LEITURAS E RESENHAS
Computadores: super-heróis ou vilões?
Karla Isabel de SouzaI; Sérgio Ferreira do AmaralII
IDoutoranda e pesquisadora do Lantec Laboratório de Novas Tecnologias aplicadas à Educação da FE-Unicamp. karla@unicamp.br
IIProfessor do Departamento de Ciências Sociais na Educação (Decise) e Coordenador do Lantec FE-Unicamp. amaral@unicamp.br
[Silva Filho, João Josué da. Florianópolis: UFSC, Centro de Ciências na Educação, Núcleo de Publicações, 2000. 200 p.]
Este trabalho é um estudo realizado com crianças e professores, para levantar as possibilidades pedagógicas do uso da informática na Educação Infantil.
O tema central é a construção de conhecimento no uso de informática na Educação, tendo o professor como mediador e os softwares como ferramentas. Os assuntos abordados e analisados demonstram a importância do tema na contemporaneidade.
A Educação Infantil é o foco, mas o livro é uma boa leitura para educadores de todos os níveis de ensino, pois discute educação, comunicação e novas tecnologias. Serve de guia para educadores dessa área, apresentando comentários sobre vários softwares, e também pode ser utilizado como modelo para outros educadores que precisem pensar o uso de softwares ou da informática em seu campo de atuação.
Como afirma Maria Luiza Belloni na apresentação do livro:
O autor busca mostrar que é preciso ter clareza de que os computadores são ao mesmo tempo heróis e vilões, em todas as situações em que as crianças os utilizam, que eles estão no mundo delas, fazem parte do universo de socialização, pelo menos para aquelas que têm acesso a estas técnicas. Para as outras, os milhões de crianças brasileiras excluídas, a escola pública é a única via de acesso a estas 'máquinas maravilhosas', sendo esta a razão principal para sua integração à educação (Belloni, p.11).
A primeira parte da obra discute se computadores são prejudiciais à educação infantil, chegando à conclusão de que é preciso ficar atento às oportunidades oferecidas sugerindo um cuidado com propostas inconsistentes. Também conta a história do reconhecimento da Educação Infantil. Relata que apenas em 1989 houve um reconhecimento da sociedade, com relação a os direitos da infância1.
Ainda atenta para a sociedade atual, muito influenciada pela comunicação de massa, com transformações aceleradas, em que a tecnologia tem papel mediador, além de ser fruto das mediações. A mediação referida é a "mediação generalizada", que é a relação que cada indivíduo tem consigo, com outros e com o mundo.
Essa mediação generalizada é que estabelece os parâmetros de uma nova cultura, que passamos a chamar de comunicacional, em cujo contexto os meios de comunicação são as tecnologias mais ostensivas, embora não sejam as únicas presentes (p.49).
A segunda parte detalha a pesquisa de campo, na qual se podem observar as circunstâncias do desenvolvimento da pesquisa e a discussão da linha teórica adotada. Para o autor, a participação de professores foi fundamental, principalmente para que pudesse realizar um diagnóstico de conceitos e de representações acerca do uso pedagógico da informática.
A primeira constatação é a de que existe a necessidade de haver investimento em formação de professores, para que estes possam ampliar seu domínio sobre os computadores e os programas. A proposta feita ao grupo de formação professoras que estavam envolvidas na proposta foi a de construir conhecimento:
considerando que, ao concluir suas próprias apresentações, o sujeito aprende a antecipar estratégias de soluções para seus problemas, a planejar seus passos e a refletir mais sobre os procedimentos e os produtos que executou (p. 59).
A participação de crianças no laboratório de informática também proporcionou algumas observações. Uma delas diz respeito às experiências que possuíam. O mesmo grupo de crianças foi disposto em três grupos diferentes: o primeiro era composto por crianças que não sabiam usar o mouse, mas tinham familiaridade com o computador, apesar de não possuí-lo em casa. O segundo grupo, minoria, reunia crianças que dominavam o mouse e outras ferramentas e possuíam computador em casa. O último grupo era formado pela maioria das crianças, que não sabiam usar o mouse e não tinham informações sobre o computador.
Aplicativos e softwares foram usados nas tarefas, e os objetivos das atividades são claros no livro:
aprender a lidar com o ambiente informatizado na presença de crianças, ha de aproveitar pedagogicamente esse espaço e de como articulá-lo ao conjunto de atividades outras já desenvolvidas normalmente no espaço das pré-escolas (p. 69).
Depois dos estudos com o grupo de formação, o autor estabelece uma linha de raciocínio em relação à Educação Infantil com o uso pedagógico da informática. A primeira constatação é a de que não se separa o "cuidar" do "educar"; a segunda diz respeito às experiências de vida, afirmando que "cada ser humano entra em contato com o ambiente e a cultura construída coletivamente, socialmente; acumula experiências; seleciona as mais significativas para si e descarta as que considera indesejáveis" (p. 74).
O autar revela preocupação com o excesso de valorização de um tipo de conhecimento que se convencionou chamar de científico. Embora reconheça a importância deste na sociedade contemporânea, relata pesquisas que demonstram que, devido a esse descompasso, principalmente a Educação Infantil tem enfrentado situações desastrosas. Por isso, reforça a necessidade de desenvolver estratégias de trabalho, visando o uso pedagógico da informática com as crianças.
Na seqüência, o texto trata dos problemas gerados quando se tenta agregar o trabalho pedagógico com informática. Escolher equipamentos (hardwares) até mesmo um bom equipamento de multimídia , softwares e referências em língua portuguesa é uma dificuldade que os educadores enfrentam.
A pesquisa fez um cadastro de softwares, buscando definir a categoria (idade a que se destina), a descrição (do que trata o jogo), os objetivos, o conteúdo e os recursos de que eles necessitam para funcionar. Também foram realizados testes com os softwares: o primeiro buscou analisar a interface (questões de usabilidade); o segundo buscou examinar a qualidade educativa do software; o terceiro, determinar o "preconceito"e avaliar valores presentes nos softwares.
Por fim, o texto fala dos limites e das perspectivas da pesquisa. Quanto à capacitação do docente, afirma que não se pode priorizar a instrumentalização e que o importante é haver um "esforço no sentido de propiciar uma vivência coletiva de práticas educacionais alimentadas pela reflexão acerca das situações vivenciadas" (p. 103).
Sobre o uso do computador na sala de aula são expostas várias perguntas e respostas, que buscam apontar os prós e os contras do uso da informática. O livro traz um posicionamento sério e embasado em pesquisa, o que faz o leitor refletir sobre o assunto.
Ainda há, anexa ao livro, uma lista de softwares com comentários, que poderá ajudar quem está buscando mais informações sobre o tema.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Set 2010 -
Data do Fascículo
Abr 2008