, não eram noticiados na imprensa somente em sua positividade e pela exortação da natureza, mas também pelas tragédias decorrentes dos meios de transporte utilizados – ou da imprudência de seus condutores. Esse foi o caso da nota no jornal O Estado de S. Paulo de 20 de agosto de 1929, uma terça-feira, sob o título “Fin de Pique-Nique” (1929), ao relatar acidente em que
um auto-caminhão tomba na estrada sahindo feridas varias pessoas. Domingo ultimo, durante o dia, varias famílias conhecidas, moças e rapazes realisaram um pique-nique em Villa Galvão donde voltaram ao entardecer.... Na volta, um dos auto-caminhões ... vinha em grande velocidade ... esterçou bruscamente a direção ... acabou por fazer tombar o vehiculo.
O mesmo jornal também publica uma opinião bastante diversa sobre o piquenique, que vai de encontro ao entusiasmo em relação a esse divertimento na natureza e, mais amplamente, aos benefícios tão propalados de uma vida ao ar livre. Em sua edição de 1 de fevereiro de 1929, em nota com o título “A Sociedade Contra a Natureza” (1929), podemos ler a seguinte opinião:
Não há nada que tenha menos conforto, menos elegância e menos estilo que um piquenique. ... Damas e cavalheiros sentados sobre relvas, comendo quase com as mãos, suando sob o sol, soffrendo todos os vexames a que a natureza os expõe. ... A natureza é uma agressão constante aos nossos sentidos educados.
Seja para assinalar tragédias como o acidente relatado, seja para emitir opinião contrária aos benefícios de uma vida ao ar livre ou para noticiar a promoção de piqueniques, a imprensa abre espaço para a prática considerada moderna e muito apropriada. Podemos ler no mesmo jornal, em pequena nota, um convite do Portugal Club aos seus associados: “Essa sociedade realizará amanhan, um pique-nique no bosque do Jabaquara. Os sócios e suas famílias partirão as 8hs da Praça Marechal Deodoro” (“Portugal Club”, 1928).
Quase uma década antes, o mesmo jornal, em nota intitulada “Pic-Nic” (1920), anuncia que “um grupo de rapazes da Associação dos Empregados no Comercio promove um grande ‘pic-nic’ para o próximo domingo no Parque do Jabaquara. Já estão inscritos 120 sócios” (p. 2). Notamos que se trata de trabalhadores urbanos, do comércio, que se mobilizam para realizar um piquenique. A festa campestre parecia, efetivamente, fazer parte dos divertimentos populares, pois vamos encontrar em outro jornal, o Correio Paulistano, outro anúncio de um piquenique promovido pela Mappin Stores aos seus empregados. Em sua seção “Factos Diversos” (1920), o jornal anuncia que a “casa Mappin Stores dedicou aos seus empregados no primeiro dia de folga uma festa no Jardim da Aclimação ... oferec[endo] aos seus auxiliares um ‘píc-nic’ ”.
Em Curitiba, na aurora do século XX, há significativo número de clubes9 recreativos e esportivos, muitos deles criados por grupos de imigrantes europeus que afluem à cidade desde fins do século XIX. Esses clubes realizam inúmeras atividades recreativas destinadas aos seus sócios – entre elas, está o piquenique, largamente noticiado pela imprensa local, como é o caso do Diário da Tarde, na pequena nota que segue: “O Club Cyclista pretende fazer sábado próximo um pic nic na Rocinha” (“O Club Cyclista”, 1907, p. 2).
O mesmo jornal também noticia: “realizou-se hontem no Batel o pic-nic das sociedades Protectoras dos Operarios e Beneficiente dos Trabalhadores da Herva Mate. Apesar do mau tempo, esta diversão e o baile que seguio-se-lhe no salão Tivoli, estiveram bastante animados” (“O Pic-Nic da Sociedade Protectora dos Operarios”, 1900, p. 3). Notamos que a alusão ao “mau tempo” no trecho citado; ou a “o céu azul e o sol a pino” (“O Pic-Nic do Azul Clube”, 1928, p. 19), que citamos anteriormente, ensejam uma relação de confiança com a natureza que acolhe a diversão – ela é um lugar para se ir, especialmente nos dias de domingo, dias livres do trabalho. Podemos constatar essa asserção ao tomar as impressões citadinas sobre Curitiba aos domingos em coluna do mesmo jornal intitulada “Conversando” (1901): “as ruas vazias da cidade demonstram que a população ... se retirava em peso para o campo; uns ao Prado de Corridas; outras aos pic-nicks” (p. 1).
Em outra nota o mesmo jornal assinala a beleza do céu azul de inverno de Curitiba que emoldurou o tempo de um piquenique realizado por um clube alemão da cidade e registra ter sido
uma festa esplendida e original ... a que realizou esta sympatica sociedade teuto-brasileira. Com dia magnifico e debaixo do azul immaculado do céo de inverno passou-se o alegre e ruidoso pick-nick, que em dia inteiro correu rapido, animado por multiplas diversões consoantes aos costumes alemães.
(“Turn Verein”, 1900, p. 2)
A imprensa cearense10 também apresenta alusões a piqueniques, e na capital, Fortaleza, são registrados convites para essa festa campestre. O jornal O Nordeste, em pequena nota, anuncia que “Domingo próximo 15 do corrente, realizar-se-à animado pic-nic dos moços da ‘Schola Cantorum de Lourdes’ à serra do Baturité. ... A viagem será efetuada em caminhão que partirá do fim da linha do Benfica” (“Pic-nic dos Moços da ‘Schola Cantorum de Lourdes’”, 1929, p. 4). O mesmo jornal, no ano seguinte, destaca a realização de um piquenique em honra de um inspetor da alfândega:
Realizou-se hontem, em Porangaba, na chácara do sr. Antonio Capibaribe, um animado “pic-nic”, em honra do sr. Eustaquio Coelho, inspector da nossa Alfândega. ... A festa campestre decorreu na maior animação, tendo comparecido à mesma elementos do maior destaque em nosso meio, inclusive o sr Presidente do Estado e sua exma. Senhora.
(“Pic-Nic”, 1930, p. 1).
Sob o título “Pic-nic do Aldeota” (1944), o jornal Correio do Ceará publica pequena nota em que se lê:
O Aldeota Clube, agremiação esportiva recentemente fundada em nossa capital vai promover, no próximo domingo um pic-nic de confraternização entre seus associados. A magnifica festa campestre que vem sendo preparada por uma comissão de diretores “aldeões” promete coroar-se do mais completo êxito. ... Os associados do Aldeota Clube deixarão Fortaleza em um ônibus especial o qual partira às 6.30 horas da Praia de Iracema. (p. 3)
Tal qual os jornais de diferentes cidades e regiões brasileiras, as revistas de variedades também são pródigas em alusões a piqueniques. A revista Fon-Fon, que circulou no Brasil entre 1907 e 1958, trazia inúmeras reportagens fartamente ilustradas sobre lugares em meio à natureza para a realização de piqueniques, seja na antiga capital federal, em locais como a Floresta da Tijuca, a praia de Copacabana ou, ainda, o Corcovado; seja em cidades próximas como Teresópolis e Petrópolis ou em outras mais distantes e situadas em Minas Gerais. Notamos que a escolha dos lugares divulgados pela imprensa indica seguidamente aqueles que mais expressavam uma natureza benevolente, encantada e, de certa forma, transformada pela mão humana de modo a oferecer previsibilidade bem como comodidades no transporte e nas acomodações.
O ano de fundação da revista é farto em referências a piqueniques. A Fon-Fon de número 13 exalta a beleza do Corcovado (“Pic-Nic no Corcovado”, 1907), como aparece na Figura 6, e sublinha as dificuldades para aceder a suas alturas, o que atesta o grande desafio e a aventura que compunham a empreitada de se defrontar com uma natureza um tanto rude, mas encantadora para a realização de piqueniques. O cronista que assina a reportagem como Zé afirma que
adora os “pic-nics” e os almoços lá realizados ... devido a sua grande altura, teme os raios solares, e por isso não abandona o seu chapeo de sol ... O seu característico physico principal depois de sua descomunal altura, é sua vista, uma vista maravilhosa, única!
(“Fon-Fon no Corcovado”, 1907)
Sob o título “Pic-Nic na Tijuca” (1907), como mostramos na Figura 7, a revista registra em dois instantâneos um pic-nic realizado na Floresta da Tijuca por um grupo de famílias da elite carioca. O local tornou-se muito reputado para piqueniques sobretudo pelos incrementos públicos ali realizados. Com caminhos mais sinalizados e transitáveis, a Tijuca era um lugar para se ir, atrativo para quem já tinha adquirido o hábito de sair de casa e mesmo da cidade para apreciar a natureza e fazer passeios e piqueniques.
A revista também registra piqueniques fora da capital, como na reportagem intitulada “Paizagem Mineira” (1907) – que reproduzimos na Figura 8 –, que mostra um piquenique na cidade de Santa Rita, Minas Gerais, às margens do rio São Pedro. A exuberância da paisagem acentua a compreensão de que a vida ao ar livre evoca não mais uma natureza transcendente, e sim um espaço aberto conhecido, fora da cidade, accessível por caminhos e equipamentos fabricados pela mão humana e pela previsibilidade advinda do conhecimento científico acerca da meteorologia (Bourbage, 1998; Corbin, 2013; Sirost, 2009).
Uma década mais tarde, a Fon-Fon segue noticiando os piqueniques na capital e no interior, com destaque para Petrópolis, em reportagens que sublinham a beleza das montanhas e a elevada qualidade de seu ar rarefeito propício a diversas curas e também aos divertimentos modernos, como era o caso do piquenique. Em seu número 15, registra a realização de um “pic-nic por um grupo de gentis senhoritas e rapazes petropolitanos, na encantadora ‘Cremerie Buisson’” (“Em Petropolis”, 1922).
Ao registrar com frequência e regularidade em textos e imagens essa prática considerada moderna, a imprensa possibilita a constatação de que ela foi realizada por diferentes grupos sociais. Enquanto as elites exibiam seus carros e carruagens, as classes populares deslocavam-se em bondes, trens, ônibus e caminhões, pois até as bicicletas ainda não eram tão acessíveis ao conjunto da população no início do século XX (Lessa et al., 2023). Como analisou Martins (2008), o Brasil viveu uma fértil cultura de revistas que, em suas singularidades e semelhanças, efemeridade ou perenidade de circulação, permitiu esboçar um quadro vivo da vida social do período e, no presente artigo, dos modos como o piquenique surgia em suas páginas.
Considerações finais
O breve escrutínio de parte de nossas fontes em que encontramos recorrências ao piquenique indica sua potência como objeto a ser investigado em suas diversificadas formas de existência. Ao longo do artigo buscamos compreender o piquenique como uma prática que educa indivíduos e diferentes grupos sociais a tomar a natureza como um lugar para se ir, a considerar a vida ao ar livre como parte constitutiva de valores urbanos que acentuam novos divertimentos. Essa compreensão sublinha, ainda, a perspectiva de emoções e sentimentos face à natureza e aos seus elementos, onde a alegria e a aventura se fazem presentes em ações que mobilizam tanto qualidades físicas quanto psíquicas.
A perspectiva da alegria e do contentamento parece ser constitutiva de um piquenique, tempo e lugar de uma experiência singela da partilha de uma refeição ao ar livre em um dia ensolarado ao lado de amigos ou familiares. O piquenique pertence à grande família daquilo que é agradável; ao nos referirmos a ele, evocamos a hospitalidade dos lugares e também valores como generosidade e diálogo (Barthe-Deloizy, 2008).
Os piqueniques realizados no Brasil por diferentes grupos sociais exortam a natureza ajardinada e demonstram ser essa uma prática que permite retomar, por um tempo determinado, uma relação mais direta com a natureza e, assim, ampliar a espessura dos sentidos. Brincar, dançar, jogar, contemplar uma paisagem, nadar ou brincar nas águas de rios, cachoeiras ou mar, partilhar a comida e a bebida compõem o que se faz em um piquenique, e ele parece ser, assim, um hiato de tempo que permite algum tipo de ruptura, mesmo que momentânea, com os ritmos urbanos.
Assim, investigar a historicidade dos espaços na natureza que a cidade inventa e que a imprensa exalta, incluindo seus usos, representa em primeiro lugar uma maneira de historicizar um pouco das sensibilidades dos moradores das cidades brasileiras, em um período de grandes investimentos na higiene urbana e na invenção de novos divertimentos na natureza, como foi o caso do piquenique, uma prática que assinala a possibilidade de uma educação pela natureza.
Analisar a prática do piquenique permite compreender o lugar da natureza e seus elementos em sua positividade para o campo da educação, da saúde e dos divertimentos na cidade. Essa positividade permite, também, esboçar uma compreensão das relações entre o domínio público – dos espaços urbanos inventados na natureza e de suas práticas – e o domínio íntimo, do corpo individual, incessantemente recriado na história.
Ao longo das cinco décadas que compõem a delimitação temporal de nosso artigo, as práticas educativas e de divertimento das populações urbanas vividas na natureza e suas representações, em que destacamos o piquenique, deixaram numerosos traços que, esparsos e fragmentados, podem ainda ser interrogados, pois, recolocados em outras ordens discursivas, ganham novos e inéditos sentidos e contam trechos de histórias por vezes esquecidas.
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1
Para tratar de práticas e representações ao longo do artigo, tomamos os estudos de Chartier (1990, 1991).
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2
Neste artigo trabalhamos com a categoria de longa duração formulada por Braudel (1969).
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3
Uma miríade de atividades junto à natureza também teve lugar no período recortado para o presente artigo como é o caso, entre outras, do escotismo, naturismo, nudismo. O presente artigo não se debruça sobre elas. Para as atividades citadas, ver entre outros, Herold Junior (2011, 2013, 2016, 2020); Herold Junior e Vaz (2012, 2016); Quitzau (2029); Andrieu e Nobrega (2016).
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4
Para o tema específico da caça, ver, entre outros, Des déduits de la chasse des bêtes sauvages et des oiseaux de proie (Phébus, n.d., pp. 107-108).
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5
As páginas 325 e 326 são aquelas em que lemos o verbete na edição consultada.
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6
No século XVII e mesmo no século XVIII, o luxo por vezes se impunha e alguns nobres transformavam os piqueniques em verdadeiros jantares de gala, exibindo porcelanas, cristais e pratarias tendo ao fundo uma orquestra (Barthe-Deloizy, 2008). Cabe aqui recordar da obra de Lampeduza (1974), O Leopardo, romance que se passa no período da unificação italiana e em que um piquenique é realizado pela nobreza. Tratava-se, ali, de piquenique luxuoso em que víamos porcelanas, cristais e pratarias; toalhas de linho e rendas. Utilizamos aqui a edição de 1974 da Editora Abril Cultural. O romance teve uma adaptação cinematográfica feita pelo diretor Luchino Visconti, em 1963, com o mesmo título. A cena do piquenique ganha destaque na película.
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7
Esse é o período em que se configuram de maneira mais explícita alguns referenciais que servirão de ponto de partida e mesmo de base para o desenvolvimento de uma ideia de natureza boa e generosa que se estende aos séculos seguintes. Assim, necessário se faz aludir aqui ao lugar que ocupa o pensamento de Jean-Jacques Rousseau no que concerne a este tema. É particularmente nas obras Emílio (Rousseau, 1762/1999) e Devaneios de um caminhante solitário (Rousseau, 1782/2022) que ele desenvolve de modo mais preciso e detalhado o lugar da natureza física e de seus elementos na educação das crianças e dos jovens. Sobre o tema, ver, entre outros, Villaret (2005, 2016), Souza (2016) e Quitzau e Soares (2016).
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8
No presente artigo sempre que nos referimos ao conceito de distinção, tomamos como base Bourdieu (2007) na obra A distinção: crítica social do julgamento, publicada no Brasil em 2007.
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9
Sobre a constituição de clubes esportivos e recreativos em Curitiba, consultar, entre outros, Moraes e Silva (2011, 2015) e Moraes e Silva et al. (2018).
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Apoio e financiamento:
O artigo apresenta parte dos resultados de pesquisa financiada pelo CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-Bolsa PQ – Processo n. 302553/2019-3.
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Editores responsáveis:
Editor Associado: Raumar Rodríguez Giménez https://orcid.org/0000-0001-9643-9314.Editora Chefe: Chantal Victória Medaets https://orcid.org/0000-0002-7834-3834.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Dez 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
13 Mar 2024 -
Aceito
28 Out 2024