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Editorial

Editorial

A Revista Psicologia & Sociedade foi novamente avaliada como Nacional A na última avaliação de Periódicos Científicos na área da Psicologia pela Comissão Capes/Anpepp. Cabe salientar que a revista ficou muito próxima de uma qualificação internacional, faltando apenas um pequeno incremento das publicações de autores estrangeiros. Queremos creditar esse resultado a todos os que colaboram com a revista, autores, pareceristas, conselho editorial, mas principalmente ao trabalho cotidiano de uma equipe dedicada. A todos, nosso muito obrigado.

O segundo número da revista deste ano traz novamente uma série de artigos de pesquisadores que trabalham no campo da Psicologia Social e em suas interfaces com as Ciências Humanas, Sociais e da Saúde. Iniciamos esse número com artigos que têm como foco temáticas teóricas e metodológicas. Beatriz Sancovschi, no artigo Sobre a noção de representação em S. Moscovici e F. Varela traz a tona um debate bastante atual. A autora se propõe a analisar o sentido de representação que está em jogo na teoria das representações sociais de Serge Moscovici e na abordagem enativa de Francisco Varela. Simone Moschen Rickes no artigo Entre a sujeição e o domínio, vibra a posição sujeito: reverberações éticas de uma concepção do sujeito como lugar enunciativo argumenta a impossibilidade de pensar o singular fora das determinações do laço social a partir da perspectiva da psicanálise. Andréa Vieira Zanella e colaboradores no artigo Questões de método em textos de Vygotski: contribuições à pesquisa em psicologia, trata principalmente as relações entre construção do problema, método e técnicas de investigação, tomando como campo de análise os três primeiros volumes das Obras Escolhidas de Lev S. Vygotski. Trata-se de uma contribuição importante para a discussão das relações entre teoria e método extremamente necessária para o trabalho de pesquisa.

Seguimos com dois textos que abordam a questão das prisões. No artigo As prisões da loucura, a loucura das prisões, Omar Alejandro Bravo a partir de laudos de sujeitos que cumprem medida de segurança na Ala de Tratamento Psiquiátrico do Presídio da Colméia de Brasília, discute como a associação do discurso psiquiátrico, do discurso jurídico e das práticas institucionais produzem uma condição de deterioração individual e social desta população que pode levar a sua cronificação institucional. Em uma perspectiva semelhante, Cristina Rauter, no artigo Clínica e estratégias de resistência: perspectivas para o trabalho do psicólogo em prisões argumenta como é possível pensar a instituição prisional como um dos componentes do dispositivo da criminalidade. Aborda as repercussões no trabalho do psicólogo nas prisões pela decadência do discurso da recuperação e o fortalecimento de práticas coercitivas e punitivas. Convida a pensar em outras estratégias de trabalho com vistas a opor resistência a essa direção, vitalizando outros processos.

A análise das novas configurações do capitalismo contemporâneo e as repercussões nos modos de trabalhar, se relacionar e ser saudável é analisada em três artigos. As implicações dos novos modos de produção capitalista nas rotinas da produção de um jornal é debatida por Paulo Henrique Rodrigues de Souza e Carmem Ligia Iochins Grisci, no artigo Trabalho imaterial e sofrimento psíquico: o pós-fordismo no jornalismo industrial . Para os autores o ritmo rápido de trabalho e a jornada extensa não são apenas importantes provocadores de sofrimento psíquico mas uma das principais causas de abandono da profissão de jornalista. No artigo Sobre a amizade em tempos de solidão, Lívia Godinho Nery Gomes e Nelson da Silva Jr. descrevem as implicações da decomposição dos laços públicos e o conseqüente aniquilamento do exercício político analisando falas de trabalhadores de cooperativas populares sobre as suas histórias de amizade. Os resultados dessa pesquisa destacam que os laços de amizade podem compor relações de acolhimento e comprometimento com o outro, nas quais se vive o vigor da solidariedade. Não obstante, as narrativas dos sujeitos também revelaram a contemporânea fragilidade dos laços sociais, o isolamento e o individualismo. Débora de Moraes Coelho e Tânia Galli Fonseca no artigo As mil saúdes: para aquém e além da saúde vigente analisam as estratégias da produção capitalista em relação às práticas de saúde dominantes e a necessária resistência e criação frente ao imperativo de adaptação aos padrões da saúde vigente.

Um tema atual e muito polêmico no âmbito das políticas públicas são ações afirmativas que instituem cotas raciais e sociais nos campos da educação e do trabalho. No artigo Ações afirmativas na educação superior: rumos da discussão nos últimos cinco anos, Fernanda Guarnieri e Lucy Melo-Silva através das bases de dados eletrônicas (SCOPUS e Jstor) fazem um mapeamento dessa discussão no cenário brasileiro considerando a diferença de posição política dos trabalhos, a ampliação do debate sobre "diversidade" e os encaminhamentos dos impasses.

Outro artigo envolvendo políticas públicas e sociais, intitulado, Igualdades e dessimetrias: a participação política em ONGs HIV/AIDS do Canadá e do Brasil Carlos Roberto Castro-Silva e colaboradores relatam que as ONGs/AIDS se constituem importantes espaços para as pessoas que convivem com o HIV/AIDS. Em um estudo comparativo entre duas organizações, os autores evidenciaram que em ambas as ONGs desencadeia-se um processo de politização da AIDS. Na ONG brasileira este processo acontece através de um envolvimento mais intenso com a dinâmica institucional, enquanto que a ONG canadense constitui-se um espaço de acesso a direitos já consolidados no país.

Mary Rute Gomes Esperandio, no artigo Narcisismo reativo e experiência religiosa contemporânea: culpa substituída pela vergonha? apresenta uma análise da experiência religiosa promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) a partir da sua proposta de sacrifício. A abordagem trabalha com a concepção de narcisismo ativo e reativo e defende a idéia de que a prática do sacrifício, tal como proposta pela IURD, articula elementos do narcisismo reativo e estabelece-se como uma tecnologia do eu, usada como remédio para lidar com a experiência contemporânea da vergonha.

O artigo Adoção de crianças por casais homoafetivos: um estudo comparativo entre universitários de direito e de psicologia de Ludgleydson Fernandes de Araújo e colaboradores discute as Representações Sociais de estudantes em fase final do curso de psicologia e de direito acerca da adoção de crianças por casais homossexuais. Os resultados patologizantes e moralizantes levam os autores a propor mecanismos que possam contribuir no debate desta temática complexa e dinâmica na sociedade contemporânea.

Fabiana Cia e Ana Lúcia Cortegoso no artigo Condutas de mediadores em processos de decisão coletiva como condição para uma educação emancipatória na Economia Solidária buscou identificar modos de ação de mediadores em processos de incubação de empreendimentos solidários compatíveis com princípios cooperativistas. Ressaltam o trato com a informação, a promoção da participação e encaminhamentos dos temas discutidos.

A reapropriação de materiais descartados como lixo é tema de debate do texto Sucata vira brinquedo: tradução a partir de restos. Nele, Maria de Fátima Aranha de Queiroz e Melo e colaboradoras acompanham uma equipe de uma brinquedoteca universitária em projeto cujo objetivo tem sido transformar sucata em brinquedo.

O trabalho Significando a morte, através de redes sociais, em um contexto de vulnerabilidade social de Vládia Jamile dos Santos Jucá buscou investigar os processos de significação da morte de crianças pré-escolares pobres. O contexto de vida dessas crianças é marcado por freqüentes mortes decorrentes de conflitos relacionados ao tráfico de drogas. As entrevistas realizadas com crianças, pais e educadores revelou a dificuldade dos adultos abordarem essa temática que frequentemente aparece pela fala e brincadeiras das crianças.

Concluímos o presente número com a resenha feita por Rosane Neves da Silva do Livro "História da psicologia: rumos e percursos" organizado por Ana Maria Jacó-Vilela, Arthur Arruda Leal Ferreira e Francisco Teixeira Portugal, publicado pela NAU Editora em 2006.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Cleci Maraschin

Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Out 2007
  • Data do Fascículo
    Ago 2007
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