Resumo
Neste artigo, propomos uma leitura compreensiva da primeira experiência afetivo-sexual com intercurso genital - “primeira vez” - de universitários/as de duas gerações distintas, através das categorias analíticas ator/atriz, cena, cenário e roteiro. Com esse propósito, realizamos, inicialmente, uma breve apresentação dessas categorias, conforme as entendemos a partir da Teoria Dramatúrgica de Erving Goffman e da Teoria dos Scripts Sexuais de Jonh Gagnon e William Simon, ambas herdeiras da tradição interacionista da Escola de Chicago. Em seguida, compartilhamos alguns dos resultados de uma pesquisa de cunho etnográfico, que teve como um de seus objetivos a compreensão dos significados construídos pelos/as entrevistados/as em torno de suas primeiras experiências afetivo-sexuais, bem como dos cenários culturais que guiaram suas cenas de “primeira vez”, conforme sua posição geracional e de gênero.
Palavras-chave: sexualidade; geração; gênero; cenas; cenários
Resumen
En este artículo, proponemos una lectura comprensiva de la primera experiencia afectivo-sexual con intercambio genital - “primera vez” - de universitarios/as de dos generaciones distintas, a través de las categorías analíticas actor/actriz, escena, escenario y guión. Con este propósito, realizamos, inicialmente, una breve presentación de estas categorías, conforme las entendemos a partir de la Teoría Dramatúrgica de Erving Goffman y de la Teoría de los Scripts Sexuales de Jonh Gagnon y William Simon, ambas herederas de la tradición interaccionista de la Escuela de Chicago. En seguida, compartiremos algunos de los resultados de una investigación de cuño etnográfico, que tuvo como uno de sus objetivos la comprensión de los significados construidos por los/las entrevistados/as en torno a sus primeras experiencias afectivo-sexuales, así como de los escenarios culturales que guiaron sus escena de la “primera vez”, conforme su posición generacional y de género.
Palabras clave: sexualidad; generación; género; escenas; escenarios
Abstract
We propose in this paper a comprehensive reading of the first affective-sexual experience with genital intercourse - the “first time” - of university students from two different generations, using the analytical categories of actor / actress, scene, scenery and scripts. With this purpose, we initially perform a brief presentation of those categories based on our understanding of Erwin Goffman’s Dramaturgical Theory and on John Gagnon’s and William Simon’s Theory on Sexual Scripts, both heirs of the interactionist tradition of the School of Chicago. We then share some of the results of an ethnographic research which aimed, as one of its goals, to understand the meanings constructed by the interviewed subjects of both genders around their first affective-sexual experiences, as well as of the cultural sceneries that guided their “first time” scenes, according to their generational and gender positions.
Keywords: sexuality; generation; gender; scenes; sceneries
Introdução
Em artigo publicado no ano de 2008, Vera Paiva, parafraseando Carole Vance (1995), faz uma provocação aos psicólogos/as: a Psicologia redescobrirá a sexualidade? Nesse artigo, a autora resume em duas formas as diferentes teorizações que foram sendo construídas, em especial ao longo do século XX, e que coexistem contemporaneamente no campo da pesquisa sobre sexualidade. Citando uma obra que considera um divisor de águas nesse campo de estudo, Conceiving Sexuality, em cuja introdução Gagnon e Parker (1995) chamam de sexológico o período de 1890 a 1980, e de construcionista aquele que se inicia a partir dos anos 60 do século XX, a pesquisadora traz algumas considerações importantes.
O período sexológico se iniciou com poucos ativistas e pesquisadores que buscavam trazer a temática da sexualidade para o campo da produção científica e secular. Durante esse período, a sexualidade esteve associada às ideias de impulso, força natural que se opunha à civilização e à cultura. A grande contribuição dos estudos desse período foi, segundo Paiva (2008), naturalizar o prazer no mundo da tradição judaico-cristã e legitimar a sexualidade dissociada da reprodução, o que se tornou possível, sobretudo, com a massificação da pílula anticoncepcional. O seu maior problema foi produzir em torno da sexualidade um discurso normalizador, que até hoje trabalha classificando e hierarquizando os sujeitos.
A abordagem construcionista surge por volta dos anos 60 do século XX e inicia uma longa discussão em oposição à ideia do sexo como vida instintiva ou impulsiva. Uma versão mais radical do construcionismo considera que o próprio desejo sexual é construído pela cultura e pela história a partir das capacidades do corpo, não existindo nenhum tipo de impulso, pulsão ou apetite sexual essencial e indiferenciado. Uma versão mais moderada aceita um desejo inerente, construído socialmente em termos de atos, identidade, comunidade, escolha de objeto. O contraste entre as posições mostra que os construtivistas têm divergências entre si, e não somente com aqueles pesquisadores da sexualidade que trabalham sob as perspectivas essencialistas e da influência cultural. Apesar das diferenças, esclarece Vance (1995, p. 16), as abordagens construcionistas ou construtivistas compartilham a ideia de que “atos sexuais fisicamente idênticos podem ter importância social e significado subjetivo variáveis, dependendo de como são definidos e compreendidos em diferentes culturas e períodos históricos”. Essa confrontação das ideias essencialistas em torno da sexualidade guarda estreita relação com as interpelações do movimento feminista e do movimento homossexual dos anos 1960/1970, cujas bandeiras de luta em vários países colocavam em questão muito das ideias essencialistas em torno de gênero e sexualidade. Foram esses movimentos os principais responsáveis pela explosão de estudos sobre sexualidade no campo das ciências humanas, aprofundando a crise do paradigma sexológico.
Conforme observa Paiva (2008), a produção científica brasileira contemporânea no campo da sexualidade é abundante e influente internacionalmente no campo das ciências humanas e sociais e está sintonizada com essa mudança de paradigma. Destaca que psicólogos brasileiros têm redescoberto a sexualidade a partir da perspectiva construcionista, mas compreende que é necessário dar espaço para esses pesquisadores nos cursos de formação para psicólogos, de modo a preparar os aspirantes à psicologia para os desafios que o século XXI impõe. Paiva (2008), responsável por uma das mais sérias e inventivas pesquisas no cenário de desconstrução de certezas provocado pela AIDS, considera que, embora o senso comum pense o psicólogo como profissional preparado para trabalhar com a sexualidade, raramente ele é formado para lidar com a sexualidade em contextos não-clínicos (Paiva, 2008). Concordamos com Paiva (2008) e acrescentamos que, na psicologia, o campo da pesquisa sobre sexualidade carece de uma discussão coletiva e crítica acerca das abordagens possíveis de leitura do fenômeno sexualidade. Como ela descreve, referindo-se às pesquisas em torno do HIV/AIDS - epidemia que, junto a outros fatores, foi responsável pelo crescimento da produção científica sobre a temática da sexualidade nos anos 80 -, “fala-se de comportamentos e práticas sexuais de risco, sem sentido, sem contexto, sem pessoa” (Paiva, 2008, pp. 642-643). Outros discursos focalizam “o desejo”, “a negação”, “a resiliência”, “a crença”, etc., mas “e o sexo?”, indaga a pesquisadora (Paiva, 2008, p. 643).
Neste artigo, de uma perspectiva construcionista e interativista, propomos uma leitura compreensiva da primeira experiência afetivo-sexual - cena de “primeira vez” - de universitários/as de duas gerações distintas, através das categorias analíticas ator/atriz, cena, cenário e roteiro. Com esse propósito, realizamos uma breve apresentação dessas categorias, conforme as entendemos a partir da Teoria Dramatúrgica de Erving Goffman (2012, 2013) e da Teoria dos Scripts Sexuais de Jonh Gagnon e William Simon (2005) e Gagnon (2006), ambas herdeiras da tradição interacionista da Escola de Chicago. Em seguida, compartilhamos alguns dos resultados de uma pesquisa de cunho etnográfico, que teve como um de seus objetivos a compreensão dos significados construídos pelos/as entrevistados/as em torno de suas primeiras experiências afetivo-sexuais, bem como dos cenários culturais que guiaram suas cenas de “primeira vez”, conforme sua posição geracional e de gênero.
Cenas, cenários, roteiros, atores na interação sexual
Um livro-marco na discussão de base construcionista em torno da sexualidade é Sexual Conduct, the social sources of human sexuality, em que os autores, Jonh Gagnon e William Simon (2005), sugerem o termo script para enfatizar o caráter roteirizado da sexualidade. Na concepção de Gagnon e Simon (2005), o comportamento sexual é aprendido e possibilitado não por instintos ou exigências fisiológicas, mas por roteiros intrapsíquicos e interpessoais complexos, específicos de determinados contextos culturais e históricos. Para esses autores, o scripting (o roteiro) define com quem, o que, onde, quando e o porquê do comportamento sexual - guiando nossa sexualidade nos níveis pessoal, interacional e histórico-cultural. Dada a sua afinidade em relação ao trabalho de autores ligados à tradição interacionista, particularmente àquele desenvolvido por Erving Goffman (2012, 2013), o roteiro da vida sexual é dramático, performático, improvisado, criado a partir de todas as artes e ferramentas de apresentação e interpretação simbólica (Plummer, 2005). É uma prescrição socialmente aprendida, que mantém certa abertura, capaz de permitir que o/a ator/atriz social criativamente opere inovações e transgressões.
Para Gagnon e Simon (2005, citados por Escoffier, 2006, p. 21), “os indivíduos usam sua habilidade interativa, bem como material de fantasia e mitos culturais, para desenvolver roteiros (com deixas e diálogos apropriados) como um modo de organizar seu comportamento sexual”. Uma abordagem inteiramente consonante não somente com a abordagem construcionista, como também com as perspectivas interacionistas da Escola de Chicago, onde Gagnon teria se formado. Gagnon fez parte da ponta mais jovem de uma geração de Chicago que incluiu Erving Goffman, Howard Becker, Albert Reiss, dentre outros. Para Jeffrey Escoffier (2006, p. 22),
a roteirização de Gagnon e Simon é uma síntese da tradição interativista de Chicago, da explicação de Burke sobre o contexto social e a ação simbólica e da análise freudiana da vida de fantasia e da faceta intrapsíquica da sexualidade. No entanto, seu pressuposto sociológico mais importante é a ênfase de Mead [reconhecidamente interacionista] na assunção de papéis, que se refere à capacidade de os atores sociais preverem o comportamento situacionalmente específico de seus parceiros de ação. (Escoffier, 2006, p. 22)
“O roteiro é a organização de convenções mutuamente compartilhadas que permite que dois ou mais atores participem de um ato complexo, que envolva a dependência mútua” (Gagnon & Simon 2005, p. 18). Para Gagnon e Simon (2005) e Gagnon (2006), a roteirização sexual se organiza em torno da interação dinâmica entre três níveis de experiência: (a) o intrapsíquico, nível da vida subjetiva, que inclui sistemas de significação pessoal/cultural internalizados nas relações intersubjetivas, planos de futuro, guias para a ação atual e esquemas de rememoração; (b) o interpessoal, das interações sociais, como a que se dá entre os/as parceiros/as sexuais; e (c) o cultural ou “cenário cultural”, em que estão as instruções (baseadas nas regras sociais e nos significados compartilhados no contexto de instituições como igreja, família, escola etc.) sobre como as pessoas, a depender do seu gênero e camada social, por exemplo, devem ou não devem comportar-se sexualmente.
O indivíduo, por sua vez, é um performer, um/a ator/atriz social, “que atende às expectativas de outras pessoas e norteia sua conduta em termos da conduta alheia” (Gagnon, 2006, p. 225). Nas palavras de Goffman (2013), “um atormentado fabricante de impressões envolvido na tarefa demasiadamente humana de encenar uma representação” (Goffman, 2013, p. 270), o/a ator/atriz social precisa aprender um conjunto de técnicas e formas de expressão que lhe permitam “preencher” e dirigir qualquer papel que lhe seja dado a representar. Goffman (2013) ressalta, porém, que isso não significa que nas performances da vida cotidiana - como aquela que acontece na cena sexual - o/a ator/atriz social saiba de antemão o que fazer, representando conscientemente seu papel. Ao contrário, as expressões que ele emite são frequentemente inacessíveis a ele/ela, o que não o/a impede de realizá-las com uma criativa maestria, graças ao processo de aprendizado sociocultural. Conforme destaca Gagnon (2006, p. 226), “na interface da cultura e da vida mental, o indivíduo é plateia, crítico e revisor, à medida que o material dos cenários culturais é importado para os roteiros intrapsíquicos. Na interface entre a interação e a vida mental, o indivíduo é ator, crítico e dramaturgo”.
Os recursos expressivos utilizados pelo/a ator/atriz social para definir uma situação de interação (sexual, nesse caso) e atuar com o mínimo de riscos de embaraço constituem um dos elementos daquilo que Goffman (2012, p. 34) convencionou chamar “fachada”. “Fachada, portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação” (Goffman, 2013, p. 34). O equipamento expressivo que identificamos mais intimamente com o/a ator/atriz social, e que esperamos que o/a siga para aonde quer que ele/a vá com certa estabilidade, Goffman (2013, p. 36) chama de “fachada pessoal”. São espécies de distintivos da função ou categoria a que previamente pertence o/a ator/atriz relativas à sua posição de gênero, étnico-racial, etária, geracional, profissional, socioeconômica, tanto quanto aos seus padrões de linguagem, gestos corporais, expressões faciais etc., veículos relativamente fixos ou transitórios que lhe servem de transmissores de sinais, responsáveis por projetar uma imagem de si.
O cenário, na terminologia de Goffman (2013), seria o referente para pensar as partes cênicas do equipamento expressivo que envolvem e dão suporte à encenação do/a ator/atriz social. O cenário seria uma estrutura mais fixa, um lugar, uma ambiência que oferece o enquadramento à cena interativa entre os/as atores/atrizes sociais. Na acepção da Teoria dos Scripts Sexuais, a ideia de cenário apresenta um caráter menos fixo, envolvendo a dimensão cultural de forma mais sistematizada que em Goffman, e diretamente relacionada ao campo da atividade sexual. Segundo Gagnon (2006), são esses cenários culturais que fornecem os guias de ação, schematas1 de interpretação para qualquer atividade humana situada, inclusive a sexual. O comportamento sexual é provocado - não exclusivamente determinado - mais pelo tecido simbólico que compõe o contexto de ação dos sujeitos do que impulsionado por seus estados internos. “Nas sociedades complexas, esses cenários culturais [com suas instruções] da sexualidade não são monolíticos nem hegemônicos, nem mesmo dentro das instituições [família, igreja, escola etc.]”. Há, de acordo com Gagnon (2006, p. 224), “uma luta constante entre grupos e indivíduos para promover seus próprios cenários”.
Nos termos de Goffman (2012, 2013) e de Gagnon (2006), poderíamos afirmar que a cena é a representação em seu fluxo, ela ganha vida através da atuação dos/as atores/atrizes no desempenho de seus papéis roteirizados. A cena é o momento em que o indivíduo se apresenta aos outros, ocasião em que tende a manter uma performance ideal, ou seja, uma representação que atenda à situação de interação e aos signos culturais que lhe fornecem guias de ação adequados. Numa cena, o/a ator/atriz social, com frequência, busca manter uma compatibilidade confirmadora entre “fachada pessoal” e cenário, mas pode também operar fissuras no roteiro, transgredindo-o e criando novas cenas. Isso porque, no nível intrapsíquico, o indivíduo é, para além de plateia e ator, um dramaturgo, um fantasista, memorialista e utopista que, trabalhando com os materiais da interação e da cultura, cria alternativas inovadoras a fim de lidar com a natureza problemática da interação sexual.
Os/as participantes, a entrevista e as categorias gênero e geração
Dois grupos geracionais participaram da pesquisa que apresentamos através deste artigo. Faziam parte do grupo geracional mais novo, “geração anos 2000”, oito jovens universitários (quatro do sexo feminino e quatro do sexo masculino), com faixa etária entre 19 e 29 anos de idade. Faziam parte do grupo geracional mais velho, “geração anos 60/70”, oito pessoas adultas (cinco do sexo feminino e três do sexo masculino) com faixa etária entre 56 e 65 anos de idade na ocasião da entrevista, jovens, porém, ao longo dos anos 1960/1970, tempo a partir do qual narram suas cenas e cenários de “primeira vez”, guiados por roteiros característicos dessa localização.
O critério comum que unia os dois grupos geracionais era o fato de que ambos haviam experimentado parte da juventude no contexto da vida universitária, em instituição de ensino superior sediada em Salvador: a Universidade Federal da Bahia. Unidos por esse ponto em comum, diferenciavam-se, entretanto, em função da idade e do tempo histórico (cenário cultural) em que, transitando para a vida adulta, viveram não somente a experiência de tornarem-se universitários/as, como suas primeiras experiências afetivo-sexuais. No interior de cada grupo geracional como entre os diferentes grupos, as cenas de primeira vez aproximam-se e afastam-se ainda, tal qual um caleidoscópio, conforme seja a posição de gênero (mais explorada neste artigo), a camada social e a posição étnico-racial dos sujeitos.
A idade, reconheça-se, é, historicamente, um elemento estruturador das relações da vida social, assim como o gênero; e a vivência geracional é parte essencial da dinâmica coletiva que impele à continuidade social, tanto quanto à mudança, ambas as esferas participando fundamente das relações de poder, sempre desiguais, na sociedade. Impossível, portanto, menosprezar a importância analítica da dimensão sociotemporal das idades/gerações, tanto na percepção das afinidades sociais como na construção das diferenças e desigualdades. (Britto da Motta, 2010, p. 173)
Sobre o trabalho de campo, vale dizer que, por se tratar de uma pesquisa de cunho etnográfico, deparamo-nos com o fato de a atividade sexual humana estar circunscrita ao domínio da intimidade, o que já coloca um impedimento para o uso de técnicas clássicas nesse tipo de abordagem, como a observação participante. Nesse campo de estudos - sexualidade - é, então, à técnica da entrevista que se costuma recorrer no processo de produção dos dados. Nesta pesquisa, a entrevista foi realizada de forma individualizada, em ambiente livre de interferências de terceiros, e de acordo com a proposta compreensiva desenhada por Kauffman (1996). Depois, foram analisadas sem que se perdessem de vista os roteiros intrapsíquicos, interpessoais e os cenários socioculturais que orientaram as experiências de “primeira vez” dos/as participantes.
Sobre o método de seleção dos/as participantes: o convite era feito diretamente ao/à jovem, em encontros casuais nos campi da universidade, onde circulávamos com frequência, ou através de indicação de pessoas de nossa rede de sociabilidade dentro e fora da universidade. Esta última modalidade de seleção dos/das participantes foi muito comum no caso da geração mais velha, visto que muitos desses sujeitos já não faziam parte do contexto universitário na ocasião da entrevista. Por questões éticas, nunca combinávamos uma entrevista num primeiro contato, nem tampouco se permitia que tudo fosse acertado entre os próprios participantes. Quando o convite era feito, diretamente por uma de nós, em encontros informais, ou via indicação dos próprios participantes ou de nossa rede de sociabilidade, os possíveis informantes eram avisados de que entraríamos em contato via telefone ou e-mail, como preferissem, para explicar mais detalhes sobre a pesquisa e a entrevista, e que eles poderiam se sentir à vontade para aceitar ou não a proposta. Antes de iniciar a entrevista, tínhamos o cuidado de entregar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que o/a possível entrevistado/a pudesse tomar conhecimento do teor da pesquisa, optando por sua participação ou não, de forma consciente e livre. Esse termo compõe o projeto de pesquisa protocolado com o número 129.2011, e aprovado pelo Comitê de Ética em quatorze de fevereiro de 2012, período anterior à etapa de ida a campo.
Os scripts sexuais, as cenas e os cenários de primeira vez
A experiência de primeira vez parece, de fato, constituir-se como uma ruptura esperada entre os/as jovens, porém vivida com mais urgência pelos homens que pelas mulheres, independentemente da geração estudada. Talvez porque, mesmo para as jovens mulheres da geração mais recente, a virgindade ainda mantenha o status de “bem” a ser preservado. Certamente não até o casamento, como sucedeu em gerações anteriores, mas ao menos até achar o “cara certo” e o “momento certo”. Não significa dizer que elas não anseiem por esse evento de iniciação à sexualidade genital, a nosso ver; apenas aprenderam a esperar mais discretamente, com maior parcimônia (Bozon, 2004).
Eu acho que era uma coisa inevitável, sabe, porque a gente já tava caminhando pra esse fim mesmo. Os encontros tendiam a ficar mais picantes, né, mais intensos... Não achei que foi nada especial, mas também não foi nada de extraordinário não. Não doeu, mas também não senti muito prazer. (Eva2, geração anos 2000)
Dois aspectos podem ser destacados nesse trecho da narrativa de Eva sobre a cena de “primeira vez”. O primeiro aspecto diz respeito ao caráter gradual que marca a experiência de iniciação da jovem, segundo Bozon (2004), uma novidade contemporânea. Ele observa que a transição para a sexualidade genital, que em gerações precedentes poderia ocorrer sem nenhuma ou com pouca preparação, atualmente se estendeu. Existe hoje um modelo de exploração física por etapas, tal como também descrevem Gagnon e Simon (2005), na realidade norte-americana: beijos profundos, carícias corporais, carícias genitais e, finalmente, penetração genital. Processo que hoje se realiza por vários meses/anos e cada vez menos com o/a mesmo/a parceiro/a. O segundo refere-se ao fato de que o evento, embora também esperado pelas mulheres, não resulta num sentimento de satisfação; ao contrário, mostra-se, com frequência, associado a uma sensação de desapontamento que se expressa em frases como a de Eva: “não foi nada de extraordinário”. O prazer, em geral, aparece nas narrativas das cenas de iniciação femininas por sua ausência - “não senti muito prazer” -; ao menos não na primeira vez, mas, de fato, como sublinha Bozon (2004), em função dessa etapa preparatória de construção da intimidade, diminuiu-se a possibilidade de o evento configurar-se como uma experiência traumática, especialmente para a geração mais nova.
Do ponto de vista geracional, notamos que a “primeira vez” acontece mais cedo para a “geração anos 2000” que para a “geração anos 60/70”3, e é também precedida por uma fase de ampla experimentação através de relacionamentos eventuais e sem compromisso do tipo “ficar” (Rieth, 2002), nos quais estão presentes beijos, carícias, “amassos”, sem que haja, necessariamente, envolvimento sexual do tipo genital, especialmente no caso das mulheres. Como observam outras pesquisas sobre sexualidade, estas últimas, em geral, iniciam-se, sexualmente, no contexto da primeira experiência amorosa. Os homens não parecem considerar o amor um ingrediente indispensável para que a primeira experiência sexual aconteça e, em ambas as gerações, iniciam-se antes das mulheres.
Em termos geracionais, a diferença está, como dissemos, na antecipação dos calendários de entrada na sexualidade adulta, mas não somente; também está na interiorização da atividade sexual, que, especialmente para os/as jovens de camadas médias da “geração anos 2000”, tem agora o quarto do/da jovem como cenário e é “consentida” pela família, e na generalização do caráter de experimentação que assume a primeira etapa do processo de aprendizado da sexualidade adulta tanto para homens como para mulheres da “geração anos 2000”. É, por outro lado, o significado atribuído às experiências de iniciação que aproxima as duas gerações, ao tempo que as separa internamente, conforme o gênero dos atores sociais. Em pesquisa comparativa entre nas cidades do Rio de Janeiro e de Paris, Bozon e Heilborn (2001) observaram que tanto no Rio como em Paris as mulheres nunca citam uma experiência com caráter unicamente sexual quando se referem à sua “primeira experiência amorosa”: essa primeira experiência é marcada por um forte teor afetivo em ambos os contextos.
Das nove mulheres entrevistadas na pesquisa aqui apresentada, somente uma não acompanhou o script descrito por esses autores, iniciando-se, ao contrário, no contexto de uma relação, segundo ela, sem amor ou romantismo. As narrativas das demais entrevistadas deixam ver a importância que as mulheres costumam dar, ainda hoje, à afetividade e à evolução da intimidade no contexto do namoro, para que a cena de iniciação aconteça.
Como observaram Bozon e Heilborn (2001), a atitude dos homens face à questão é menos uniforme que a das mulheres, quer na França, quer no Brasil. Segundo Bozon e Heilborn (2001, p. 6), “a tendência a considerar a sexualidade e o sentimento duas realidades separadas, que apenas temporariamente pode-se aspirar reunir, é uma atitude dominante entre os homens”. Na pesquisa que ora apresentamos, diante do relato masculino, temos a impressão de que afeto e sexo podem estar desconectados, desde que se cumpra esse “ritual de passagem” que lhes garante a confirmação de sua masculinidade.
Na experiência de Manuel, jovem negro e de camada popular da “geração anos 2000”, essa separação entre afeto e sexo fica muito clara. Quando pedimos que conte a primeira experiência amorosa, ele responde: “Eu estava com uns 12 anos, na sexta série ainda. Aí a gente sempre trocando aqueles olhares assim apaixonados”. A seguir, perguntamos se foi com essa menina que ele teve a sua primeira experiência sexual. Ele, então, inicia sua resposta da seguinte maneira: “Não. Foi dois anos depois... minha primeira experiência sexual foi com uma menina do bairro onde eu moro, bem mais velha do que eu, ela já tinha uns 18 mais ou menos, eu tinha 14”.Perguntamos, então: e como foi sua primeira vez?
Ah, foi na rua [aumenta o tom de voz], a gente namorava, pouco tempo é verdade. Ela não era mais virgem. Eu ainda era, mas não revelava. Na minha condição de menino, jamais eu ia dizer pra uma namorada que eu... aí eu não disse pra ela, mas aí a gente foi namorando na rua escondido, até que um dia finalmente aconteceu. Foi... eu me achava dominando a situação, mas hoje eu percebo que foi trágico. Mas [sorri], no fim das contas aconteceu. (Manuel, geração anos 2000)
O conceito de cena, oriundo da teoria dramatúrgica de Goffman (2012, 2013), e mais tarde desenvolvido por pesquisadores/as da sexualidade que dialogam com as ideias de base interacionistas e construcionista, nos fornece como possibilidade uma análise da complexa relação performer-cultura. A cena nos permite ver, nas ações/performances do ator, as suas schematas de interpretação. O conceito tem a vantagem de englobar o sujeito e seus diálogos intra/interpessoais sem dispensar o cenário no qual a cena se torna possível em função da interseção de marcadores sociais como gênero, camada social, idade/geração etc.
Paiva (2000) considera que a cena sexual, ao contrário dos scripts, é única, o que não significa dizer que é uma experiência estritamente subjetiva. Ao contrário, ela estará sempre impregnada da personificação das normas coletivas que circunscrevem a interação sexual dentro de certos scripts diferenciados de acordo com marcadores sociais como o sexo/gênero dos indivíduos, o que significa dizer que é resultado do amplo processo de internalização/externalização dos signos e significados compartilhados culturalmente (Valsiner, 2012) em torno do masculino e do feminino. Segundo Paiva (2000), a cena sexual é diferente, dependendo do lugar (cenário) e horário onde ganha concretude, bem como dos recursos sociais disponíveis (informações, dinheiro, camisinha etc.) e dos recursos pessoais (aparência, capacidade de comunicação, identidade sexual atribuída ou autorreferida, experiência sexual, autoestima, apoio da família ou de amigos). Finalmente, a cena é composta diferentemente por práticas, ações (beijo, tipo de manipulação, penetração).
Na cena apresentada por Manuel, vários elementos apontados por Paiva (2000) são apresentados: primeiro, ele refere-se ao cenário em que a situação se desenhou: foi na rua, o que, de um lado, é indicativo das condições de vida, ou seja, dos recursos disponíveis (dinheiro, camisinha); de outro, é indicativo da brevidade e do grau de improvisação em que se deu a cena, à custa de não serem surpreendidos por terceiros; segundo, ele refere-se ao fato de que sua parceira era mais velha que ele e que não era mais virgem, o que pode ter se configurado como elemento facilitador; terceiro, ele era virgem e, portanto, inexperiente do ponto de vista sexual, mas, “na condição de menino”, não revelava.
Se, de um lado, a noção de cena nos ajuda a compreender a singularidade da situação vivida por cada ator ou atriz social, é a noção de script, nela inclusa, que nos permite encontrar os rastros dos signos culturalmente compartilhados em torno do masculino e do feminino no modo como os atores, na condição de homens e mulheres, “meninos” ou “meninas”, como diz Manuel, relatam a cena sexual de primeira vez. De modo geral, as pesquisas em torno do assunto sublinham que a narrativa dos homens sobre a “primeira vez” tem uma ênfase no aspecto técnico da situação. Leal e Knauth (2006), por exemplo, ao analisarem a iniciação sexual masculina, observam que “os homens, tanto do segmento popular quanto dos segmentos médio e alto, centram-se na descrição técnica, por assim dizer, da cena de iniciação: local, duração, posições” (Leal & Knauth, 2006, p. 1378). Segundo as pesquisadoras (2006, p. 1377): “no caso dos homens, a sexualidade aparece despida de expectativas românticas; a sexualidade masculina pertence ao domínio da corporalidade”.
A descrição da cena de primeira vez dos homens que participaram desta pesquisa também é, em sua maioria, objetiva e técnica: descrevem o local, a duração do ato, a idade deles e a da parceira, revelando grande incômodo com a imperícia em relação ao manejo do próprio corpo ao longo da cena, bem como frente ao corpo de sua primeira parceira sexual. O que aproxima a narrativa retrospectiva dos homens, independente da geração e, portanto, do cenário sociocultural em questão, é uma espécie de autoavaliação negativa da performance na situação/cena de primeira vez e a sensação de que “não sabia o que estava fazendo”. A questão da inexperiência aparece nessas narrativas como algo que incomoda os homens na situação de primeira vez, o que já não ocorre com as mulheres, que “devem”, pelo menos é o que está prescrito no roteiro, e “preferem” parecer inexperientes.
Nem me lembro direito... Foi... muito cheio de mão, né, porque era para os dois a primeira vez, né? Então... não tinha muita noção do que fazer, de como me comportar, foi... eu acho que foi difícil. Não foi aquela... assim, pra a imagem que nós meninos tentamos passar pras mulheres e pros outros homens porque você sabe que quando os homens contam essas coisas pode cortar a metade. (João, geração anos 60/70)
Desde Giddens (1993), ouvimos referências ao modo particular como homens e mulheres contam sobre suas experiências afetivo-sexuais. Os primeiros estão, sem dúvida, muito mais preocupados com o seu desempenho sexual, isso faz parte do script, é como se eles estivessem se testando ou em teste, e de fato estão. Seguindo esse roteiro, Lázaro, um jovem branco de camada média da “geração anos 2000”, também se avalia muito mal em sua primeira vez: “a pessoa era ruim pra caralho... eu acho que a menina, pô, eu não sei nem como é que ela conseguiu... pô, eu não tinha muita noção do que estava fazendo ”, e era ruim justamente porque ele era virgem e não tinha muita noção do que fazer diante da menina. Aliás, importante observar que uma autoavaliação performativa só ocorreu no relato masculino. Os homens não se sentem à vontade nesse lugar de “não saber sobre o sexo”. Assim, quando pensam sobre a sua “primeira vez”, frequentemente recriminam-se pela imperícia que marca essa experiência de iniciação. É como se tivessem obrigação de mostrarem-se hábeis na arte da sexualidade.
As mulheres, ao contrário, sentem que o idealmente esperado, socialmente falando, é que elas não saibam ou saibam pouco, ao menos inicialmente. O lugar de saber pode conceder-lhes uma imagem de vulgaridade que não corresponde às expectativas em torno do comportamento das mulheres na cena sexual, particularmente na cena de “primeira vez”, seja aquela em que a menina tem a sua primeira relação sexual, seja aquela que corresponde ao primeiro encontro sexual com um parceiro de sexo oposto. Nesse cenário de restrições, Elsa, uma jovem negra e de camada popular da “geração anos 2000”, nos conta sobre a sua “primeira vez” com seu segundo namorado:
foi, foi sim, porque a nossa primeira vez foi aquela coisinha bem tradicional, até a posição, bem tradicional, por quê? Porque também eu tinha medo de me expor, eu tinha minhas vontades, mas eu me segurava pra ele não me achar vulgar.
Como observa Le Breton (2009) em As paixões ordinárias, é em consonância com as orientações e simbologias sociais e culturais que o indivíduo move seu corpo, interagindo com o outro. Mas não apenas a partir delas, também segundo o seu temperamento e história pessoal. Assim, o comportamento corporal de Elsa tenta corresponder ao que socialmente se espera de uma mulher em suas primeiras relações com um homem, o que nos remete àquilo que Le Breton (2009, p. 95) chamou de “anseio individual de controlar as representações que os outros fazem de si e de expor a imagem pessoal [que considera] mais propícia”.
No que diz respeito ao cenário, vale dizer que a “primeira vez” foi, para homens e mulheres das duas gerações estudadas, uma experiência vivida, em geral, às escondidas, em contextos e condições muitas vezes adversas. Como observa Pais no contexto português (2012, p. 141), “um problema recorrente entre os jovens que pretendem ter relações sexuais é onde. Para começar, há a preocupação em garantir um espaço de privacidade e intimidade, livre de intrusos de vária estirpe”. Isso porque, se a sociedade, veladamente ou não, permite, sobretudo atualmente, o exercício da sexualidade na juventude, a experiência de iniciação se concretiza quase sempre numa situação ambígua de autonomização sem independência.
Para a geração mais velha, independentemente do gênero, o carro aparece como um dos poucos recursos possíveis, seguido do motel e do apartamento conquistado com o ingresso no mundo do trabalho via formação universitária. O acesso a casas de prostituição também aparece na experiência dessa geração, mas associada ao “universo masculino”. Assim, quando perguntamos sobre onde aconteceu a primeira vez, João responde que foi em seu carro, mais precisamente no “desconforto de seu carro”, nas palavras dele. Laura, da mesma geração que João, também lembra que sua primeira vez ocorreu num carro. Chama a atenção, em sua narrativa, uma expressão ainda comum nessa época - “Me tirou a virgindade” -, um discurso conservador que coexiste, nesse período, com todas as proposições libertárias do feminismo. Como observa Del Priori (2006), não obstante o ressurgimento do movimento feminista nos anos 1970 no Brasil, a suposta “revolução sexual” por ele mobilizada manteve, por muito tempo, uma face oculta: “o discurso normativo, a pressão do grupo, a culpa, a diferença entre mulheres certas: as que ‘não davam’ - e erradas - as ‘que davam’.” (Del Priori, 2006, p. 327), revelando a tensão entre valores tradicionais e valores modernos.
Para homens e mulheres da geração mais nova, o evento também ocorre às escondidas, mas, ao menos para os/as entrevistados/as das camadas médias, em situações menos adversas: na casa dos pais, enquanto estes últimos fazem uma viagem ou saem para algum passeio, ou numa pousada, no contexto de uma viagem a dois.
Aproximações e distâncias entre gêneros e gerações
Tomando como lente de análise a posição de gênero, é possível afirmar que para os homens, independente do grupo geracional, a “primeira vez” significou um marco importante no reconhecimento social do self como masculino. A virgindade apareceu nos relatos como uma marca incômoda de falta de experiência, um elemento que deixa em aberto a definição da masculinidade dos rapazes, uma espécie de selo do qual eles desejam livrar-se o mais brevemente possível, afastando assim a suspeita da homossexualidade. Isso se verifica no fato de que, em ambas as gerações, são eles os que se iniciam primeiro, quando comparados com as mulheres. Assim, a experiência de primeira vez constituiu-se como uma ruptura esperada, independentemente do gênero, porém, vivida com mais urgência pelos homens do que pelas mulheres. Para estas últimas, amor e sexo precisam estar juntos na cena de “primeira vez”, sendo o primeiro uma condição para que o segundo aconteça.
Tomando como lente de análise a posição geracional, observamos, na passagem de uma geração para a outra, tanto uma antecipação do calendário de entrada na vida afetivo-sexual quanto uma interiorização da atividade sexual juvenil. A “geração anos 2000”, diferentemente da “geração anos 60/70” - que viveu a sua sexualidade num cenário de forte ambivalência entre valores tradicionais e valores modernos -, tende a viver as primeiras experiências sexuais no interior da casa dos pais, em geral quando esses não estão presentes. Com o desenrolar da relação, os/as jovens ganham cada vez mais crédito com a família que, gradativamente, consente a atividade sexual no seio da casa. O consentimento, ao que tudo indica, não é claramente expresso pela família, ele é entendido no jogo interativo em que o/a jovem vai ampliando seu espaço privado no cotidiano da família, e esta última não coloca impedimentos para a participação do “casal” no cotidiano da casa, principalmente quando há evidências de uma relação mais duradoura e firmada na afetividade. Entretanto, vale dizer, essa interiorização não está disponível para todos os casos estudados. Se o quarto particular do/a jovem na casa da família é hoje o cenário e o recurso possível para a atividade sexual nas camadas médias, é muitas vezes a rua, um motel de péssima qualidade, a casa de um amigo/a que serve ao/à jovem de camada popular que, em geral, encontra muitos percalços para viver sua sexualidade e anseia, como nenhum outro/a, a conquista de sua independência. Daí o ingresso na universidade ser, em suas trajetórias, um importante ponto de inflexão, talvez capaz de viabilizar a saída da casa dos pais e a vivência da sexualidade em outras condições.
Referências
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1
Goffman (2012) chamou de schemata, sistemas interpretativos prévios que dão ao ator social “garantias” de manutenção da coerência entre o cenário, a aparência e a maneira.
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2
Optamos pelo uso de nomes fictícios a fim de manter o sigilo em relação à identidade do/a participante.
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3
A data de início da vida afetivo-sexual diminuiu, sem dúvida, de uma geração para outra, ocorrendo entre 13-20 anos para os jovens da geração dos anos 2000, mais especificamente entre 13-16 anos para os homens e entre 17-20 para as mulheres. Já para os jovens da geração dos anos 1960/1970, ocorreu entre 16-26. Em geral mais cedo para os homens que para as mulheres. Em ambas as gerações, as iniciações mais precoces são as dos jovens rapazes de camada popular.
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Agência de fomento: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. Nº processo: 896405; PDSE, nº processo: 12631124.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
03 Dez 2018 -
Data do Fascículo
2018
Histórico
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Recebido
24 Jul 2017 -
Aceito
09 Abr 2018