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Representações Sociais de Brasileiros Sobre as Queimadas na Amazônia

Resumo

As queimadas na floresta amazônica desencadearam uma série de eventos com grande cobertura midiática em 2019. O presente estudo buscou analisar as representações sociais (RS) de brasileiros, com base no exame de 679 comentários de notícias relacionadas às queimadas compartilhadas nas páginas do Facebook dos jornais O Globo, El País Brasil e BBC News Brasil, veículos de comunicação de grande impacto no Brasil. A Classificação Hierárquica Descendente do programa IRaMuTeQ mostrou três principais tipos de RS dos comentaristas: empírica (ancorada nos fenômenos naturais), geopolítica e uma terceira na qual surgiram RS polêmicas que refletem a polarização política do país. O debate ocorreu, principalmente, em uma disputa polarizada entre internautas do espectro político da esquerda e da direita.

Palavras-chave:
impacto ambiental; Amazônia; representações sociais

Abstract

The fires in the Amazon rainforest triggered a series of events with wide media coverage in 2019. This study aimed to analyze the social representations (SR) of the Brazilian people, from the analysis of 679 comments on news articles related to the wildfires, shared on the Facebook pages of the news outlets O Globo, El País Brasil, and BBC News Brasil, newspapers of great impact in Brazil. The Descending Hierarchical Classification of the IRaMuTeQ program produced three main types of SR from the comments, one being empirical, anchored in natural phenomena; a second being geopolitical and a third where controversies emerged in the SR that reflect the political polarization of the country. The debate mainly engages a polarized dispute between Internet users from the left wing and right wing.

Keywords:
environmental impact; Amazon rainforest; social representation.

O último relatório da Intergovernmental Panel of Climate Change (IPCC, 2019Intergovernmental Panel of Climate Change. (2019). IPCC Special Report on Climate Change, Desertification, Land Degradation, Sustainable Land Management, Food Security, and Greenhouse gas fluxes in Terrestrial Ecosystems. https://www.ipcc.ch/srccl/
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) aponta que nas últimas sete décadas houve um crescimento vertiginoso no consumo de alimentos e produtos industriais no mundo, o que, por sua vez, impulsionou a expansão de áreas de cultivo e pastagens. Com isso, ocorreu o desmatamento de diversos ecossistemas, assim como o aumento da desertificação, da emissão de gases de efeito estufa e da frequência e intensidade de fenômenos extremos como secas e tempestades de poeira. Como consequências mais drásticas dessas ações, a IPCC destaca as mudanças climáticas e ambientais, como o aquecimento global, a contração das calotas polares e fenômenos climáticos como o El Niño e La Niña (Marengo & Souza Jr., 2018Marengo, J. A., & Souza Jr., C. (2018). Climate change: impacts and scenarios for the Amazon. Greenpeace. https://www.oamanhaehoje.com.br/assets/pdf/Report_Climate_Change_impacts_and_scenarios_for_the_Amazon.pdf
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).

Como grande produtor e exportador de commodities agrícolas, o Brasil não escapa a essa realidade, tendo expandido as fronteiras agropecuárias na região amazônica nesse período (Copertino, Piedade, Vieira & Bustamante, 2019Copertino, M., Piedade, M. T. F., Vieira, I. C. G., & Bustamante, M. (2019). Desmatamento, fogo e clima estão intimamente conectados na Amazônia. Ciência e Cultura, 71(4), 4-5. https://doi.org/10.21800/2317-66602019000400002
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). O desmatamento de origem antrópica alterou a estabilidade climática, ecológica e ambiental das florestas tropicais amazônicas (Nobre, Sampaio & Salazar, 2007Nobre, C. A., Sampaio, G., & Salazar, L. (2007). Mudanças climáticas e Amazônia. Ciência e Cultura, 59(3), 22-27. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252007000300012&script=sci_arttext&tlng=en
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). Com isso, a floresta amazônica ficou altamente inflamável e suscetível a incêndios e, atualmente, entrou em um novo regime de clima mais quente e altamente variável, com estações secas mais prolongadas e intensas (Copertino et al., 2019Copertino, M., Piedade, M. T. F., Vieira, I. C. G., & Bustamante, M. (2019). Desmatamento, fogo e clima estão intimamente conectados na Amazônia. Ciência e Cultura, 71(4), 4-5. https://doi.org/10.21800/2317-66602019000400002
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).

Em 2019, a situação se agravou ainda mais com o afrouxamento do cumprimento das leis ambientais com o aval do governo federal. Os prejuízos ambientais atribuídos ao atual governo incluem: revisão de unidades de conservação ambiental; flexibilização de licenciamentos ambientais; corte de recursos; redução e repreensão de ações de fiscalização; redução da captação de recursos internacionais para ações de preservação da floresta; e exploração de recursos naturais em áreas de preservação (Trigueiro, 2019Trigueiro, A. (2019, 3 de junho). 15 pontos para entender os rumos da desastrosa política ambiental no governo Bolsonaro. G1. https://g1.globo.com/natureza/blog/andre-trigueiro/post/2019/06/03/15-pontos-para-entender-os-rumos-da-desastrosa-politica-ambiental-no-governo-bolsonaro.ghtml
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). Com isso, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Espaciais (INPE, 2019Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. (2019). Monitoramento dos focos ativos por bioma: Amazônia 2019. http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal-static/estatisticas_estados/
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) registrou 89.178 focos de incêndios na região em 2019, representando um aumento de 30% em relação ao ano anterior. Sabe-se que os incêndios florestais são bastante comuns no país, no entanto naquele ano provocaram consequências mais graves do que as usuais para a população local, como aumento de incidência de doenças respiratórias e danos causados por tempestades e patógenos (Silvério, Silva, Alencar & Moutinho, 2019Silvério, D. S., Alencar, A., & Moutinho, P. (2019). Amazônia em chamas. Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. https://ipam.org.br/wp-content/uploads/2019/08/NotaTe%CC%81cnica_AmazoniaemChamas-pt.pdf
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).

Apesar de as consequências das queimadas já estarem sendo noticiadas pela mídia desde julho de 2019 (Zaitchik, 2019Zaitchik, A. (2019, 6 de julho). Floresta em chamas. The Intercept. https://theintercept.com/2019/07/05/bolsonaro-amazonia-catastrofe-climatica/
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), o fato só foi divulgado nacionalmente na grande imprensa quando uma densa fumaça, decorrente dessas queimadas, escureceu o céu da Grande São Paulo no dia 19 de agosto. Outras situações foram vivenciadas pelos moradores da capital, como uma chuva de água cinza e com cheiro de fumaça (“Chuva escura em SP,” 2019Chuva escura em SP tem relação com queimadas, dizem especialistas (2019, 21 de agosto). Estadão. https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,chuva-escura-em-sp-tem-relacao-com-queimadas-dizem-especialistas,70002976908
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). A partir desse momento, devido à grande visibilidade e repercussão do fenômeno - ocorrido na principal cidade da América Latina -, as queimadas e seus desdobramentos passaram a ser amplamente debatidos no Brasil e no mundo, nos diversos meios de comunicação e redes sociais (Putti, 2019Putti, A. (2019, 21 de agosto). Queimadas na Amazônia ganham repercussão na imprensa internacional. Carta Capital. https://www.cartacapital.com.br/mundo/queimadas-na-amazonia-ganham-repercussao-na-imprensa-internacional/
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; Sandy, 2019Sandy, M. (2019, 5 de dezembro). ‘The Amazon is completely lawless’: The rainforest after Bolsonaro’s first year. New York Times. https://www.nytimes.com/2019/12/05/world/americas/amazon-fires-bolsonaro-photos.html?searchResultPosition=1
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), tornando-se um objeto em torno do qual argumentos e retóricas sociais começaram a ser construídos.

Daí em diante, os argumentos sobre as queimadas desencadearam um debate politizado, polêmico e polarizado entre os grupos sociais no Brasil, a exemplo de outros fenômenos ambientais. Conforme assinalam Jaspal, Nerlich e Koteyko (2012Jaspal, R., Nerlich, B., & Koteyko, N. (2012). Contesting Science by Appealing to Its Norms: Readers Discuss Climate Science in the Daily Mail. Science Communication, 35(3), 383-410. https://doi.org/10.1177/1075547012459274
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), o clima foi uma (dentre outras) das temáticas mais politizadas e polarizadas no início do século XXI. Os autores apontam que, em geral, os polos se dividem entre aqueles que creem e os que descreem na interferência antrópica no clima, apesar de o consenso científico confirmar essa hipótese em 97% dos artigos publicados sobre o tema (Bertoldo et al., 2019Bertoldo, R., & Castro, P. (2018). From legal to normative: A combined social representations and sociocognitive approach to diagnosing cultural change triggered by new environmental laws. Culture & Psychology, 25(3), 324-344. https://doi.org/10.1177/1354067X18790730
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). Variáveis como gênero, idade, escolaridade e identidade política são apontadas como as mais relevantes para influenciar as atitudes ambientais; homens com menor escolaridade, mais velhos e de direita são os mais propensos à descrença (Poortinga, Whitmarshb, Stegc, Böhm & Fisherf, 2019Poortinga, W., Whitmarshb, L., Stegc, L, Böhm, G., & Fisherf, S. (2019). Climate change perceptions and their individual-level determinants: A cross-European analysis. Global Environmental Change, 55, 25-35. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2019.01.007
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; Bertoldo et al., 2019Bertoldo, R., Mays, C., Böhm, G., Poortinga, W., Poumadère, M., Tvinnereim, E., & Pidgeon, N. (2019). Scientific truth or debate: On the link between perceived scientific consensus and belief in anthropogenic climate change. Public Understanding of Science, 28(7), 778-796. https://doi.org/10.1177/0963662519865448
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). O país de residência, os respectivos climas e economia também estão relacionados às inclinações (Poortinga et al., 2019Poortinga, W., Whitmarshb, L., Stegc, L, Böhm, G., & Fisherf, S. (2019). Climate change perceptions and their individual-level determinants: A cross-European analysis. Global Environmental Change, 55, 25-35. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2019.01.007
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).

Portanto, considera-se importante estudar como as análises acerca de questões e práticas ambientais são construídas e gerenciadas socialmente (Brondi, Armenti, Cottone, Mazzara & Sarrica, 2014Brondi, S., Armenti, A., Cottone, P., Mazzara, B. M., & Sarrica, M. (2014). Parliamentary and press discourses on sustainable energy in Italy: no more hard paths, no yet soft paths. Energy Research & Social Science, 2, 38-48. https://doi.org/10.1016/j.erss.2014.04.011
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). Dentre as abordagens interessadas aos processos de (co)construção de conhecimento, a Teoria das Representações Sociais (TRS) tem sido uma estrutura frutífera que contribui para uma profunda compreensão de temas relacionados ao pensamento social acerca do meio ambiente (Castro, 2006Castro, P. (2006). Applying social psychology to the study of environmental concern and environmental worldviews: contributions from the social representations approach. Journal of Community & Applied Social Psychology, 16(4), 247-266. https://doi.org/10.1002/casp.864
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; Rouquette, Sautkina, Castro, Félonneau & Guillou-Michel, 2005Rouquette, M. L., Sautkina, E., Castro, P., Félonneau, M. L., & Guillou-Michel, E. (2005). Social representation theory and environmental studies. In B. Mantens & A. Keul (Eds.), Designing social innovation: planning, building, evaluating (pp. 107-115). Hogrefe and Huber Publishers.).

As representações sociais (RS) são formadas por meio de processos de significação da realidade por grupos sociais culturalmente circunscritos (Moscovici, 1961/2012) e revelam pertencimentos grupais, territoriais e socioculturais dos indivíduos (Jodelet, 2001Jodelet, D. (2001). Representações Sociais: um domínio em expansão (L. Ulup, Trad.). In D. Jodelet (Org.), As representações sociais (pp. 17-44). Editora da UERJ. (Trabalho originalmente publicado em 2001).; Camargo, Scholösser & Giacomozzi, 2018Camargo, B. V., Scholösser, A. & Giacomozzi, A. I. (2018). Aspectos epistemológicos do paradigma das Representações Sociais. In M. P. C. Coutinho, L. F. Araújo & L. Araújo (Eds.), Representações sociais e práticas psicossociais (pp. 257-267). Editora CRV.). Em geral, são construídas nos processos de comunicação, carregadas de idiossincrasias e metainformações grupais e individuais (Wagner, 1995Wagner, W. (1995). Social Representations, group affiliation, and projection: knowing the limit of validity. European Journal of Social Psychology, 25(2), 125-139.).

Moscovici (1988Moscovici, S. (1988). Notes toward a description of Social Representation. European Journal of Social Psychology, 18(3), 211-250.) também pressupôs dois processos fundamentais para a construção das representações sociais: ancoragem e objetivação. A ancoragem refere-se à assimilação de uma ideia ou objeto “estrangeiro” a uma representação social já existente para o sujeito, ou seja, conceitos e imagens que já eram familiares e que contribuem para a compreensão desse novo objeto. Esse processo permite que o desconhecido seja assimilado e unificado em uma representação social de um novo objeto. Por sua vez, a objetivação diz respeito à concretização, tornando concreto o que até então era abstrato, objetivando-se em imagens. Portanto, os dois processos transformam conceitos e imagens em coisas independentes (Moscovici, 1988); não devem ser entendidos como separados, mas sim ocorrendo simultaneamente, como dois lados da mesma história (Marková, 2000Marková, I. (2000). Amédée or how to get rid of it: Social representations from a dialogical perspective. Culture and Psychology, 6(4), 419-460. https://doi.org/10.1177/1354067X0064002
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).

Moscovici (1988Moscovici, S. (1988). Notes toward a description of Social Representation. European Journal of Social Psychology, 18(3), 211-250.) propõe a divisão das RS em três tipos: hegemônicas, mais consensuais e compartilhadas pela sociedade em geral; emancipadas, que partem de ideias específicas de um grupo, podendo ser compartilhadas entre outros grupos da sociedade; e polêmicas, que marcam grupos particulares em conflito. Períodos de crises econômicas e disputas políticas podem fomentar a produção de RS polêmicas, e a progressão desses embates, debates e polêmicas é o que alimenta a polarização política (Arruda, 2018Arruda, A. (2018). Polarización política y social: la producción de alteridades [Polarização política e social: a produção de alteridades]. In Anais da XIV Conferência Internacional sobre Representações Sociais. (pp. 232-251). Buenos Aires, Argentina: Universidad de Belgrano. https://f.hypotheses.org/wp-content/blogs.dir/2079/files/2019/10/FINALCIRS_libro_2018-vf.pdf
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). Atualmente, o Brasil vive um momento intensamente polarizado politicamente (Giacomozzi, Fiorott, Bertoldo & Contarello, 2023Giacomozzi, A. I., Fiorott, J., Bertoldo, R. B., & Contarello, A. (2023). Political polarization in Brazil: A study on media and Social Representations. Human Affairs. Postdisciplinary Humanities & Social Sciences Quarterly.; Giacomozzi, Tavares, Silveira & Justo, 2022Giacomozzi, A. I., Tavares, A. C. A., Silveira, A., & Justo, A. M. (2022). Political Polarization and Intergroup Relations: a study of Social Representations. International Journal of Psychology.), o que se observa nas relações entre os grupos sociais, nas redes sociais e nas mídias.

No processo de formação das RS, a mídia assume papel fundamental, conforme exposto na obra seminal de Moscovici (1961/2012Moscovici, S. (2012). A psicanálise, sua imagem e seu público (S. Fuhrmann, Trad.). Vozes. (Trabalho original publicado em 1961).). As RS são entidades que circulam, se cruzam e se cristalizam continuamente por meio da fala, nas situações cotidianas, com destaque às comunicações sociais.

Desde que surgiu nos anos de 1990, a internet sempre foi utilizada como espaço de debates e polêmica. Com a emergência das redes sociais, o uso político dela disseminou-se ainda mais, impulsionando a formação de movimentos sociais e desencadeando grandes manifestações no início do século XXI. São exemplos internacionais dessas manifestações a “Primavera Árabe” e “Occupy Wall Street”; no Brasil, é possível elencar a “Marcha das Vadias”, a “Marcha da Maconha”, as “Jornadas de Junho” (ou manifestações dos vinte centavos), a formação do Movimento Brasil Livre (MBL), as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff e outras (Machado & Miskolci, 2019Machado, J., & Miskolci, R. (2019). Das jornadas de junho à cruzada moral: o papel das redes sociais na polarização política brasileira. Sociologia & Antropologia, 9(3), 945-970. https://doi.org/2238-38752019v9310
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).

Nesse sentido, os comentários nas redes sociais possibilitam que opiniões e pontos de vista, sejam normativos, sejam contranormativos, possam ser livremente disseminados. A internet abre o espaço para os atores sociais se expressarem livremente e sem censura, criando assim um campo fértil para os debates polarizados (Machado & Miskolci, 2019Machado, J., & Miskolci, R. (2019). Das jornadas de junho à cruzada moral: o papel das redes sociais na polarização política brasileira. Sociologia & Antropologia, 9(3), 945-970. https://doi.org/2238-38752019v9310
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). Portanto, analisar comentários em redes sociais sobre determinada temática se torna um estudo de caso para o exame dos aspectos retóricos da contestação social e política, uma vez que os comentários dos internautas nas notícias podem ser anônimos, há espaço para interação entre os comentadores, fornecendo insights sobre argumentação. Além disso, tais comentários têm o potencial de influenciar os dos outros e podem refletir representações sociais e crenças coletivas mais amplamente partilhadas (Jaspal, Nerlich & Koteiko, 2012Jaspal, R., Nerlich, B., & Koteyko, N. (2012). Contesting Science by Appealing to Its Norms: Readers Discuss Climate Science in the Daily Mail. Science Communication, 35(3), 383-410. https://doi.org/10.1177/1075547012459274
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), pelo menos em uma parte do público brasileiro.

Além disso, o Facebook, entre outras redes sociais, tem sido descrito como uma câmara de eco para afiliações grupais, aumentando a polarização devido a uma visão parcial da realidade causado pela bolha social de informações (Del Vicario, Zollo, Caldarelli & Scala, 2017Del Vicario, M., Zollo, F., Caldarelli, G., Scala, A., & Quattrociocchi, W. (2017). Mapping social dynamics on Facebook: The Brexit debate. Social Networks, 50, 6-16. https://doi.org/10.1016/j.socnet.2017.02.002
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). Vários estudos lastreados pela TRS, tanto em nível nacional (Rozendo, Giacomozzi & Vitali, 2022Rozendo, A. S., Giacomozzi, A. I., Mezari, M. M. (2022). Representações sociais sobre migrantes. Estudos Contemporâneos da Subjetividade,12(1), 109-119.; Leandro, Giacomozzi, Fiorott & Marx, 2019 Leandro, M., Giacomozzi, A. I., Fiorott, J. G., & Marx, D. (2019). Representações sociais da violência doméstica em comentários de rede social. Revista Eletrônica Científica da UERGS, 5(2), 208-216. https://doi.org/10.21674/2448-0479.52.208-2016
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; Vitali, Presotto, Gizzi, Gomes & Giacomozzi, 2021Vitali, M. M., Presotto, G. C., Gizzi, F., Gomes, M. A., Giacomozzi, A. I. (2021). #BlackLivesMatter: A study of social representations from Twitter. Community Psychology in Global Perspective, 8(1), 1-19. https://doi.org/10.1590/S0102-69922009000300006
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) quanto internacional (Alaya, 2016Alaya, D. B. (2016). Autocommunication de masse sur Facebook et étude de l`expression iconique des représentation sociales. In G. Lo Monaco, S. Delouvéé, & P. Rateau Les représentations sociales: Théories, méthodes et applications (pp. 409-412). De Boeck Supérieur.; Rosa, Bocci & Salvati, 2021De Rosa, A. S., Bocci, E., & Salvati, M. (2021). Twitter as social media arena for polarised social representations about the (im)migration: The controversial discourse in the Italian and international political frame. Migration Studies, 9(3), 1167-1194. https://academic.oup.com/migration/article/9/3/1167/6146130?login=true
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), têm se utilizado de análises de comentários em redes sociais por entender que esse é um contexto fértil para a investigação das teorias do senso comum sobre determinados objetos sociais com ampla comoção. Portanto, a perspectiva teórica do trabalho baseia-se na perspectiva das representações sociais aqui descritas . Este estudo nos servirá como base para assentar pressupostos que são utilizados em relação a diferentes questões e que têm contribuído para a polarização entre os grupos sociais brasileiros acerca da questão climática e da Amazônia.

Este estudo

A partir do exposto, propomos analisar como internautas brasileiros participaram da construção de argumentos sobre as queimadas na floresta amazônica - um dos maiores ecossistemas do planeta - em um período no qual o impacto ambiental à floresta foi bastante visível e noticiado pela mídia de todo o mundo. Considerando-se o contexto brasileiro de polêmica social na atualidade, espera-se encontrar referências automatizadas a grupos e posicionamentos identitários, em dinâmicas típicas de representações sociais polêmicas. Por outro lado, pouca discussão de fundo sobre as soluções e orientações no sentido ativo do termo “policies” - típicas de representações emancipadas (Moscovici, 1988Moscovici, S. (1988). Notes toward a description of Social Representation. European Journal of Social Psychology, 18(3), 211-250.) - seria identificada.

Método

Trata-se de um estudo documental, descritivo e de corte longitudinal retrospectivo (Gil, 2008Gil, A. C. (2008). Métodos e técnicas de pesquisa social. (6a ed.). Atlas.). Foram analisados comentários de notícias compartilhadas no Facebook de três jornais de grande fator de impacto: um nacional (O Globo) e dois internacionais em sua versão para o Brasil (El País BrasilBetim, F. (2019, 22 de agosto). Incêndios se alastram pelas matas do Norte e Centro-Oeste e já podem ser sentidos até no céu de São Paulo. El País Brasil. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/19/politica/1566248656_245830.html
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e BBC News BrasilAlvim, M. (2019, 20 de agosto). Rondônia por um dia: aumento de queimadas muda cor da tarde de São Paulo. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/geral-49402577
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). A escolha dos diferentes veículos considerou, além do fator de impacto, abranger a diversidade de leitores. A exclusão de jornais Folha de São Paulo e Zero Hora, deveu-se ao fato de que, apesar de terem relevante fator de impacto, não compartilhavam as reportagens em suas páginas do Facebook.

A escolha pelo Facebook decorreu da causalidade entre mídias, as informações difundidas nele e a opinião pública (McCombs, 2009Mccombs, M. (2009). A teoria da agenda: a mídia e a opinião pública. Vozes.). Atualmente as redes sociais são popularmente difundidas, utilizadas até mesmo por jornais para propagar notícias e informações; afinal, em plataformas como Facebook o leitor, além de acompanhar as notícias veiculadas, emite opiniões e interage com outros perfis no espaço destinado a comentários (Mitozo, Massuchin & Carvalho, 2015Mitozo, I. B., Massuchin, M. G., & Carvalho, F. C. (2015). Características do debate político eleitoral no Facebook: os comentários do público em posts jornalísticos nas eleições presidenciais de 2014. In Anais do VI Congresso Compolítica. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política.), expressando importantes conteúdos que podem revelar pertencimentos, valores e representações sociais.

Foi utilizada a ferramenta “procurar publicações” com os descritores “queimadas Amazônia”. Levando-se em conta o grande número de reportagens, optou-se pela primeira publicação de grande impacto sobre as queimadas na região amazônica em 2019. Foram selecionados todos os comentários feitos por internautas a respeito das matérias que noticiavam consequências visíveis nas queimadas na capital paulista: “Rondônia por um dia: aumento de queimadas muda cor da tarde de São Paulo”, de 20 de agosto de 2019, de BBC News Brasil (73 comentários); “Fenômeno ótico que escureceu SP é uma das consequências das queimadas na Amazônia”, de 20 de agosto de 2019, de O Globo (331 comentários); e “Incêndios se alastram pelas matas do Norte e Centro-Oeste e já podem ser sentidos até no céu de São Paulo”, de 19 de agosto de 2020, de El País Brasil (275 comentários), totalizando 679 comentários. Destes, 247 foram feitos por mulheres, 426 (homens) e 6 (perfis de usuários sem definição de gênero).

O material textual foi analisado com auxílio o programa IRaMuTeQ, com o qual se estabeleceu uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD). O IRaMuTeQ, software gratuito que realiza diferentes formas de análises estatísticas sobre corpus textuais (Ratinaud, 2009Ratinaud, P. (2009). IRAMUTEQ: Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires(Versão 0.7 alpha 2). [Programa de computador] . IRAMUTEQ. http://www.iramuteq.org
http://www.iramuteq.org...
), é utilizado nas ciências sociais e considerado uma ferramenta confiável na análise de conteúdo quali-quantitativo, empregando, entre outras funções, uma análise hierárquica descendente de classificação. De acordo com Sbalchiero (2018Sbalchiero, S. (2018). Finding topics: a statistical model and a quali-quantitative method. In A. Tuzzi (Ed.), Tracing the Life-Course of Ideas in the Humanities and Social (pp. 189-210). Springer. ), esse método garante o uso e a coerência do exame de dados registrados pelo pesquisador e também valida a medida dos dados, o que conjuga o rigor científico com detalhes qualitativos.

Como critério de inclusão, foram selecionados comentários ou manifestações simbólicas dirigidas ao tema das reportagens. Emojis e onomatopeias foram transcritos conforme as emoções que expressavam, como por exemplo raiva, tristeza, risos, medo e insatisfação. Como critério de exclusão, descartaram-se os comentários dos comentários e alguns comentários principais que não tratavam do tema das notícias. O sexo dos comentaristas e o jornal onde foram postados os comentários foram as duas únicas variáveis passíveis de identificação a ser inseridas nas linhas de comando do corpus.

Para padronizar a análise do IRaMuTeQ, optou-se por uniformizar alguns termos recorrentes, escolhendo-se o referente de maior frequência como, por exemplo, “bolsominions” e “minions” (transcritos como “bolsominion”), e “esquerdistas” e “esquerdopatas” (convertidos em “esquerda”), buscando, assim, melhor CHD. Os trechos dos comentários citados nos resultados a seguir foram selecionados pelos autores.

Resultados

O IRaMuTeQ dividiu o corpus de 679 textos em 746 segmentos de texto, dos quais 85,60% (636) foram retidos na CHD. Inicialmente, o conteúdo foi separado em dois subcorpora. O programa separou um conjunto de duas classes (2 e 3) da classe 1. As classes foram nomeadas a partir do seu conteúdo predominante. O dendrograma (Figura 1) apresenta as três classes produzidas pela CHD com as respectivas 20 primeiras palavras representativas de cada classe, por frequências e qui-quadrado. Os títulos das classes foram designados com base na interpretação do agrupamento feito pelo programa, assim como pelo conjunto geral das palavras significativas.

Figura 1.
Dendrograma das classes.

As classes 2 e 1 guardam relação entre si, pois seus conteúdos trataram predominantemente da materialidade dos incêndios e das hipóteses sobre o que ou quem os teria causado, apontando para possível implicação de órgãos, instituições e grupos no ocorrido. Nessas duas classes, observou-se que as RS ancoraram, principalmente, nos efeitos visíveis e práticos do fenômeno, como o incêndio, a fumaça, a poluição e o céu escuro, e nos possíveis agentes envolvidos, como o agronegócio e governanças diversas. Houve também forte tendência de negação do consenso científico propagado nas notícias dos jornais, mostrando que o processo de formação das RS foi atravessado também por outras fontes de referência, principalmente a política. A politização do debate foi ainda maior no outro subcorpora.

A classe 2, intitulada “Geopolítica”, compõe o subcorpora que tratou o fenômeno, predominantemente de forma empírica. Nela, questões geográficas e políticas envolvidas no escurecimento do céu de São Paulo foram as principais referências do debate. Como observa-se na Figura 1, foram mencionadas as cidades, estados e países da região amazônica onde ocorreram os incêndios e a implicação do governo federal e de outros países na preservação da Amazônia. As queimadas foram retratadas predominantemente como um problema antigo ou como vinculado com políticas ambientais, conforme indica o trecho a seguir feito por uma comentarista do sexo feminino extraído da página de El País Brasil:

Os governos da Alemanha e da Noruega são os principais financiadores do Fundo Amazônia, que conta com mais bilhões. A Noruega doou 90% desse valor, seguido pela Alemanha e a Petrobrás. Em 2019, o governo do Bolsonaro declarou que iria usar o Fundo para indenizar desapropriações das terras e favorecer a derrubada da floresta em áreas de preservação. Noruega e Alemanha retiraram seu aporte financeiro ao Fundo diante do descalabro das medidas adotadas por este governo. (Comentarista: Silva, no ano de 2019)

No comentário a seguir, encontrado na página da BBC News Brasil, o internauta do sexo masculino atribuiu a responsabilidade das queimadas às políticas ambientais do atual governo:

Bolsonaro e Salles cortaram 38% da verba para a prevenção de incêndios florestais, bloquearam 90 milhões do dinheiro do IBAMA, inviabilizando fiscalizações, tiraram 95% dos recursos para combater o aquecimento global. A destruição ambiental é política de governo! (Comentarista: Gonçalves, no ano de 2019).

Assim como nos comentários apresentados, veiculações sobre a suposta ação de grupos, instituições e movimentos políticos, econômicos e sociais e ações governamentais (ou falta delas) nas queimadas da região amazônica foram encontradas reiteradas vezes nos comentários agrupados nessa classe.

Na classe 1, denominada “Fenômeno natural”, observaram-se comentários que negavam, e outros que creditavam veracidade ao fenômeno. Ambos se basearam naquilo que foi visível e noticiado, como no comentário a seguir, feito por uma internauta, extraído de comentário publicado sobre a notícia de O Globo:

Sou paulistana e nunca tinha visto acontecer isto. Com a chegada da frente fria, ou com nuvens carregadas, o céu sempre fica mais escuro, mas nunca nas proporções que foi visto nesta semana. Ficou realmente noite e não nublado. O sol não conseguia penetrar a nuvem espessa de fuligem que estava sobre a capital. (Comentarista: Perez, no ano de 2019)

Apesar de os argumentos contidos nessa classe buscarem a compreensão a partir de explicações de cunho biológico/natural sobre o fenômeno, pode-se perceber uma tendência de politização e negação da relação entre queimadas e suas consequências, tal como descreveu o comentarista do sexo masculino, na página de O Globo:

A capital nunca teve problemas com poluição do ar, foi só o Bolsonaro chegar que começou (risos). Bando de filha da puta (risos). E essa fumaça veio da Amazônia e passou por onde que eu aqui no MT não vi? (Comentarista: Araújo, no ano de 2019)

Também recaíram críticas à política ambiental do atual governo, tal como é possível constatar no comentário publicado na página de El País Brasil por um internauta do sexo masculino:

Enquanto isso, o imbecil lá do Bolsonaro diz que não há madeireiro ilegal, queimadas, aquecimento global, o ministro burro fala que foto de satélite é mentirosa. Espero que dos milhões de habitantes do Estado, os idiotas que votaram nesse merda tenham visto o que foi hoje essa cidade para ver o peso do voto do que um arrogante e ignorante quanto às questões ambientais está fazendo ao país. (Comentarista: Leme, no ano de 2019)

A classe 3, que se diferenciou das duas anteriores, foi intitulada “Polarização política” e apresenta a polarização em torno da temática do meio ambiente, numa dinâmica típica das RS polêmicas, de forma bastante hostil entre os grupos. Parte dos internautas atribuiu a responsabilidade das queimadas ao governo vigente, sobretudo ao presidente Jair Bolsonaro, seus apoiadores e ao ministro do meio ambiente, como no texto da comentarista do sexo feminino, extraído da página de El País Brasil:

Parabéns, Bolsonaro, por trazer o apocalipse. Espero que os Bolsominions estejam todos felizes e satisfeitos. E todo protetor de animais que votou no Bolsonaro, engula a hipocrisia de ter matado centenas de animais queimados vivos. (Comentarista: Sobieski, no ano de 2019)

A partir desse debate, outro grupo expressou posição oposta, demarcando a polarização política e a polêmica que estão como pano de fundo para as RS sobre as queimadas no Brasil. Assim, apoiadores do presidente assumiram sua defesa e negaram a veracidade do fenômeno noticiado, atribuindo à mídia o papel de difusora de notícias falsas para, intencionalmente, prejudicar o governo. Grupos e movimentos de oposição ao governo, como o Partido dos Trabalhadores (PT), e organizações não governamentais (ONGs) foram responsabilizados pelas queimadas na região amazônica por uma suposta ação criminosa, tal como se vê no conteúdo de um comentarista do sexo feminino, publicado na página da BBC News Brasil:

Está crescendo o desmatamento há anos. O PT sucateou o IBAMA e o Rio Doce vai ficar sem vida por 80 anos. Os europeus pensam que aqui é colônia. Pode dar bronca que os lacaios aceitam tudo. Bolsonaro está respondendo mostrando a importância do país. Votou em ladrão do povo que arruinou o país, o PT é culpado pela fiscalização ter sido sucateada. Bolsonaro falou muito bem. A Amazônia será defendida sempre. Ela é parte da nossa história e patrimônio e qualquer uso criminoso será combatido. O mapa é claro e mostra que Dilma sucateou o IBAMA e há anos está crescendo o desmatamento. As esquerdas internacionais estão fazendo sensacionalismo. Nenhum governo do mundo é responsabilizado por queimadas. Ocorre queimada nos países mais ricos do mundo. Os demais órgãos como os governadores e o ministério público podem e devem atuar. O PT deixou a administração pública arruinada. (Comentarista: Jobim, no ano de 2019)

De forma ainda mais hostil, um internauta do sexo masculino postou na página de O Globo:

Globo lixo com mais uma fake para aterrorizar a população que não tem conhecimento, estas ONG são uma doença que querem destruir o Brasil, e a esquerda, seja petralha, ou do PSDB, estão todos no mesmo barco. Um bando urubus lixo. (Comentarista: Ribeiro, no ano de 2019)

Portanto, de um lado, as classes 2 e 1 agruparam os comentários que construíram RS ancoradas em suas características naturais, geográficas e espaciais. Já de outro, a classe 3 reuniu aqueles que trataram do fenômeno de forma mais polêmica, politizada e polarizada. O programa não associou as variáveis exploradas a nenhuma das classes. As notícias e a natureza dos comentários analisados, nos três jornais, foram semelhantes, independente do jornal ou do sexo dos comentaristas.

Discussão

Este estudo objetivou analisar comentários em rede social sobre notícias divulgadas a respeito das queimadas que ocorreram na região amazônica em 2019. Observou-se que a polarização e a construção de RS polêmicas marcaram o debate acerca dos incêndios ocorridos ali e seus desdobramentos. De acordo com Moscovici e Doise (1992Moscovici, S., & Doise, W. (1992). Dissensions et consensus. Une théorie générale des décisions collectives. Presses universitaires de France.), a polarização se dá no debate direto entre dois grupos rivais. Conforme salientam os autores, o grau de engajamento dos grupos na causa defendida eleva o nível de polarização e diminui as possibilidades de mudanças de opinião. Nessa linha de raciocínio, ressalta-se que Poortinga et al. (2019Poortinga, W., Whitmarshb, L., Stegc, L, Böhm, G., & Fisherf, S. (2019). Climate change perceptions and their individual-level determinants: A cross-European analysis. Global Environmental Change, 55, 25-35. https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2019.01.007
https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2019...
) e Bertoldo et al. (2019Bertoldo, R., Mays, C., Böhm, G., Poortinga, W., Poumadère, M., Tvinnereim, E., & Pidgeon, N. (2019). Scientific truth or debate: On the link between perceived scientific consensus and belief in anthropogenic climate change. Public Understanding of Science, 28(7), 778-796. https://doi.org/10.1177/0963662519865448
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) apontaram forte associação entre pertencimento político e RS sobre mudanças climáticas, também apontada por estudos anteriores (Hoffman, 2011Hoffman, A. J. (2011). The growing climate divide. Nature Climate Change, (1), 195-195. https://doi.org/10.1038/nclimate1144A
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; McCright & Dunlap, 2011McCright, A., & Dunlap, R. E. (2011). The politization of climate change and polarization in the American public’s views of global warming, 2001-2010. Sociological Quarterly,52(2), 155-194. https://doi.org/10.1111/j.1533-8525.2011.01198.x
https://doi.org/10.1111/j.1533-8525.2011...
; McCright, Dunlap & Xiao, 2014McCright, A. M., Dunlap, R. E., & Xiao, C. (2014). The impacts of temperature anomalies and political orientation on perceived winter warming. Nature Climate Change, (4), 1077-1081. https://doi.org/10.1038/nclimate2443
https://doi.org/10.1038/nclimate2443...
). Segundo Elcherot, Doise e Reicher (2011Elcheroth, G., Doise, W., & Reicher, S. (2011). On the Knowledge of Politics and the Politics of Knowledge: How a Social Representations Approach Helps Us Rethink the Subject of Political Psychology. Political Psychology, 32(5),729-758. https://doi.org/10.1111/j.1467-9221.2011.00834.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-9221.2011...
), a vinculação política do sujeito tem forte influência sobre os posicionamentos que toma diante dos fenômenos do universo e costuma levar à polarização, tal como foi possível observar no presente estudo. Usualmente, o debate polarizado acontece entre grupos de ideologias bem definidas e opostas, como direita e esquerda. No presente trabalho, a polarização se deu entre seguidores e opositores do presidente, reforçando o papel de Jair Bolsonaro como elemento central da polarização política no país.

A TRS aponta que a polarização de fenômenos ambientais é também marcada pela dissipação de RS polêmicas, o que foi constatado também na presente pesquisa (Jaspal et al., 2012Jaspal, R., Nerlich, B., & Koteyko, N. (2012). Contesting Science by Appealing to Its Norms: Readers Discuss Climate Science in the Daily Mail. Science Communication, 35(3), 383-410. https://doi.org/10.1177/1075547012459274
https://doi.org/10.1177/1075547012459274...
; Bertoldo et al., 2019Bertoldo, R., Mays, C., Böhm, G., Poortinga, W., Poumadère, M., Tvinnereim, E., & Pidgeon, N. (2019). Scientific truth or debate: On the link between perceived scientific consensus and belief in anthropogenic climate change. Public Understanding of Science, 28(7), 778-796. https://doi.org/10.1177/0963662519865448
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; Zanco, 2019Zanco, E. M. (2019). Crise da democracia: o negacionismo de Donald Trump sobre as mudanças climáticas. [Trabalho de conclusão de curso, Universidade do Sul de Santa Catarina]. https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/9293/eduarda%20zanco.pdf?sequence= &isAllowed=y
https://www.riuni.unisul.br/bitstream/ha...
). As RS polêmicas diferem das demais na medida em que há um deslocamento de opiniões consensuais para opiniões mais extremadas (Moscovici & Doise, 1992Moscovici, S., & Doise, W. (1992). Dissensions et consensus. Une théorie générale des décisions collectives. Presses universitaires de France.). Além de fortes marcadoras de pertencimento grupal, essas RS revelam crenças e descrenças dos grupos sobre determinados fenômenos e consensos. Foi possível perceber a replicação de alguns elementos comuns em RS polêmicas de grupos associados à extrema direita internacional, tais como negacionismo, conspiracionismo, antiambientalismo, anticientificismo e macarthismo (Marchi & Bruno, 2016Marchi, R., & Bruno, G. (2016). A extrema-direita europeia perante a crise dos refugiados.Relações Internacionais, (50), 39-56. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992016000200004
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
; Brown & Lee, 2018Brown, K., & Lee, J. (2018). “Make Korea with America Great Again”: An Articulation and Assemblage of South Korean Extreme Right Practices. Communication Culture & Critique, 11(1), 53-66. https://doi.org/10.1093/ccc/tcx004
https://doi.org/10.1093/ccc/tcx004...
; Azevedo & Bianco, 2019Azevedo, A. C., & Bianco, E. C. (2019). Processo de mitificação de Bolsonaro: Messias, presidente do Brasil. Eco-Pós, 22(2), 88-111. https://doi.org/10.29146/eco-pos.v22i2.26253
https://doi.org/10.29146/eco-pos.v22i2.2...
; Martini & Alves, 2019Martini, G., & Alves, J. E. D. (2019). Desordem na governança global e o caos nas mudanças climáticas. Revista Brasileira de Estudos de População, 36, 1-30. https://doi.org/10.20947/S102-3098a0075
https://doi.org/10.20947/S102-3098a0075...
). Esses mesmos elementos estão presentes nos discursos de líderes de extrema direita no mundo, sendo compreendido pelos estudiosos como uma estratégia de gestão, tanto de políticas, quanto de populações (Azevedo, 2019Azevedo, A. L. (2019, 21 de agosto). Fenômeno ótico que escureceu SP é uma das consequências das queimadas na Amazônia. O Globo. https://oglobo.globo.com/brasil/fenomeno-otico-que-escureceu-sp-uma-das-consequencias-das-queimadas-na-amazonia-23891542
https://oglobo.globo.com/brasil/fenomeno...
; Martini & Alves, 2019).

Para Negura, Plante e Lévesque (2020Negura, L., Plante, N., & Lévesque, M. (2020). The role of social representations in the construction of power relations. Journal for the Theory of Social Behaviour, 50(1), 25-41. https://doi.org/10.1111/jtsb.12213
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), as RS polêmicas decorrem de conflitos e controvérsias usualmente dissipados a partir de sistemas de comunicação de propaganda. Os comentários aqui analisados foram postados em jornais voltados ao grande público, portanto em sistemas de difusão, conforme classificação adotada por Moscovici (1961/2012Moscovici, S. (2012). A psicanálise, sua imagem e seu público (S. Fuhrmann, Trad.). Vozes. (Trabalho original publicado em 1961).). No presente estudo, observamos que, apesar de os veículos serem de difusão e terem concentrado suas informações a partir do consenso científico, houve nos comentários uma disseminação ideológica e conflituosa, sobretudo em torno da política, o que pode ser reflexo da grande polarização política que os brasileiros estão experimentando no atual momento. Assim, o contexto polarizado e polêmico facilitaria o surgimento de RS polêmicas, mesmo que com base em textos escritos a partir de um sistema de difusão.

Dessa forma, mesmo que as três notícias cujos comentários analisamos para este estudo tenham sido baseadas em informações técnico-científicas sobre o aumento das queimadas na região amazônica e sua implicação no escurecimento do céu da capital paulista - respaldadas por órgãos e especialistas respeitados -, os comentários dos internautas se dividiram em no mínimo dois grupos opostos que manifestaram RS completamente diferentes a respeito do mesmo evento climático, numa dinâmica de RS polêmicas. Um grupo que apresentava críticas ao atual governo atribui o fenômeno ao descaso com o meio ambiente, e o outro, que manifestava apoio ao governo, julgava os fatos relatados como fake news (ou notícias falsas). O anticientificismo, mais uma vez, marcou o debate que envolveu RS polêmicas e anticonsensuais, de natureza arbitrária e não dialógica (Negura et al., 2020Negura, L., Plante, N., & Lévesque, M. (2020). The role of social representations in the construction of power relations. Journal for the Theory of Social Behaviour, 50(1), 25-41. https://doi.org/10.1111/jtsb.12213
https://doi.org/10.1111/jtsb.12213...
). Essa mesma tendência já havia sido observada entre grupos de direita em outras pesquisas sobre a interpretação de fenômenos ambientais no Brasil e no mundo, conforme apontado por Jaspal et al. (2012Jaspal, R., Nerlich, B., & Koteyko, N. (2012). Contesting Science by Appealing to Its Norms: Readers Discuss Climate Science in the Daily Mail. Science Communication, 35(3), 383-410. https://doi.org/10.1177/1075547012459274
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), Bertoldo et al. (2019Bertoldo, R., Mays, C., Böhm, G., Poortinga, W., Poumadère, M., Tvinnereim, E., & Pidgeon, N. (2019). Scientific truth or debate: On the link between perceived scientific consensus and belief in anthropogenic climate change. Public Understanding of Science, 28(7), 778-796. https://doi.org/10.1177/0963662519865448
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) e Zanco (2019Zanco, E. M. (2019). Crise da democracia: o negacionismo de Donald Trump sobre as mudanças climáticas. [Trabalho de conclusão de curso, Universidade do Sul de Santa Catarina]. https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/9293/eduarda%20zanco.pdf?sequence= &isAllowed=y
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).

Assim, as RS compartilhadas nos comentários dos internautas que manifestaram apoio direto ou indireto a Jair Bolsonaro seguiram a mesma lógica do discurso do presidente e de outros representantes globais da extrema direita, como Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, referência amplamente conhecida como negacionista ambiental e científico, tal como constatou-se no exame de suas publicações nas redes sociais (Zanco, 2019Zanco, E. M. (2019). Crise da democracia: o negacionismo de Donald Trump sobre as mudanças climáticas. [Trabalho de conclusão de curso, Universidade do Sul de Santa Catarina]. https://www.riuni.unisul.br/bitstream/handle/12345/9293/eduarda%20zanco.pdf?sequence= &isAllowed=y
https://www.riuni.unisul.br/bitstream/ha...
). Um exemplo de grande repercussão foi quando Jair Bolsonaro alegou que o aumento nos focos de incêndio na região amazônica divulgados pelo INPE era inverídico e exonerou o então diretor do Instituto duas semanas antes do escurecimento do céu em São Paulo (Leitão, 2019Leitão, M. (2019, 3 de agosto). Governo demite diretor do Inpe que tinha mandato; Celso de Mello critica Bolsonaro.G1. https://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/2019/08/03/governo-demite-diretor-do-inpe-celso-de-mello-critica-bolsonaro-jornais-de-sabado-3.ghtml
https://g1.globo.com/politica/blog/mathe...
). Outro exemplo que partiu inicialmente do presidente e que foi mencionado nos comentários de seus seguidores foi a crença na atuação criminosa de ONGs e movimentos sociais e pessoas supostamente ligadas à esquerda e ao comunismo nas queimadas e na associação do escurecimento do céu de São Paulo a elas (Mazui, 2019Mazui, G. (2019, 21 de agosto). Bolsonaro diz que ONGs podem estar por trás de queimadas na Amazônia para 'chamar atenção' contra o governo. G1. https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/08/21/bolsonaro-diz-que-ongs-podem-estar-por-tras-de-queimadas-na-amazonia-para-chamar-atencao-contra-o-governo.ghtml
https://g1.globo.com/politica/noticia/20...
).

Assim, considera-se importante destacar que o ponto de vista de líderes políticos é muito importante porque pode moldar os sistemas representacionais para criar realidades sociais que atendam aos seus interesses ou suas visões de mundo. Isso porque as representações não surgem espontaneamente a partir de um processo neutro de contemplação. As pessoas vêm o mundo de maneira particular, a partir da exposição constante a determinados pontos de vista, validados pelos seus grupos de pertença (Elcheroth, Doise & Reicher, 2011Elcheroth, G., Doise, W., & Reicher, S. (2011). On the Knowledge of Politics and the Politics of Knowledge: How a Social Representations Approach Helps Us Rethink the Subject of Political Psychology. Political Psychology, 32(5),729-758. https://doi.org/10.1111/j.1467-9221.2011.00834.x
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).

O principal argumento adotado pelos apoiadores do presidente para negar a facticidade das notícias foi que a fumaça que escureceu o céu de São Paulo não havia sido vista em outras cidades mais próximas da região amazônica e que, portanto, a escuridão na capital paulista estava associada a outros fatores, como chuva e poluição. Entretanto, tais consequências das queimadas estavam sendo noticiadas semanas antes do ocorrido, a ponto de o governo do Amazonas ter decretado situação de emergência no sul do estado e na região metropolitana de Manaus, em decorrência dos incêndios florestais, desde o dia 2 de agosto (Carvalho, 2019Carvalho, R. (2019, 9 de agosto). Com alta exponencial de queimadas, Amazonas decreta situação de emergência. UOL. https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2019/08/09/amazonas-decreta-situacao-de-emergencia-por-causa-de-queimadas.htm
https://noticias.uol.com.br/meio-ambient...
).

Estudos em TRS apontam que pessoas vinculadas ao espectro político da direita tendem a assumir uma postura negacionista em relação à ação humana em mudanças climáticas, destoando do consenso científico sobre o tema (Jaspal et al., 2012Jaspal, R., Nerlich, B., & Koteyko, N. (2012). Contesting Science by Appealing to Its Norms: Readers Discuss Climate Science in the Daily Mail. Science Communication, 35(3), 383-410. https://doi.org/10.1177/1075547012459274
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; Bertoldo et al., 2019Bertoldo, R., Mays, C., Böhm, G., Poortinga, W., Poumadère, M., Tvinnereim, E., & Pidgeon, N. (2019). Scientific truth or debate: On the link between perceived scientific consensus and belief in anthropogenic climate change. Public Understanding of Science, 28(7), 778-796. https://doi.org/10.1177/0963662519865448
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). Guareschi (2018Guareschi, P. (2018). Psicologia e pós-verdade: a emergência da subjetividade digital. PSI UNISC, 2(2), 19-34. https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.12242
https://doi.org/10.17058/psiunisc.v2i2.1...
) compreende que a guerra de ideias e a compreensão da realidade ocorrem conforme os interesses, desejos, crenças e convicções de cada grupo, seguindo a lógica da pós-verdade no mundo contemporâneo. Portanto, a crença ou descrença em relação aos fenômenos noticiados relaciona-se à conveniência, ou inconveniência, daqueles que os interpelam. Esse negacionismo dos grupos ligados ao espectro político da direita também foi observado mais recentemente durante a pandemia do novo coronavírus (Giacomozzi et al., 2022Giacomozzi, A. I., Rozendo, A., da Silva Bousfield, A. B., Leandro, M., Fiorott, J. G., & Silveira, A. (2022). COVID-19 and Elderly Females - a Study of Social Representations in Brazil. Trends in Psychology,1-17. https://doi.org/10.1007/s43076-021-00089-9
https://doi.org/10.1007/s43076-021-00089...
; Rozendo et al., 2022Rozendo, A. S., Giacomozzi, A., Bousfield, A. B. S., Leandro, M., Fiorott, J. G., & Silveira, A. (2022). Representações sociais de homens idosos sobre a Covid-19 e sentimentos gerados no isolamento social. Revista Ciências Humanas, 15(1), e31. https://doi.org/10.32813/2179-1120.2022.v15.n1.a785
https://doi.org/10.32813/2179-1120.2022....
), em que houve uma polarização informacional sobre o vírus (Justo, Bousfield, Giacomozzi & Camargo, 2020Justo, A. M., Bousfield, A. B. S., Giacomozzi, A. I., & Camargo, B. V. (2020). Communication, social representations and prevention-information polarization on COVID-19 in Brazil. Papers on Social Representations, 29(2), 4.1-4.18. https://psr.iscte-iul.pt/index.php/PSR/article/view/533
https://psr.iscte-iul.pt/index.php/PSR/a...
).

Os comentários dos internautas que manifestaram direta ou indiretamente ser contrários ao atual governo vincularam as queimadas na Amazônia ao afrouxamento das políticas ambientais adotadas por ele. Expressaram concordância com as informações contidas nas notícias e na relação existente entre as queimadas e o escurecimento no céu paulista. Apesar de participarem ativamente do debate polarizado, não foi possível definir uma linha política e/ou ideológica nessas pessoas. O que se pode indicar sobre esse polo de comentaristas é que se agruparam em torno da oposição, rejeição e repúdio ao presidente Jair Bolsonaro, assim como de seus seguidores.

Além dos elementos discursivos supracitados, os comentaristas que expressaram apoio ao presidente Jair Bolsonaro assumiram outras características de extrema direita, como ativismo antidemocrático, discurso violento e inferiorização de minorias e de movimentos sociais (Lima, 2019Lima, F. R. (2019). As eleições de 2018 e a ascensão da extrema direita no Brasil. Revista Percurso, 11(1), 207-215.). Por seu turno, o grupo de opositores do presidente se referiam ao grupo de apoiadores com termos pejorativos, principalmente “bolsominion” e “minion”. Conforme sublinha Silveira (2018Silveira, L. P. (2018). Memes: a ostentação de neologismos e uma ferramenta de ensino.GTLex, 4(1), 1-19. http://www.seer.ufu.br/index.php/GTLex/article/view/49963
http://www.seer.ufu.br/index.php/GTLex/a...
), o primeiro termo é a união de duas bases, “bolso” e “minion”. A primeira base vem do nome próprio de Bolsonaro, que foi apelidado durante sua campanha eleitoral como “Bolso”. A outra base provém do estrangeirismo “minion”, que no inglês significa “capanga”, “criado”, “servo”; a ideia foi ilustrada no filme “Minions”, em que os seres amarelos milenares têm uma missão: servir aos maiores vilões. “Dessa forma, um bolsominion seria aquela pessoa que é servo, criado de Bolsonaro, aquele que o apoia e a todas as suas ações” (Silveira, 2018Silveira, L. P. (2018). Memes: a ostentação de neologismos e uma ferramenta de ensino.GTLex, 4(1), 1-19. http://www.seer.ufu.br/index.php/GTLex/article/view/49963
http://www.seer.ufu.br/index.php/GTLex/a...
p. 14).

Por sua vez, os seguidores de Bolsonaro ancoraram o polo oposto em matrizes de referências associadas a grupos políticos já bastante cristalizados no pensamento social. A “esquerda” e o “comunismo” foram os principais núcleos figurativos encontrados, expressos em termos como “esquerda”, “esquerdista”, “esquerdopata”, “esquerdalha”, “comunista” e “comuna”. Com menos frequência, esse grupo foi associado também ao Partido dos Trabalhadores por termos como “petralha”, “petralhada” e “petista”. Denota-se, portanto, que tais termos estão associados a imagens pejorativas e negativas na cultura contemporânea no Brasil. Isso provavelmente decorre dos escândalos de corrupção associados aos governos anteriores do PT, que é considerado um partido de esquerda, no país (Gomes & Medeiros, 2019Gomes, T. G., & Medeiros, C. R. O. (2019). Construindo e desconstruindo escândalos de corrupção: a Operação Lava-Jato nas interpretações da Veja e Carta Capital. Revista Organizações & Sociedade, 26(90), 457-485. https://doi.org/10.1590/1984-9260904
https://doi.org/10.1590/1984-9260904...
).

Além do pejorativismo inerente ao termo “bolsominion”, nota-se nele o processo de personificação do grupo em torno da imagem do presidente Bolsonaro. Para Moscovici e Hewstone (1983Moscovici, S. & Hewstone, M. (1983). Social representations and social explanations: From the "naive" to the "amateur" scientist. In M. Hewstone (Org.), Attribution Theory: Social and functional extensions (pp. 98-125). Blackwell.), a personificação é um subprocesso da objetificação, em que há a associação de objetos abstratos à imagem de pessoas. Conforme salienta Smith (2009Smith, N. W.; Joffe, H. (2009). Climate change in the British press: the role of the visual, Journal of Risk Research, 12 (5), 647 - 663), a personificação ocorre devido à ação de meios de comunicação que vinculam imagens específicas a determinados temas. Segundo Höijer (2011Höijer, B. (2011). Social Representations Theory. A New Theory for Media Research. Nordicom Review, 2(32), 3-16. https://www.nordicom.gu.se/en/tidskrifter/nordicom-review-22011/social-representations-theory-new-theory-media-research
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), esses personagens passam a expressar as características de um fenômeno ou de um grupo. Por exemplo, Freud personifica a psicanálise, e Ghandi, o pacifismo. Jair Bolsonaro, por sua vez, passa a representar seus seguidores de forma muito importante, e o que ele fala automaticamente se torna verdade para o grupo que o segue.

Esse processo de personificação da extrema direita na figura de Jair Bolsonaro revela ainda que o atual presidente passa a ser a principal referência nacional associada a esse grupo político, sendo comparado pelos internautas opositores com outras figuras e grupos mais conhecidos, como “Hitler”, “nazismo”, “fascismo”, agora também representado por “bolsominion” e “bolsonarista” (Figura 1).

Considerações finais

Observou-se no presente estudo que a polarização e as polêmicas em torno das RS das queimadas na região amazônica se deram em torno da figura de Jair Bolsonaro. A divisão entre seguidores (baseados nas falas do presidente) e em opositores (alicerçados no consenso científico) prejudica o debate sobre a preservação da Amazônia (“Todas as declarações de Bolsonaro”, 2020Todas as declarações de Bolsonaro (2020, 12 de maio). Aos Fatos. https://aosfatos.org/todas-as declara%C3%A7%C3%B5es-de-bolsonaro/
https://aosfatos.org/todas-as declara%C3...
). Nesse caso, a polarização desvia o foco da discussão e não produz resultados esperados pela participação popular em debates de interesses da sociedade.

O debate praticamente se converteu em uma disputa política, desgastando a possibilidade de engajamento dos participantes na construção de ideias produtivas na resolução do problema. A falta de divulgação das queimadas na região amazônica, por parte da grande imprensa, também é uma problemática a ser pensada, tendo sido um poderoso combustível para os argumentos negacionistas veiculados nos comentários.

Por fim, reconhece-se que nenhuma análise de comentários em rede social vai fazer jus à totalidade da heterogeneidade dos posicionamentos e argumentos de uma comunidade ou um país acerca da temática estudada, conforme esse caso das queimadas na Amazônia. Todavia, foi importante examinar como vozes dos internautas em grupos em oposição constroem explicações e RS sobre a temática na internet.

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Alexander Hochdorn

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    19 Maio 2020
  • Aceito
    25 Out 2022
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