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FÉ NA REVELAÇÃO: AS RAZÕES DE NOSSA ESPERANÇA SEGUNDO JOÃO BATISTA LIBANIO

Faith in Revelation: the Reasons for our Hope According to João Batista Libanio

RESUMO

Partindo das obras de J. B. Libanio relacionadas, diretamente, à sua cátedra principal, a teologia fundamental, o artigo propõe, primeiro, retomar uma das obras principais, fruto de vários anos de docência: “Teologia da Revelação a partir da Modernidade”. Em segundo lugar, realiza-se uma releitura do tratado da fé, resposta crente à revelação, mas, agora, perante desafios da pós-modernidade, na obra “Eu creio, nós cremos”. Em terceiro lugar, impõe-se falar de uma obra que pode ser considerada um pequeno testamento, publicada logo depois de sua partida: “Introdução à Teologia Fundamental”. Enfim, em conclusão, algumas questões permitirão pensar com Libanio as perspectivas dessa disciplina em um mundo que não para de mudar, mas perante o qual nós, cristãos, temos a tarefa de buscar as razões de nossa esperança.

PALAVRAS-CHAVE
Teologia Fundamental; Revelação; Concílio Vaticano II; Libanio

ABSTRACT

The provided text discusses the exploration of the works of J. B. Libanio, specifically those related to his main chair in fundamental theology. The article proposes, firstly, to revisit one of his major works, the result of several years of teaching: “The Theology of Revelation from Modernity”. Secondly, a re-reading of the treatise on faith, the believer’s response to revelation, is carried out, now facing challenges of post-modernity in the work “I believe, we believe”. Thirdly, attention is given to a work that can be considered a small testament, published shortly after his departure: “Introduction to Fundamental Theology”. Finally, in conclusion, some questions are raised to reflect with Libanio on the perspectives of this discipline in a constantly changing world. Despite the ongoing changes, we Christians have the task of seeking the reasons for our hope.

KEYWORDS
Fundamental Theology; Revelation; Vatican Concil II; Libanio

Preâmbulo

A tarefa da teologia fundamental é tão antiga quanto o cristianismo, mas, como disciplina, ela é relativamente recente e contextualizada: herdeira das apologias clássicas, surgiu como reação à crise da apologética tradicional, sistema teológico que foi sendo elaborado em manuais, do Concílio de Trento até antes do Concílio Vaticano II. Basicamente, estuda-se a fé cristã como resposta humana ao Deus que se revela.

O Concílio Vaticano II foi o maior aggiornamento da Igreja depois da crise da cristandade e da apologética, e a sua recepção implicou também uma nova maneira de pensar as disciplinas teológicas. O tema da revelação, dada a sua importância, foi o primeiro a ser votado (1962), mas, diante da reprovação do esquema preparatório “Constituição dogmática sobre as fontes da revelação”, esse ainda marcado pelo Concílio Vaticano I e a polêmica das “duas fontes”, a definição conciliar foi uma das últimas, conforme atesta a Constituição Dogmática Dei Verbum, aprovada somente em 18 de novembro de 1965, por “unanimidade moral” de 2.344 votos a favor e 6 contra (SESBOÜÉ; THEOBALD, 199627 SESBOÜÉ, B.; THEOBALD, C. La parole du salut: histoire des dogmes. Tome IV. Paris: Desclée, 1996., p. 515). Desse modo, a concepção de revelação atravessou, praticamente, toda a assembleia conciliar, seus debates, reflexões e reelaborações, testemunhando as transformações do próprio evento, a evolução das questões e o consenso eclesial.

Outro aspecto a considerar: no início do Concílio Vaticano II, os padres conciliares latino-americanos tiveram pouca participação, mas, progressivamente, eles foram crescendo em protagonismo e liderança, o que justifica a dinâmica de recepção criativa no período pós-conciliar, como atestam alguns nomes internacionalmente conhecidos, as cinco conferências continentais, a produção teológica e a dinâmica pastoral. Nesse ambiente efervescente e até polêmico da teologia latino-americana, João Batista Libanio foi protagonista, dando uma contribuição ímpar, com uma bibliografia imensa (OLIVEIRA, 201722 OLIVEIRA, P. R. F. Libanio, João Batista théologien (1932-1914). In: CHEZA, M. et. Al. Dictionnaire historique de la Théologie de la Libération. Paris: Lessius, Namur, 2017.). Graças à sua capacidade comunicativa de tradução das realidades conceituais mais complexas e conflitivas a uma linguagem corriqueira e bem-humorada, Libanio frequentou os ambientes mais intelectuais e também os mais populares. Como um dos mais importantes teólogos latino-americanos, além do maior representante da teologia fundamental no Brasil, ele não somente reinterpretou os tratados da revelação e da fé à luz do macrocontexto da modernidade e pós-modernidade, mas também do contexto “regional” latino-americano, incluindo “temas fronteiras” que, como não cabiam nas outras disciplinas teológicas, foram associados à teologia fundamental (METZ, 196515 METZ, J.-B. Éditorial à l’édition française. Concilium, n. 6, p. 3-7, 1965., p. 3).

Por ocasião da memória saudosa desse grande companheiro jesuíta, professor, amigo e teólogo, proponho-me revisitar seu pensamento a partir da perspectiva da teologia fundamental: primeiro, retomando sua obra sobre a revelação em diálogo com a modernidade; em segundo lugar, apresentamos o tratado da fé, desta feita a partir dos desafios da pós-modernidade; em terceiro lugar, trazemos à pauta seus últimos escritos, uma introdução à teologia fundamental, marcada pelo propósito de síntese e, enfim, a partir de algumas questões, buscaremos “pensar com Libanio” os desafios e perspectivas dessa disciplina em um mundo que não para de mudar.

1 Tratado da revelação: o desafio da razão moderna

Em sua obra Teologia da revelação a partir da modernidade, Libanio faz uma releitura do tratado da revelação, partindo do Concílio Vaticano II como marco divisor de águas. Essa releitura, à luz do concílio, considera uma dupla realidade: “de um lado, a crescente e renovada visão bíblica da revelação e, de outro, a resistência de uma compreensão tradicional essencialista de Deus nos alunos que se aproximam da teologia” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 9). O autor propõe, de forma didática, os desenvolvimentos dos temas, uma bibliografia sobre a revelação e dinâmicas para revisão pessoal e/ou grupal (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 11-13).

Os quinze capítulos da obra podem ser subdivididos em quatro partes: Resgate histórico da revelação, mostrando a passagem das apologias antigas à nova teologia fundamental (cap. 1-4); Compreensão da revelação diante do tribunal da razão moderna (cap. 5) e seus imperativos, como a subjetividade (cap. 6) e a experiência (cap. 7-8), e suas reconsiderações na relação com a criação e as religiões (cap. 9); Reflexão sobre a revelação diante da historicidade (cap. 10), trazendo consequências imediatas para a interpretação das Sagradas Escrituras (cap. 11), entre a questão da verdade (cap. 12) e a canonicidade (cap. 13), bem como a reinterpretação da própria tradição cristã, notadamente consignada nos documentos conciliares (cap. 14); enfim, o autor insere a questão contextual, fazendo um exercício de releitura da revelação na perspectiva do continente latino-americano como novo jeito de fazer teologia (cap. 15).

1.1 Das apologias à teologia fundamental

O resgate histórico da temática da revelação é feito a partir de um novo desafio epocal (cap. 1): a passagem da cristandade à modernidade representou uma crise para a teologia cristã, como a própria Reforma protestante atesta e agrava. Assim, embora a justificação racional da fé seja tão antiga quanto o cristianismo (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 31), com o advento da razão crítica moderna, identificamos não apenas um desafio, mas uma exigência de nova compreensão e reelaboração da fé e da teologia.

Trata-se de mostrar como, nesse confronto com a razão moderna, a teologia fundamental foi sendo construída na forma de uma apologética (cap. 2). Diante de uma mentalidade cujo axioma dogmático moderno era “fora da razão, não há salvação”, a teologia foi obrigada a defrontar-se com essa nova racionalidade, dando uma resposta que ficou conhecida como apologética, construída como uma teologia fundamental (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 31). Segundo o autor, a Reforma protestante foi o fator ad intra decisivo para a crise do sistema cristão. Ressaltando os aspectos subjetivos em prol de uma sola fide, sola gratia e sola Scriptura, os reformadores fizeram oposição ao acento nos aspectos objetivos da fé, por sua vez ressaltados pela Igreja católica. Assim como nas apologias antigas, os questionamentos foram suscitando reações em forma de argumentos, esquematicamente dentro de uma perspectiva tríplice: contra os ateus que negam toda religião, afirma-se uma demonstração da necessidade dela (demonstratio religiosa); contra os deístas que defendem a religião natural, postula-se o cristianismo como verdadeira religião (demonstratio christiana); e, finalmente, contra os reformadores protestantes, afirma-se a Igreja católica como a única e verdadeira Igreja de Cristo (demonstratio catholica). Outros momentos reforçaram o arsenal da Igreja católica, como, por exemplo, os libertinos e ateus práticos do século XVII e os deístas e enciclopedistas do século XVIII. A evolução diacrônica dos problemas foi suscitando uma sistematização sincrônica, configurando a famosa apologética moderna, segundo a formulação tripartida das demonstrações que marcará os manuais até a metade do século XX. Libanio, de forma magistral e sintética, mostra o desenvolvimento do tratado de teologia fundamental tradicional (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 40-49), concluindo que, durante séculos, ela “cumpriu o papel importante na justificação e defesa da fé católica para os fiéis” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 49).

A passagem da apologética à teologia fundamental supõe características novas: a centralidade da revelação, a questão do método e da tarefa de uma teologia fundamental, resultando em uma nova compreensão da revelação, na perspectiva do Concílio Vaticano II, marcado pela visão dialogal e ecumênica (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 60-62). Libanio propõe sete modelos para pensar a revelação, não necessariamente “excludentes entre si” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 66): persiste o modelo apologético; configura-se um modelo mais dogmático, partindo do interior da fé; na perspectiva epistemológica, elabora-se um modelo mais formal, segundo a preocupação com a natureza do conhecimento; dada a abertura conciliar, um modelo político explicita mais a realidade social como dimensão da fé; graças a uma atenção aos sinais dos tempos, fala-se de um modelo semeiológico; coerente com a experiência e perspectiva do concílio, e surge um modelo mais ecumênico; por fim, um modelo que busca um diálogo com o mundo contemporâneo (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 66-73). Mas existem quatro pontos comuns e transversais aos diversos modelos: dar razões da nossa esperança, respostas às perguntas fundamentais da fé, adaptação ao contexto cultural e histórico e, finalmente, discurso válido também para não crentes.

O capítulo 4 aborda o novo ponto de partida da teologia fundamental. Trata-se da fé do sujeito adulto no contexto de modernidade, em geral, e, considerando o contexto cultural e histórico diferenciado, o ponto de partida para nós “é a fé que se vive na América Latina, situada na encruzilhada de dois caminhos” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 79): o caminho da modernidade generalizada e o seu avesso, “o do mais triste desajuste social” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p.80). A reflexão considera deslocamentos importantes, como os próprios títulos sugerem: 1) Da eloquente presença ao silêncio de Deus, compreendido como silêncio respeitoso de Deus ou como silêncio descrente; 2) Do silêncio ao reencontro, graças ao retorno do sagrado nos novos movimentos religiosos; 3) Da visão estática de revelação à tensão do conceito-básico de revelação entre seu caráter imanente e sua dimensão transcendente. E, considerando que “a experiência religiosa é o lugar privilegiado para tal percepção” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 95), identificam-se várias trajetórias possíveis e várias “etapas” da manifestação de Deus: a revelação natural, a revelação bíblica, a revelação em Jesus e a revelação final escatológica.

1.2 A revelação perante o tribunal da razão moderna

No segundo bloco temático, o autor mostra a evolução histórica da revelação e postula a sua tese: a necessidade de compreensão da revelação a partir da modernidade (cap. 5 a 9). Antes de falar da revelação, portanto, ele define a modernidade não como um simples momento da história, mas como “um horizonte em que vivemos e dentro do qual praticamos nossa fé” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 113). Mas importa distinguir a dupla face da mesma modernidade: uma que reflete a realidade do Primeiro Mundo e uma outra que revela o contraste do Terceiro Mundo. Por isso, existem vários discursos da modernidade: a razão moderna crítica ou o império da deusa razão e suas consequências para todo o pensamento ocidental (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 117-128); o discurso da autonomia e da liberdade humanas fundamentais, critério de todo entendimento (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 128-130) e as promessas de felicidade1 1 A Libanio, reverenciamos a compreensão pioneira da importância desse tema na teologia brasileira, mas importa destacar a recente obra do jovem teólogo Sérgio Albuquerque Damião, primeira reflexão teologicamente cristã aprofundada sobre o tema, em Teologia da Felicidade (2022). , conforme os cânones modernos, incluindo o individualismo, em conflito com o discurso religioso tradicional (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 130-137). As implicações da autonomia moderna para a esfera cultural e social (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 137-150) representam uma ruptura com a cristandade, mas existe uma face obscura dessa modernidade que se reflete no Terceiro Mundo, insistência que o autor insere como tema fundamental.

Esses reflexos da modernidade no Terceiro Mundo constituem a maior novidade da teologia fundamental libaniana, não apenas indicando problemas (a exclusão dos pobres, o desastre dos regimes militares autoritários, a espiral da violência e a crise das instituições), mas também indicando “lampejos de esperança”, notadamente com os movimentos de libertação e a emergência de um novo sujeito social popular. Diante desse contexto paradoxal, deve-se “pensar a existência e o significado de uma revelação de Deus” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 156).

Os capítulos seguintes irão tratar dos grandes eixos desse diálogo com a modernidade. A revelação a partir da subjetividade (cap. 6) considera os aspectos existenciais do ser humano como novo ponto de partida: a pergunta pelo sentido da vida, os problemas da existência, a abertura para o outro e os clamores de libertação (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 167-171). Não se trata somente de temas diferentes, mas também de uma necessidade de mudança de método: distinguindo-se do tradicional, racional e abstrato, a nova metodologia deverá considerar o aspecto existencial e fenomenológico como o autor tenta desenvolver, passo a passo, a partir da fé compreendida antropologicamente e aberta à transcendência (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 178-192).

“A virada antropocêntrica significa uma valorização crescente da experiência existencial” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 197). Para Libanio, a experiência não apenas é valorizada, mas determinante para a consciência da liberdade moderna. Trata-se, portanto, de relacionar experiência e revelação, desde os movimentos em busca de liberdade, felicidade e prazer até os conflitos – tanto no campo religioso como no político – em que aparece a experiência de libertação pessoal e coletiva. A experiência é o tema de dois capítulos (cap.7 e 8), buscando uma atualização da experiência judeu-cristã e da releitura pascal de Jesus, que inaugura um tempo novo com o Reino de Deus, categoria central no Evangelho e muito importante para as teologias latino-americanas da libertação.

Não surpreende que esse segundo bloco temático relacione, em conclusão, a revelação com a criação e as religiões (cap. 9). Por um lado, o autor distancia-se da linguagem tradicional concernente à revelação natural e, em diálogo com o pensamento moderno e teológico, chega a uma nova concepção de Deus, “cujo eixo já não será a distinção entre Deus e mundo, mas o conhecimento da presença de Deus no mundo e da presença do mundo em Deus” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 260). Por outro lado, “na revelação cristã, foi dada toda a revelação, mas não foi toda dita” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 281). O nosso autor traz, assim, outro aspecto inovador do Concílio Vaticano II, ressaltando não apenas a visão ecumênica, mas a perspectiva de uma revelação de Deus nas outras culturas e religiões, fazendo alusão também ao caso brasileiro, considerando as religiões indígenas, os cultos afro, outras práticas religiosas e até realidades seculares de libertação, justiça e respeito aos direitos humanos como mediações concretas de salvação e, não menos, de revelação (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 282).

1.3 As escrituras da revelação no passo da história

No terceiro bloco temático, Libanio reúne cinco capítulos para refletir sobre a revelação diante da historicidade (cap. 10), suas consequências para a interpretação das Sagradas Escrituras (cap. 11), incluindo a questão da verdade (cap. 12) e da canonicidade (cap. 13), bem como a reinterpretação da própria tradição cristã, notadamente consignada nos documentos conciliares (cap. 14). “A perspectiva moderna floresce na virada antropocêntrica e na entrada da história” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 285): se, no início da época moderna, a razão não era historicizada, mas sobretudo crítica em relação à tradição e aos dogmas, a dimensão e a consciência históricas serão determinantes, obrigando a uma nova abordagem da revelação. Evidente que, de acordo com algumas concepções de revelação e de história, o conflito seria inevitável, com críticas de uma perspectiva e outra. Isso faz parte da dinâmica hermenêutica que parte da busca de condições de possibilidades de uma revelação histórica até afirmar a revelação de Deus na história (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 289-292): “nessa perspectiva se pensará de maneira dialética a distinção fundamental entre a revelação constitutiva e a sua interpretação ao longo da história” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 307).

“A Bíblia não caiu pronta do céu. Ela surgiu da terra, da vida do povo de Deus” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 309): com essa frase de Carlos Mesters, Libanio abre o capítulo sobre a revelação bíblica. A reflexão é feita na perspectiva do Concílio Vaticano II, ponto de chegada do movimento bíblico e novo ponto de partida para a interpretação da Bíblia: “Deus falou na Sagrada Escritura por meio de homens e de maneira humana” (DV, n. 2). Como teólogo fundamental, ele faz primeiro algumas considerações epistemológicas (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 313-317) para reler as grandes etapas da história da salvação e a própria historicidade dos livros bíblicos (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 322-327), reinterpretando assim o tema da inspiração (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 327-338), não sem abordar o aspecto social da própria inspiração, “situada dentro da ação multiforme do Espírito Santo na economia da Salvação” (LIBANIO, 199212 LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade., p. 335).

Nos capítulos seguintes, Libanio tira consequências dessas afirmações, tratando do problema da verdade na Bíblia (cap. 12), intimamente ligado à questão da inspiração, bem como ao processo de canonicidade ou atestação da comunidade aos livros sagrados (cap. 13), mas ressaltando a perspectiva ecumênica do próprio concílio, atestada, por exemplo, na tradução ecumênica da Bíblia. Somente depois desse percurso, o autor aborda o tema polêmico da tradição (cap. 14), refazendo o caminho dos concílios, mas, genealogicamente, a partir do Vaticano II.

1.4 A dimensão contextual da teologia e da revelação

Por fim, Libanio insere a questão contextual, fazendo um exercício de releitura da revelação na perspectiva do continente latino-americano (cap. 15). Se, por um lado, a modernidade provocou uma reinterpretação da revelação de Deus, conforme a visão do Concílio Vaticano II, por outro, outra reviravolta deve ser feita na sua recepção contextual latino-americana, com aspectos que representam o avesso da modernidade, revelada no rosto dos “pobres” em sua realidade multifacetada, como revelam os rostos citados em Puebla.

Considero importante, enfim, termos detalhado melhor essa obra, porque ela é matricial do ponto de vista da forma e até do próprio conteúdo da teologia fundamental libaniana. Ainda me pergunto se o autor não deveria ter assumido a perspectiva contextual logo no início, deixando mais patente a sua contribuição e/ou instigação para pensarmos uma teologia fundamental não somente a partir do pensamento moderno, mas do avesso da história e da modernidade, em razão de suas consequências nefastas.

2 Tratado da fé: crer na pós-modernidade

No limiar do novo milênio, na 4ª edição do “tratado da revelação” a partir da modernidade, o mais conhecido e importante professor de teologia fundamental do Brasil do período pós-conciliar lançou um novo livro, a partir da pós-modernidade: Eu creio, nós cremos: tratado da fé (2000). Mais que completar sua reflexão sistêmica da disciplina em questão, trata-se de “responder melhor às condições existenciais dos alunos, quer em sua nova sensibilidade moderna e pós-moderna, quer em suas deficiências de formação de fé num mundo menos marcado pela tradição religiosa católica” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 11). Em outras palavras: “passa-se da lógica interna da revelação para a lógica existencial do que crê”, pois “na lógica da revelação, a Palavra de Deus antecede, como proposta, a resposta da fé” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 11).

Ainda na introdução dessa obra, o autor indica que o processo de aprendizagem de uma teologia crítica deveria responder a dois requisitos: primeiramente, o “lugar eclesial da fé” da própria faculdade, a saber “a tradição bíblico-cristã e eclesial católica”; em segundo lugar, o “momento cultural e geo-histórico”, caracterizado pela subjetividade moderna e pós-moderna, mas também situado num continente de contradições, notadamente a “brecha entre pobres e ricos” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 10). Considerando a perspectiva da teologia latino-americana da libertação, do ponto de vista teórico, portanto, Libanio evidencia a opção básica de um método “da fé para a fé” (Rm 1,17) ou da práxis cristã para a práxis cristã. Isso significa passar de uma fé inicial para uma fé mais esclarecida, mas, também, passar da dimensão praxeológica, praxística ou pragmática extrínseca à fé externa para uma práxis como interpretação-no-agir, intrínseca ao próprio evento Jesus Cristo (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 12).

Percebe-se, de entrada, a perspectiva inovadora da abordagem pelas opções sinteticamente apresentadas na introdução, mas não menos na própria estrutura da obra, dividida em três partes. Primeiramente, ele aborda a subjetividade do próprio ato de fé, em diálogo com a modernidade e pós-modernidade (“eu creio”), dialogando com a dimensão mais histórica e contextual. Em segundo lugar, Libanio resgata a dimensão eclesial da fé, ressituando a Igreja no momento cultural: agora a perspectiva é coletiva (o “nós” eclesial), expressa na segunda parte do título “nós cremos”. Enfim, na terceira parte, o autor evoca os “desafios atuais” – título dessa parte – abordando a perspectiva holística e ecológica da fé cósmica, passando pelo diálogo com as outras religiões e chegando à perspectiva da teologia da libertação. Ainda na introdução, de forma didática, o professor indica uma bibliografia e uma dinâmica de aproveitamento da leitura ou do curso, segundo níveis (do razoável ao excelente), e, trazendo um breve texto de Leonardo Boff, mostra como teologizar é preciso: a fé, o mundo, a vida, a época e a realidade social pedem teologia (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 17-18). Aliás, uma das novidades do livro é incluir algum trecho de textos de autores importantes, bastante diversos, de Francisco de Assis a Lutero, de Agostinho e Tomás de Aquino a Nietzsche, de Barth e Tillich a Leonardo Boff e Lima Vaz.

Como chave de releitura de sua segunda grande obra, importa recordar a categoria de experiência, particularmente cara a Libanio em sua compreensão da modernidade e da pós-modernidade, e indispensável para a Teologia Fundamental contemporânea (BINGEMER, 20123 BINGEMER, M.C.L. A experiência e a história: espaços da Teologia Fundamental. In: GASDA, E. E. Sobre a Palavra de Deus. Hermenêutica bíblica e Teologia Fundamental. Petrópolis: Vozes, 2012., p. 243-263).

2.1 A experiência subjetiva da fé

A primeira parte começa redefinindo o ponto de partida (cap. 1) da teologia fundamental, considerando desde a mudança do ambiente cultural, notadamente depois das crises provocadas pela modernidade e pela Reforma protestante. A partir de então, a subjetividade moderna vai se impondo como virada antropocêntrica por um lado, e, por outro, a reviravolta sociocrítica que revela a outra faceta da modernidade. Nessa toada, assiste-se ao triunfo da pós-modernidade cultural, não sem a necessidade de repensar a subjetividade no contexto sociocultural e sociorreligioso em busca de uma nova identidade em nosso continente, antes predominantemente marcado pela fé católica, agora marcado por um duplo desafio: a subjetividade em sua versão pós-moderna e, ao mesmo tempo, a realidade social gritante.

“Não há fé fora do contexto cultural em que vivemos” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 41). Isso implica uma contextualização da experiência de fé no paradigma cultural definido como modernidade e pós-modernidade, o que supõe algumas reviravoltas destacadas pelo autor: a virada antropocêntrica, a valorização da história, o processo de secularização e de politização, as diferentes propostas éticas (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 43-48), bem como o impacto dos meios de comunicação social e, insistência do autor, o reverso da modernidade, conforme atesta a realidade social como desafio à fé (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 49-50), agravada pelo surto da pós-modernidade – termo que, embora cheio de ambiguidades, indica uma crítica à modernidade e uma mudança de paradigmas, o que exige novas tendências da fé (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 55). Essas novas tendências são definidas pelo autor na forma de passagem de uma situação a outra: da tradição para a decisão (marcada pela centralidade da experiência), da definição para a comunicação (marcada pelo diálogo com os demais), da comunicação a certa reserva (marcada pelo medo de perda de identidade), da confissão para a práxis social (marcada pelo acento na ortopráxis), da fé em grandes palavras à fé vivida no cotidiano (marcada pela suspeita religiosa), da dimensão intelectual da fé à simbólica e estética (marcada pelas experiências diversas), da razão instrumental à razão comunicativa (marcada pela busca de uma nova racionalidade) e, enfim, passagem do racional ao emocional (marcada pela busca sensível da experiência de fé). O autor conclui: “as tendências são tentativas de respostas aos fatores sociais e culturais da hora atual. Nessa perspectiva situa-se nossa reflexão” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 74).

Na sequência, Libanio vai seguindo os passos do seu tratado centrado na revelação a partir da modernidade e da realidade contextual latino-americana, com foco na ortopráxis, mas, agora, ele tenta partir dos acentos críticos da pós-modernidade e da perspectiva do sujeito crente diante de Deus (subjetividade), como indicam os títulos de capítulos: “A fé no mundo da subjetividade e da experiência” (cap. 3), “Subjetividade e história” (cap. 4), “A subjetividade e a sociedade” (cap. 5) e “A subjetividade e o cosmos” (cap. 6). Entrelaçando esses temas ou fazendo uma releitura da fé a partir da subjetividade, o autor trata da “Estrutura subjetiva da fé”, ressaltando a dimensão antropológica: “A confissão de fé é um ato do ser humano e por isso deve respeitar-lhe a estrutura humana” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 151).

Mas “quais são os elementos principais da estrutura do ato de fé, levando em conta a complexidade da relação entre o ser humano e Deus?” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 152).

Partindo das questões linguísticas, o autor considera, primeiro, o aspecto existencial (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 156), reinterpretando os termos e expressões tradicionais da questão da fé (como, por exemplo, fides quae e fides qua). Depois, o aspecto existencial, dialogando com a modernidade e a pós-modernidade, para em seguida tratar do aspecto hermenêutico, em diálogo com o pensamento ocidental, do aspecto práxico segundo o acento da teologia da libertação (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 161-165). Por fim, do aspecto escatológico próprio do cristianismo: “A fé cristã tem a pretensão de, sem negar a dimensão de tempo, de historicidade, do agora, ser o início já começado da plenitude de vida eterna” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 167).

Nessa releitura a partir da subjetividade, impõe-se redefinir a racionalidade da fé, evitando extremos que o autor evoca, no início do capítulo 8, citando Pascal: “Dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão” (apud LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 171). Primeiro, afirmando a racionalidade intrínseca à natureza da própria fé, ele vai mostrar as diversas aproximações históricas da razão, desde as Escrituras até os Padres da Igreja e pensadores cristãos. Essa continuidade evolutiva, porém, sofre uma ruptura na modernidade, e suas consequências vão distanciando a fé da cultura. Nesse passo, importa falar da própria questão estrutural da racionalidade da fé, como também das exigências diversas da racionalidade, dialogando com a pós-modernidade e Libanio conclui citando o documento de João Paulo II Fides et ratio.

Depois de tratar da racionalidade como dimensão constitutiva do ser humano e, portanto, da fé cristã, o autor levanta a pergunta mais espinhosa desde a crise provocada pela modernidade: a liberdade do ato de fé e sua motivação última (cap. 9). Afinal, “como o ser humano pode ser livre diante de um Deus todo-poderoso que lhe revela a verdade? E qual é última motivação que o leva a acolher a revelação de Deus?” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 191).

Antes de relacionar a liberdade humana e a liberdade cristã, faz-se necessário redefinir a natureza da liberdade do ato de fé: só há uma liberdade, mas também “existem fontes de compreensão, de interpretação, de tematização da liberdade” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 196). Isso porque a liberdade humana é, paradoxalmente, confrontada ao risco e ao sofrimento humano: “como entender a liberdade da fé em contextos sociais tão condicionantes?” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 201). E, aqui, o autor insere a extrema miséria como grave ameaça à fé em nosso continente e, assim, o seu combate é uma exigência da justiça e da fé. Dito isso, nesse capítulo, as perguntas parecem ser mais eloquentes que as pistas de respostas, método interessante para fazer pensar em diálogo com os grandes questionamentos contemporâneos.

À guisa de conclusão parcial, Libanio aborda a questão do fundamento último da fé (cap. 10) e a dimensão trinitária da fé cristã (cap. 11). A busca de fundamento último da fé passa pela estrutura de qualquer ato humano, respeitando a racionalidade e a liberdade, configurando uma resposta do ser humano ao Deus que se revela. Esse mistério, porém, desemboca em outro mistério igualmente inesgotável: a fé em um Deus trinitário. Ora, essa perspectiva trinitária de Deus e do ato de fé conhece três movimentos na Trindade, que são: “a Trindade nela mesma, a Trindade que se revela na história e a Trindade experimentada por cada um de nós” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 237). Passando pela relação entre a Trindade econômica e existencial e a Trindade imanente, segundo a linguagem de Karl Rahner, Libanio conclui, de forma simples e contextualizada na América Latina:

A revelação da Trindade só é acessível a nós por meio de Jesus. Ele associou Deus, seu Pai, sua mensagem e prática e a ação do Espírito Santo à relação horizontal com os demais. E nela privilegiou os pobres. Fora daí, a dimensão trinitária da fé fica comprometida em sua estrutura interna

(LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 239).

Uma citação de Leonardo Boff abre o último capítulo: “A Santíssima Trindade é a melhor comunidade” (p. 225). E, se “a Igreja nasce da Trindade”, cabe perguntar: quais as consequências para a vivência de nossa fé, tanto na Igreja como na sociedade (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 245)? Assim, entramos na segunda parte do tratado da fé, considerando a sua dimensão eclesial: nós cremos.

2.2 A experiência eclesial da fé

Explicitando essa dimensão eclesial da fé (cap. 12), o autor retoma os temas clássicos, mas segundo o seu propósito de escutar e tentar responder as grandes questões que foram surgindo na modernidade e que ganharam amplidão com a pós-modernidade, sobretudo graças ao novo contexto cultural, menos marcado pelos referenciais cristãos. O ato de fé, considerado a partir da subjetividade, recoloca a questão da salvação, bem como o papel da Igreja nessa história salvífica. E, de forma sintética, exclui extremos, usando uma metáfora: “o relativismo religioso não percebe a unidade da correnteza salvífica. O dogmatismo e o fanatismo totalitário não percebem a diversidade de plagas que a mesma correnteza fertiliza” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 291).

Na sequência, o autor retoma a Trindade como fundamento último do “nós cremos”, portanto, da dimensão comunitária da fé (cap. 14). Como sabemos, na recepção do Concílio Vaticano II, os temas da relação da Igreja e da sociedade foram bastante enfatizados na busca de dialogar com o mundo: “uma compreensão do ‘nós cremos’ a partir da comunhão trinitária permite ao cristão ter uma ação mais coerente na sociedade atual”. Ainda: “Não se trata de fazer uma análise da atual sociedade – algo complexo. Cabe indicar alguns elementos que permitam entender a tensão entre comunhão, participação, de um lado, e individualismo, isolamento, de outro” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 304).

Interessante como Libanio fez um percurso da Trindade à Igreja e, depois, precisamente por conta da relação com a sociedade e a historicidade, foca em Jesus Cristo, centro da fé eclesial ou do “nós cremos”: “Questiona-se hoje a centralidade de Cristo, não só na sociedade, mas também no interior da própria teologia” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 313). Portanto, diante da “crise do paradigma do cristianismo ocidental” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 314), faz-se necessário analisar os fatores socioculturais da crise – as questões de credibilidade do cristianismo e a perda de espaço social e, ao mesmo tempo, os efeitos da secularização e crescimento do pluralismo na sociedade, fazendo aparecer o pluralismo religioso. Nesse cenário, Libanio recoloca a questão da centralidade de Jesus Cristo em sua diversidade irredutível: vertente dogmática, vertente histórico-salvífica, vertente existencial, vertente ecumênico-cristã e vertente teocêntrica. Diante dessa diversidade, uma nova tensão é formulada em termos de diálogo e anúncio. Mas, coerente com sua abordagem, o autor insere a chave da opção pelos pobres: “Assim poderemos atravessar o milênio mais conscientes, mais livres e mais enriquecidos na adesão à fé cristã” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 332).

Dito isso, impõe-se ainda tratar, do ponto de vista da fé, a questão da historicidade da revelação bíblica (cap. 16) e, pari passu, a releitura da Escritura como fonte (cap. 17) e a Tradição (cap. 18). De toda forma, Libanio conclui:

Os livros sagrados, a Inspiração que levou os redatores a consignar por escrito a revelação, a canonicidade que define os livros autênticos são, no fundo, realizações concretas do projeto salvífico de Deus, que passa pela colaboração dos homens e também sofre de suas limitações. A última garantia da verdade de todo esse processo é a presença atuante de Deus Pai pela ação do Filho e do Espírito Santo

(LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 364).

Neste último capítulo da 2ª parte, o autor ressalta a importância da Tradição, mas a define como “o que a Igreja crê e vive”. Antes, ele precisará levantar a problemática, fazendo distinções desse termo tão polemizado. Dentro de uma compreensão mais ampla e discernida, ressaltando o papel do teólogo e, não menos, o papel do pobre, Libanio retoma o próprio desejo expresso pelo papa João XXIII nas vésperas do Concílio Vaticano II: “Em face dos países subdesenvolvidos, a Igreja se apresenta tal como é e quer ser: a Igreja de todos e, particularmente, a Igreja dos pobres” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 377). Infelizmente, apesar dos estudos feitos sobre esse rosto que a Igreja deveria assumir, o tema foi diluído. Mas vale ressaltar aqui como essa questão criteriosa foi retomada no “Pacto das catacumbas” e, notadamente, resgatada e projetada na recepção conciliar, seja na conferência de Medellín, seja na de Puebla (OLIVEIRA; LIMA, 202123 OLIVEIRA, P. R. F.; LIMA, D. N. O papa Francisco na agenda do Concílio Vaticano II: por uma Igreja servidora e pobre, a serviço do Evangelho e do Reino. Horizonte, Belo Horizonte, v. 19, n. 59, p. 582-607, 2021., p. 582-607). Aliás, Francisco retoma essas orientações não apenas por ser latino-americano, mas por ser o primeiro papa a ter sido ordenado depois da realização do Concílio, seguindo as orientações conciliares não somente na letra, mas no espírito.

2.3 Desafios (e oportunidades) atuais

As teáticas dos três capítulos da última parte, a rigor, também aparecem no tratado da revelação: a fé cósmica (cap. 19), o diálogo com as religiões (cap. 20) e a perspectiva da libertação, aplicada ao “nós cremos” (cap. 21). De fato, “a teologia tradicional estudava o tema da criação e da graça num único tratado, chamado De Deo creante et elevante” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 383). Partindo da virada antropocêntrica na cultura e a virada cristocêntrica na teologia, o autor recoloca a questão da criação em perspectiva ecológica. Libanio trata do surgimento de uma nova consciência em confronto com os grandes interesses políticos e econômicos. Interessante como ele distinguia, já no ano 2000, a ecologia ambiental, a ecologia social, a ecologia mental e, por fim, a ecologia integral e espiritual. Libanio, porém, indica a necessidade de “repensar a fé cristã” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 403) nessa perspectiva cósmica, bastante inspirada por Teillard de Chardin, conforme citação e um recorte textual sob o título “a divinização das passividades” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 407-408). Mas o autor, do ponto de vista da teologia fundamental, acena que tal perspectiva deverá igualmente ajudar a repensar a cristologia, a Trindade e a teologia da criação.

Na sequência, ele aborda outro fenômeno da atualidade: “o surto religioso” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 383). Afinal, “como, de um lado, pensar a fé cristã nessa onda religiosa e, de outro, como responder ao reclamo do diálogo com as outras denominações religiosas?” (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 409). Libanio busca indicar tanto os fatos novos do “quadro religioso atual” como os “modelos interpretativos da religião”, seguindo a dupla perspectiva do desafio, não sem incluir a questão dos empobrecidos, desse modo buscando a dimensão e força libertadoras da religião.

O tratado da fé chega a um capítulo conclusivo, como no livro sobre o tratado da revelação, tentando abordar o tema sob a perspectiva latino-americana da libertação. Primeiro, evoca o contexto sociopolítico da fé, embora de forma muito ampla e até genérica, mas não menos insistente, da “opção da libertação no interior da fé” e da “práxis libertadora” do ato de fé (LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 439-440). Em segundo lugar, o autor aborda as diversas formas ou figuras da relação entre fé e política, tanto ao longo da história como no tempo presente nos documentos da Igreja, e também em sua novidade latino-americana, tematizando, outramente, a relação entre teoria e prática:

Somente na serenidade de um diálogo em que se perceba a necessidade desses dois polos – ortodoxia e ortopráxis – a Igreja poderá caminhar e crescer. A radicalização num dos dois, como se a vida cristã pudesse ser reduzida a um deles, é empobrecedora e prejudicial. Na linguagem da Dei Verbum, Deus se revelou gestis verbisque. Portanto, essa revelação se fará vida a Igreja gestis verbisque. Onde há muitas palavras, doutrina, haja profetas que atuem práticas e gestas. Onde as gestas, as práticas desconhecem a doutrina, a palavra, haja mestres que ensinem.

(LIBANIO, 20009 LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000., p. 463)

3 Revelação e fé às fronteiras: para pensar com Libanio outramente...

Nas suas duas obras principais, expressamente relacionadas à teologia fundamental, Libanio seguiu o esquema tradicional (tratados e temas), embora atualizando seus conteúdos à luz do concílio Vaticano II e de sua recepção na América Latina (método e conteúdo). Mas, ao mesmo tempo, além dos conteúdos tradicionais da teologia fundamental, o grande teólogo brasileiro incluiu temas às fronteiras das disciplinas, dos contextos culturais e da própria fé. Para além do contexto de aggiornamento do Concílio, esses eixos temáticos – revelação, fé e problemas fronteiras – correspondem, historicamente, à tradição de uma teologia fundamental responsável, exigência da esperança cristã, tarefa tão antiga quanto a própria história da fé cristã e de suas contestações (METZ, 199916 METZ, J.-B. La foi dans l’histoire et dans la société: essai de théologie fondamentale pratique. Paris, Cerf, 1999., p. 30). Os temas fronteiriços foram tratados na perspectiva da teologia fundamental, mas em uma bibliografia vasta e diversa (DE MORI, 20166 DE MORI, G. Ouvinte e servidor da Palavra: bibliografia primária de João Batista Libanio. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 211-238), que mereceriam um artigo à parte. Retomemos, porém, a sua última obra, testamento e síntese, na perspectiva de pensar com Libanio uma outra teologia fundamental.

3.1 Legado e testamento

Pensando em seus alunos e também no grande público, antes de partir, Libanio deixou um livro já preparado, que foi publicado no ano mesmo de seu falecimento, inclusive registrado pela editora como homenagem e gratidão, por coincidir o fechamento da edição de seu último livro com a sua despedida, em 30 de janeiro de 2014. Nessa Introdução à Teologia Fundamental (LIBANIO, 201410 LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014.), a rigor, não encontramos nenhum aspecto realmente inédito, mas há de se notar um estilo maduro e simples de sua reflexão, bem mais sintética, além de alguns toques epocais. Em princípio, o autor mantém sua abordagem, inspirada no Concílio Vaticano II e sua recepção, inclusive assumindo o jeito latino-americano de fazer teologia, nos sete capítulos deste livro bastante agradável de ler, retomando o fundamental com leveza e concisão: um verdadeiro testamento.

No primeiro capítulo, fiel ao método da teologia latino-americana, o autor parte da situação em seu duplo aspecto, cultural e religioso/eclesial, guiado pela pergunta a ser feita diante do “simples fiel ou para o iniciante do curso de teologia” (LIBANIO, 201410 LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014., p. 9): “Na condição sociocultural de hoje, que desafios o cristão enfrenta para crer com lucidez e honestidade?” (LIBANIO, 201410 LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014., p. 9). Nosso autor retomará, assim, a situação do crer na cultura e realidade latino-americanas, mas, ao invés de aspectos econômicos e políticos, ele abordará alguns “pontos centrais” como, por exemplo, “a contínua mudança, os mitos, os ídolos, a magia e a violência” (LIBANIO, 201410 LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014., p. 10) e, ademais, tratará do impacto no contexto religioso e eclesial, marcado não apenas por uma secularização generalizada, mas também, especialmente em países como o Brasil, por uma efervescência e ambiguidade religiosas sem precedentes. Aliás, foi precisamente esse último aspecto que me motivou, como eventual sucessor da cadeira de fundamental na faculdade jesuíta, indicado pelo próprio Libanio, a postular uma teologia como discernimento e não apenas um juízo teológico sobre a realidade, considerando o rosto plural da fé e o problema da ambiguidade religiosa, tanto do catolicismo tradicional brasileiro como da efervescência religiosa atual, em vista de um verdadeiro discernimento teológico e pastoral do crer (OLIVEIRA, 200820 OLIVEIRA, P. R. F. O Rosto Plural da Fé: da ambiguidade religiosa ao discernimento do crer. Recife: Unicap; São Paulo: Loyola, 2008.; OLIVEIRA, 200419 OLIVEIRA, P. R. F. Discerner la foi dans des contextes religieux ambigus: enjeux d’une théologia du croire. Paris: Cerf, 2004.).

Em segundo lugar, o autor faz uma releitura da própria teologia fundamental (cap. 2), partindo da modernidade e do Concílio de Trento, consolidando-se como um verdadeiro sistema apologético até o 1º Concílio Vaticano e desembocando no Concílio Vaticano II, quando se fez uma verdadeira reinterpretação da revelação e da fé, relançando os novos rumos desta disciplina e de toda a teologia católica, em diálogo com outras formas de pensar e de viver (cap. 3). Na sequência, me parece genial como Libanio trabalha a metáfora da “porta da fé” de Bento XVI, mas dando-lhe uma maior dinamicidade, mostrando um “entra e sai” interessante (cap. 4). Como sabemos, já nos umbrais do novo milênio, João Paulo II havia tomado a imagem da porta, da mesma forma que o papa Francisco o fez no ano da misericórdia e, em sentido amplo, tem tentado abrir portas na igreja (MALZONI; PACHECO; OLIVEIRA, 201913 MALZONI, C. V.; PACHECO, L.; OLIVEIRA, P. R. F. As portas de uma igreja aberta segundo João Evangelista [E outras histórias que a Bíblia não contou]. São Paulo: Paulinas, 2019., p. 27-35). De uma parte, existem as portas de saída da igreja e da fé, a saber, segundo Libanio: as ciências modernas, a autonomia do sujeito, a consciência histórica, o fenômeno religioso difuso, o impacto da mídia e a concepção contemporânea de práxis (LIBANIO, 201410 LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental. São Paulo: Paulus, 2014., p. 217). De outra parte, o autor indica também algumas portas de entrada desde o apelo contínuo de Deus a determinas experiências existenciais, da leitura das Sagradas Escrituras às inquietações intelectuais, das experiências comunitárias à entrega da vida em martírio, do despertar ecológico às práticas engajadas no campo da justiça social, dos novos movimentos à beleza da liturgia e algumas inovações pastorais.

No entanto, nosso teólogo fundamental reafirma e privilegia ainda a categoria de revelação, caracterizando-a como ponto central (cap. 4). Dito isso, o autor segue as orientações do Concílio Vaticano II e, reafirmando o critério central da revelação (cap. 5), faz uma reinterpretação de três aspectos de importantes temáticas, sobretudo depois da reforma, na perspectiva católica, a saber: Escritura, tradição e magistério (cap. 6). Realmente são os temas em que a Dei Verbum relança a reflexão, superando o esquema das duas fontes, reafirmando a fonte única do Evangelho e o problema central da “transmissão” que se desenvolve nas três reinterpretações acima: vale destacar que o novo concílio do Vaticano retoma a questão de Trento, mas dentro de uma nova chave hermenêutica, notadamente ecumênica, dialogal e pastoral.

Enfim, no último e longo capítulo 7, ele aborda o tema da evangelização, considerada por ele uma das maiores preocupações da Igreja católica, em uma diversidade de concepções, mas em duas grandes perspectivas principais: primeiramente, a proposta de Medellín ou a partir das reflexões latino-americanas voltadas para o dinamismo de comunidade; e, em segundo lugar, a da falta de evangelização e a progressiva perda de fiéis, conforme o esvaziamento de nossas igrejas, realidade que a pandemia agravou ainda mais.

3.2 Para pensar com Libanio...

Agradecendo ao grande mestre, gostaria de “pensar com Libanio” (OLIVEIRA, 200419 OLIVEIRA, P. R. F. Discerner la foi dans des contextes religieux ambigus: enjeux d’une théologia du croire. Paris: Cerf, 2004., p. 133)2 2 “Comprendre Kant c’est aller au-delà de lui” (TILLICH, 1972, p. 273). Inspirado nesta frase, propus em minha tese “pensar com Tillich”, expressão indicativa de uma busca de interlocução com o autor em uma realidade distinta: ao mesmo tempo de conversamos com um autor e seu pensamento, avançamos além dele (OLIVEIRA, 2004). uma teologia fundamental outramente, desafiado por novas gerações, suas questões e contestações. Afinal, parafraseando Tillich referindo-se a Kant, compreender Libanio significa ir além dele (TILLICH, 197229 TILLICH, P. La naissance de l’esprit moderne et la théologie protestante. Paris: Cerf, 1972., p. 273). Aliás, o próprio Libanio, indagando-se sobre que alterações introduziria, caso voltasse a lecionar, do ponto de vista do método, disse que

Proporia antes tarefas que pedissem reflexão, ilação, articulação, sistematização, e não conteúdo facilmente acessível. Usaria muito o método de perguntas concatenadas de modo que o aluno, ao respondê-las, formaria um eixo de compreensão da questão fundamental. E pediria que, a partir deles, expusessem livremente um tema, não permitindo leitura de texto. No caso concreto da Teologia Fundamental, sondaria quais são os problemas que a cultura de hoje levanta-lhes e como eles percebem as respostas

(LIBANIO, 20128 LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 24).

Do ponto de vista do conteúdo, ele indica alguns temas: primeiro, ecumenismo e pluralismo religioso, observando que deveria ser de forma transversal; depois, temas de sociedade que precisam ser refletidos teologicamente, como a questão de gênero e da ecologia; e, por fim, compreender melhor os movimentos restauradores, marcados pelo “neoconservadorismo institucionalizante em cultura de extrema subjetividade” (LIBANIO, 20128 LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 24-25).

Para pensar com Libanio, portanto, destacamos, primeiro, uma de suas grandes lições; depois, levantamos alguns questionamentos e, por fim, arriscamos uma proposta de ensino da teologia fundamental como “fé que busca compreender” (MURAD, 201218 MURAD, A. Aprender a pensar e a dialogar à luz da fé. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 105), conforme um jeito de pensar a fé em diálogo com outros pensadores e com a sociedade.

Aprendemos de Libanio uma lição que se repete em suas três obras de teologia fundamental: ele propõe partir das questões levantadas pelos estudantes para conversar melhor com as novas gerações, sem renunciar, contudo, ao papel de levantar questões fundamentais, e arriscar critérios de um real discernimento teológico e pastoral, tão urgente como necessário.

A crise contemporânea indica, porém, que “não vivemos uma época de mudanças, mas uma mudança de época”, frase que se tornou corriqueira, como ele mesmo atesta (LIBANIO, 20128 LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 199). Nesse contexto, a busca de segurança e fundamentos sólidos em tempos líquidos (BAUMAN, 20072 BAUMAN, Z. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.) confirma ainda mais que vivemos um tempo de muitas incertezas – “O futuro chama-se incerteza” (MORIN, 200017 MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2000., p. 81) – realidade que suscita mais perguntas que respostas. Isso, porém, não deixa de ser um sinal dos tempos, a ser considerado também como pista e novo horizonte de pensamento: “Há um momento em que percebemos que as perguntas nos deixam mais perto do sentido, da abertura do sentido, do que as respostas” (TOLENTINO MENDONÇA, 201732 TOLENTINO MENDONÇA, J. O pequeno caminho das grandes perguntas. Lisboa: Quetzal, 2017., p. 12). Nesse exercício, seguiremos a pista de algumas perguntas para continuar a tarefa e o ensino de uma teologia fundamental contemporânea.

1. Até que ponto o grande comunicador e teólogo J.B. Libanio não se contentou apenas em traduzir e/ou atualizar conteúdos, de forma mais explicativa e didática3 3 O próprio Libanio confessou, inclusive como opção: “prefiro o gênero mais do generalista ao do especialista” (LIBANIO, 2012, p. 210). , sem realizar uma virada significativa condizente com a grande mudança de época que ele próprio vislumbrou? Certamente, a tarefa de atualização era a mais urgente e decisiva no primeiro momento pós-conciliar. Mas, passado o tempo, fiel ao próprio movimento de aggiornamento, não se fazia necessário deliberar sobre algumas evoluções da teologia, da Igreja e da humanidade e, sobretudo, considerar questões fundamentais totalmente novas (LAMBERIGTS et al., 20157 LAMBERIGTS, M. et al. 50 anos após o Concílio Vaticano II: teólogos do mundo inteiro deliberam. São Paulo: Paulinas, 2017., p. 53-82; 151-156)?

2. A teologia libaniana, fortemente marcada pelos tratados da revelação e da fé, não teria ficado muito presa à categoria de revelação, esta contextualizada pela modernidade? É verdade que existe uma centralidade e importância da revelação, sobretudo nesses últimos séculos, mas importa ampliar as formas de dizer a manifestação de Deus, pois além de outras expressões fundamentais (“caminho”, “tradição”, “mistério”, “doutrina”, “tradição”), nenhuma delas pode substituir a de Evangelho (THEOBALD, 200128 THEOBALD, C. La Révélation. Paris: Ed. de l’Atelier, 2001., p. 7). E, no campo brasileiro, até que ponto não deveríamos pensar a revelação outramente, para além da modernidade, como por exemplo: “a obra de Aquino Júnior [Teologia e Hermenêutica] permitirá ao leitor ter contato com a genialidade de um outro pensamento teológico para além do ser e que, portanto, leva em conta o fato de que a Revelação de Deus de Jesus implodir os cânones de uma teologia teológico-bíblica da viragem moderna dessa ciência interpretativa. Em contrapartida, trata-se de uma outra teologia que se faz com uma outra-(mente), isto é, uma teologia outramente hermenêutica que leva em consideração a mente correlativa de um agir ou de uma práxis cravada na Revelação e na hermenêutica que passa, necessariamente, pelo crivo da carne, do corpo de Deus, isto é, da Palavra que se faz carne na palavra-carne dos pobres a quem se destina a boa-nova da salvação em meio à vulnerabilidade do Deus de Jesus crucificado, morto e ressuscitado pelas vítimas da história” (RIBEIRO, 202126 RIBEIRO, N. Prefácio. Pensar a hermenêutica teológica outramente: Do saber hermenêutico à sabedoria do Deus dos pobres. In: AQUINO JÚNIOR, F. Teologia e Hermenêutica: da “teologia como hermenêutica” ao momento hermenêutico da teologia. Petrópolis: Vozes, 2021., p. 10-11).

3. Assim como “a Bíblia insiste, pedagogicamente, na pluralidade de acessos” (TOLENTINO MENDONÇA, 201331 TOLENTINO MENDONÇA, J. Nenhum caminho será longo: Por uma teologia da amizade. São Paulo: Paulinas, 2013., p. 15), a teologia, com muita mais razão, deveria buscar essa diversidade para tentar aproximar-se do mistério de Deus que se revela de tantas formas e expressões da realização humana (QUEIRUGA, 201524 QUEIRUGA, A. T. A teologia depois do Vaticano II: diagnósticos e propostas. São Paulo: Paulus, 2015., p. 67-72). Será que a sua visão de modernidade e pós-modernidade não era demasiado entusiasta? Até que ponto Libanio considerou a dinâmica de “escondimento” na revelação e silêncio na fé, como acenam alguns autores (TOLENTINO MENDONÇA, 201530 TOLENTINO MENDONÇA, J. A leitura infinita: a Bíblia e a sua interpretação. São Paulo: Paulinas; Recife: Unicap, 2015., p. 75-123; MENDOZA-ALVAREZ, 201114 MENDOZA-ÁLVAREZ, C. O Deus escondido da pós-modernidade: desejo, memória e imaginação escatológica. Ensaio de teologia fundamental pós-moderna. São Paulo: Realizações, 2011.)? Além disso, como considerar a perspectiva decolonial na teologia fundamental, a exemplo do que se busca em outros campos (RASCHIETTI, 202225 RASCHIETTI, E. A missão em questão: a emergência de um paradigma missionário em perspectiva decolonial. Petrópolis: Vozes, 2022.)?

4. Será que as reflexões de Libanio não permaneceram, finalmente, reféns de uma certa filosofia do sentido, confirmando que seu grande “interlocutor privilegiado” foi sempre Henrique de Lima Vaz, como ele próprio afirmou (LIBANIO, 20128 LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 210)? Será que essa dívida ou escolha de um fundamento sólido segundo o pensamento vaziano, por mais valioso e importante que seja, não o inibiu de interagir mais radicalmente com outras formas de pensar nas diversas correntes de pensamento da teologia da libertação, como ele tão amplamente classificou (LIBANIO, 198711 LIBANIO, J. B. Teologia da libertação: roteiro didático para um estudo. São Paulo: Loyola, 1987.), mas também com as gerações emergentes (MENDOZA-ÁLVAREZ, 201114 MENDOZA-ÁLVAREZ, C. O Deus escondido da pós-modernidade: desejo, memória e imaginação escatológica. Ensaio de teologia fundamental pós-moderna. São Paulo: Realizações, 2011.), considerando o desmoronamento da própria modernidade e a uma outra forma de pensar a própria teologia em uma era pós-metafísica, pós-cristã?

3.3 Teologia fundamental outramente

Nesse passo, a título de provocação e na perspectiva do exercício docente, gostaria de propor dois momentos distintos no ensino desta disciplina universitária. Considerando que não podemos partir de uma cultura religiosa cristã básica de nossos estudantes, faz-se necessário uma visão ampla e histórica da própria linguagem da fé, segundo os conceitos que foram reelaborados ou criados ao longo da história do cristianismo e, ao mesmo tempo, os egressos precisam não apenas compreender criticamente, mas, como cristãos, inclusive, continuar o exercício de fazer teologia diante de novas situações históricas, conforme indicam as próprias diretrizes curriculares para os cursos de Bacharelado em Teologia (MURAD, 201218 MURAD, A. Aprender a pensar e a dialogar à luz da fé. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 123-124).

Proponho, assim, reorganizarmos o curso de teologia fundamental em dois momentos distintos: primeiro, estudar, em uma perspectiva mais histórica, a gestação da própria linguagem da fé, desde as apologias antigas até a teologia fundamental moderna e contemporânea; segundo, fazer uma reflexão e debate levantando as questões fundamentais de teologia, de forma mais interativa e participativa (sala de aula invertida). Para essa abordagem histórica preliminar pode-se usar, por exemplo, a obra clássica de Sesboüé e Theobald (1996)27 SESBOÜÉ, B.; THEOBALD, C. La parole du salut: histoire des dogmes. Tome IV. Paris: Desclée, 1996., supracitada e traduzida no Brasil. Trata-se, porém, não de privilegiar os conceitos complexos e abstratos, embora desenvolvendo-os, mas, sobretudo, buscando contextualizar cada um deles, ensinando a evitar anacronismos e conservadorismos infundados, mostrando a própria dinâmica da teologia em seu exercício de reinterpretar a fé a partir de suas contestações ao longo da história. Por sua vez, faz-se indispensável, depois de um itinerário maior dos estudantes nos estudos das demais disciplinas, propor um segundo momento, de preferência no final da graduação, proporcionando uma retomada de todos os “tratados” ou disciplinas teológicas, numa perspectiva de síntese pessoal e coletiva, sob o modo de questões fundamentais. Além de permitir uma maior interação e debate, tal exercício acadêmico poderia proporcionar uma visão geral da teologia e, eventualmente, a possiblidade de uma continuidade, seja no ministério pastoral seja em uma pós-graduação. Nesse caso, a melhor forma seria de seminário interdisciplinar, inclusive convidando os demais professores para um debate com o de teologia fundamental.

Enfim...

Libanio cumpriu à risca a sua missão de buscar as razões de nossa esperança perante os desafios do tempo em que viveu, fazendo uma teologia alinhada às orientações conciliares, não apenas atualizando os tratados da fé e da revelação, mas tratando de tantos outros temas em diálogo com a sociedade. Incluiu na teologia fundamental os problemas de fronteiras (METZ, 196515 METZ, J.-B. Éditorial à l’édition française. Concilium, n. 6, p. 3-7, 1965., p. 3-7), segundo o paradoxo cristão fundamental: por um lado, a fé cristã repousa sobre a afirmação da revelação plena de Deus em Jesus Cristo, uma vez por todas (ephapax: Hb 9,12), por outro, uma “nova interpretação deve ser recomeçada diante de cada situação nova e perante quem quer que nos interpele (1Pd 3,15)” (OLIVEIRA, 201221 OLIVEIRA, P. R. F. Dar razões da esperança cristã no seio da ambiguidade religiosa. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 87).

Desse modo, pensar uma teologia fundamental outramente, a rigor, não significa senão continuar o exercício tão antigo como o próprio cristianismo de buscar novas razões e novas formas de dizer a nossa esperança diante de nós mesmos e de tantos outros interlocutores, estudantes e autores, em sua diversidade irredutível de viver e de pensar, preparando-nos, assim, para testemunhar e justificar a fé em toda sua justeza e mistério inesgotável, diante de toda pessoa que dela nos pedir contas, em qualquer tempo e lugar, mas com “mansidão e respeito” (1Pd 3,16), afinal, “só o amor é digno de fé” (BALTHASAR, 19991 BALTHASAR, H. U. L’amour seul est digne de foi. Saint-Maur: Parole e Silence, 1999.). Assim, seja!

  • 1
    A Libanio, reverenciamos a compreensão pioneira da importância desse tema na teologia brasileira, mas importa destacar a recente obra do jovem teólogo Sérgio Albuquerque Damião5 DAMIÃO, S. A. Teologia da Felicidade. São Paulo: Loyola; Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; Recife: Unicap, 2022., primeira reflexão teologicamente cristã aprofundada sobre o tema, em Teologia da Felicidade (2022).
  • 2
    “Comprendre Kant c’est aller au-delà de lui” (TILLICH, 197229 TILLICH, P. La naissance de l’esprit moderne et la théologie protestante. Paris: Cerf, 1972., p. 273). Inspirado nesta frase, propus em minha tese “pensar com Tillich”, expressão indicativa de uma busca de interlocução com o autor em uma realidade distinta: ao mesmo tempo de conversamos com um autor e seu pensamento, avançamos além dele (OLIVEIRA, 200419 OLIVEIRA, P. R. F. Discerner la foi dans des contextes religieux ambigus: enjeux d’une théologia du croire. Paris: Cerf, 2004.).
  • 3
    O próprio Libanio confessou, inclusive como opção: “prefiro o gênero mais do generalista ao do especialista” (LIBANIO, 20128 LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido. São Paulo: Paulinas, 2012., p. 210).

Referências

  • 1
    BALTHASAR, H. U. L’amour seul est digne de foi Saint-Maur: Parole e Silence, 1999.
  • 2
    BAUMAN, Z. Tempos líquidos Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
  • 3
    BINGEMER, M.C.L. A experiência e a história: espaços da Teologia Fundamental. In: GASDA, E. E. Sobre a Palavra de Deus. Hermenêutica bíblica e Teologia Fundamental. Petrópolis: Vozes, 2012.
  • 4
    CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum 1965. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html Acesso em: 4 nov 2023.
    » https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html
  • 5
    DAMIÃO, S. A. Teologia da Felicidade São Paulo: Loyola; Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio; Recife: Unicap, 2022.
  • 6
    DE MORI, G. Ouvinte e servidor da Palavra: bibliografia primária de João Batista Libanio. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido São Paulo: Paulinas, 2012.
  • 7
    LAMBERIGTS, M. et al 50 anos após o Concílio Vaticano II: teólogos do mundo inteiro deliberam. São Paulo: Paulinas, 2017.
  • 8
    LIBANIO, J. B. Entrevista a Flávio Senra. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido São Paulo: Paulinas, 2012.
  • 9
    LIBANIO, J. B. Eu creio, nós cremos: tratado da fé. São Paulo: Loyola, 2000.
  • 10
    LIBANIO, J. B. Introdução à Teologia Fundamental São Paulo: Paulus, 2014.
  • 11
    LIBANIO, J. B. Teologia da libertação: roteiro didático para um estudo. São Paulo: Loyola, 1987.
  • 12
    LIBANIO, J. B. Teologia da revelação a partir da modernidade São Paulo: Loyola, 1992. Coleção Fé e Realidade.
  • 13
    MALZONI, C. V.; PACHECO, L.; OLIVEIRA, P. R. F. As portas de uma igreja aberta segundo João Evangelista [E outras histórias que a Bíblia não contou]. São Paulo: Paulinas, 2019.
  • 14
    MENDOZA-ÁLVAREZ, C. O Deus escondido da pós-modernidade: desejo, memória e imaginação escatológica. Ensaio de teologia fundamental pós-moderna. São Paulo: Realizações, 2011.
  • 15
    METZ, J.-B. Éditorial à l’édition française. Concilium, n. 6, p. 3-7, 1965.
  • 16
    METZ, J.-B. La foi dans l’histoire et dans la société: essai de théologie fondamentale pratique. Paris, Cerf, 1999.
  • 17
    MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 2000.
  • 18
    MURAD, A. Aprender a pensar e a dialogar à luz da fé. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido São Paulo: Paulinas, 2012.
  • 19
    OLIVEIRA, P. R. F. Discerner la foi dans des contextes religieux ambigus: enjeux d’une théologia du croire. Paris: Cerf, 2004.
  • 20
    OLIVEIRA, P. R. F. O Rosto Plural da Fé: da ambiguidade religiosa ao discernimento do crer. Recife: Unicap; São Paulo: Loyola, 2008.
  • 21
    OLIVEIRA, P. R. F. Dar razões da esperança cristã no seio da ambiguidade religiosa. In: MURAD, A.; BOMBONATTO, V. Teologia para viver com sentido São Paulo: Paulinas, 2012.
  • 22
    OLIVEIRA, P. R. F. Libanio, João Batista théologien (1932-1914). In: CHEZA, M. et. Al Dictionnaire historique de la Théologie de la Libération Paris: Lessius, Namur, 2017.
  • 23
    OLIVEIRA, P. R. F.; LIMA, D. N. O papa Francisco na agenda do Concílio Vaticano II: por uma Igreja servidora e pobre, a serviço do Evangelho e do Reino. Horizonte, Belo Horizonte, v. 19, n. 59, p. 582-607, 2021.
  • 24
    QUEIRUGA, A. T. A teologia depois do Vaticano II: diagnósticos e propostas. São Paulo: Paulus, 2015.
  • 25
    RASCHIETTI, E. A missão em questão: a emergência de um paradigma missionário em perspectiva decolonial. Petrópolis: Vozes, 2022.
  • 26
    RIBEIRO, N. Prefácio. Pensar a hermenêutica teológica outramente: Do saber hermenêutico à sabedoria do Deus dos pobres. In: AQUINO JÚNIOR, F. Teologia e Hermenêutica: da “teologia como hermenêutica” ao momento hermenêutico da teologia. Petrópolis: Vozes, 2021.
  • 27
    SESBOÜÉ, B.; THEOBALD, C. La parole du salut: histoire des dogmes. Tome IV. Paris: Desclée, 1996.
  • 28
    THEOBALD, C. La Révélation Paris: Ed. de l’Atelier, 2001.
  • 29
    TILLICH, P. La naissance de l’esprit moderne et la théologie protestante Paris: Cerf, 1972.
  • 30
    TOLENTINO MENDONÇA, J. A leitura infinita: a Bíblia e a sua interpretação. São Paulo: Paulinas; Recife: Unicap, 2015.
  • 31
    TOLENTINO MENDONÇA, J. Nenhum caminho será longo: Por uma teologia da amizade. São Paulo: Paulinas, 2013.
  • 32
    TOLENTINO MENDONÇA, J. O pequeno caminho das grandes perguntas Lisboa: Quetzal, 2017.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2024

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2024
  • Aceito
    02 Mar 2024
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