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Escola da anarquia: psicodrama e letramento LGBTQIA+ e racial

School of anarchy: psychodrama and LGBTQIA+ and racial literacy

Escuela de la anarquia: psicodrama y la alfabetización LGBTQIA+ y racial

RESUMO

Este artigo tem como objetivo demonstrar as contribuições do método sociopsicodramático para repensar e descolonizar a formação do papel de psicodramatista. É uma pesquisa qualitativa crítica e fenomenológica, na qual se utilizou do estudo de caso de um sociopsicodrama: pela inclusão LGBTQIA+ na formação do papel profissional. Aborda-se a importância dos debates em torno das pautas raciais, de gênero e sexualidade para tecer estratégias possíveis de combate à matriz colonial do pensamento. Este estudo busca contribuir para inovarmos e descolonizarmos nossa teoria e prática.

PALAVRAS-CHAVE
Psicodrama; Relações de gênero; Relações raciais; Minorias sexuais e de gênero

ABSTRACT

This article aims to demonstrate the contributions of the sociopsychodramatic method to rethink and decolonize the training of the role of a psychodramatist. It is a critical and phenomenological qualitative research, which used a case study of a sociopsychodrama: LGBTQIA+ inclusion in professional role formation. The importance of debates on racial, gender, and sexuality issues will be addressed to develop possible strategies to dismantle the colonial matrix of thinking. This study intends to contribute to innovating and decolonizing our theory and practice.

KEYWORDS
Psychodrama; Gender relations; Racial relations; Sexual and gender minorities

RESUMEN

Este artículo tiene como objetivo demostrar las contribuciones del método sociopsicodramático para repensar y descolonizar la formación del rol de un psicodramatista. Se trata de una investigación cualitativa crítica y fenomenológica, que utilizó un estudio de caso de un sociopsicodrama: la inclusión de la comunidad LGBTQIA+ en la formación del rol profesional. Se abordará la importancia de los debates en torno a cuestiones raciales, de género y sexualidad para desarrollar posibles estrategias de lucha contra la matriz colonial del pensamiento. Este estudio busca contribuir a la innovación y descolonización de nuestra teoría y práctica.

PALABRAS CLAVE
Psicodrama; Relaciones de género; Relaciones raciales; Minorías sexuales y de género

INTRODUÇÃO

Quem não busca transformar o estado atual das relações sócio-políticas-econômicas, qualquer que seja a direção das mudanças pretendidas, atua no sentido de manter as coisas como estão, fortalecendo e contestando o sistema vigente.

(Moysés Aguiar, 1988Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus., p. 109)

Compreender a descolonização do processo de formação do papel de psicodramatista implica reconhecer que o racismo e a LGBTfobia permeiam a estrutura social. Ignorar esse contexto e essa agenda política – embora seja impossível, pois todas/es/os nós estamos inseridas/es/os nele – e adotar a neutralidade em propostas terapêuticas, científicas, educacionais e artísticas acarreta grandes prejuízos para a coletividade. Nas palavras de Aguiar (1988, pg. 110)Aguiar, M. (1998). Teatro espontâneo e psicodrama. Ágora., quando psicodramatistas “alegam que não têm compromisso com qualquer ideologia, como é comum acontecer, estão implicitamente reconhecendo esse seu papel de guardiães da ordem estabelecida”.

Este artigo tem como objetivo geral demonstrar as contribuições do método sociopsicodramático para, com o grupo, cocriar as possibilidades da formação do papel de psicodramatista principalmente no que se refere aos marcadores sociais das categorias de gênero, raça e sexualidade. Os objetivos específicos são: aplicar o sociopsicodrama com o tema de inclusão LGBTQIA+ na formação do papel profissional; criar reflexões coletivas para debater os marcadores políticos de raça, gênero, corpo e sexualidade; buscar alternativas para a superação de sentidos hegemônicos teórico-metodológicos (conserva colonial); propiciar abertura para novos e múltiplos sentidos; contribuir para a renovação teórico-prática do psicodrama; favorecer reflexões sobre problemáticas pessoais deslocando-as para a coletividade e reconhecer o teatro espontâneo como instrumento ético-político de inclusão das existências subalternizadas.

Os objetivos estão amparados na socionomia, ciência criada por Moreno (1988)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix., que estuda as relações e os grupos e em seus métodos terapêuticos de ação, dentre eles, o psicodrama, o sociodrama, o teatro espontâneo e os jogos dramáticos. Será considerada, principalmente, a conceituação de teatro espontâneo proposta por Aguiar (1998)Aguiar, M. (1998). Teatro espontâneo e psicodrama. Ágora.. Aguiar foi um psicodramatista que se debruçou sobre a teorização da impossibilidade de separação entre psicodrama terapêutico e psicodrama pedagógico, ou seja, uma intervenção psicodramática tem em seu ofício tanto o caráter terapêutico quanto o educacional. Quando nos deparamos com modelos dicotômicos de entendimentos, encontramos reproduções arcaicas de epistemologias eurocentradas que compreendem o mundo de forma binária e antagonizada: homem-mulher; bem-mal; razão-emoção; corpo-espírito; branco-negro; civilizado-selvagem; terapêutico-educacional. É dentro desse entendimento que optamos em nossa prática pelo método sociopsicodrama, em que o grupo expõe seus temas protagônicos e cada pessoa se implica neles, num processo de contínuo compartilhar.

Nos escritos de Moreno (1975)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix. encontramos um exemplo notável da busca pela superação do pensamento dicotômico, nos quais o autor reflete sobre a importância de desenvolver as relações por meio da inversão de papéis entre pessoas de diferentes grupos, incluindo brancos, negros, indígenas e todos aqueles marginalizados por sua cultura, raça ou etnia nos Estados Unidos. Para o teórico, esse feito representaria uma das notáveis funções do sociodrama: cuidar das relações de modo a fomentar sensibilidade e empatia mútua diante das diferenças.

Esse percurso de Moreno (1975)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix. representa uma quebra em relação à compreensão tradicional baseada na observação e na análise objetiva, típica das ciências modernas, ao propor os métodos de ação. Uma demonstração dessa ruptura pode ser pela suposta situação de uma pessoa cisgênero que busca argumentos para provar que não tem privilégios na sociedade em relação às pessoas trans. O método moreniano propõe, dentre várias técnicas, que a pessoa cisgênero do exemplo, que se analisa e analisa a outra por meio de uma percepção distorcida, se coloque na posição desse outrem para experimentar a realidade daquela que difere de sua própria existência, invertendo os papéis. Em vez de se manter em um lugar distante de observação e análise, Moreno abraça a ação e a proximidade no campo empírico, o que ele chamou de encontro.

O convite para o encontro é uma oportunidade de abandonar a supervalorização do pensamento racional da ciência colonial e adotar uma abordagem integrada que engloba a ação, as emoções, o corpo e o social. No protocolo psicodramático intitulado Um problema negro-branco, Moreno (1975, pg. 444)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix. estudou as diferenças intergrupais e culturais entre pessoas brancas e negras e concluiu que o público precisava estar mais “familiarizado com o verdadeiro papel vital de uma família negra, não só intelectualmente, não só como vizinhos, mas também num sentido psicodramático, vivendo-o e elaborando-o conjuntamente no palco” (grifos nossos). Essa afirmação do teórico representa uma ruptura com a episteme hegemônica da época, o que favoreceu o seu uso por Guerreiro Ramos1 1 Com base nas contribuições de Elisa Larkin Nascimento (2020), esposa do falecido sociólogo, ator, poeta, político brasileiro e criador do TEN (Teatro Experimental do Negro) Abdias Nascimento, é por meio do TEN que Alberto Guerreiro Ramos, sociólogo, pesquisador e escritor do pensamento crítico, empregou o psicodrama para o fortalecimento não apenas de um espaço de resistência e valorização da negritude, mas também como uma abordagem terapêutica. Sendo assim, é importante lembrarmos do pioneirismo da teoria moreniana no Brasil (1944) com os trabalhos de Guerreiro Ramos e que o psicodrama emergiu como forma de resistência em meio a um contexto de violência, proporcionando um espaço propício para a expressão emocional e reflexão das sequelas resultantes de um passado marcado pela escravização (Malaquias, 2007, 2020). quando o psicodrama foi introduzido no Brasil. Diante de um contexto de violência e resistência, esse método-filosófico desempenhou um papel crucial na mobilização do movimento antirracista no Brasil e no fortalecimento da negritude (Malaquias, 2007Malaquias, M. C. (2007). Percursos do psicodrama no Brasil: década de 40. O pioneirismo de Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Psicodrama. São Paulo, v15, n.1, pp.33-39.).

Ao considerarmos a possibilidade de superar relações repletas de percepções distorcidas, crenças socioculturais e condutas que acarretam sofrimento psíquico por meio do sociopsicodrama, torna-se mais fácil entender que os caráteres educacional e terapêutico não se antagonizam, mas se complementam, conforme concluiu Aguiar (1998)Aguiar, M. (1998). Teatro espontâneo e psicodrama. Ágora..

Moreno (1975)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix. afirmou que o método sociodramático é o caminho científico mais apropriado para o estudo das inter-relações culturais, o que nos leva a considerar e acrescentar, com base em suas contribuições, o método socio(psico)dramático como uma ferramenta fundamental também para o estudo das inter-relações raciais.

A socionomia transcende a rigidez imposta pela divisão binária e colonial das formas de pensar, pesquisar e trabalhar, e supera os limites do conhecimento eurocêntrico e das elaborações intelectuais resultantes da modernização. Segundo Quijano (2005, pg. 126)Quijano, A. (2005). Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. CLACSO., a constituição do eurocentrismo “ocorreu associada à específica secularização burguesa do pensamento europeu e à experiência e às necessidades do padrão mundial de poder capitalista, colonial/moderno, eurocentrado, estabelecido a partir da América.” Em paralelo, Vieira (2017)Vieira, É. D. (2017). O Psicodrama e a Pós-Modernidade: espontaneidade como via de resistência aos poderes vigentes. Revista Brasileira de Psicodrama, 25(1), 59-67. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20170007.
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argumenta que na Modernidade e na Pós-Modernidade, a realização dos possíveis ideais de liberdade e afirmação da identidade se restringe àquelas que possuem mais recursos materiais e simbólicos.

A teoria moreniana é fortalecida ao estabelecer diálogos com o trabalho de inclusão da teoria crítica e do pensamento decolonial. Ambos os projetos, com suas abordagens filosóficas, científicas e de vida, buscam estratégias para enfrentar a manutenção das conservas coloniais e promover a inserção de existências que tiveram sua espontaneidade e criatividade desencorajadas (Vomero, 2022Vomero, L. de S. Z. (2022). Decolonizando o conceito de reconhecimento (eu-tu). Rev. Brasileira de Psicodrama, 30, p. 1-10. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576
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). Desse modo, coadunamos com as ideias de Aguiar (1988)Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus., que afirma o Psicodrama como uma abordagem que se opõe aos valores do capitalismo.

Da mesma maneira como a divisão do trabalho, no emergente surto industrial, favorecia a alienação e sustentava a ordem burguesa, o fracionamento da realidade e, consequentemente, da pesquisa, veio a contribuir para construção de um paradigma de ciência que desvinculava o conhecimento de sua destinação: “a técnica é neutra”, o “saber não tem preferências políticas”, “os problemas socioeconômicos se resolvem tecnicamente. A ciência endeusada, emasculada pela ausência de dúvida política, controlada pelo capital e pelo seu potentado, passou a servir aos interesses das classes privilegiadas

(Aguiar, 1988Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus., pg. 115-116).

Aguiar realizou uma análise sócio-histórica para mostrar a impossibilidade do psicodrama ser neutro e sem posicionamento político, uma vez que ele rompeu com a ordem vigente na época de sua concepção. Ele parte, também, do pressuposto de que, de acordo com a nossa teoria e prática, “tudo deve ser questionado, desde os fins até os referenciais e os meios, em função dos parâmetros de momento, espontaneidade e tele” (Aguiar, 1988Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus., pg. 117). Esse ato de questionamento está relacionado ao desbloqueio da espontaneidade-criatividade, uma vez que provoca abalo social, relacional e epistêmico nas conservas culturais e coloniais. Dessa forma, podemos ter pistas de como superar a hegemonia do pensamento de matriz colonial (Vomero e Nery, 2023Vomero, L. de S. Z., & Nery, M. da P. (2023). Uterodrama: descolonizando corpo e menstruação. Rev. Brasileira De Psicodrama, 31. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v31.597
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).

Segundo Aguiar (1988)Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus., é possível identificar semelhanças entre o psicodrama, ou teatro espontâneo, e o teatro anarquista – uma prática artística e social que surgiu durante o movimento libertário e tinha como objetivo despertar a consciência do público sobre temas negligenciados pela narrativa oficial. Tanto o teatro espontâneo quanto o teatro anarquista eram (e são) intervenções sociais com objetivos definidos para expor conflitos e possibilidades de enfrentamento no coletivo.

Moreno (2008)Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do sociodrama. Daimon., em seu pensamento utópico, acreditava que uma sociedade sociometricamente planejada dispensaria a necessidade da filosofia do anarquismo, uma vez que considerava a sociometria como a ciência da democracia. Para o autor, o que comumente chamamos de processo democrático não o é verdadeiramente, pois importantes aspectos invisíveis identificados pelos procedimentos sociométricos não estão integrados e não fazem parte do esquema político da democracia. Nesse contexto, Moreno (2008)Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do sociodrama. Daimon. ressalta a importância de um modo de governo enraizado na “espontaneidade produtiva popular”, que promove a participação plena de cada indivíduo. Ele acreditava que isso conduziria a uma revolução sociométrica, instigando mudanças de caráter mais amplo na ordem social, ao favorecer a inclusão das minorias sociopolíticas.

Em nossa experiência como estudantes, profissionais e pesquisadoras da área de psicodrama, notamos que, infelizmente, vigora nos estudos e práticas uma ação terapêutica-política mantenedora do status quo social. O Congresso Brasileiro de Psicodrama de 2020 demonstrou claramente a dor das pessoas gênero-dissidentes presentes, com os preconceitos teóricos/práticos que surgiram. A grande maioria dos cursos e dos processos de formação profissional de psicodramatistas não oferece embasamentos teóricos para lidar com marcadores sociais de raça, gênero, sexualidade e classe. Dentro do discurso oficial do psicodrama, pouco se debate sobre temáticas relacionadas à comunidade LGBTQIA+. Essa lacuna na formação do papel de diretor/a/e pode levar à perpetuação do racismo e da LGBTfobia em espaços clínicos, escolares, de supervisão, congressos e jornadas.

Este artigo propõe a inclusão do letramento racial e LGBTQIA+ de modo indispensável na grade curricular do curso de formação em psicodrama. Para uma compreensão do conceito de letramento, recorremos aos estudos críticos de raça e à pesquisadora Schucman (2022)Schucman, L. V. (2022). O Branco e a Branquitude: Letramento Racial e Formas de Desconstrução do Racismo. Portuguese Literary and Cultural Studies, 171-189. https://ojs.lib.umassd.edu/index.php/plcs/article/view/PLCS34_35_Schucman_page171/13
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, que reflete acerca das possibilidades de fissuras entre a brancura e a branquitude como meio de desconstruir o racismo. De acordo com a tradução de Schucman (2022)Schucman, L. V. (2022). O Branco e a Branquitude: Letramento Racial e Formas de Desconstrução do Racismo. Portuguese Literary and Cultural Studies, 171-189. https://ojs.lib.umassd.edu/index.php/plcs/article/view/PLCS34_35_Schucman_page171/13
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, o conceito “Racial Literacy”, da antropóloga Twine (citada por Twine & Steinbugler, 2006Twine, F. W. e A. Steinbugler (2006). The Gap Between Whites and Whiteness: Interracial Intimacy and Racial Literacy. Du Bois Review 3(2): 341-363. https://doi.org/10.1017/S1742058X06060231
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), refere-se à forma como as pessoas brancas desenvolvem consciência de seus privilégios, da estrutura racista da sociedade e como negociam com sua própria branquitude.

Twine propõe que, para que haja uma real desconstrução do racismo nas identidades raciais brancas, é preciso que os sujeitos brancos se percebam racializados e adquiram o que ela irá chamar de Racial Literacy, que descreve como um conjunto de práticas que pode ser melhor caracterizado como uma “prática de leitura” – uma forma de perceber e responder individualmente às tensões das hierarquias raciais da estrutura social. Esta prática inclui: (1) um reconhecimento do valor simbólico e material da branquitude; (2) a definição do racismo como um problema social atual, em vez de um legado histórico; (3) um entendimento de que as identidades raciais são aprendidas e um resultado de práticas sociais; (4) a posse de gramática e um vocabulário racial que facilita a discussão de raça, racismo e antirracismo; (5) a capacidade de traduzir e interpretar os códigos e práticas racializadas de nossa sociedade e (6) uma análise das formas em que o racismo é mediado por desigualdades de classe, hierarquias de gênero e heteronormatividade

(Twine, 2006Twine, F. W. e A. Steinbugler (2006). The Gap Between Whites and Whiteness: Interracial Intimacy and Racial Literacy. Du Bois Review 3(2): 341-363. https://doi.org/10.1017/S1742058X06060231
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; 344, citado por Schucman, 2022Schucman, L. V. (2022). O Branco e a Branquitude: Letramento Racial e Formas de Desconstrução do Racismo. Portuguese Literary and Cultural Studies, 171-189. https://ojs.lib.umassd.edu/index.php/plcs/article/view/PLCS34_35_Schucman_page171/13
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, pg. 182).

Podemos nos inspirar nas contribuições de Twine para considerar a importância de os cursos também oferecerem um arcabouço teórico crítico sobre gênero e sexualidade na formação de novos psicodramatistas. De acordo com Merengué (2020)Merengué, D. (2020). Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Meregué (Eds.). Por uma vida espontânea e criadora: Psicodrama e política (pp. 37–59). Ágora., a construção do papel de diretor/a/e no psicodrama raramente é abordada de forma crítica nos espaços de formação, os quais, muitas vezes, adotam uma postura sem conscientizações, alienada e descontextualizada da realidade sócio-histórico-política. Conforme Freire (1979)Freire, P. (1979). Conscientização: teoria e prática da libertação. Cortez & Moraes., a conscientização é um compromisso crítico e histórico, o que requer que as pessoas assumam a posição de sujeitos para transformar o mundo. A conscientização deve ocorrer dentro da práxis, ou melhor, por meio do ato ação-reflexão e da relação consciência-mundo.

Idelbrando (2022)Idelbrando, A. G. (2022). As contribuições dos educadores anarquistas à pedagogia freireana. Rev. Internacional de Educação Superior, 10(00), p.e024029. https://doi.org/10.20396/riesup.v10i00.8669136
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refletiu como Paulo Freire incorporou o ideal e a força impulsionada pelos anarquistas ao reorganizar narrativas oficiais e fornecer uma filosofia libertadora como ferramenta político-pedagógica. Esse campo libertário do conhecimento se conecta com as contribuições de Romaña (1992)Romaña, M. A. (1992). Construção coletiva do conhecimento através do psicodrama. Papirus., teórica da pedagogia psicodramática que defendia a construção coletiva do saber por meio de uma educação horizontal e popular. Essas características são consideradas fundamentais pela autora para uma educação verdadeiramente efetiva e voltada para a superação das desigualdades e injustiças sociais. Para Romaña, realizar pesquisas por meio do psicodrama pedagógico significa estar ciente de que o status quo será sempre questionado. Consequentemente, o conhecimento ganha novos significados ao romper com os padrões convencionais.

Nesse sentido, como delineado por Dias e Urt (2020)Dias, A. R. & Urt, S. C. (2020). Socionomia e ecologia: considerações para o campo educacional. In C. T. Romano & E. L. B. Chleba. (Eds.). O encontro com a sustentabilidade: considerações do psicodrama (pp. 22-28). ABPS., a socionomia e a pedagogia psicodramática podem ocupar o âmbito de enfretamento contra as forças hegemônicas por meio do que elas nomearam de uma “ecologia socionômica”. Isso implica a responsabilidade de pensar no próximo e de desenvolver ações inclusivas dentro da sociedade por meio de um trabalho realizado para ampliar o campo afetivo e os diálogos técnicos e científicos dentro da própria comunidade psicodramática. Esse engajamento envolveria a participação ativa no movimento psicodramático, nas instituições ligadas à Federação Brasileira de Psicodrama (Febrap) e na comunidade em geral.

Este texto defende a continuidade do projeto de inclusão moreniano, e vai além do mero saudosismo. Busca-se, por meio da ação, atribuir novos significados ao psicodrama e, dessa forma, estimular a atuação inclusiva em uma realidade marcada por tamanha diversidade, o que pode levar alguns profissionais a renunciar ao conforto do exercício (de poder!) da sua prática (Vomero, 2022Vomero, L. de S. Z. (2022). Decolonizando o conceito de reconhecimento (eu-tu). Rev. Brasileira de Psicodrama, 30, p. 1-10. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576
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). Aguiar (1988)Aguiar, M. (1988). Teatro da anarquia um resgate do psicodrama. Papirus. afirmou que uma das finalidades da teoria é refletir constantemente sobre a prática para questioná-la, organizá-la e impulsioná-la. Essa é também uma das finalidades do sociopsicodrama aqui apresentado: promover um espaço seguro para tecer vidas, histórias e reflexões para, quem sabe, semear novas contribuições para a socionomia.

MÉTODO

Trata-se de pesquisa socionômica, crítica e qualitativa, com uso de método de ação para a coleta de dados e de sua análise. Conforme descrito nos parágrafos anteriores, a epistemologia socionômica supera a dicotomia observar/refletir por meio da experiência. Foi realizado um estudo de caso, a partir de um sociopsicodrama. De acordo com Nery e Gilser (2019)Nery, M. P. & Gilser, J. V. T. (2019). Sociodrama: método ativo na pesquisa, no ensino e na intervenção educacional. Rev. Brasileira de Psicodrama, 27(1), 11-19. https://doi.org/10.15329/2318-0498.20190002
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, o sociodrama é um método ativo e uma ferramenta social que permite a experiência dos conteúdos, o diálogo empático e a aprendizagem interpessoal e intergrupal.

As/es/os participantes do sociopsicodrama são alunos e alunas de psicodrama e sistêmica inscritos no evento II Imersão Viver em Relação realizado pela escola Viver Mais Psicologia (Tubarão-SC) no dia 22 de abril de 2023. Uma das autoras, Laura Vomero, recebeu um convite de Viviane Almeida, professora e diretora da escola, para conduzir uma vivência. Durante o evento, foi feita uma escolha sociométrica, na qual as pessoas inscritas presencialmente tiveram que decidir entre duas vivências: psicodrama da criança interior (direção de Gabriela Vidal) ou sociopsicodrama sobre a inclusão LGBTQIA+ na formação do papel profissional (direção da autora).

O grupo contou com a participação de 15 pessoas (incluindo a diretora), sendo 14 delas da abordagem psicodramática e 1 da abordagem sistêmica. Foi comunicado às/aos participantes que o sigilo seria mantido para garantir a integridade social e psicológica de cada um(a). Elas/us/es concordaram em participar da pesquisa e em gravar as dramatizações para contribuir com a análise do sociopsicodrama. Logo após a realização do sociopsicodrama, a diretora fez os registros, que incluem informações como manejo técnico, frases, impressões subjetivas e processamento teórico. Esses registros também foram utilizados como fonte de dados para esta pesquisa.

Por fim, a análise e a discussão dos dados são embasadas nos preceitos epistemológicos da Socionomia. Conforme Brito (2006)Brito, V. (2006). Um convite à pesquisa: epistemologia qualitativa e psicodrama. In A. M. Monteiro, D. Merengué, & V. Brito (Orgs.), Pesquisa qualitativa e Psicodrama (pp. 13-56). Ágora., essa metodologia psicodramática pode ser usada tanto como caminho de pesquisa quanto para análise das intervenções realizadas. É isso que buscamos com esta pesquisa: utilizar o próprio psicodrama para repensá-lo, renová-lo e obter informações sobre os temas estudados.

Este trabalho está ancorado na Resolução nº 510/16 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas com seres humanos e foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, sob o nº 73031623.6.0000.5490. Em nenhum momento do artigo as/es/os participantes foram reveladas/es/os. As/es/os integrantes do grupo firmaram um contrato pedagógico que autorizava a utilização dos dados coletados durante o encontro para finalidades científicas.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

À medida que as/es/os participantes se acomodavam na sala, a diretora deu início ao aquecimento inespecífico, apresentando suas reflexões sobre o grupo recém-formado com o objetivo de iniciar o aquecimento grupal. Enquanto as pessoas chegavam, a diretora surpreendeu o grupo ao notar um momento de equilíbrio entre o número de pessoas brancas e negras presentes no local, o que gerou discussões e relatos. Espontaneamente, os membros do grupo começaram a compartilhar suas percepções sobre a importância desse momento e como não se lembravam de terem vivenciado algo semelhante em outras ocasiões dentro do contexto do psicodrama.

Refletiu-se sobre a notável participação da maioria das pessoas negras presentes na Imersão em nosso corpo-grupo. No início dessa discussão, o grupo era composto por seis pessoas brancas e seis negras, mas pouco depois, outras três pessoas brancas se juntaram ao grupo. Ainda nesta fase inicial, uma mulher negra cis compartilhou um desabafo – “não consigo acreditar que estou vivendo isso” –, expressando a sua realização e reconhecimento por participar de um espaço que valorizava a consciência e o acolhimento em relação às diferenças raciais. Essa participante relatou que sentia falta de discussões sobre racismo e negritude nos espaços de formação. Como diretora, Laura relatou que se sentiu realizada ao reconhecer a relevância daquele espaço tanto para a participante em questão quanto para o grupo em formação. Expressou como é gratificante contribuir com um trabalho ético-político que busca ativamente a inclusão e proporciona um ambiente onde as pessoas se sintam livres para expressar seus sentimentos e experiências. Além das atribuições de direção e pesquisa, Laura se sentiu profundamente implicada, assumindo um posicionamento que ia contra o campo da neutralidade, pois reconheceu a importância de estar ativamente comprometida com as histórias de vida das/es/os participantes e com o contexto sociopolítico que permeava o trabalho. Ficou notória a alegria do encontro moreniano, com a sociometria que favorece a saúde coletiva e o compartilhar.

Após as reflexões, enquanto as pessoas se acomodavam na sala, continuou-se com o aquecimento inespecífico, dando início às apresentações. A diretora compartilhou um pouco sobre si mesma e sua experiência profissional, deixando as pessoas à vontade para se expressarem livremente, sem impor um roteiro específico para as apresentações. De forma espontânea, todas as pessoas escolheram se apresentar abordando a interseccionalidade dos marcadores sociais que distinguiam cada corpo e subjetividade. Foi então que se notou que a maioria das pessoas naquele momento fazia parte da comunidade LGBTQIA+. Embora tenha sido reconfortante sentir que pertenciam a um grupo que se reconhecia nas diferenças e experiências opressivas, também surgiram questionamentos sobre o motivo pelo qual a temática da “inclusão LGBTQIA+ na formação profissional” resultou na formação de um grupo em que a maioria das/es/os participantes era composta por corpos que carregam marcas políticas de resistência à LGBTfobia. Isso levou o grupo a refletir sobre a possível ausência ou presença limitada de pessoas cisheteronormativas nessas discussões. Além disso, dois participantes negros enfatizaram a falta de participação de pessoas brancas nos diálogos sobre relações raciais, sublinhando, por conseguinte, a importância do papel da diretora na prática contra o racismo. Conforme Schucman (2022)Schucman, L. V. (2022). O Branco e a Branquitude: Letramento Racial e Formas de Desconstrução do Racismo. Portuguese Literary and Cultural Studies, 171-189. https://ojs.lib.umassd.edu/index.php/plcs/article/view/PLCS34_35_Schucman_page171/13
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, foi realizada a leitura do grupo e do momento, considerando o letramento racial e, também, o LGBTQIA+.

O grupo pertencia a uma grande diversidade de corpos e identidades: negros, gordos, bissexuais, pansexuais, não binários, lésbicas, amazonenses, gays, cisgêneros, sulistas, paulistas e heterossexuais. Notou-se, por meio de análises documentais após o evento, que a temática da “inclusão LGBTQIA+ na formação profissional” foi a escolha predominante entre as/es/os estudantes de psicodrama presentes na Imersão. Apenas uma estudante da abordagem sistêmica optou por se juntar ao grupo, uma mulher negra, cis e pansexual, que precisou sair mais cedo. Ela expressou tristeza por não poder estar presente em toda a vivência, mas ao mesmo tempo, sentiu-se satisfeita por testemunhar um momento de debates tão importantes e relevantes para a diversidade. Tanto que sugeriu que se tirasse uma foto para registrar e guardar aquele momento.

Contudo, notou-se que esse grupo era uma minoria entre as duas vivências que ocorriam simultaneamente na Imersão, sendo que a vivência da “criança interna” contava com 24 participantes. Tal fato despertou reflexões sobre a possibilidade de existir um menor número de pessoas engajadas nas discussões LGBTQIA+. Embora se reconheça que as escolhas podem ser influenciadas não somente pela atração e identificação com os temas, mas também por outros aspectos de identificação, como com a pessoa que estava dirigindo a vivência e até mesmo com a influência das escolhas de amigas/es/os. Entretanto, o fato é que ser a minoria, naquele contexto grupal, trouxe à tona vozes que expressaram desconforto e questionamentos pertinentes: por que há menos pessoas atraídas em aprimorar a prática em relação aos debates LGBTQIA+? E, agora, complementa-se esse questionamento: qual é o nível de repulsa (ou de temor) que esse tema gera?

Ao trabalhar com esse questionamento, pode-se pensar que o modo como a macropolítica opera em relação às temáticas LGBTQIA+ e raciais se fez presente no grupo-evento e nos grupos-vivências. Infelizmente, em nossa sociedade, os espaços de debates para esses temas são menores e escassos, e muitos políticos não se comprometem com pautas relacionadas à diversidade de gênero e raça. Assim como esses marcadores sociais são tratados de forma marginal e minoritária na cultura cisheteronormativa dominante, aqueles grupos, ou, aquelas micropolíticas, também eram minoria.

Embora o termo “minoria” seja utilizado para descrever a quantidade de pessoas presentes na vivência LGBTQIA+, é importante destacar que, conceitualmente, ele representa um processo histórico de grupos sociais que tiveram seus direitos negados ou foram excluídos devido a sua sexualidade (nosso foco de estudo) e, também, devido a raça, território, classe ou gênero, ou seja, grupos de menor representatividade política. Estamos nos referindo, portanto, a grupos marginalizados ou vulnerabilizados (Brandi e Camargo, 2013Brandi, A. C. D. & Camargo, N. M. (2013). Minorias e Grupos Vulneráveis, multiculturalismo e Justiça Social: compromisso da Constituição Federal de 1988. In D. P. Siqueira & N. T. R. C. Silva (Orgs). Minorias grupos vulneráveis: reflexões para uma tutela inclusiva. 1. Ed. Birigui-SP: Boreal.). Por exemplo, quando falamos de minoria racial, não estamos necessariamente nos referindo ao número de pessoas, mas ao fato de que um grupo tem uma representatividade política menor. Embora a raça seja um marcador de minoria política, 56,3% da população brasileira se autodeclara negra ou parda (IBGE, 2020Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2020). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2020. Estudos e pesquisas: informações demográficas e socioeconômicas. https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101760.pdf
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). Ser minoria em termos de representatividade política não implica fraqueza. Pelo contrário, como apontaram Guattari e Rolnik (1996)Guattari, F. & Rolnik, S. (1996). Micropolítica: cartografias do desejo. 4ªed. Vozes., as minorias podem funcionar como polos de resistência e apresentar potencialidades de transformação que poderão ser aproveitadas por amplas camadas da sociedade.

Ao longo deste artigo também discutimos sobre as relações de poder, que precisam ser compreendidas dentro das dinâmicas vinculares (Nery, 2014Nery, M. P. (2014). Vínculo e afetividade: caminho das relações humanas. Ágora.). Para Deleuze e Guattari (1996)Deleuze, G. & Guattari, F. (1996). Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. 3ª ed. Editora 34. tudo é político, isto é, as relações e ações estão sempre atreladas às práticas de poder e de forças. Toda política é, ao mesmo tempo, uma macropolítica e uma micropolítica; são modos e conceitos distintos de se recortar e compreender a realidade, porém, inerentes e entrelaçados um com o outro, um no outro. A micropolítica de como os grupos se organizaram nessa Imersão pode expressar um recorte social de como a própria realidade política brasileira opera. Ao pensarmos na política brasileira, reconhecemos que há menos pessoas engajadas pelo debate LGBTQIA+ e racial, essa constatação nos sugere indícios de como a persistência de uma mentalidade conservadora, enraizada nas estruturas coloniais (Vomero, 2022Vomero, L. de S. Z. (2022). Decolonizando o conceito de reconhecimento (eu-tu). Rev. Brasileira de Psicodrama, 30, p. 1-10. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576
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), pode ter influenciado na menor mobilização de pessoas interessadas nesses debates para aprimorar o próprio papel de formação. Essa conserva colonial (Vomero, 2022Vomero, L. de S. Z. (2022). Decolonizando o conceito de reconhecimento (eu-tu). Rev. Brasileira de Psicodrama, 30, p. 1-10. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v30.576
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; Vomero e Nery 2023Vomero, L. de S. Z., & Nery, M. da P. (2023). Uterodrama: descolonizando corpo e menstruação. Rev. Brasileira De Psicodrama, 31. https://doi.org/10.1590/psicodrama.v31.597
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) também é encontrada na instituição psicodramática brasileira, conforme mencionado na introdução do texto (Merengué, 2020Merengué, D. (2020). Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Meregué (Eds.). Por uma vida espontânea e criadora: Psicodrama e política (pp. 37–59). Ágora.). De maneira geral, as instituições no Brasil – famílias, hospitais psiquiátricos, penitenciárias e escolas – continuam reproduzindo relações de poder que excluem, ou de domínio de forma coconsciente e/ou coinconsciente. Para Moreno (1988)Moreno, J. L. (1988). Psicodrama. Cultrix., o coinconsciente promove dinâmicas e padrões vinculares ao trocarmos conteúdos mentais/comportamentais/afetivos nas relações, nos grupos e na sociedade.

As realidades, desejos e afetos que emergiram do coinconsciente em nosso grupo do sociopsicodrama, como a valorização do amor homoafetivo ou da identidade negra, são precarizados e menosprezados dentro da cultura cisheterocolonial e capitalista. Essa precarização nos faz compreender que a LGBTfobia e o racismo estrutural são fenômenos que contribuem para as chamadas crises sociais. De acordo com Guattari e Rolnik (1996)Guattari, F. & Rolnik, S. (1996). Micropolítica: cartografias do desejo. 4ªed. Vozes., as crises que enfrentamos nem sempre são evidentes nas relações sociais, mas pode haver vias de passagens inconscientes entre diferentes formas de racismo, LGBTfobia e segregação. Para Omi e Winant (2014)Omi, M. & Winant, H. (2014). Racial Formation in the United States. Routledge. https://doi.org/10.4324/9780203076804
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, as concepções de raça não apenas exercem influência sobre nossa compreensão consciente do mundo social, mas também permeiam nosso inconsciente, impactando nossas percepções, atitudes e, consequentemente, influenciando nossas ações. Para os sociólogos da teoria crítica de raça, há uma infinidade de julgamentos e práticas relacionadas a raça, conscientes e inconscientes, que fazem parte de nossa experiência individual.

Isso nos faz pensar na influência coinconsciente nas escolhas sociométricas, já que essas formações de poder implícitas também ocupam os campos políticos e sociais. O poder é uma força sutil que opera de maneira capilar por meio de uma teia que permeia toda a sociedade, as instituições e as relações (Foucault, 2023Foucault, M. (2023). Microfísica do poder. 15ª ed. Paz & Terra.), o que torna a conserva colonial ainda mais forte e difícil de ser combatida – embora não impossível. Os métodos de ação têm a função de desvelar essas tramas coinconscientes e de cocriar respostas espontâneas e criativas em relação às respostas adoecedoras, violentas e excludentes.

Após as apresentações e reflexões sobre a diversidade do grupo mencionado, o aquecimento inespecífico deu lugar ao específico. A diretora o instruiu a caminhar pela sala, convidando todas/es/os a reconhecerem a si mesmas/es/os, as/es/os outras/es/os, o espaço e os diversos corpos que encontravam pelo caminho, conforme ela os demarcava: gordos, baixos, altos, cabelos cacheados, negros, brancos, homens, mulheres e assim por diante. Em seguida, compartilhou uma poesia de sua autoria e fez uma leitura interpretativa, da qual alguns trechos serão apresentados:

Lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais, não-binários e mais. Sim, muito mais. Porque a expressão de gênero e de sexualidade é infinita. Um pai, uma mãe, uma irmã, um tio, um filho, uma vizinha, um amigo, um colega, uma pessoa, um corpo, um respeito. Corpos que não podem se expressar pois existe uma norma violenta que aponta. - Mas é que você não tem cara de mulher... Você não tem cara de agênero. E por não ter a cara do binarismo ela morre. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais o Brasil é o país que mais mata pessoas trans pelo 14º ano consecutivo. [...] Você gosta mais de homem ou de mulher? Pessoa bissexual beija travesti? Existe travesti lésbica? Se você beija um transmasculino você é pansexual ou bissexual? Eles buscam inúmeras maneiras de nos colocar na norma. [...] A culpa é da mãe que mimou muito. Tem que levar essa criança pra terapia. Na terapia: - senhora, a sua filha tem uma cisão no processo de identificação que a leva a não aceitação do corpo. - A maneira como sua mãe te educou fez com que você criasse essa identidade sexual disfórica.

A poesia apresentada reflete o caráter ético-político que Laura assumiu, afastando-a do campo da neutralidade e valorizando uma postura de implicação e engajamento com o contexto histórico-político. Por meio da expressão artística da poesia, ela expõe o coinconsciente social ao evidenciar o imaginário social brasileiro colonizado. O exemplo de frases pronunciadas por psicoterapeutas representa relações cotransferenciais repletas de conteúdos que bloqueiam a espontaneidade-criatividade dentro de uma realidade cisnormativa e que são frequentemente expressas de maneira violenta contra corpos gênero-diversos. Neste ponto, enfatiza-se a relevância de manter uma prática atualizada e transdisciplinar. Para alcançar esse propósito, recomenda-se a utilização do manual de Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas, Psicólogos e Psicólogues em Políticas Públicas para a População LGBTQIA+, lançado no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (28/06).

Durante o aquecimento na Imersão foram provocados os iniciadores ideativos, corporais e emocionais, enfatizando a conexão entre emoção, corpo e pensamento, ao pedir, por exemplo, que as pessoas ouvissem a poesia com os seus braços, estômago, pulmão e coração. Também se incentivou a identificação das partes do corpo que mais reagiam às palavras e quais sentimentos essas partes corporais comunicavam. Em seguida, as/es/os participantes foram instruídas/es/os a se dividirem em três subgrupos, sem nenhum critério de escolha definido e, espontaneamente, organizaram-se dessa forma. Acredita-se que os marcadores de raça, gênero e idade possam ter sido critérios inconscientes na escolha para a divisão desses grupos. Posteriormente, os participantes receberam a consigna para compartilharem com o grupo todos os sentimentos e pensamentos despertados pelo aquecimento. Com base nessas reflexões, foram orientadas/es/os a criar uma cena que representasse o psicodrama e, por consequência, a especialização e a aprendizagem na área, que desejavam a partir daquele momento em diante.

A seguir, apresentam-se trechos da etapa de dramatização.

Cena 1

Um ator assume o palco e declara: “Amar e transformar as coisas é o que me interessa. Eu quero ver mais pessoas pretas, trans, gays e lésbicas no psicodrama. Eu quero diversidade no psicodrama, porque eu sou a diversidade. Eu sou o psicodrama da diversidade.” A cena continua com uma intérprete da (personagem) “Resistência” se unindo ao “Psicodrama”, proclamando: “Resistência, porque simplesmente existir é resistência”. Outra participante se junta como representante da “Liberdade”, tirando a camisa e declarando: “Eu tenho o direito de ser livre e existir no mundo”. No desenrolar da dramatização, entra em cena a personagem “Empatia, Conhecimento e Sensibilidade”. Nesse momento, a diretora congela a cena e o entrevista; sua apresentação desponta como o desejo de um “Novo Psicodrama”, levando consigo os sentimentos de revolta e de esperança. A última pessoa na cena entra como intérprete da “Expansão e Alcance”, retratando os movimentos necessários para esse novo psicodrama florescer.

As personagens dessa cena se conjugam para realizar o desejo coletivo do “Novo Psicodrama”, experimentado na realidade suplementar (realidade ampliada com o social e o imaginário, vividos na cena sociopsicodramática). A troca entre as personagens possibilita a junção de expectativas e atitudes para concretizar o projeto dramático de efetivar a inclusão de grupos marginalizados no psicodrama, especialmente ao se considerar as categorias de raça e de gênero.

Cena 2

Na segunda cena, é apresentada a cristalização da sociedade e da prática psicodramática, que segue normas e caminhos considerados únicos. O conflito se instaura com a “Psicodramatista”, que se sente insegura, sobrecarregada e desamparada, a “Mãe”, cuja filha sofre preconceito, e a “Sociedade”, que precisa cuidar das dores causadas pelas exclusões, enfrentando uma ordem vigente e poderosa. O “Psicodrama Cristalizado” pronúncia: Eu sou quem fala sobre o psicodrama. Eu sou quem ensina o psicodrama. Eu sou, na verdade, o que vem instaurar o que precisa ser feito como psicodramatista. O psicodramatista tem que seguir um padrão, tem que ser assim, desse jeito, paradinho! Parado! Aqui![...]Tem um jeito pra se fazer psicodrama, é esse jeito aqui! Após a fala soberba, a/o “Psicodramatista” – sufocada/o com tantas conservas despejadas em cima de si – enfrenta a conserva cultural: “existe um jeito humano e essa teoria serve como um martelo para quebrar as conversas culturais”. A personagem que representa as conservas sociais e psicodramáticas irrompe em fúria, liberando ações violentas com voz agressiva e incisiva, executando movimentos rígidos e vigorosos, como se estivesse engajada em um cabo de guerra, para evitar possíveis transformações nas normas estabelecidas. A tensão fica explícita, e o público se assusta com a disputa física pelas almofadas, que simbolizam as forças conservadoras em contraste com as forças criativas. No entanto, é pelo relaxamento corporal e pelo conhecimento que as mudanças acontecem, seguindo a própria teoria do psicodrama. Uma personagem emprega a teoria, quebrando “como um martelo”, toda a cristalização da ordem hegemônica. A norma fica desconfortável, mas acaba tendo que aceitar, pois a necessidade grupal e social de mudança e inclusão é mais forte e o medo não paralisou. Elas consideram o caminho já feito até o momento, mas não querem deixá-lo engessado, “a conserva está gerando violência”. Querem inovar e o fazem.

Nessa cena foi possível o desvelamento de tramas coinconscientes impeditivas da inclusão de grupos marginalizados – representado principalmente pelas figuras brancas cisheteronormativas de poder e saber – no psicodrama. Ao enfrentar os conflitos, na realidade suplementar, as personagens encontraram brechas (linhas de fuga, desvios) para a espontaneidade-criatividade superar as conservas culturais e coloniais opressoras.

Cena 3

Personagem entra no palco e se apresenta como “Espontaneidade”: “eu sou a espontaneidade. Eu sou a criatividade. Eu trago a luz pro mundo moderno. Eu trago coisas boas pra dentro de vocês”. Em seguida, essa personagem central convida uma psicóloga para se apresentar mas, ao perceber que seu trabalho envolve a temática da inclusão das relações de gênero e sexualidade -“[...] eu sou bissexual, eu trabalho com questões corporais, questões de gênero, trabalho muito pelo viés do feminismo” –, disfarçadamente, a interrompe de maneira abrupta. Ele, então, convida outra psicodramatista, mas logo ofusca sua visibilidade ao descobrir que ela, uma mulher cis, negra e lésbica, que trabalha com relações de gênero, raça e sexualidade, almeja incluir também o conceito de espontaneidade no seu trabalho. A “Espontaneidade”, por sua vez, finge acolhimento, mas logo chama outra psicodramatista para colocar em destaque, a qual se apresenta da seguinte maneira: “[...] eu sou casada, tenho três filhos, sou uma mulher de fé, então, todas as semanas eu tô na igreja com a minha família [...]”. Desta vez, a “Espontaneidade” escolhe se juntar a essa psicodramatista e lhe dá todo o espaço e amparo para que seja vista e reconhecida. As psicólogas que foram apagadas sobem ao palco e começam a questionar a “Espontaneidade”, o conflito emerge e ela, por sua vez, pede para que as regras não sejam quebradas. Fala para as psicólogas esperarem o congresso do Ibero Americano – “o pingodrama vai poder fazer o que quiser no Congresso do Ibero, vocês tão sabendo disso?”. Uma psicóloga responde: “um dia não é suficiente, dois dias não são suficientes, a gente existe todos os dias”. Após inúmeras tentativas de manipulação da “Espontaneidade” os enfrentamentos diminuem a sua força e, ela, que se transforma também em psicodrama, se (re)descobre como um psicodrama gay. Todas as expectativas e violências sociais não deixavam o “Psicodrama” ser quem ele era de verdade. Quando o “Psicodrama” se apropria da sua forma não hetero, ele, unido às psicólogas, começa a cantar: “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. Neste momento – pela busca de incluir todas/es/os as/es/os participantes no fechamento das dramatizações – o público foi convidado para se juntar no palco.

Essa cena demonstra a hipocrisia em se usar teorias para camuflar preconceitos ou oprimir. A personagem “Espontaneidade” usa um dos conceitos mais ligados à emancipação e à liberdade humanas do psicodrama para a exclusão de pessoas politicamente marginalizadas e para a manutenção do status quo social. Fica clara a manipulação ideológica para o exercício do poder. A demonstração desse recurso nas relações de poder (como um espelho) contribui para a consciência que favorece a diminuição da violência social.

Algumas das ressonâncias do público que suscitaram durante a etapa da dramatização foram: “eu enxergava esperança dentro dos olhos de cada um de vocês, da renovação e de novos mundos dentro do psicodrama”, “força”, “mudança”, “vontade”, “revolta”, “necessidade”, “violência”, “medo”, “nova geração”, “susto”, “me senti violentada”, “a teoria quadrada exclui pessoas”, “sinto falta de me identificar com professores e alunos pretos, LGB…”, “falsa inclusão”, “inclusão dos excluídos”, “eu quero pessoas, mesmo com privilégios, promovendo espaço de falas sobre relações raciais e LGBT”.

Durante a etapa de compartilhamento, as/es/os participantes relataram sentimentos de pertencimento, motivação para escrever artigos e trabalhos de conclusão de curso (TCC), satisfação, acolhimento e força, além de reflexões pessoais e sociopolíticas. As/es/os alunas/es/os que estavam no início da formação agradeceram a oportunidade de viver essa experiência, especialmente a partir dos relatos daquelas/es/os que já estavam no final da formação e sentiam a necessidade de aulas e espaços de discussão sobre as temáticas LGBTQIA+ e raciais no psicodrama.

Quando todas as pessoas entraram no palco, o canto e a movimentação corporal foram utilizados como estratégias ético-políticas de resistência para encerrar a dramatização e aliviar as tensões corporais após tantos confrontos vivenciados pelo grupo. Apesar de aparentar um desfecho feliz, essa prática se alinha à reflexão crítica de Merengué (2020)Merengué, D. (2020). Descolonizando o psicodrama: Clínica e política. In A. M. Dedomenico & D. Meregué (Eds.). Por uma vida espontânea e criadora: Psicodrama e política (pp. 37–59). Ágora. sobre a busca por finais felizes, o que, muitas vezes acaba disciplinando os corpos e tornando-os ainda mais obedientes à ordem vigente. Naquela situação, o canto e a alegria, presentes nas existências negadas e subjugadas, foram compreendidos e pensados como atos políticos e de resistência. Apesar de nos quererem tristes, caladas/es/os, patologizadas/es/os e alienadas/es/os; choramos, nos abraçamos, nos reconhecemos, nos fortalecemos, nos transformamos, sorrimos e resistimos.

De repente, o canto e o riso surgiram como uma forma de afirmar a vida e resistir às sujeições, transformando dores em forças e opressões em liberdades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse sociopsicodrama contribui para a renovação teórico-prática do psicodrama, pois serviu como uma introdução à escola da anarquia. A escola da anarquia prima pela inclusão dos grupos politicamente marginalizados, por sua integração, e pelo exercício do poder e dos afetos de forma efetivamente libertária. Verificaram-se evidências de como nossa prática e teoria psicodramáticas se tornaram uma ferramenta social e política poderosa para fomentar a inclusão. Esse fenômeno emergiu espontaneamente nas cenas, de forma cocriativa. Não houve uma orientação específica por parte da diretora para demonstrar a eficácia do psicodrama em atuar como um martelo para quebrar as conservas coloniais e reorganizar tanto a nossa teoria quanto a nossa sociedade. Assim, seguiu-se a proposta de Moreno (2008)Moreno, J. L. (2008). Quem sobreviverá? Fundamentos da sociometria, da psicoterapia de grupo e do sociodrama. Daimon. de que o sociodrama deve atuar como resistência às tensões culturais e hostilidades provenientes de eventos locais ou mundiais, além de servir como meio de catarse e integração social.

As dores e angústias pessoais que emergiram durante as apresentações e discussões em subgrupos foram resgatadas e exploradas nas cenas. Na etapa do compartilhamento, o grupo experimentou uma sensação de fortalecimento, segurança, reconhecimento e motivação, o que evidenciou a efetividade da conjunção dos métodos de ação, dentre eles o teatro espontâneo e o sociopsicodrama como ferramentas ético-políticas para promover a inclusão de existências subalternizadas. As problemáticas pessoais foram deslocadas para a coletividade, o terapêutico e o educacional se uniram, num movimento coexistencial e de compartilhar, mostrando que o trabalho em grupo é capaz de transformar a dor individual em força coletiva.

Durante o processo, percebeu-se que houve uma superação de possíveis conservas coloniais, visto que foi possível notar – pela forma de participar e por meio do compartilhamento – pessoas mais seguras em trabalhar com a comunidade LGBTQIA+, mais motivadas em produzir artigos e trabalhos científicos sobre as temáticas discutidas e mais conscientes da necessidade de formações teóricas e metodológicas ainda mais inclusivas. No entanto, a prevalência exorbitante da cisgeneridade (que pouco reflete sobre seu lugar de privilégios) no meio acadêmico e profissional traz a reflexão sobre a necessidade urgente de descolonizar os espaços educacionais. Isso implica adotar políticas inclusivas que facilitem o acesso de corpos indígenas, com deficiência, trans, negros e LGBTQIA+ tanto como docentes quanto como estudantes. Além disso, isso também inclui a possibilidade das escolas organizarem espaços de comissões responsáveis no combate ao racismo e à LGBTfobia institucional.

A inclusão de temáticas LGBTQIA+ e raciais no psicodrama não pode ser superficial ou apenas uma forma de cumprir uma agenda. É preciso ir além de uma abordagem que apenas tangencia esses marcadores sociais e promover uma verdadeira descolonização do pensamento psicodramático e do papel de psicodramatista. Para isso, é necessário que se desenvolvam estudos e práticas metodológicas inclusivas que permitam uma compreensão ampliada sobre as vivências desses corpos marginalizados e uma escuta que incorpore o caráter ético-político de suas demandas. Isso envolve uma superação da ideia de neutralidade e objetividade, que muitas vezes são utilizadas para manter em posição de subalternidade as pessoas LGBTQIA+ e negras.

Eis a escola da anarquia: o psicodrama que se torna cada vez mais um espaço de acolhimento e de promoção da diversidade, e permite a emergência de novas vozes e perspectivas que enriqueçam o trabalho (socio)terapêutico. Trata-se da abertura para novos e múltiplos sentidos para que todas as existências sejam vivíveis. Esse movimento requer que as/es/os profissionais da área se comprometam no letramento racial e LGBTQIA+, em se educar e em atuar como agentes de mudança na luta contra a opressão e a exclusão.

Na teia da vida seguimos tecendo resistência.

  • 1
    Com base nas contribuições de Elisa Larkin Nascimento (2020)Nascimento, E. L. (2020). O teatro experimental do negro: berço do psicodrama no brasil. In M. C. Malaquias (Orgs.), Psicodrama e relações étnico-raciais: Diálogos e reflexões (pp. 17-27). Ágora., esposa do falecido sociólogo, ator, poeta, político brasileiro e criador do TEN (Teatro Experimental do Negro) Abdias Nascimento, é por meio do TEN que Alberto Guerreiro Ramos, sociólogo, pesquisador e escritor do pensamento crítico, empregou o psicodrama para o fortalecimento não apenas de um espaço de resistência e valorização da negritude, mas também como uma abordagem terapêutica. Sendo assim, é importante lembrarmos do pioneirismo da teoria moreniana no Brasil (1944) com os trabalhos de Guerreiro Ramos e que o psicodrama emergiu como forma de resistência em meio a um contexto de violência, proporcionando um espaço propício para a expressão emocional e reflexão das sequelas resultantes de um passado marcado pela escravização (Malaquias, 2007Malaquias, M. C. (2007). Percursos do psicodrama no Brasil: década de 40. O pioneirismo de Guerreiro Ramos. Revista Brasileira de Psicodrama. São Paulo, v15, n.1, pp.33-39., 2020Malaquias, M. C. (2020). Psicodrama e negritude no Brasil. In M. C. Malaquias (Orgs.), Psicodrama e relações étnico-raciais: Diálogos e reflexões (pp. 57-82). Ágora.).

AGRADECIMENTOS

Não se aplica.

  • FINANCIAMENTO

    Não se aplica.

DISPONIBILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

Não se aplica.

REFERÊNCIAS

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Editado por

Editora de seção: Marília Meneghetti Bruhn https://orcid.org/0000-0002-7078-1530

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2024
  • Aceito
    05 Abr 2024
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