Resumo
A despeito de considerar a divisão sexual do trabalho como um problema, a psicodinâmica do trabalho ainda não investiga, de maneira aprofundada, as diferenças de gênero no trabalho. Este estudo objetivou realizar uma revisão sistemática dos estudos sobre a psicodinâmica do trabalho feminino nas principais bases de dados nacionais e internacionais, nos idiomas inglês, português, francês e espanhol. Os resultados evidenciaram que, do total de 236 artigos selecionados para revisão, apenas 29 tratam do trabalho feminino. Conclui-se que as especificidades de gênero devem ser consideradas em profundidade no campo da psicodinâmica do trabalho.
Palavras-chave: psicodinâmica do trabalho; trabalho feminino; revisão sistemática
Abstract
Despite of considering the sexual division of labor as a problem, the work psychodynamics has not yet investigated in depth the gender differences at work. This study aimed to carry out a systematic review of studies on the psychodynamics of women's work in the main national and international databases, in English, Portuguese, French and Spanish. The results show that, of the total of 236 articles selected for review, only 29 deal with women's work. It is concluded that gender specificities must be considered in depth in the field of work psychodynamics.
Keywords: work psychodynamics; female work; systematic review
A desigualdade de gênero é uma questão para o mundo do trabalho desde que o capitalismo se consolidou (Federici, 2017). Homens assumem posições hierárquicas mais altas não só no mundo corporativo, mas na sociedade em geral (Cyrino, 2009; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2018). Os empregadores costumam associar os cargos de poder ao desenvolvimento de características como virilidade, força e coragem, enquanto destinam à mulher as finalidades relacionadas ao cuidado, à sensibilidade e à empatia.
Para tratar das características ditas femininas no trabalho, Dejours criou o neologismo mulheridade, contrapondo o conceito de virilidade (Molinier, 2002). A mulheridade diz respeito, na prática, a um conjunto de posturas e condutas por meio das quais uma mulher age de acordo com as expectativas sociais de gênero (submissão, docilização) para evitar retaliações. Mesmo quando a mulher tenta assumir um papel defensivo equivalente à virilidade, ela não consegue alcançar institucionalmente o mesmo patamar masculino.
A responsabilidade pelo trabalho doméstico, bem como pelo desempenho de atividades não remuneradas e subsistência da própria família é predominantemente atribuída à mulher. Além disso, algumas profissões ainda são consideradas femininas, como enfermagem ou magistério (Bruschini & Lombardi, 2000), e estão relacionadas ao cuidado, atribuição socialmente destinada às mulheres. A esse fato, soma-se a questão de que o grupo que exerce atividade doméstica não entra como parte da população economicamente ativa (IBGE, 2018; Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [IPEA], 2019), ou seja, as mulheres que se dedicam exclusivamente ao lar são consideradas como economicamente inativas pelo IBGE (Bruschini & Lombardi, 2002; IBGE, 2018).
Em estudo sobre qualidade de vida no trabalho e diferenças de gênero, Antloga e Maia (2014) evidenciaram que as experiências de trabalho são vivenciadas de modo diferente por homens e mulheres: estas tendem a perceber determinados fatores, como condições de trabalho piores que as dos homens, ainda que estejam no mesmo local de trabalho e submetidas às mesmas regras. Tal achado dialoga com o fato de que os ambientes e rotinas de trabalho são geralmente desenhados por e para homens e desconsideram o papel social que as mulheres seguem cumprindo, embora inseridas no mercado de trabalho.
Buscando compreender a dinâmica que envolve a pessoa trabalhadora em confronto com o real de seu trabalho, a Psicodinâmica do Trabalho constituiu-se como uma importante abordagem teórico-metodológica no estudo das realidades laborais. A abordagem foi inaugurada por Christophe Dejours na década de 1980 na França, com a publicação do livro Travail: usure mentale. Essai de Psychopathologie du travail. Consolidou-se como abordagem científica na década de 1990 com a publicação de Souffrance en France e L'évaluation du Travail à L'épreuve du Réel: Critique des Fondementes de L'évaluation (Mendes, 2007). Para a Psicodinâmica do Trabalho, o trabalho é entendido como categoria ontológica, com potencial de ser fonte de prazer ou de sofrimento.
Conforme apontam Giongo et al. (2015), os estudos contemporâneos na abordagem vêm tratando de questões como as novas configurações das organizações do trabalho, as estratégias defensivas, as patologias sociais e os processos de subjetivação face à desestruturação das configurações de trabalho como as conhecemos. Enquanto trabalha, a pessoa é convocada a desenvolver estratégias para lidar com o real, que é sempre diferente do prescrito que lhe é designado. Para a abordagem, quando o trabalho propicia liberdade e reconhecimento, torna-se fonte de prazer. Por sua vez, o sofrimento acontece quando o trabalhador não consegue mais fazer negociações com a organização onde está inserido, podendo desenvolver estratégias defensivas ou de mobilização. A Psicodinâmica do Trabalho aponta que o sofrimento pode ser criativo ou patogênico: o primeiro ocorre enquanto o trabalhador avança na compreensão da subjetividade sobre o trabalho e percebe que é capaz de realizar mudanças, encontrando possibilidades de negociação e de retorno positivo para si mesmo, bem como para a organização. Por sua vez, o segundo ocorre quando o trabalhador evidencia a impossibilidade de negociações efetivas e mudanças concretas na organização do trabalho (Mendes, 2007).
No início desta abordagem, as pesquisas realizadas tinham como principal público os homens, especialmente pela natureza dos trabalhos para os quais eram demandadas intervenções. A despeito de Dejours (2012) sempre ter apontado as questões de variabilidade interindividual como extremamente importantes para as análises, dentre elas, o gênero, as primeiras descobertas empíricas da teoria eram consideradas com base em um referencial masculino-neutro, sem averiguações verdadeiras de que as situações vividas pelas mulheres também se enquadravam nas descobertas (Dejours, 2012; Molinier, 2004a, 2004b). Foi apenas com os trabalhos de Danièle Kergoat e Helena Hirata que se passou a questionar o fato de a Psicodinâmica do Trabalho incluir apenas o homem, sugerindo assim, que fossem investigadas as relações sociais de gênero (Molinier, 2004a, 2004b). As publicações em Psicodinâmica do Trabalho evidenciam uma importante lacuna: poucas são as produções que destacam a questão de gênero no trabalho. Esta variável se constitui como um vasto campo a ser explorado, não só para fins de desenvolvimento da abordagem, como também para contribuir com a equidade de gênero.
Considerando todo o exposto, verifica-se que nas investigações da psicodinâmica do trabalho ainda não se discriminam minuciosamente as tarefas que em nossa sociedade estão associadas a trabalho “de homem” e trabalho “de mulher”, como se tal diferença fosse menos importante nas análises, por exemplo, acerca da organização do trabalho e de estratégias defensivas. A motivação para a realização desta revisão foi evidenciar tal lacuna e colaborar com a identificação de espaços e especificidades que ainda precisam ser alcançados pela abordagem teórico-metodológica em questão. Assim, este estudo teve por objetivo realizar uma revisão sistemática dos estudos sobre a psicodinâmica do trabalho feminino nas principais bases de dados nacionais e internacionais, nos idiomas inglês, português, francês e espanhol.
Método
A revisão sistemática é um tipo de estudo que, a partir de dados secundários, viabiliza o mapeamento de publicações em determinada área, possibilitando verificar como o conjunto destes estudos responde a perguntas previamente determinadas quanto ao campo investigado (Ercole et al., 2014). O presente estudo é uma revisão sistemática de publicações em Psicodinâmica do Trabalho Feminino no campo das ciências do trabalho, com base em artigos científicos publicados em revistas indexadas em português, inglês, espanhol e francês, sem restrição de data. Possui três questões norteadoras que se configuraram, para fim de resultados, como categorias de análise:
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Como é apresentado o trabalho feminino e suas definições no âmbito da Psicodinâmica do Trabalho? (categoria: Conceituação do trabalho feminino);
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Quais são as vivências de prazer e sofrimento no trabalho para as mulheres? (categoria: Gênero e sofrimento no trabalho);
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Quais são as principais estratégias de mediação desenvolvidas por mulheres para lidar com o real do trabalho? (categoria: Estratégias de mediação desenvolvidas pelas mulheres no confronto com o real do trabalho).
Procedimento
Inicialmente, foram definidas as bases de dados/bibliotecas, considerando as mais relevantes na área de ciências do trabalho, para realização da busca por artigos. Foram selecionadas as bases Scopus, Proquest, Web of Science, Medline e Elsevier. Para investigação complementar da literatura cinza, definiu-se a busca de artigos científicos em revistas não indexadas por meio da plataforma Google Scholar. Tal busca se fez necessária uma vez que artigos de relevância para a área e publicados, principalmente em periódicos franceses, não se encontram indexados em bases de dados tradicionais. A seleção inicial, no mês de maio de 2018, foi empreendida por duas juízas independentes, previamente treinadas, que conduziram a revisão sistemática, sem restrição de data para os estudos encontrados. Os descritores utilizados para a busca tanto das bases indexadas quanto no Google Scholar foram ("psicodinâmica do trabalho" OR "psychodynamic of work" OR "psychodynamique du travail" OR "psicodinámica del trabajo") AND ("feminino" OR "mulher" OR "woman" OR "female" OR "femme" OR "féminin" OR "mujer" OR "femenino") e truncamentos pertinentes a cada base. Nas bases indexadas, foram encontrados 219 artigos. Em relação à literatura cinza, foram encontrados 4.628 registros.
Os critérios de inclusão foram: (1) a constância, no título ou no resumo do termo “Psicodinâmica do Trabalho”; (2) o trabalho feminino ter sido categoria de análise no estudo; (3) artigos originais provenientes de estudos prospectivos e retrospectivos. Como critérios de exclusão: artigos de revisão e de opinião, teses e dissertações; artigos que não traziam destaque às questões de gênero e a ausência da temática abordada como norteadora do artigo. As juízas realizaram esse processo de forma independente, seguido por uma avaliação consensual dos artigos considerados adequados. Após analisar os artigos de acordo com os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 13 artigos das bases de dados indexadas e 16 artigos da literatura cinza, conforme apresentado na Figura 1. Os critérios utilizados na presente revisão sistemática são apontados por De-la-Torre-Ugarte-Guanilo et al. (2011).
Após finalizada a aplicação dos critérios de inclusão, os artigos selecionados foram lidos na íntegra com o objetivo de investigar as seguintes categorias: (1) conceituação do trabalho feminino para a Psicodinâmica do Trabalho (PDT); (2) gênero e sofrimento no trabalho: e (3) estratégias de mediação desenvolvidas pelas mulheres no confronto com o real do trabalho. Tais categorias serão explicitadas e discutidas no presente estudo.
Resultados
Dos 13 estudos selecionados nas bases de dados indexadas, verificou-se que: dois foram publicados na área de saúde coletiva, três foram publicados em periódicos da área de ciências humanas e sociais, dois de enfermagem, três de psicologia, dois de engenharia de produção e um em revista de estudos das mulheres, datados entre 2002 e 2018, conforme Tabela 1.
Dos 16 estudos publicados em revistas não indexadas, verificou-se que um foi publicado em revista na área das ciências econômicas, seis na área de ciências sociais e humanas, dois na área de psicanálise e ciências humanas, quatro na área da psicologia (clínica e do trabalho), um em revista de psicopatologia e psicodinâmica do trabalho, um em revista de relações trabalhistas e um em revista de estudos das mulheres, datados entre 2000 e 2017, conforme disposto na Tabela 2.
A análise dos 29 artigos selecionados será apresentada a seguir de maneira global, indexados e não indexados conjuntamente, conforme preconizado por Galvão e Ferreira (2014). A análise dos resultados da categoria “Conceituação do trabalho feminino para PDT”, contemplada com 18 artigos, mostra que o trabalho feminino é descrito como invisível, subjetivo e socialmente desvalorizado e que os cargos normalmente ocupados por mulheres são relacionados ao trabalho do cuidar e ao trabalho emocional (Alderson, 2005; Brito et al., 2014; Dorna & Muniz, 2018; Fernandes et al., 2002; Fonseca & Santos, 2007; Lada, 2009; Messer, 2013; Molinier, 2002a, 2003, 2004a, 2004b, 2008, 2010, 2014, 2015; Saint-Arnaud et al., 2011; Pezé, 2004; Tschiedel & Traesel, 2013). Além disso, é exposto o envolvimento das esferas psicológica, afetiva, social e cognitiva no trabalho feminino (Hirata, 2002; Molinier 2002a, 2003, 2004a, 2004b, 2008, 2010). Outro dado encontrado foi a colocação da maternidade como uma forma de trabalho, mesmo que o senso comum a considere como algo natural, instintivo ou prazeroso, de maneira a desqualificá-la como trabalho (Messer, 2013; Tschiedel & Traesel, 2013). Para compreensão do trabalho feminino, também é fundamental a análise da divisão sexual do trabalho (Hirata, 2000, 2002).
Na análise da categoria “Gênero e sofrimento no trabalho”, 13 artigos se enquadraram. Verificou-se que, além do trabalho prescrito, características maternais e dóceis são esperadas das mulheres, como exigência a mais em relação aos homens cujo mesmo trabalho emocional não é esperado (Dorna & Muniz, 2018; Molinier, 2002a, 2002b, 2003, 2008, 2009, 2010). Esta diferença de expectativas permite ao homem exercer o seu trabalho de forma mais objetiva e com menos sobrecarga emocional. Por vezes, esperam-se das mulheres posturas, vestimentas, caracterização (maquiagem, acessórios e perfumes, por exemplo) e comportamentos específicos, enquanto para os homens esses detalhes não se fazem necessários. Ademais, foi evidenciado uma ênfase na dupla ou tripla jornada feminina (Fernandes et al., 2002; Hirata, 2002; Niño, 2017; Tschiedel & Traesel, 2013) como fator gerador de mal-estar, cansaço e sofrimento. O trabalho emocional requisitado para as mulheres não é reconhecido porque é considerado como um dom natural feminino, porém esse trabalho requer a manifestação de comportamentos que exigem esforços. Uma vez que tais esforços sequer são vistos, pode-se falar em invisibilidade do trabalho (Brito et al., 2014; Cunha & Vieira, 2009; Hirata, 2002).
Em “Estratégias de mediação desenvolvidas pelas mulheres no confronto com o real do trabalho”, nos 17 artigos revisados que apresentaram esta temática foram evidenciadas estratégias defensivas construídas nos níveis individual e coletivo. Em nível individual, as estratégias emocionais empregadas no ambiente de trabalho encontradas foram a aceitação de limites pessoais (Molinier, 2009); a defesa dos próprios direitos (Molinier 2009); o amor pela profissão e orgulho do trabalho realizado (Brito et al., 2014; Carmo et al., 2016; Dorna & Muniz, 2018; Fernandes et al., 2002; Fonseca & Santos, 2007); o desenvolvimento da habilidade de compaixão para o trabalho de cuidado, principalmente quanto este era da área da saúde (Borgeaud-Garciandia, 2017; Dorna & Muniz, 2018; Molinier 2004a, 2004b, 2008, 2010; Sadock, 2003), e o uso do humor (Molinier, 2008). Outras estratégias de mediação identificadas foram a utilização de coragem (Molinier, 2004a, 2004b), de mulheridade e defesa viril (Dorna & Muniz, 2018; Molinier, 2000, 2002a, 2003, 2006). Em nível coletivo, são utilizadas ideologias defensivas da profissão: a busca de apoio no grupo de pertencimento - considerado como um contexto acolhedor e de compartilhamento - criação de vínculo afetivo e, ao mesmo tempo, afastamento emocional (Borgeaud-Garciandia, 2017; Carmo et al., 2016; Dorna & Muniz, 2018; Molinier, 2002a, 2003, 2004a, 2004b, 2008; Niño, 2017; Sadock, 2003).
Discussão
Os estudos recuperados na presente revisão evidenciam que as várias expectativas em torno de comportamentos específicos quanto ao trabalho das mulheres são geradoras de sofrimento, já que a tentativa de imposição de normas de conduta implica desgastes psíquicos e físicos adicionais para lidar com as cobranças. A análise dos resultados mostrou que os artigos encontrados vêm abordando as principais categorias de análise em Psicodinâmica do Trabalho (contexto de trabalho, vivências de prazer e sofrimento e estratégias de mediação) de maneira pouco abrangente. Por exemplo, observou-se que muitos trataram de estratégias de mediação, porém não se aprofundaram em questões específicas do trabalho feminino, como discrepâncias salariais, sobrecarga emocional, dupla jornada de trabalho, expectativas quanto à maternidade, multiplicidade de tarefas e exigências de desempenho. Essas peculiaridades se fazem presentes na percepção das mulheres acerca do contexto de trabalho, como apontado por Antloga e Maia (2014). Quando essas questões não são aprofundadas pela literatura, a visibilidade necessária de elementos cruciais na análise do trabalho feminino não é atingida.
A ausência de um conceito que circunscreva o que é trabalho feminino para a psicodinâmica do trabalho nos parece nodal nos artigos. Evidentemente, não se trata de atribuir a execução de determinadas atividades exclusivamente às mulheres, mas de demonstrar e afirmar que, até o presente momento histórico, alguns trabalhos são endereçados a elas, causando-lhes sacrifícios físicos, cognitivos, afetivos e financeiros. Por exemplo, ao tratar o trabalho de maternar como uma ocorrência sem maiores impactos, os artigos que mencionam tal trabalho sem lhe atribuir o devido “peso” terminam por reforçar a invisibilidade já tão discutida e evidenciada no que tange ao trabalho materno.
Outro ponto relevante é que, na literatura aqui revisada, verificou-se que a maior parte das pesquisas versa sobre atividades que, na atual divisão social do trabalho, já são destinadas às mulheres. Entretanto, a discussão sobre os porquês da escolha de se analisar quase que exclusivamente este tipo de atividade aparecem, nos artigos, de maneira residual. Não foram encontrados estudos que preenchessem os critérios de inclusão e que abordassem o trabalho de mulheres em profissões socialmente designada para homens. A ausência desta discussão reforça, sem pretender, a banalização da divisão social do trabalho e a ideia de que há trabalhos que são mesmo femininos, especialmente os trabalhos relacionados ao cuidado (Bruschini & Lombardi, 2000).
A discussão sobre o serviço doméstico, embora não tenha sido objetivo de nenhum dos artigos investigados nesta revisão sistemática, indica que para qualquer reflexão futura no campo da psicodinâmica do trabalho é fundamental a realização de trabalhos que impliquem o protagonismo das mulheres. O trabalho de cuidado no ambiente doméstico é praticamente compulsório para o gênero feminino e antecede, para a maior parte das mulheres, qualquer outra vivência de trabalho na esfera pública. Hipotetiza-se, inclusive, que a atividade doméstica “formata” as mulheres para estratégias de defesa ou enfrentamento de sua realidade de trabalho fora de casa. Pode-se pensar que, para as mulheres, é relativamente “natural” aceitarem determinadas tarefas nas organizações. Por exemplo, supõe-se que o fato das mulheres assumirem as tarefas de cuidado com atividades menores, mesmo quando estão em cargos superiores, seja um traço aprendido no fazer doméstico.
Na análise da categoria Gênero e sofrimento no trabalho, 13 artigos se enquadraram. Aqui cabe discutir a questão do trabalho “emocional” das mulheres. Quando se espera de uma trabalhadora que ela planeje suas ações e contorne seus sentimentos para parecer dócil e maternal, gera-se uma demanda adjacente (Cyrino, 2009; Dorna & Muniz, 2018; Molinier, 2002a, 2002b, 2003, 2008, 2009, 2010). Este trabalho invisível de gerenciar os sentimentos em detrimento do direito de expressá-los sem outro nível de elaboração, como é permitido e valorizado nos homens pode gerar custos físicos e cognitivos para as mulheres, além do evidente custo afetivo. Pode, também, moldar suas estratégias de mediação de maneira a substanciar a docilização como forma de enfrentar, ou se submeter, a adversidades.
O sofrimento aparece fortemente atrelado à desvalorização e invisibilidade do trabalho feminino evidenciados nos salários mais baixos, nas longas jornadas, na precarização das condições de trabalho, no assédio moral e sexual e na vulnerabilidade. Constatou-se também a dificuldade dos companheiros de aceitarem que a mulher trabalhe e que contribua com a renda familiar. Por fim, em consonância com a literatura indexada, também se detectou a opressão que a mulher sofre no ambiente de trabalho por ter que agir de acordo com o estereótipo de ser dócil, paciente e acolhedora. A objetividade permite aos homens um menor envolvimento nas questões afetivas dos seus pares, portanto, hipoteticamente, sofrerão menos custos emocionais em relação às mulheres. Vale ressaltar que questões hipotéticas relacionadas ao adoecimento por defesa viril não se passam despercebidas, mas não serão objeto de discussão deste estudo.
Também não se verificou uma discussão aprofundada sobre os desafios enfrentados pelas trabalhadoras pelo simples fato de serem mulheres. Há carência de reflexão sobre as implicações do trabalho feminino, carência esta já apontada por Antloga e Maia (2014), que defendem que as diferenças de gênero no trabalho e as expectativas quanto ao trabalho feminino, em contraposição ao masculino, fazem com que o trabalhar seja vivenciado de forma diferente entre homens e mulheres. Assim, é atribuída uma carga emocional maior às mulheres, devido ao seu papel feminino, como a expectativa de que as mulheres desempenhem seus trabalhos com características maternais e dóceis.
Mesmo quando a mulher opta por abrir mão de algum papel, como o de ser mãe ou de se casar, ainda há um grande volume de tarefas que lhes são atribuídas (Fernandes et al., 2002; Hirata, 2002; Niño, 2017; Tschiedel & Traesel, 2013). Por outro lado, há também desafios a enfrentar no ambiente de trabalho, como discrepâncias salariais, diferenças na qualidade dos empregos e espaços, questões relacionadas à ergonomia do trabalho, exigência permanente de desempenho superior, além da falta de compreensão sobre as especificidades orgânicas femininas como menstruação, gravidez, puerpério e menopausa (Dorna & Muniz, 2018; Hirata, 2000, 2002).
Como exemplos, há várias questões que comprovam hábitos prejudiciais à mulher em relação ao real do trabalho: a temperatura no ambiente de trabalho geralmente é regulada para estar mais fria, agradável ao homem, mas desconfortável para as mulheres; os custos extras de dinheiro e tempo impostos às mulheres para poderem seguir o padrão estético de feminilidade exigido pelas organizações; as disparidades de salários pagos a mulheres em mesmo cargos que homens, executando as mesmas funções; e o peso que a maternidade tem na carreira da mulher, diferentemente do peso da paternidade na carreira do homem (Messer, 2013; Tschiedel & Traesel, 2013). Essa grande sobrecarga faz com que elas precisem buscar frequentemente estratégias de manejo individuais e coletivas para se protegerem e a profissão que escolheram (Sadock, 2003), seja por meio do autoconhecimento e dedicação de tempo para si, até a atribuição de afeto à profissão (Molinier, 2008).
A questão da manutenção de uma aparência com características sociais de feminilidade também é uma questão impactante na jornada de trabalho feminina e em sua realidade como um todo (Molinier, 2002a, 2002b, 2008). Sabe-se que a mulher é compelida a acordar mais cedo para se arrumar, a ter mais dispêndio financeiro para acessar recursos estéticos e ainda a ter que se planejar para desempenhar com sucesso as ações necessárias para alcançar a aparência ideal. Ao despender tempo com isso, não só a mulher se desgasta mais, como também usa o tempo que poderia ser investido em sua capacitação, descanso ou lazer, por exemplo.
Mesmo considerando os artigos que foram excluídos de nossa análise por não preencherem os critérios de inclusão, verifica-se que a produção sobre trabalho feminino em psicodinâmica do trabalho ainda é tímida, considerando-se o total do que é produzido todos os anos e da importância da área nos cenários das ciências do trabalho. Ainda, considerando-se o que é produzido, podemos afirmar que as mulheres, na maioria dos estudos, aparecem como uma porcentagem dos participantes, apenas, sem que as especificidades de ser mulher sejam devidamente consideradas.
Outro ponto a se destacar no presente estudo foi a discrepância entre o número de artigos encontrados na literatura cinza e nas bases indexadas. Esse resultado reflete a realidade de que os autores que mais publicam na área de Psicodinâmica do Trabalho Feminino encontram-se na Europa e não publicam em revistas indexadas, tornando o acesso aos artigos mais difícil, uma vez que fogem do padrão CAPES.
A busca de estudos publicados na literatura cinza foi feita como tentativa de suprir essa limitação encontrada referente à base de dados, onde foi descoberto um volume maior de resultados em francês, o que está mais de acordo com o que se é esperado, uma vez que os teóricos considerados referência na Psicodinâmica do Trabalho são europeus. Além disso, quantitativamente, os artigos selecionados da literatura cinza responderam de maneira mais completa às categorias propostas, demonstrando a carência existente nas bases de dados.
A psicodinâmica do trabalho, desde os seus primórdios, se caracterizou como uma disciplina contra hegemônica e com foco no trabalhador, até então tomado de maneira genérica. Entretanto, com os avanços dos estudos na área de gênero e trabalho, evidencia-se cada vez mais a necessidade da psicodinâmica do trabalho pensar sua categoria de análise como uma das mais sexuadas da nossa realidade.
Em que pese o fato de que Dejours (2012), em diferentes momentos de seus textos, apresente argumentos que sustentam sua preocupação com as diferenças de gênero no trabalho, não se verifica que o gênero tenha sido uma categoria de análise. Trata-se mais de mencionar que se verifica, sim, uma diferença entre as expectativas sobre os trabalhos masculino e feminino, mas sem avaliar quais são os antecedentes e as consequências pessoais e sociais de tais expectativas.
Consideramos que as três perguntas norteadoras deste estudo, a saber, “Como é apresentado o trabalho feminino e suas definições no âmbito da Psicodinâmica do Trabalho?”; “Quais as vivências de prazer e sofrimento no trabalho para as mulheres?” e “Quais as principais estratégias de mediação desenvolvidas por mulheres para lidar com o real do trabalho?” foram respondidas com base na revisão sistemática aqui proposta. As lacunas apresentadas na discussão deste artigo permitem que novos estudos em psicodinâmica do trabalho possam levar em consideração, de maneira específica, as diferenças de gênero para análise das vivências de prazer e sofrimento e das estratégias de mediação utilizadas por mulheres e homens.
Por fim, gostaríamos de deixar um incitamento à guisa de reflexão: “A” Psicodinâmica do Trabalho é um termo cunhado no feminino. Apesar de parecer um questionamento ingênuo a priori, considerando toda a invisibilidade das questões femininas no mundo do trabalho, exaustivamente apresentadas na literatura, pensamos ser uma reflexão fundamental.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Dez 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
-
Recebido
10 Out 2019 -
Revisado
11 Fev 2020 -
Aceito
25 Mar 2020