Open-access Imagem corporal em homens: instrumentos avaliativos

Male body image: assessment tools

Resumos

Este estudo teve como objetivo avaliar os instrumentos disponíveis para avaliação da imagem corporal de adultos do sexo masculino, bem como verificar as qualidades psicométricas avaliadas no processo de criação/adaptação destes. Foi realizada busca nas bases de dados: Scopus, Web of Science, BIREME, e Banco de Teses da CAPES; limitadas ao período de 2009 a 2013, por meio das palavras chave: body image, scales, questionnaires, validation e translations. Esta pesquisa constatou um aumento do número de instrumentos disponíveis para a população brasileira, além de uma diversificação das populações estudadas. Entretanto, ainda são poucos os instrumentos específicos para adultos do sexo masculino. Há necessidade de criação e adaptação de novos instrumentos que contemplem a complexidade do construto da imagem corporal.

imagem corporal; escalas; questionários; homens; validade


This study aimed to evaluate the available assessment tools of body image in adult males, and to verify the psychometric properties obtained in the process of construction/adaptation of these instruments. Search restricted to the period of 2009-2013 was conducted in the Scopus, Web of Science, BIREME databases and in the theses bank of CAPES, using the keywords: body image, scales, questionnaires, validation and translations. This study found an increase in the number of instruments available for the Brazilian population, as well as a diversification of the populations studied. However, there are few specific instruments for adult males. It is necessary create and adapt new tools that address the complexity of the body image construct.

body image; scales; questionnaires; men; validity


Imagem corporal em homens: instrumentos avaliativos

Male body image: assessment tools

Pedro Henrique Berbert de Carvalho; Maria Elisa Caputo Ferreira

Universidade Federal de Juiz de Fora

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Faculdade de Educação Física e Desportos, Universidade Federal de Juiz de Fora, Rua José Lourenço Kelmer, s/n, São Pedro, Juiz de Fora, MG, Brasil, CEP: 36036-900, E-mail: pedro.berbert@gmail.com

RESUMO

Este estudo teve como objetivo avaliar os instrumentos disponíveis para avaliação da imagem corporal de adultos do sexo masculino, bem como verificar as qualidades psicométricas avaliadas no processo de criação/adaptação destes. Foi realizada busca nas bases de dados: Scopus, Web of Science, BIREME, e Banco de Teses da CAPES; limitadas ao período de 2009 a 2013, por meio das palavras chave: body image, scales, questionnaires, validation e translations. Esta pesquisa constatou um aumento do número de instrumentos disponíveis para a população brasileira, além de uma diversificação das populações estudadas. Entretanto, ainda são poucos os instrumentos específicos para adultos do sexo masculino. Há necessidade de criação e adaptação de novos instrumentos que contemplem a complexidade do construto da imagem corporal.

Palavras-chave: imagem corporal, escalas, questionários, homens, validade

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the available assessment tools of body image in adult males, and to verify the psychometric properties obtained in the process of construction/adaptation of these instruments. Search restricted to the period of 2009-2013 was conducted in the Scopus, Web of Science, BIREME databases and in the theses bank of CAPES, using the keywords: body image, scales, questionnaires, validation and translations. This study found an increase in the number of instruments available for the Brazilian population, as well as a diversification of the populations studied. However, there are few specific instruments for adult males. It is necessary create and adapt new tools that address the complexity of the body image construct.

Keywords: body image, scales, questionnaires, men, validity

O termo imagem corporal foi definido por Paul Schilder, no início do século 19, como a figuração de nosso corpo formada em nossa mente (Cash & Pruzinsky, 2002). Slade (1994) a definiu como uma imagem que o indivíduo tem do tamanho, da forma e do contorno de seu próprio corpo, bem como dos sentimentos em relação a essas características e às partes que o constituem. A primeira definição do construto gerou durante anos confusões teóricas e metodológicas, no entanto, a partir da definição de Slade (1994) percebe-se uma confluência na conceituação do tema (Thompson, 2004).

Percebe-se que as definições atuais de imagem corporal a caracterizam não só como uma construção cognitiva, mas também um reflexo dos desejos, emoções e da interação social (Cash & Smolak, 2011). Cash e Pruzinsky (2002) sugerem a divisão da imagem corporal em duas dimensões: perceptiva e atitudinal. A dimensão perceptiva procura avaliar a acurácia no julgamento do tamanho e da forma corporal, enquanto a atitudinal pode ser avaliada em seus três componentes: afetivo, cognitivo e comportamental.

Observa-se que o número de estudos relacionados com o tema imagem corporal expandiu-se mundialmente em diversas áreas do conhecimento, contendo estudos, sobretudo na área de Psicologia e Psiquiatria (Turtelli, Tavares, & Duarte, 2002). Existem associações da imagem corporal com distúrbios alimentares (Peat, Peyerl, & Muehlenkamp, 2008); depressão e baixa autoestima (Olivardia, Pope, Borowiecki, & Cohane, 2004); uso de esteroides anabólicos (Kanayama, Barry, Hudson, & Pope, 2006); doenças degenerativas (Huang et al., 2006); cirurgias plásticas (Bolton, Pruzinsky, Cash, & Persing, 2003), entre outros fatores.

Entretanto, segundo McCabe e Ricciardelli (2004) e Pickett, Lewis e Cash (2005), parte do crescimento do interesse pelo estudo da imagem corporal está atrelado à relação existente entre os distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia nervosa, e a preocupação excessiva com o peso e a forma corporal. Em parte, durante anos, essa preocupação direcionou as pesquisas em imagem corporal para o público feminino, dado que, até poucos anos atrás, existia um consenso de que o distúrbio de imagem corporal era um fenômeno associado quase que exclusivamente a esse público (McCreary, 2007).

Apesar desse contexto, nas últimas duas décadas, houve um crescimento significativo no número de estudos sobre a imagem corporal na população masculina (Hobza & Rochlen, 2009). Atualmente, é aceito o fato de que tanto os homens como as mulheres estão insatisfeitos com seus corpos, e que a insatisfação corporal masculina pode-se tornar problemática, pois esses indivíduos, na atualidade, estão mais susceptíveis aos distúrbios de imagem corporal (Frederick et al., 2007).

Existem diferenças quanto às preocupações com o peso e as formas corporais nos dois sexos. De maneira geral, mulheres procuram atingir um modelo de corpo magro, adotando comportamentos dirigidos para o emagrecimento - drive for thinness -, enquanto homens procuram um corpo com maior massa muscular, dirigindo sua atenção para a muscularidade - drive for muscularity (McCreary & Sasse, 2000).

Entretanto, drive for thinness e drive for muscularity não são mutuamente excludentes, ou seja, tanto homens como mulheres podem apresentar, concomitantemente, os dois direcionamentos, com a ressalva de que homens, em geral, irão apresentar maior atenção para o ganho de musculatura corporal, enquanto as mulheres normalmente estão preocupadas em atingir um corpo magro (Kelley, Neufeld, & Musher-Eizenman, 2010).

Com base na identificação dessas diferenças, Cafri e Thompson (2004), em revisão sobre estudos de imagem corporal em homens, apontam para o fato de que poucos instrumentos avaliativos dos componentes da imagem corporal dessa população valem-se das diferenças de sexo na construção das escalas e dos questionários. Segundo os autores, durante anos, a crença da não existência de distúrbios de imagem corporal em homens se deve ao fato de que os estudos utilizaram, e ainda utilizam, instrumentos com foco na satisfação com o peso e com a forma corporal baseada na gordura (preocupação com a magreza). Dessa maneira, fatalmente, os achados apontam para prevalência de maior distúrbio de imagem corporal em mulheres (Cafri & Thompson, 2004).

Recomendações atuais demonstram necessidade do uso criterioso dos instrumentos avaliativos da imagem corporal, em que a atenção deve ser dada à escolha de questionários e escalas apropriadas para cada população (Gardner & Brown, 2010; Thompson, 2004). Para os homens, Cafri e Thompson (2004) sugerem: 1) Avaliação da preocupação e/ou satisfação com a aparência muscular; 2) Identificação de comportamentos associados com a preocupação com a aparência muscular (como prática excessiva de exercício físico e uso de esteroides anabólicos); e 3) Em caso de avaliações de regiões e/ou partes específicas do corpo, focar na parte superior do tronco (ombro, peitoral e braço).

Para além das especificidades apontadas por Cafri e Thompson (2004), existe a preocupação com as qualidades psicométricas dos instrumentos criados/adaptados, em especial, com a avaliação da validade e fidedignidade (Beaton, Bombardier, Guillemin, & Ferraz, 2000; Guillemin, Bombardier, & Beaton, 1993).

A fidedignidade deve ser a primeira característica a ser avaliada, uma vez que representa o grau com que o instrumento mede com precisão determinado atributo (Pasquali, 2003). Espera-se que o instrumento realize medições sem erros, ou seja, avaliando os mesmos sujeitos em ocasiões diferentes obtenham-se resultados similares (Pasquali, 2003).

Existem algumas técnicas de estimação da fidedignidade; entretanto, as medidas mais comuns e largamente utilizadas para esse fim são a análise de consistência interna do instrumento por meio do coeficiente alfa de Cronbach, o método de correlação intraclasse, e a técnica de teste-reteste (Pasquali, 2003).

Já a validade é uma característica psicométrica básica que se refere à capacidade de o instrumento medir aquilo que se propõe (Erthal, 2009; Pasquali, 2003). Dessa maneira, não é a precisão (exatidão) com que a mensuração ocorre que descreve se um instrumento é válido (Pasquali, 2003). Metodologicamente a validade de medida é subdividida em: validade de critério (comparação do resultado do teste com um critério aceito como verdadeiro, podendo ser diagnóstica ou preditiva); validade de conteúdo (análise do conteúdo - itens do teste - por especialistas no assunto); e validade de constructo (correlação do teste com critérios - comportamentos - possivelmente relacionados ao fenômeno, e análise fatorial).

Em artigo específico sobre os cuidados metodológicos para a avaliação da imagem corporal, Thompson (2004) aponta para a grande variedade de formas de avaliação da validade e fidedignidade, reforçando a necessidade de avaliação dessas características e propondo valores para as mesmas. No entanto, esses valores poderão oscilar, pois muitos são os métodos utilizados para se avaliar, psicometricamente, uma escala (Anastasi & Urbina, 2000; Erthal, 2009; Pasquali, 2003; Thompson, 2004).

Menzel, Krawczyk e Thompson (2011) identificaram um importante crescimento no número de instrumentos avaliativos da imagem corporal de adolescentes e adultos do sexo masculino no cenário internacional, que contemplam as recomendações atuais para avaliação da imagem corporal masculina. No entanto, segundo Campana, Campana e Tavares (2009), no Brasil ainda é pequeno o número de instrumentos específicos para essa população.

Assim, em razão das especificidades da imagem corporal masculina apontada pelos autores (Cafri & Thompson, 2004; McCreary, 2007), como por exemplo, a preocupação com a aparência e definição muscular, e demonstrada a preocupação da escolha de instrumentos avaliativos apropriados para essa população, este trabalho teve como objetivo, através da análise da literatura, buscar e avaliar os instrumentos disponíveis, criados e/ou adaptados para os brasileiros, e mais especificamente para a população masculina adulta brasileira, com enfoque na identificação de tais instrumentos e das qualidades psicométricas avaliadas nos mesmos (validade e/ou fidedignidade).

Método

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, elaborada a partir de materiais já constituídos, como artigos científicos, dissertações e teses, possuindo como estratégia a busca, reunião, classificação e análise de documentos. Este delineamento de pesquisa demonstra grande aplicação quando o campo a ser investigado é amplo e os dados a serem analisados estão dispersos (Minayo, 2007).

Foram utilizadas como fonte de busca as bases de dados: Scopus, Web of Science, BIREME e o Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). A busca foi realizada nas bases Scopus e Web of Science, por meio do cruzamento do descritor body image associado a uma das seguintes palavras chave: scales, questionnaires, validation, translations. Já para a base BIREME e o Banco de Teses da CAPES foram utilizados as traduções correspondentes em língua portuguesa, a saber: imagem corporal, escalas, questionários, validação e traduções.

Após a busca inicial, os achados foram limitados a estudos realizados no Brasil, de forma que apenas instrumentos criados ou adaptados para essa realidade fossem incluídos. O período de publicação foi limitado nos últimos cinco anos (2009-2013), buscando ampliar resultados apresentados na revisão de Campana, Campana, et al. (2009).

Em seguida, os textos foram catalogados de maneira a excluir os itens repetidos e, posteriormente, foi realizada leitura flutuante dos mesmos (Minayo, 2007)1 . Procurou-se, sobretudo por meio da leitura e da análise do objetivo dos estudos, identificar aqueles que estavam relacionados, direta ou indiretamente, com o processo de criação ou adaptação de escalas e questionários avaliativos da imagem corporal para a população brasileira. Somente esses estudos foram incluídos na análise desta pesquisa.

Posteriormente, foram separados e analisados os instrumentos específicos para a população masculina adulta brasileira. Para tanto, os textos foram avaliados com o intuito de conhecer as características, as metodologias utilizadas, bem como as qualidades psicométricas avaliadas dos instrumentos criados e/ou validados.

Deu-se preferência à análise dos instrumentos identificados no Banco de Teses da CAPES quando da existência de respectiva publicação em revista científica. De forma geral, as dissertações de mestrado e teses de doutorado apresentam informações detalhadas, que em sua maioria, não constam nos artigos publicados. Quando identificados dois artigos de validação da mesma escala, por exemplo, um discorrendo sobre o processo de adaptação cultural e outro da avaliação das propriedades psicométricas, optou-se por apresentar o segundo caso.

Desse modo, o estudo segue estruturado em duas etapas: 1) Instrumentos para a população brasileira; 2) Instrumentos avaliativos da imagem corporal de homens brasileiros.

Resultados

Instrumentos para a População Brasileira

A análise primária identificou 13.682 ocorrências. Excluindo-se aquelas que apareceram em mais de uma base de dados, repetiram-se na busca com diferentes palavras-chave, e selecionados apenas os estudos nacionais foi realizada análise de 174 artigos diferentes. Por meio da leitura flutuante destes (Minayo, 2007), foram identificados 28 instrumentos disponíveis para avaliação da imagem corporal da população brasileira. Destes, nove (32,15%) instrumentos estão validados, exclusivamente, para amostras femininas, 16 (57,15 %) para ambos os sexos e, apenas três (10,7%) instrumentos, exclusivamente, para a amostra masculina.

Os instrumentos são apresentados, resumidamente, na Tabela 1, organizados quanto ao nome do instrumento e sua autoria original; à referência de validação nacional; ao sexo da população-alvo (masculina ou feminina); à faixa etária da amostra; e à dimensão da imagem corporal avaliada (atitudinal e/ou perceptiva).

Instrumentos Avaliativos da Imagem Corporal de Homens Brasileiros

Na segunda etapa da investigação, foram selecionados apenas os instrumentos para amostra adulta masculina. Dessa forma, dos 28 instrumentos iniciais, 14 foram incluídos na análise (Amaral, 2011; Amaral et al., 2013; Assunção, 2011; Carvalho, 2012; Carvalho et al., 2013; Conti et al., 2012; Conti et al., 2013; Di Pietro & Silveira, 2009; Hirata & Pilati, 2010; Hirata, Pérez-Nebra, & Pilati, 2013; Kakeshita, Silva, Zannatta, & Almeida, 2009; Morgado, 2009; Swami et al., 2011; Yoshida & Ramos, 2012).

Algumas escalas (Adami et al., 2012; Conti, Cordás, & Latorre, 2009; Conti, Hearst, & Latorre, 2011; Conti, Latorre, Hearst, & Segurado, 2009; Conti, Slater, & Latorre, 2009), embora disponíveis para indivíduos do sexo masculino, foram excluídos dessa etapa, pois são questionários validados para a amostra de adolescentes. Assim, somente foram avaliados os dados de adultos da Escala de Silhuetas Brasileira para Adultos e Crianças (Kakeshita et al., 2009).

A Tabela 2 sintetiza as características dos instrumentos validados para a população masculina adulta quanto ao componente avaliado (atitudinal: cognitivo, comportamental ou afetivo; e/ou perceptivo) e às qualidades psicométricas (validade e fidedignidade).

Destaca-se que quase todos os instrumentos disponíveis para a avaliação da imagem corporal de homens apresentam alguma forma de análise de validade (critério, conteúdo ou constructo) e também de fidedignidade (consistência interna, correlação intra-classe, ou teste-reteste), com exceção ao estudo de validação do Body Change Inventory (Conti et al., 2012) que avaliou apenas a validade de constructo e não a fidedignidade, como pode ser observado na Tabela 2.

Discussão

Instrumentos para a População Brasileira

Segundo Turtelli et al. (2002), as pesquisas relacionadas ao tema imagem corporal vêm crescendo, vertiginosamente, no Brasil. Em estudo de revisão dos instrumentos avaliativo da imagem corporal nos transtornos alimentares, Campana, Campana, et al. (2009) identificaram a preocupação dos pesquisadores nacionais em criar e/ou adaptar instrumentos específicos para a realidade brasileira. Os resultados da pesquisa de Campana, Campana, et al. (2009) apontaram a existência de sete instrumentos, em sua maioria, adaptados de instrumentos internacionais, sendo apenas um disponível para a população masculina: Body Shape Questionnaire (Di Pietro & Silveira, 2009).

O presente estudo acrescenta dados importantes à pesquisa nacional sobre imagem corporal, por meio da identificação de novos instrumentos. É perceptivo o crescimento do número de instrumentos desde a revisão realizada por Campana, Campana, et al. (2009). Foram identificados sete instrumentos criados/adaptados em 2009, um em 2010, oito em 2011, sete em 2012, e cinco em 2013.

Quanto ao sexo, dos 28 instrumentos identificados, apenas três (10,7%), foram exclusivamente criados/adaptados para a avaliação da imagem corporal de indivíduos do sexo masculino. Esses resultados reforçam a ideia de que o foco dos estudos permanece relacionado, sobretudo, com a preocupação da avaliação da imagem corporal de mulheres (Campana, Campana, et al., 2009; McCabe & Ricciardelli, 2004).

Observou-se que mais da metade dos instrumentos identificados são validados para uso em ambos os sexos. Desses, apenas cinco (Amaral, 2011; Hirata & Pilati, 2010; Hirata et al., 2013; Kakeshita et al., 2009; Morgado, 2009) contêm escalas específicas para homens. Esse fato pode diminuir a especificidade dos instrumentos, aumentando a probabilidade de erros quanto aos resultados, visto que a recomendação com relação ao uso de instrumentos específicos para avaliação da imagem corporal de homens estaria violada (Cafri & Thompson, 2004).

Outro ponto crítico a ser abordado diz respeito ao foco amostral das criações e validações dos instrumentos de imagem corporal para o Brasil, no que se refere à característica da idade amostral. Vale lembrar que uma atenção maior tem sido dada aos adultos, quando comparados à população de crianças, adolescentes e idosos. Essa preocupação deve ser levada em consideração pelo fato de que os distúrbios de imagem corporal e as desordens alimentares não surgem de forma repentina, eles são construídos ao longo do desenvolvimento do indivíduo (Cash & Smolak, 2011).

Para Cash e Smolak (2011), a avaliação precoce desses distúrbios deve ser estimulada, uma vez que a preocupação com o corpo e com a imagem corporal apresenta-se com maior frequência nas fases da infância e adolescência. Assim, a avaliação precoce possibilita uma intervenção rápida e favorável para o desenvolvimento dos indivíduos.

A presente pesquisa demonstrou grande prevalência de instrumentos para a avaliação da dimensão atitudinal em detrimento da perceptiva (do total de 28 instrumentos identificados apenas um avalia a dimensão perceptiva, ver Tabela 1) e ainda, com enorme direcionamento para a avaliação do componente afetivo (insatisfação/satisfação corporal). No Brasil, poucos são os instrumentos que avaliam outros componentes do aspecto atitudinal da imagem corporal, tais como o cognitivo (Amaral, 2011; Amaral et al., 2013; Hirata et al., 2013) e o comportamental (Campana, Tavares, Silva, & Diogo, 2009; Carvalho, 2012; Kachani et al., 2011; Kachani et al., 2013).

Cumpre ressaltar que houve uma diversificação das populações investigadas. Foram identificados instrumentos específicos para vítimas de queimadura (Assunção, 2011), crianças (Kakeshita et al., 2009), mulheres de meia-idade (Caetano, 2011) e idosas (Ferreira, 2012), e cegos congênitos (Morgado, 2009).

Instrumentos Avaliativos da Imagem Corporal de Homens Brasileiros

Por meio da busca bibliográfica observou-se que, a maioria dos 14 instrumentos disponíveis para a avaliação da imagem corporal em homens brasileiros, segue as orientações dos pesquisadores de se avaliar tanto a validade quanto a fidedignidade (Beaton et al., 2000; Gillemin et al., 1993).

Dentre os instrumentos avaliativos da imagem corporal de homens foram identificadas três escalas de silhuetas ou figuras: Stunkard Figure Rating Scale (Conti et al., 2013), Escala de Silhuetas Bi e Tridimensionais (Morgado, 2009), e Escala de Silhuetas Brasileira para Adultos e Crianças (Kakeshita et al., 2009). Segundo Gardner e Brown (2010) a escala de silhuetas é o método mais utilizado para avaliação da imagem corporal por causa da facilidade e rapidez na aplicação. No entanto, os autores recomendam que sejam tomados cuidados específicos com relação à sua aplicação devido a conhecidas críticas que sofrem na literatura (Gardner & Brown, 2010). Em especial, destaca-se o fato de as figuras variarem de acordo com sua composição de gordura corporal. Se comparados às mulheres, os homens apresentam menor preocupação com esse aspecto, visto que seu foco está na muscularidade (Cafri & Thompson, 2004).

As três escalas supracitadas apresentam boas qualidades psicométrica e permitem a avaliação do componente afetivo (insatisfação corporal) da imagem corporal, por meio da discrepância entre a figura escolhida como real e ideal. Possibilidade adicional de avaliação é verificada na Escala de Silhuetas Brasileira para Adultos e Crianças (Kakeshita et al., 2009) que por conter valores específicos de índice de massa corporal (IMC) para cada figura permite a avaliação da dimensão perceptiva, identificada pela diferença entre o IMC real do indivíduo (mensurado) e o IMC da figura escolhida como real (Kakeshita et al., 2009). A Escala de Silhuetas Bi e Tridimensionais (Morgado, 2009), por sua vez, apresenta a especificidade de ser desenvolvida para avaliação de cegos congênitos, diferenciando-se das duas outras escalas que são validadas para a população normativa.

Ainda sobre a avaliação do componente afetivo da imagem corporal de homens brasileiros identificou-se um expressivo número de instrumentos adaptados e/ou validados para ambos os sexos. Ou seja, seus itens avaliam aspectos gerais do componente afetivo, sem a inclusão de questões específicas para a avaliação de homens, como pode ser observado na Tabela 1.

Foram identificados somente três instrumentos adaptados especificamente para a população masculina: Male Body Dissatisfaction Scale (Carvalho et al., 2013), Male Body Checking Questionnaire (Carvalho, 2012) e Stunkard Figure Rating Scale (Conti et al., 2013). Em especial, os dois primeiros instrumentos contemplam questões específicas sobre a preocupação com a muscularidade e com partes específicas do corpo, aspecto importante para a avaliação da população masculina.

Quanto ao componente comportamental, apenas um instrumento foi identificado para a avaliação de homens, o Male Body Checking Questionnaire (Carvalho, 2012). Fato similar foi verificado para o componente cognitivo, com apenas dois instrumentos disponíveis: Tripartite Influence Scale (Amaral et al., 2013) e Sociocultural Attitudes Towards Appearance Questionnaire - 3 (Amaral, 2011).

Considerações Finais

Por meio da análise bibliográfica a respeito dos estudos de validação de instrumentos de imagem corporal para a população brasileira, foi possível comprovar o crescimento apontado pelos autores do número de estudos de imagem corporal e da preocupação com a criação de escalas e questionários para sua correta avaliação nos últimos anos.

Entretanto, alguns pontos devem ser destacados, como a permanência da existência de grande foco de estudo sobre o público feminino, em detrimento do masculino, e o pequeno número de instrumentos validados para a população de crianças, adolescentes e idosos.

Apesar do crescimento do número de instrumentos disponíveis para os pesquisadores brasileiros, os estudos de imagem corporal ainda carecem de um número expressivo de escalas e questionários diante da multidimensionalidade e complexidade da imagem corporal. Muitos são os aspectos e componentes desse construto e grandes são as diferenças encontradas nas atitudes, nos comportamentos, nas expectativas e nos cuidados com o corpo, quando são comparados homens e mulheres; crianças, adolescentes, adultos e idosos; eutróficos e obesos, entre outros.

Essa pesquisa acrescenta importantes informações a área de pesquisa de imagem corporal, na medida em que identificou e discutiu instrumentos avaliativos para a população brasileira e, em especial, para adultos do sexo masculino. No entanto, algumas limitações do estudo devem sem levantadas. Primeiramente, os descritores e bases de dados utilizados podem não contemplar a totalidade de produções científicas existentes. Entretanto, destaca-se que a BIREME, Scopus e Web of Science contêm um grande número de periódicos indexados, nacionais e internacionais, com milhares de títulos e artigos de acesso aberto (Open Access). Além disso, o uso de um descritor associado a quatro palavras-chave, presente em grande parte dos trabalhos de validação, aumenta o valor preditivo de busca.

Outra importante limitação deste estudo que merece destaque é o fato de não ter adentrado na análise do processo de criação e adaptação de instrumentos de imagem corporal, bem como não ter descrito os valores psicométricos dos instrumentos encontrados. Vale ressaltar que o foco deste estudo é a identificação dos instrumentos e das qualidades psicométricas avaliadas (validade e/ou fidedignidade).

Sugere-se que outros estudos sejam realizados na área de criação/adaptação de instrumentos avaliativos de imagem corporal e que as nuances desse fenômeno sejam levadas em consideração, na busca por instrumentos mais específicos para cada amostra, e que tenham suas qualidades psicométricas básicas testadas e demonstradas.

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Recebido em 14.12.2010

Primeira decisão editorial em 05.12.2013

Versão final em 06.12.2013

Aceito em 05.02.2014

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    Segundo Minayo (2007), leitura flutuante consiste em tomar contato exaustivo como o material para conhecer seu conteúdo.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Set 2014
    • Data do Fascículo
      Set 2014

    Histórico

    • Recebido
      14 Dez 2010
    • Aceito
      05 Fev 2014
    • Revisado
      06 Dez 2013
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