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Qualidade Conjugal na Etapa de Formação da Conjugalidade: Fatores Preditores e Moderadores

Marital quality in the ealry stages of a relationship: predictors and moderators

Calidad conyugal en la formación de la conyugalidad: factores predictores y moderadores

Resumo

A qualidade conjugal na etapa da formação do casal repercute na trajetória relacional. Com base no modelo de Vulnerabilidade, Estresse e Adaptação (VSA) e por meio de um questionário on-line, buscou-se compreender quais variáveis predizem a qualidade conjugal de 353 brasileiros (78,8% mulheres; 74,4% heterossexuais) que coabitavam há até três anos e quais moderam a relação entre estratégias de resolução de conflitos e qualidade conjugal. Análises de regressão demonstraram que a diferenciação de self e as estratégias de resolução de conflitos tiveram peso explicativo similar e maior do que as variáveis contextuais estressoras na variação da qualidade conjugal. Diferenciação de self, satisfação com o trabalho e tempo de coabitação moderaram a relação entre estratégias de resolução de conflitos e qualidade conjugal. Corroborando parcialmente o modelo VSA, o estudo discute dinâmicas próprias do início do relacionamento.

Palavras-chave:
relações conjugais; dinâmica de casal; conflito conjugal; casamento

Abstract

Marital quality during the beginning of a relationship impacts the couple’s relational trajectory. Based on the Vulnerability, Stress and Adaptation model (VSA) and using an online questionnaire, we sought to understand which variables predict marital quality among 353 Brazilians (78.8% women; 74,4% heterosexual) who had been cohabiting for up to three years, and which variables moderate the relationship between conflicts resolution strategies and marital quality. Regression analyses showed that differentiation of self and conflict resolution strategies had similar and greater explanatory weight than the stressful contextual variables in explaining marital quality variance. Differentiation of self, job satisfaction, and length of cohabitation moderated the relationship between conflict resolution strategies and marital quality. Partially corroborating the VSA model, the study discusses dynamics specific to the early stages of a relationship.

Keywords:
Marital relations; Couple dynamics; Marital conflict; Marriage

Resumen

La calidad conyugal de la etapa de formación de la pareja repercute en su trayectoria relacional. Con base en el modelo VSA y a través de un cuestionario en línea, este estudio tuvo como objetivo comprender cuáles son las variables que predicen la calidad conyugal de 353 brasileños (78,8% mujeres; 74,4% heterosexuales) en cohabitación por hasta tres años y cuáles de estas moderan la relación entre estrategias de resolución de conflictos y calidad conyugal. Los análisis de regresión mostraron que las estrategias de diferenciación del yo y las estrategias de resolución de conflictos tuvieron un peso explicativo similar y mayor que las variables contextuales estresantes en la variación de la calidad conyugal. La diferenciación del yo, la satisfacción laboral y el tiempo de convivencia moderaron la relación entre las estrategias de resolución de conflictos y la calidad conyugal. El estudio discute dinámicas propias del inicio de la relación.

Palabras clave:
Relaciones conyugales; Dinámica de pareja; Conflicto marital; Matrimonio

Introdução

Casais na etapa de formação da conjugalidade precisam cumprir diversas tarefas desenvolvimentais, entre elas criar uma identidade conjugal por meio da negociação de novas fronteiras com suas famílias de origem e com seus demais espaços de pertencimento. O estabelecimento de padrões de comunicação e de resolução de conflitos, a construção de significados compartilhados e o esclarecimento das expectativas mútuas também são demandas esperadas, assim como a construção de uma relação afetiva e sexual satisfatória (McGoldrick, Preto, & Carter, 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.; Wagner & Delatorre, 2018Wagner, A., & Delatorre, M. Z. (2018). A conjugalidade e suas transformações nos diferentes estágios do ciclo vital. Em M. A. dos Santos, D. Bartholomeu & J. M. Montiel. Relações interpessoais no ciclo vital: Conceitos e contextos (pp. 271-284). Vetor Editora.).

Estudos com casais de culturas, etnias e níveis socioeconômicos diversificados demonstram que os que se mostram satisfeitos desde o início da relação tendem a manter bons níveis de contentamento ao longo da vida, mesmo que ocorram pequenos declínios. Aqueles que reportam baixos níveis de satisfação desde os anos iniciais tendem a sofrer declínios mais intensos e mais prováveis (Karney & Bradbury, 2020Karney, B. R., & Bradbury, T. N. (2020). Research on marital satisfaction and stability in the 2010s: Challenging conventional wisdom. Journal of Marriage and Family, 82, 100-116. https://doi.org/10.1111/jomf.12635
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Tong, Jia, He, Lan, & Fang, 2021Tong, W., Jia, J., He, Q., Lan, J., & Fang, X. (2021). The trajectory of marital satisfaction among Chinese newlyweds: Intrapersonal, interpersonal, and stress predictors. Developmental Psychology, 57(4), 597-608. https://doi.org/10.1037/dev0001156
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
; Williamson & Lavner, 2020Williamson, H., & Lavner, J. (2020). Trajectories of marital satisfaction in diverse newlywed couples. Social Psychological and Personality Science, 11(5), 597-604. https://doi.org/10.1177/1948550619865056
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/...
).

Pesquisas utilizando o modelo de Vulnerabilidade, Estresse e Adaptação (Vulnerabiliy, Stress and Adaptation Model - VSA; Karney & Bradbury, 1995Karney, B. R., & Bradbury, T. N. (1995). The longitudinal course of marital quality and stability: A review of theory, method, and research. Psychological Bulletin, 118(1), 3-34. https://doi.org/10.1037//0033-2909.118.1.3
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) têm buscado compreender quais fatores impactam nesses desfechos e de que forma eles produzem maiores ou menores níveis de satisfação conjugal. Conforme o modelo, três classes de variáveis influenciam na satisfação e na estabilidade do relacionamento, quais sejam, as qualidades individuais e duradouras que cada cônjuge traz para o relacionamento, os eventos estressores externos que impactam na relação e os processos adaptativos, que são os comportamentos dos quais os casais lançam mão para lidar com as circunstâncias estressoras.

As qualidades duradouras influenciam diretamente nos processos adaptativos e na maneira como os cônjuges vivem as circunstâncias estressantes. Os processos adaptativos, influenciados pelas qualidades duradouras e pelo estresse, impactam nos níveis de satisfação conjugal, que, então, influenciam na estabilidade das relações ao longo do tempo (McNulty, Meltzer, Neff, & Karney, 2021McNulty, J. K., Meltzer, A. L., Neff, L. A. & Karney, B. R. (2021). How both partners’ individual differences, stress, and behavior predict change in relationship satisfaction: Extending the VSA model. PNAS, 118(27). https://doi.org/10.1073/pnas.2101402118
https://doi.org/https://doi.org/10.1073/...
).

Em se tratando de casais na fase inicial do relacionamento, uma das qualidades duradouras de grande importância é a diferenciação da família de origem (McGoldrick et al., 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.). A diferenciação de self corresponde ao quanto um indivíduo se diferencia, em termos emocionais, da tendência de fusão emocional de sua família de origem, sendo capaz de desenvolver a sua própria autonomia emocional (Bowen, 1991Bowen, M. (1991). De la familia al individuo: La diferenciación del sí mismo en el sistema familiar. Ediciones Paidos.). Tal processo possui uma dimensão intrapsíquica, concernente à capacidade de regulação emocional e de diferenciação entre emoções e pensamentos, assim como uma dimensão interpessoal, relacionada à manutenção do equilíbrio entre intimidade e autonomia na interação com os outros (Major, Rodríguez González, Miranda, Rousselot, & Relvas, 2014Major, S., Rodríguez González, M., Miranda, C., Rousselot, M., & Relvas, A. (2014). Inventário de diferenciação do Self- Revisto (IDS-R). Em A. P. Relvas & S. Major. Avaliação Familiar: Funcionamento e intervenção (pp. 71-96). Imprensa da Universidade de Coimbra.; Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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).

Estudos realizados em diferentes culturas, níveis socioeconômicos e faixas etárias indicam que indivíduos com maior diferenciação de self experimentam maior capacidade de autocontrole emocional e menos índices de apego ansioso (Lampis & Cataudella, 2019Lampis, J., & Cataudella, S. (2019). Adult attachment and differentiation of self-constructs: A possible dialogue? Contemporary Family Therapy , 41, 227-235 (2019). https://doi.org/10.1007/s10591-019-09489-7
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
). Também apresentam confiança em suas próprias habilidades (Jenkins, Buboltz, Schwartz, & Johnson, 2005Jenkins, S. M., Buboltz, W. C., Jr., Schwartz, J. P., & Johnson, P. (2005). Differentiation of self and psychosocial development. Contemporary Family Therapy, 27(2), 251-261. https://doi.org/10.1007/s10591-005-4042-6
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) e níveis mais elevados de satisfação (Lampis, Cataudella, Agus, Busonera, & Skowron, 2019Lampis, J., Cataudella, S., Agus, M., Busonera, A., & Skowron, E. A. (2019). Differentiation of self and dyadic adjustment in couple relationships: A dyadic analysis using the actor-partner interdependence model. Family Process, 58(3), 698-715. https://doi.org/10.1111/famp.12370
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), ajustamento (Rodríguez-González, Lampis, Murdock, Schweer-Collins, & Lyons, 2020Rodríguez-González, M., Lampis, J., Murdock, N. L., Schweer-Collins, M. L., & Lyons, E. R. (2020). Couple adjustment and differentiation of self in the United States, Italy, and Spain: A cross-cultural study. Family Process , 59(4), 1552-1568. https://doi.org/10.1111/famp.12522
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) e estabilidade conjugal (Cabrera-García, Herrera-Calle, & Serrato-Vásquez, 2019Cabrera-García, V. E., Herrera-Calle, L., & Serrato-Vásquez, C. (2019). Importancia de la diferenciación de sí mismo y el ajuste diádico en la explicación de la estabilidad marital. Revista Colombiana de Psicología, 28, 65-80. https://doi.org/10.15446/rcp.v28n1.67705
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).

Dentre as diferentes variáveis consideradas como processos adaptativos estão as estratégias de resolução dos conflitos (Delatorre, & Wagner, 2021Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2021). A relação conjugal na perspectiva de casais. Ciencias Psicologicas, 15(1), e-2355. https://doi.org/10.22235/cp.v15i1.2355
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). Está amplamente estabelecido na literatura que a maneira como os cônjuges encaminham os seus desentendimentos se relaciona diretamente à satisfação e à qualidade conjugal. O uso de estratégias que priorizam o diálogo, a escuta ativa e o afeto reverberam em maior satisfação e qualidade relacional, enquanto o uso de estratégias que envolvam ataques, hostilidade, submissão, evitação e afastamento tende a produzir o efeito oposto (Abreu-Afonso, Ramos, Queiroz-Garcia, & Leal, 2021Abreu-Afonso, J., Ramos, M. M., Queiroz-Garcia, I., & Leal, I. (2021). How couple’s relationship lasts over time? A model for marital satisfaction. Psychological Reports, 125(3), 1601-1627. https://doi.org/10.1177/00332941211000651
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; Delatorre & Wagner, 2021Delatorre, M. Z., Wagner, A, & Bedin, L. M. (2021). Dyadic relationships between personality, social support, conflict resolution, and marital quality. Personal Relationships, 29(1), 1-18, https://doi.org/10.1111/pere.12410
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Işık & Kaya, 2022Işık, R. A., & Kaya, Y. (2022). The relationships among perceived stress, conflict resolution styles, spousal support and marital satisfaction during the covid-19 quarantine. Current Psychology. Advance online publication. https://doi.org/10.1007/s12144-022-02737-4
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). Corroborando o modelo VSA, estudos com amostras chinesa (Tong et al., 2021Tong, W., Jia, J., He, Q., Lan, J., & Fang, X. (2021). The trajectory of marital satisfaction among Chinese newlyweds: Intrapersonal, interpersonal, and stress predictors. Developmental Psychology, 57(4), 597-608. https://doi.org/10.1037/dev0001156
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) e brasileira (Delatorre & Wagner, 2021) demonstram que as variáveis inter-relacionais, como a resolução de conflitos, apresentam maior peso explicativo do que as variáveis individuais e contextuais para explicar as mudanças na satisfação conjugal.

A capacidade de resolver os conflitos de maneira construtiva se torna ainda mais relevante em circunstâncias contextuais estressoras. Segundo dados coletados nos três anos iniciais de casamento de 431 casais que viviam em bairros pobres no Texas (EUA), vivenciar maior estresse externo e, com isso, amplificar o uso de estratégias desadaptativas de enfrentamento, resultou em menor satisfação conjugal seis meses depois. O aumento situacional no estresse, sem prejuízo no manejo dos conflitos, repercutiu em melhor satisfação para os casais. Quando o estresse é crônico, mas em níveis baixos ou médios, o uso de estratégias de resolução de conflitos pouco eficazes não interferiu no nível de satisfação conjugal. Já para casais com níveis altos de estresse crônico, o uso de estratégias pouco resolutivas reverberou em piora na satisfação com o relacionamento (Nguyen, Karney, Kennedy, & Bradbury, 2021Nguyen, T. P., Karney, B. R., Kennedy, D. P., & Bradbury, T. N. (2021). Couples’ diminished social and financial capital exacerbate the association between maladaptive attributions and relationship satisfaction. Cognitive Therapy and Research, 45, 529-541. https://doi.org/10.1007/s10608-020-10161-w
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).

Tais dados revelam que o contexto em que o casal se encontra se relaciona diretamente com os processos adaptativos. Embora o modelo VSA enfatize os estressores externos, tais como a vulnerabilidade social e experiências de discriminação, muitas pesquisas incluem estressores internos ao relacionamento como fatores que impactam em seu funcionamento, como a experiência de coabitar antes do casamento e de ter filhos nascidos antes da coabitação (Williamson, 2021Williamson, H. C. (2021). The development of communication behavior over the newlywed years. Journal of Family Psychology , 35(1), 11-21. https://doi.org/10.1037/fam0000780
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).

Também há evidências de que existe uma relação direta entre aspectos contextuais e satisfação conjugal. Em estudo longitudinal com casais norte-americanos recém-casados, a alta carga de trabalho de um parceiro produziu declínios na satisfação conjugal do outro, seis meses depois, independentemente do gênero ou de terem ou não filhos (Lavner & Clark, 2017Lavner, J. A., & Clark, M. A. (2017). Workload and marital satisfaction over time: Testing lagged spillover and crossover effects during the newlywed years. Journal of vocational behavior, 101, 67-76. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2017.05.002
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). Em uma amostra portuguesa, encontrou-se tendência de menor satisfação em casais com filhos pequenos e adolescentes. Aqueles que estavam ativos profissional ou academicamente se mostraram mais satisfeitos com a relação, enquanto o nível educacional, o tipo de união e a existência de uniões anteriores não impactaram nessa variável (Abreu-Afonso et al., 2021Abreu-Afonso, J., Ramos, M. M., Queiroz-Garcia, I., & Leal, I. (2021). How couple’s relationship lasts over time? A model for marital satisfaction. Psychological Reports, 125(3), 1601-1627. https://doi.org/10.1177/00332941211000651
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).

Conforme evidenciado nesta revisão, as pesquisas que investigam o modelo VSA e o tema da conjugalidade, em sua maioria, utilizam a satisfação conjugal como variável de desfecho. Considerando os resultados promissores encontrados na literatura a partir da satisfação conjugal, entende-se que pesquisar variáveis teoricamente mais complexas, como a qualidade conjugal (Delatorre & Wagner, 2020Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2020) Marital quality assessment: Reviewing the concept, instruments, and methods. Marriage & Family Review, 56(3), 193-216. https://doi.org/10.1080/01494929.2020.1712300
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), pode agregar à área. Dessa forma, neste estudo, será utilizado o conceito de qualidade conjugal proposto por Delatorre e Wagner (2021Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2021). A relação conjugal na perspectiva de casais. Ciencias Psicologicas, 15(1), e-2355. https://doi.org/10.22235/cp.v15i1.2355
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, 2022) a partir da triangulação entre revisão de literatura, análises qualitativas e quantitativas. De acordo com as autoras, qualidade conjugal consiste na avaliação que os indivíduos fazem sobre o seu relacionamento considerando o afeto, a intimidade, o compromisso, a sexualidade e a satisfação.

Diante disso, este estudo teve como objetivo compreender quais fatores predizem a qualidade conjugal de indivíduos brasileiros que coabitam há, no máximo, três anos, levando em conta as variáveis contextuais estressoras, os processos adaptativos e as qualidades individuais duradouras dos participantes. Além disso, a partir dos achados de McNulty, Meltzer, Neff e Karney (2021McNulty, J. K., Meltzer, A. L., Neff, L. A. & Karney, B. R. (2021). How both partners’ individual differences, stress, and behavior predict change in relationship satisfaction: Extending the VSA model. PNAS, 118(27). https://doi.org/10.1073/pnas.2101402118
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) de que os processos adaptativos, influenciados pelas qualidades individuais duradouras e pelo estresse contextual, são as variáveis que impactam nos níveis de satisfação conjugal, buscou-se testar se as variáveis contextuais estressoras e se as qualidades individuais duradouras dos participantes moderam a relação entre os processos adaptativos e a qualidade conjugal.

Método

Participantes

Participaram deste estudo 353 brasileiros com idades entre 18 e 57 anos (M = 27,7; SD = 6,88), residentes em 13 estados (29,7% do RS; 14,2% de SC; 10,5% de SP, e demais estados com menos de 10%). Dentre os participantes, 78,8% declararam-se do sexo feminino (a informação “gênero” não foi solicitada). No que diz respeito à orientação sexual, 74,4% eram heterossexuais, 9,7%, homossexuais e 15,1%, bissexuais. Todos coabitavam com seus parceiros, sendo que 64,9% não possuíam registro civil da união, 5,4% possuíam união estável registrada em cartório, 15,6% eram casados e 14,2% se declaravam como namorados.

O critério de inclusão foi estar morando com o(a) parceiro(a) há, no máximo, três anos, conforme revisão de literatura sobre o ciclo vital do casal (Wagner & Delatorre, 2018Wagner, A., & Delatorre, M. Z. (2018). A conjugalidade e suas transformações nos diferentes estágios do ciclo vital. Em M. A. dos Santos, D. Bartholomeu & J. M. Montiel. Relações interpessoais no ciclo vital: Conceitos e contextos (pp. 271-284). Vetor Editora.). O tempo médio de coabitação foi de 15,04 meses (SD =10,92 meses), e 9,6% dos participantes tinham filhos (entre 1 e 3 filhos; M = 1,35; SD = 0,60). A renda mensal pessoal declarada foi de, em média, R$ 3.432,98 (SD = 3.368,74). Somada a renda dos participantes com a de seus parceiros(as), a média foi de R$ 8.174,12 (SD = 8.174,12). Quanto à escolaridade, 38,5% tinham curso superior incompleto, 30% tinham pós-graduação completa, 14,2% tinham curso superior completo, 11,9% tinham pós-graduação incompleta e 5,4% tinham escolaridade em nível médio ou inferior.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico . Desenvolvido pelos pesquisadores, investigou o sexo e a orientação sexual (qualidades individuais duradouras), além de quatro tipos de estressores contextuais em potencial, internos ou externos à relação. No contexto de trabalho e renda, investigou-se a renda do casal, se o participante exercia ou não atividade remunerada, a satisfação com o trabalho (medida em escala Likert de cinco pontos) e a escolaridade. No contexto conjugal, investigou-se o tempo de coabitação (em meses), se já coabitou com outra pessoa e o tipo de relacionamento (morando juntos sem registro oficial, morando juntos com registro de união estável, casados no civil e no religioso, casados no civil e namorando). No contexto parental, investigou-se a quantidade de filhos e se havia a presença de enteados de qualquer dos cônjuges vivendo com o casal. Por fim, no contexto relacionado ao lazer, investigou-se quanto tempo o casal compartilha em um dia de folga (em horas) e com quem passa o seu tempo de lazer (só o casal, com amigos, com filhos ou com outros familiares).

Escala de Qualidade Conjugal (EQC; Delatorre & Wagner, 2022Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2022). Construção e evidências de validade da Escala de Qualidade Conjugal. Psico-USF, 27(1), 129-141. http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712022270110
https://doi.org/http://dx.doi.org/10.159...
). Possui 29 itens que avaliam a qualidade do relacionamento em cinco dimensões: Satisfação (alfa de Cronbach a = 0,97; ômega de Mcdonald ω = 0,97), Compromisso (a = 0,82; ω = 0,82), Intimidade (a = 0,93; ω = 0,93), Atração e sexo (a = 0,91; ω = 0,91) e Carinho e afeto (a = 0,90; ω = 0,91). Os itens são pontuados em uma escala Likert variando entre 1 (não representa quase nada) e 6 (representa muito). São calculadas as médias dos itens de cada dimensão. Escores mais altos representam melhores níveis em cada uma delas.

Inventário de Estilos de Resolução de Conflitos (Conflict Resolution Styles Inventory - CRSI; Kurdek, 1994Kurdek, L. A. (1994). Conflict resolution styles in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and the Family, 56, 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
https://doi.org/https://doi.org/10.2307/...
, validado para a população brasileira por Delatorre, Scheeren, & Wagner, 2017Delatorre, M. Z., Scheeren, P., & Wagner, A. (2017). Conflito conjugal: Evidências de validade de uma escala de resolução de conflitos em casais do sul do Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(1), 79-94. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3742
https://doi.org/https://doi.org/10.12804...
). Possui 16 itens que avaliam quatro estilos de resolução de conflitos conjugais: Resolução positiva dos problemas: uso de negociação (a = 0,79; ω = 0,80); Envolvimento no conflito: uso de ataques pessoais e perda de controle (a = 0,83; ω = 0,83); Afastamento: recusa ao diálogo (a = 0,83; ω = 0,83) e Submissão: desistência em defender a sua posição (a = 0,76; ω = 0,76). Os itens são medidos em escala Likert de cinco pontos (1 = nunca a 5 = sempre). Escores mais altos representam uso mais frequente de cada estratégia.

Inventário de Diferenciação do Self - Revisto (Differentiation of Self Inventory - Revised - DSI R; Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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; validado para Portugal por Major et al., 2014Major, S., Rodríguez González, M., Miranda, C., Rousselot, M., & Relvas, A. (2014). Inventário de diferenciação do Self- Revisto (IDS-R). Em A. P. Relvas & S. Major. Avaliação Familiar: Funcionamento e intervenção (pp. 71-96). Imprensa da Universidade de Coimbra. e adaptado para o Português Brasileiro por Fiorini, 2017Fiorini, M. C. (2017). Percepção do funcionamento familiar, diferenciação do self e adaptabilidade de carreira de estudantes universitários. Dissertação. Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina.). Possui 46 itens pontuados em escala Likert de seis pontos (1 = nada verdadeira; 6 = muito verdadeira). Investiga a diferenciação de self por meio de quatro dimensões: Reatividade emocional: tendência para responder aos estímulos ambientais com base em respostas emocionais automáticas (a = 0,84; ω = 0,84); Fusão com outros: superenvolvimento emocional com pessoas significativas, dependência e necessidade de aprovação (a = 0,76; ω = 0,76); Posição do eu: sentido claro e definido do self e capacidade de manter as próprias crenças e convicções (a = 0,78; ω = 0,78); e Corte emocional: medo da intimidade e uso de defesas para manter-se distante dos outros (a = 0,81; ω = 0,81). Reatividade emocional e Posição do eu avaliam a dimensão intrapsíquica do construto, Fusão com os outros e Corte emocional avaliam a sua dimensão interpessoal. Escores mais altos refletem maior diferenciação de self, isto é, menor reatividade emocional, menor corte emocional, menor fusão com os outros e mais posições do eu.

Procedimentos Éticos e de Coleta de Dados

Os dados foram coletados de forma on-line por meio da plataforma Survey Monkey durante os meses de junho e julho de 2020. A amostra foi formada por conveniência e pelo método snowball sampling. Na página inicial do formulário, constava o Termo de Ciência para Questionário Anônimo, o qual prestava informações sobre a pesquisa e assegurava o anonimato. Os participantes selecionaram a alternativa “Concordo com os termos e aceito responder ao questionário” para prosseguir. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (nº 4.063.196).

Procedimentos de Análise de Dados

A variável dependente testada foi Qualidade conjugal. Trata-se de um índice geral, calculado a partir da média das cinco dimensões da EQC. Para verificar a aplicabilidade do índice geral de qualidade conjugal, verificou-se a sua correlação com as cinco dimensões da escala. Essas correlações foram significativas e positivas, sendo a menor com Compromisso (r = 0,82, p < 0,001) e a maior com Intimidade (r = 0,93, p < 0,001). As variáveis preditoras foram divididas em grupos, de acordo com o modelo VSA: qualidades duradouras, estressores contextuais e processos adaptativos.

Testou-se o efeito moderador da Diferenciação de self e dos estressores contextuais que foram preditores significativos da Qualidade conjugal sobre a relação entre a Qualidade conjugal e os Estilos de resolução de conflito. Para tanto, o índice geral de Diferenciação de self foi calculado pela média de todos os itens do DSI-R. As análises foram realizadas no software R versão 4.1.2 (R Core Team, 2021), utilizando-se a função lm do pacote stats para as regressões lineares e o pacote MeMoBootR versão 0.0.0.7001 (Buchanan, 2021Buchanan, E. (2021). MeMoBootR: Mediation-Moderation with Bootstrapping in R (0.0.0.7000). Recuperado de https://github.com/doomlab/MeMoBootR
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) para as análises de moderação, removendo-se os outliers por meio da opção “with_out = F”.

Resultados

Os resultados das análises de regressão, considerando as variáveis contextuais estressoras como preditoras da Qualidade conjugal, estão apresentadas na Tabela 1. Entre as variáveis contextuais de trabalho e renda testadas, Maior satisfação com o trabalho relacionou-se com índices mais altos de Qualidade conjugal. No que se refere aos estressores do contexto parental e conjugal, a presença de um enteado morando com o casal se relacionou com menores índices de Qualidade conjugal, assim como um tempo maior de coabitação com o atual parceiro, embora essa relação seja pequena. Não houve diferença na Qualidade conjugal entre aqueles que possuíam e aqueles que não possuíam registro formal da união, exceto para aqueles que coabitavam, mas nomeavam a relação como “namoro”. Estes demonstraram índices significativamente menores de Qualidade conjugal, em comparação com os demais status.

Tabela 1
Regressões Lineares Múltiplas Considerando Variáveis Estressoras Contextuais como Preditoras de Qualidade Conjugal

De modo geral, as variáveis de contexto obtiveram baixo poder explicativo na variação do índice de Qualidade conjugal, sendo que aquelas relacionadas ao lazer do casal foram as que demonstraram maior poder explicativo (16,8% da variação). Nesse caso, quanto mais horas o casal passava junto em um dia de folga, maior foi a Qualidade conjugal reportada. Passar o tempo de descanso com familiares se relacionou com menores índices de Qualidade conjugal, em comparação a passar a maior parte desse tempo somente entre o casal, com filhos ou com amigos.

No que se refere às qualidades individuais duradouras (Tabela 2), participantes mais velhos demonstraram índices ligeiramente menores de Qualidade conjugal. Não foram encontradas diferenças entre os sexos e entre os diferentes tipos de orientação sexual. Os quatro índices de diferenciação de self foram as qualidades individuais duradouras que mais explicaram as variações na Qualidade conjugal (26,1%). Uma vez que as subescalas Reatividade emocional e Corte emocional são computadas com itens invertidos, quanto maiores os escores nessas variáveis, maior é a Diferenciação de self. Portanto, quanto maior a Reatividade emocional, menor o Corte emocional e maior a Posição do eu, maior foi o nível de Qualidade conjugal. Fusão com os outros não foi significativo no modelo. A Diferenciação total também indica que maiores níveis de Diferenciação de self estão relacionados com melhor Qualidade conjugal.

Tabela 2
Regressões Lineares Múltiplas Considerando as Qualidades Individuais Duradouras como Preditoras de Qualidade Conjugal

No que se refere aos processos adaptativos, as Estratégias de resolução de conflitos explicaram 26,2% da Qualidade conjugal (Tabela 3). A Resolução positiva se relacionou com melhores índices de Qualidade conjugal e as estratégias Envolvimento no conflito, Afastamento e Submissão se relacionaram com índices menores.

Tabela 3
Regressões Lineares Múltiplas Considerando os Processos Adaptativos como Preditores de Qualidade Conjugal

As Análises de Moderação (Figura 1) demonstraram que o nível total de Diferenciação de self não interfere na relação entre Qualidade conjugal e as estratégias de Envolvimento no conflito e Submissão. Por outro lado, verificou-se que, ao predizer Qualidade conjugal, a Diferenciação de self tem interação significativa com a Resolução positiva (B = -0,045, IC 95% = -0,085 - -0,005, p < 0,05, Figura 1-A) e com o Afastamento (B = 0,043, IC 95% = 0,005 - 0,082, p < 0,05, Figura 1-B). Em baixos níveis de Diferenciação de self (-1SD), o efeito condicional do Afastamento foi de B= -0,084, IC 95% = -0,117 - -0,052, p < 0,001, e da Resolução positiva foi de B = 0,104, IC 95% = 0,073 - 0,136, p < 0,001. Nos níveis médios de Diferenciação de self, o efeito negativo do Afastamento foi menos acentuado (B = -0,057; IC 95% = -0,085 - -0,029, p < 0,001), assim como o efeito positivo da Resolução positiva foi menor (B = 0,076, IC 95% = 0,052 - 0,100, p < 0,001). Seguindo a mesma tendência, em altos níveis de Diferenciação de self (+1SD), o efeito negativo foi ainda menor para o Afastamento (B = -0,029, IC 95% = -0,070 - 0,012, p = 0,165), deixando de ser significativo. Da mesma forma, o efeito da Resolução positiva foi ainda menor em altos níveis (+1SD) de Diferenciação de self (B = 0,048, IC 95% = 0,011 - 0,085, p < 0,05). Os resultados revelam, portanto, que, quanto menor a Diferenciação de self, maior o impacto negativo do Afastamento e maiores os benefícios da Resolução positiva sobre a Qualidade conjugal.

Figura 1
Gráficos dos efeitos moderadores na relação entre os processos adaptativos e a qualidade conjugal.

Entre as variáveis contextuais estressoras que foram preditoras da Qualidade conjugal nas Análises de Regressão, a Satisfação com o trabalho demonstrou efeito moderador negativo na interação entre Afastamento e Qualidade conjugal. A interação dessa variável foi significativa com o Afastamento na predição da Qualidade conjugal (B = 0,025, IC 95% = 0,003 - 0,047, p < 0,05, Figura 1-C). Em níveis altos de Satisfação com o trabalho (+1SD), o efeito condicional do Afastamento sobre a Qualidade conjugal foi de B = -0,050, IC 95% = -0,087 - -0,014, p < 0,01. Esse efeito negativo se torna mais acentuado em níveis médios de Satisfação com o trabalho (B = -0,079, IC 95% = -0,105 - -0,054, p < 0,001), e ainda mais acentuado para aqueles que possuem níveis muito baixos de Satisfação com o trabalho (B = -0,109, IC 95% = -0,145 - -0,072, p < 0,001). Conclui-se que, quanto mais baixos os índices de Satisfação com o trabalho, maior o efeito negativo do Afastamento sobre a Qualidade Conjugal.

As Análises de Moderação também demonstraram que o Tempo de coabitação modera a relação entre a estratégia de Submissão e a Qualidade Conjugal (Interação: B = -0,004, IC 95% = -0,008 - -0,001, p < 0,05, Figura1-D). Para os participantes com menor Tempo de coabitação (-1SD), o efeito condicional da Submissão sobre a Qualidade conjugal foi de B = -0,060, IC 95% = -0,112 - -0,008, p < 0,05. Em níveis médios de Tempo de coabitação (M = 14,84 meses, SD = 10,91) esse efeito negativo foi maior (B = -0,108, IC 95% = -0,148 - -0,069, p < 0,001), sendo ainda mais negativo para pessoas com mais Tempo de coabitação (+1SD). Pode-se afirmar, portanto, que, quanto maior o Tempo de coabitação, mais prejudicial é o uso da estratégia de Submissão diante dos conflitos para a qualidade da relação. Nenhuma das outras variáveis contextuais estressoras que foram significativas nas Análises de Regressão demonstraram poder moderador sobre a relação entre Estratégias de resolução de conflitos e Qualidade conjugal.

Discussão

Todas as classes de variáveis independentes testadas - variáveis contextuais estressoras, qualidades individuais duradouras e processos adaptativos - foram preditoras, em alguma medida, das variações na Qualidade conjugal. As variáveis de contexto que foram significativas obtiveram um baixo poder explicativo na variação da qualidade conjugal, enquanto a Diferenciação de self e as Estratégias de resolução de conflitos obtiveram percentuais explicativos melhores, com pesos similares. Esse resultado difere de estudos anteriores, nos quais os processos adaptativos apresentaram maior peso explicativo do que os fatores individuais e contextuais na previsão de resultados relacionais (Cabrera-García et al., 2019Cabrera-García, V. E., Herrera-Calle, L., & Serrato-Vásquez, C. (2019). Importancia de la diferenciación de sí mismo y el ajuste diádico en la explicación de la estabilidad marital. Revista Colombiana de Psicología, 28, 65-80. https://doi.org/10.15446/rcp.v28n1.67705
https://doi.org/https://doi.org/10.15446...
; Tong et al., 2021Tong, W., Jia, J., He, Q., Lan, J., & Fang, X. (2021). The trajectory of marital satisfaction among Chinese newlyweds: Intrapersonal, interpersonal, and stress predictors. Developmental Psychology, 57(4), 597-608. https://doi.org/10.1037/dev0001156
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).

No que tange aos processos adaptativos, os achados de que a Resolução positiva se relacionou com melhores índices de Qualidade conjugal, enquanto as estratégias de Envolvimento no conflito, Afastamento e Submissão se relacionaram com índices menores, corroboram a literatura (Abreu-Afonso et al., 2021Abreu-Afonso, J., Ramos, M. M., Queiroz-Garcia, I., & Leal, I. (2021). How couple’s relationship lasts over time? A model for marital satisfaction. Psychological Reports, 125(3), 1601-1627. https://doi.org/10.1177/00332941211000651
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/...
; Delatorre, Wagner, & Bedin 2021Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2021). A relação conjugal na perspectiva de casais. Ciencias Psicologicas, 15(1), e-2355. https://doi.org/10.22235/cp.v15i1.2355
https://doi.org/https://doi.org/10.22235...
; Işık & Kaya, 2022Işık, R. A., & Kaya, Y. (2022). The relationships among perceived stress, conflict resolution styles, spousal support and marital satisfaction during the covid-19 quarantine. Current Psychology. Advance online publication. https://doi.org/10.1007/s12144-022-02737-4
https://doi.org/https://doi.org/10.1007/...
; Nguyen et al., 2021Nguyen, T. P., Karney, B. R., Kennedy, D. P., & Bradbury, T. N. (2021). Couples’ diminished social and financial capital exacerbate the association between maladaptive attributions and relationship satisfaction. Cognitive Therapy and Research, 45, 529-541. https://doi.org/10.1007/s10608-020-10161-w
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). Uma explicação possível para os pesos similares da Diferenciação de self e das Estratégias de resolução de conflitos na explicação da Qualidade conjugal pode ser o fato de a Diferenciação de self ser uma variável individual que contempla tanto uma dimensão intrapsíquica, relacionada à capacidade de autorregulação emocional, quanto uma dimensão interpessoal, que demarca como o indivíduo age frente a demandas relacionadas à intimidade e à autonomia (Major et al., 2014Major, S., Rodríguez González, M., Miranda, C., Rousselot, M., & Relvas, A. (2014). Inventário de diferenciação do Self- Revisto (IDS-R). Em A. P. Relvas & S. Major. Avaliação Familiar: Funcionamento e intervenção (pp. 71-96). Imprensa da Universidade de Coimbra.; Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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).

Corroborando a literatura, níveis mais altos de Diferenciação de self total e de Posição do eu, e níveis mais baixos de Corte emocional, relacionaram-se com maior Qualidade conjugal. A Posição do eu corresponde a um sentido claro e definido de self, demarcado por conforto com os próprios sentimentos, capacidade de acessá-los livremente e de identificar e expressar seus pensamentos e opiniões (Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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). Pessoas com altos níveis de Posição do eu tendem a equilibrar de maneira satisfatória a autonomia e a interdependência, sendo capazes de manter a calma em momentos conflitantes e resolver problemas relacionais de forma assertiva (Lampis et al., 2019Lampis, J., & Cataudella, S. (2019). Adult attachment and differentiation of self-constructs: A possible dialogue? Contemporary Family Therapy , 41, 227-235 (2019). https://doi.org/10.1007/s10591-019-09489-7
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). O Corte emocional caracteriza-se como uma exibição exagerada de autonomia (Lampis & Cataudella, 2019Lampis, J., Cataudella, S., Agus, M., Busonera, A., & Skowron, E. A. (2019). Differentiation of self and dyadic adjustment in couple relationships: A dyadic analysis using the actor-partner interdependence model. Family Process, 58(3), 698-715. https://doi.org/10.1111/famp.12370
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) por indivíduos que não se sentem confortáveis com a intimidade, a fim de distanciar-se das pessoas (Skowron & Schmitt, 2003). Tendo isso em vista, faz sentido que indivíduos com altos níveis de Posição do eu e baixos níveis de Corte emocional apresentem níveis maiores de Qualidade conjugal, que corresponde à capacidade de engajar-se e assumir compromissos, desenvolvendo uma relação de intimidade, proximidade, conexão e abertura emocional e sexual e sentimentos de afeição e carinho pelo(a) parceiro(a) (Delatorre & Wagner, 2022Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2022). Construção e evidências de validade da Escala de Qualidade Conjugal. Psico-USF, 27(1), 129-141. http://dx.doi.org/10.1590/1413-82712022270110
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).

Contrariamente ao esperado, níveis mais altos de Reatividade emocional se relacionaram com maior Qualidade conjugal. Por serem menos confiantes em si e por possuírem menos segurança no amor do outro, os indivíduos com alta Reatividade emocional são hipersensíveis ao ambiente, reagindo de forma automática frente aos estímulos externos, tanto positivos quanto negativos (Jenkins et al., 2005Jenkins, S. M., Buboltz, W. C., Jr., Schwartz, J. P., & Johnson, P. (2005). Differentiation of self and psychosocial development. Contemporary Family Therapy, 27(2), 251-261. https://doi.org/10.1007/s10591-005-4042-6
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; Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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). A reação emocional exagerada é uma forma de demandar atenção e suporte, podendo resultar em maior disponibilidade e envolvimento afetivo do outro (Bowen, 1991Bowen, M. (1991). De la familia al individuo: La diferenciación del sí mismo en el sistema familiar. Ediciones Paidos.). Considerando que na etapa inicial do relacionamento os casais estão negociando, de forma implícita e explícita, o espaço que possuem na vida um do outro (McGoldrick et al., 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.; Wagner & Delatorre, 2018Wagner, A., & Delatorre, M. Z. (2018). A conjugalidade e suas transformações nos diferentes estágios do ciclo vital. Em M. A. dos Santos, D. Bartholomeu & J. M. Montiel. Relações interpessoais no ciclo vital: Conceitos e contextos (pp. 271-284). Vetor Editora.), é possível que as respostas características da Reatividade emocional sejam compreendidas nessa etapa como indicativos da importância que o parceiro(a) tem em sua vida, bem como do desejo de investir no relacionamento.

As características específicas dessa fase do ciclo vital também podem explicar por que a Fusão com os outros não foi significativa no modelo. A Fusão com os outros corresponde ao superenvolvimento emocional com pessoas significativas, dependência e necessidade de aprovação (Skowron & Schmitt, 2003Skowron, E. A., & Schmitt, T. A. (2003). Assessing interpersonal fusion: Reliability and validity of a new DSI Fusion with Others subscale. Journal of Marital and Family Therapy, 29(2), 209-222. https://doi.org/10.1111/j.1752-0606.2003.tb01201.x
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). Uma vez que, nessa etapa, existe uma necessidade maior de proximidade a fim de desenvolver a identidade e a intimidade (McGoldrick et al., 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.; Wagner & Delatorre, 2018Wagner, A., & Delatorre, M. Z. (2018). A conjugalidade e suas transformações nos diferentes estágios do ciclo vital. Em M. A. dos Santos, D. Bartholomeu & J. M. Montiel. Relações interpessoais no ciclo vital: Conceitos e contextos (pp. 271-284). Vetor Editora.), pode-se pensar que a Fusão não impacte nem de forma positiva, nem negativa na Qualidade conjugal por já ser esperada nesse momento. Estudos mostram que características relacionais necessárias em algumas etapas do ciclo vital podem ter efeitos deletérios em etapas posteriores, quando se cristalizam em padrões rígidos (Tong et al., 2021Tong, W., Jia, J., He, Q., Lan, J., & Fang, X. (2021). The trajectory of marital satisfaction among Chinese newlyweds: Intrapersonal, interpersonal, and stress predictors. Developmental Psychology, 57(4), 597-608. https://doi.org/10.1037/dev0001156
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). Assim, pode-se pensar que certo nível de Reatividade emocional e de Fusão com os outros possa ter um valor importante nesse momento específico do ciclo vital, diferentemente do que ocorre nas etapas posteriores do relacionamento.

Segundo as análises de Moderação, a Diferenciação de self total moderou a relação entre Qualidade conjugal e as Estratégias de resolução de conflitos Afastamento e Resolução positiva. Quanto menor o nível de Diferenciação de self, maior foi o impacto negativo do uso do Afastamento para a Qualidade conjugal, e maiores foram os benefícios da utilização da Resolução positiva nessa variável. O Afastamento, conforme mensurado pelo CRSI, consiste em retrair-se, ficar distante e indiferente, manter-se em silêncio por um longo período, negar-se a continuar a conversa e afastar o outro (Delatorre et al., 2017Delatorre, M. Z., Scheeren, P., & Wagner, A. (2017). Conflito conjugal: Evidências de validade de uma escala de resolução de conflitos em casais do sul do Brasil. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(1), 79-94. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3742
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).

Apesar de ser considerada uma estratégia destrutiva ao relacionamento por resultar no acúmulo de afeto negativo e na não resolução das divergências, alguns estudos mostram que casais em que um ou ambos utilizam o afastamento podem viver relações estáveis e, em alguma medida, satisfeitas, por meio da minimização dos aspectos negativos do relacionamento (Delatorre & Wagner, 2019Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2019). How do couples disagree? An analysis of conflict resolution profiles and the quality of romantic relationships. Revista Colombiana de Psicología , 28, 91-108. https://doi.org/10.15446/rcp.v28n2.72265
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; Lampis et al., 2019Lampis, J., & Cataudella, S. (2019). Adult attachment and differentiation of self-constructs: A possible dialogue? Contemporary Family Therapy , 41, 227-235 (2019). https://doi.org/10.1007/s10591-019-09489-7
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). Além disso, afastar-se do conflito pode ser uma boa solução quando os parceiros estão com raiva, por impedir que os casais percam o controle e escalem para níveis de discussão que envolvam violência (Wagner & Neumann, 2022Wagner, A., & Neumann, A. P. (2022). Viver a Dois: Compartilhando este desafio. Programa Psicoeducativo para Casais. 2. ed. Editora Dialética.).

Para pessoas menos diferenciadas, afastar-se do conflito piora a qualidade da relação porque, provavelmente, isso ocorra de uma maneira mais impulsiva e reativa. A impulsividade em casais recém-casados se relacionou com níveis mais baixos de satisfação conjugal e de comunicação construtiva, bem como com níveis mais elevados de estratégias comunicativas que empregam o afastamento (Tan, Jarnecke, & South, 2017Tan, K., Jarnecke, A. M., & South, S. C. (2017). Impulsivity, communication, and marital satisfaction in newlywed couples. Personal Relationships , 24, 423-439. https://doi.org/10.1111/pere.12190
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). Assim, é possível que essas pessoas utilizem o afastamento induzindo culpa e dando sinais confusos ao parceiro(a) ou, ainda, estabelecendo um distanciamento emocional intenso e com poucos espaços de reaproximação e de conexão emocional.

O achado de que, quanto menor a Diferenciação de self, melhor o benefício da Resolução positiva, mostra-se de grande relevância prática. Incorporar e manter estratégias construtivas de resolução de conflitos parece ser mais fácil do que diminuir as negativas (Neumann, Wagner, & Remor, 2018Neumann, A. P., Wagner, A., & Remor, E. (2018). Couple relationship education program “Living as Partners”: Evaluation of effects on marital quality and conflict. Psicologia: Reflexão e Crítica, 31(26). https://doi.org/10.1186/s41155-018-0106-z
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). Ao mesmo tempo, casais que possuem níveis relativamente equilibrados de comportamentos positivos e negativos na relação podem ter uma relação satisfatória (Delatorre & Wagner, 2019Delatorre, M. Z., & Wagner, A. (2019). How do couples disagree? An analysis of conflict resolution profiles and the quality of romantic relationships. Revista Colombiana de Psicología , 28, 91-108. https://doi.org/10.15446/rcp.v28n2.72265
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). Assim, a utilização de intervenções que favoreçam o aprendizado de formas construtivas de resolução de conflitos pode ser uma estratégia de promoção de saúde com ganhos importantes para os casais, aspectos que podem ser promovidos por meio de programas psicoeducativos (Neumann et al., 2018; Wagner & Neumann, 2022Wagner, A., & Neumann, A. P. (2022). Viver a Dois: Compartilhando este desafio. Programa Psicoeducativo para Casais. 2. ed. Editora Dialética.).

Dentre todas as variáveis contextuais estressoras testadas, aquelas que se relacionaram com piores níveis de Qualidade conjugal foram: maior tempo de coabitação, ter enteados vivendo com o casal, denominar-se como namorados e utilizar o tempo disponível para o lazer do casal com a família extensa. Os resultados referentes ao tempo de coabitação e à presença de enteados já são discutidos pela literatura (ex.: Ganong, Jensen, Sanner, Russell, & Coleman, 2019Ganong, L., Jensen, T., Sanner, C., Russell, L., & Coleman, M. (2019). Stepfathers’ affinity-seeking with stepchildren, stepfather-stepchild relationship quality, marital quality, and stepfamily cohesion among stepfathers and mothers. Journal of Family Psychology, 33(5), 521-531. https://doi.org/10.1037/fam0000518
https://doi.org/https://doi.org/10.1037/...
; Karney & Bradbury, 2020Karney, B. R., & Bradbury, T. N. (2020). Research on marital satisfaction and stability in the 2010s: Challenging conventional wisdom. Journal of Marriage and Family, 82, 100-116. https://doi.org/10.1111/jomf.12635
https://doi.org/https://doi.org/10.1111/...
; Williamson & Lavner, 2020Williamson, H., & Lavner, J. (2020). Trajectories of marital satisfaction in diverse newlywed couples. Social Psychological and Personality Science, 11(5), 597-604. https://doi.org/10.1177/1948550619865056
https://doi.org/https://doi.org/10.1177/...
). Denominar-se como namorados por indivíduos que estão coabitando pode ser um indicador de menor compromisso, que é uma das dimensões da qualidade conjugal. Para muitos casais, a coabitação é iniciada por motivos financeiros e pela flexibilidade em entrar e sair do relacionamento (Manning, Smock, & Fettro, 2019Manning, W. D., Smock, P. J., & Fettro, M. N. (2019). Cohabitation and marital expectations among single millennials in the U.S. Population Research and Policy Review, 38(3), 327-346. https://doi.org/10.1007/s11113-018-09509-8
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). Uma vez que a coleta de dados foi realizada durante a pandemia de Covid-19, é possível que casais de namorados tenham passado a coabitar devido ao contexto derivado das políticas de distanciamento social, antecipando um passo para o qual ainda não se sentiriam prontos em condições não estressoras. Assim, talvez, aqueles que se denominaram como namorados reportaram menor qualidade conjugal devido a um menor compromisso com a relação, ou à antecipação dessa transição sem a preparação necessária para dar conta de sua complexidade.

No que tange ao desfrute do tempo livre que possuem com a família extensa, um estudo demonstrou que a intrusividade dos pais na relação de casais italianos que estavam na fase de transição do namoro para o casamento impactou negativamente no relacionamento, tornando mais frágil a incorporação do relacionamento amoroso no autoconceito dos jovens e na formação da sua identidade conjugal, e repercutindo em piores níveis de qualidade conjugal (Manzi, Parise, Iafrate, Sedikides, & Vignoles, 2015Manzi, C., Parise, M., Iafrate, R., Sedikides, C., & Vignoles, V. L. (2015). Insofar as you can be part of me: The influence of intrusive parenting on young adult children’s couple identity. Self and Identity, 14(5), 570-582. https://doi.org/10.1080/15298868.2015.1029965
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). Uma vez que comprometer-se com a nova relação e delimitar a nova identidade conjugal são tarefas cruciais nesse momento do ciclo de vida (McGoldrick et al., 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.), é possível que o desfrute do tempo livre do casal com as famílias extensas seja um indicativo da indiferenciação com as famílias e um obstaculizador da nova identidade conjugal, além de gerador de conflitos, impactando em piora na qualidade conjugal.

Por sua vez, a quantidade de tempo que o casal passa junto em um dia de folga, assim como a satisfação com o trabalho, apresentaram-se como variáveis contextuais protetivas ao relacionamento, por resultarem em melhores níveis de Qualidade conjugal. Corroborando os dados supracitados, um estudo norte americano encontrou que o lazer compartilhado no início da coabitação proporciona ao casal a oportunidade de conhecer um ao outro, interagir mutuamente e, assim, formar a identidade do casal, resultando em níveis mais profundos de conexão e intimidade (Hickman-Evans, Higgins, Aller, Chavez, J., & Piercy, 2018Hickman-Evans, C., Higgins, J. P., Aller, T. B., Chavez, J., & Piercy, K. W. (2018). Newlywed couple leisure: Couple identity formation through leisure time. Marriage & Family Review , 54(2), 105-127. https://doi.org/10.1080/01494929.2017.1297756
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). Além disso, a satisfação e a segurança no trabalho favorecem a satisfação conjugal e sexual de mulheres por meio de um aumento no seu senso de valor e autoestima (Abadian, Keshavarz, Milani, Hamdieh, & Nasiri, 2021Abadian, K., Keshavarz, Z., Milani, H. S., Hamdieh, M., & Nasiri, M. (2021). Exploring Iranian married working women’s experiences regarding sexual health challenges. Sexologies, 30, e101-e110. https://doi.org/10.1016/j.sexol.2021.01.004
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).

Dentre essas variáveis contextuais, a Análise de Moderação demonstrou que, quanto maior o tempo de coabitação, mais prejudicial é o uso da estratégia de Submissão diante dos conflitos para a qualidade da relação. O início do relacionamento requer múltiplas negociações e acordos (McGoldrick et al., 2016McGoldrick, M., Preto, N. G., & Carter, B. (2016). The life cycle in its changing context: individual, family and social perspectives. Em M. McGoldrick, N. G. Preto & B. Carter (Eds). The expanding family life cycle: Individual, family, and social perspectives (5th ed., pp. 1-44). Pearson.; Wagner & Delatorre, 2018Wagner, A., & Delatorre, M. Z. (2018). A conjugalidade e suas transformações nos diferentes estágios do ciclo vital. Em M. A. dos Santos, D. Bartholomeu & J. M. Montiel. Relações interpessoais no ciclo vital: Conceitos e contextos (pp. 271-284). Vetor Editora.) e, para que isso ocorra, é necessário que ambos os membros do casal façam concessões a fim de acomodar as necessidades de ambos (Kurdek, 1994Kurdek, L. A. (1994). Conflict resolution styles in gay, lesbian, heterosexual nonparent, and heterosexual parent couples. Journal of Marriage and the Family, 56, 705-722. https://doi.org/10.2307/352880
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). Porém, com o passar do tempo, ceder com frequência pode resultar em um padrão relacional que provoca ressentimentos de longo prazo, pois apenas um dos cônjuges está sendo atendido nas suas necessidades e desejos. Assim, quando as concessões necessárias à etapa de ajustamento inicial se cronificam por um dos parceiros, essa estratégia se torna deletéria a longo prazo.

As Análises de Moderação também demonstraram que, quanto menor a Satisfação com o trabalho, maior o efeito negativo do uso da estratégia de Afastamento sobre a Qualidade conjugal. O trabalho é, muitas vezes, um espaço no qual as pessoas obtêm satisfação, reconhecimento e prazer, porém, características como a exaustão, o tipo e a presença de conflitos no trabalho, e diferenças de renda com o marido, independentemente de quem tenha o maior rendimento, demonstraram reduzir a satisfação conjugal e sexual de mulheres iranianas no estudo de Abadian, Keshavarz, Milani, Hamdieh e Nasiri (2021Abadian, K., Keshavarz, Z., Milani, H. S., Hamdieh, M., & Nasiri, M. (2021). Exploring Iranian married working women’s experiences regarding sexual health challenges. Sexologies, 30, e101-e110. https://doi.org/10.1016/j.sexol.2021.01.004
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). O cansaço relacionado ao trabalho, assim, pode acentuar o movimento de afastamento diante de problemas conjugais, acumulando problemas pessoais e conjugais não resolvidos, exacerbando o clima emocional negativo e piorando a qualidade do relacionamento.

A maior parte das variáveis contextuais que poderiam ser consideradas estressoras ao relacionamento, como renda, exercício de atividade remunerada, experiências anteriores de coabitação e filhos (Abreu-Afonso et al., 2021Abreu-Afonso, J., Ramos, M. M., Queiroz-Garcia, I., & Leal, I. (2021). How couple’s relationship lasts over time? A model for marital satisfaction. Psychological Reports, 125(3), 1601-1627. https://doi.org/10.1177/00332941211000651
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; Lavner & Clark, 2017Lavner, J. A., & Clark, M. A. (2017). Workload and marital satisfaction over time: Testing lagged spillover and crossover effects during the newlywed years. Journal of vocational behavior, 101, 67-76. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2017.05.002
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; Williamson, 2021Williamson, H. C. (2021). The development of communication behavior over the newlywed years. Journal of Family Psychology , 35(1), 11-21. https://doi.org/10.1037/fam0000780
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) não se relacionou com a qualidade conjugal na etapa inicial de constituição da conjugalidade. Além disso, as variáveis de contexto que tiveram efeito preditor significativo apresentaram relacionamento fraco com a qualidade conjugal, e apenas duas dessas variáveis tiveram efeito moderador na relação entre estratégias de resolução de conflitos e qualidade conjugal. Esse resultado difere do proposto por McNulty et al. (2021McNulty, J. K., Meltzer, A. L., Neff, L. A. & Karney, B. R. (2021). How both partners’ individual differences, stress, and behavior predict change in relationship satisfaction: Extending the VSA model. PNAS, 118(27). https://doi.org/10.1073/pnas.2101402118
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), que encontraram um papel preponderante do estresse na forma como os processos adaptativos previram a satisfação conjugal. Esses autores utilizaram, porém, um número maior de variáveis estressoras do que as de nosso estudo, contemplando também um contexto social mais amplo.

É importante considerar que a amostra deste estudo possui um importante viés educacional e socioeconômico, visto que apenas 5,4% tinham escolaridade em nível médio ou inferior e que a renda familiar dos casais equivalia a 6,7 salários-mínimos no ano de 2020. Essas diferenças precisam ser consideradas, tendo em vista que o contexto influencia sobremaneira na satisfação e na estabilidade conjugal e que os processos adaptativos para níveis socioeconômicos altos e médios funcionam de forma diferente do que para casais que vivem em contextos de vulnerabilidade (Karney & Bradbury, 2020Karney, B. R., & Bradbury, T. N. (2020). Research on marital satisfaction and stability in the 2010s: Challenging conventional wisdom. Journal of Marriage and Family, 82, 100-116. https://doi.org/10.1111/jomf.12635
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). Diante disso, pode-se supor que, em contextos favoráveis, existam menos estressores relevantes e, talvez, por isso, os recursos pessoais e os processos adaptativos possuam um poder explicativo maior na qualidade conjugal, favorecendo o enfrentamento dos desafios impostos pelo contexto por meio de características pessoais e das estratégias que utilizam para resolver seus conflitos.

Tendo em vista que os dados foram coletados durante a pandemia de Covid-19, deve-se considerar as diversas consequências estressoras desse evento que, potencialmente, impactaram a vivência conjugal. De acordo com o modelo VSA, eventos estressores podem influenciar a qualidade conjugal, e a pandemia trouxe diversos desafios econômicos (Nicola et al., 2020Nicola, M., Alsafi, Z., Sohrabi, C., Kerwan, A., Al-Jabir, A., Iosifidis, C., Agha, M., & Agha, R. (2020). The socio-economic implications of the coronavirus pandemic (COVID-19): A review. Em International Journal of Surgery (Vol. 78, pp. 185-193). Elsevier Ltd. https://doi.org/10.1016/j.ijsu.2020.04.018
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) e sociais (Rocha & Pires, 2020Rocha, R., & Pires, C. (2020). Nota Técnica Abril de 2020 - Os efeitos sobre grupos sociais e territórios vulnerabilizados das medidas de enfrentamento à crise sanitária da Covid-19: Propostas para o aperfeiçoamento da ação pública. Em http://www.ipea.gov.br. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Recuperado de http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/9839
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) à sociedade em geral e, consequentemente, aos casais. Um estudo com 9668 espanhóis (Ayuso, Requena, Jiménez-Rodriguez, & Khamis, 2020Ayuso, L., Requena, F., Jiménez-Rodriguez, O., & Khamis, N. (2020). The effects of COVID-19 confinement on the spanish family: Adaptation or change? Journal of Comparative Family Studies, 51(3-4), 274-287. https://doi.org/10.3138/JCFS.51.3-4.004
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) demonstrou que, apesar de 49% dos participantes relatarem melhora na relação familiar durante o confinamento, entre os que relataram prejuízos, os mais impactados foram os mais jovens, com idades entre 25 e 34 anos. Embora o foco do estudo tenha sido a vida familiar, e não a conjugal, possivelmente muitos desses jovens estavam vivendo os primeiros anos da conjugalidade, que exigem muitos processos adaptativos dos cônjuges à nova relação.

Outro estudo analisou dados de casais de 57 países, incluindo o Brasil, e observou que a qualidade das relações conjugais poderia estar sendo influenciada pela solidão, pelo estresse e por tensões financeiras advindas da pandemia (Balzarini et al., 2021). Ainda assim, de acordo com o modelo VSA, os casais com melhores índices de recursos pessoais e de adaptabilidade poderiam enfrentar melhor tais estressores. De fato, um estudo com 1.121 brasileiros demonstrou que 79% não experimentou aumento de conflitos conjugais e 68,3% reportaram não ter experimentado desejo de separação durante o confinamento imposto pela pandemia (Rocha et al., 2023Rocha, F., Manara, K. M., Wagner, A., & Trentini, C. M. (2023). Impacts of social distancing on marital life during Covid-19 pandemic. Psico-USF , 28(2) 295-307. https://doi.org/10.1590/1413-82712023280207
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). Diante disso, a utilização de dados coletados durante a pandemia é mais um fator que demanda parcimônia na generalização dos achados.

Além disso, a amostra deste estudo é formada predominantemente por mulheres, por indivíduos heterossexuais e por residentes na região sul e sudeste do Brasil, requerendo também cuidado com a generalização dos resultados. A predominância de participantes mulheres, apesar dos esforços realizados pela equipe de pesquisa para o recrutamento de um maior número de participantes homens, pode representar um maior interesse das mulheres em pesquisas de autorrelato vinculadas ao relacionamento amoroso.

De todo modo, os dados contribuem para a literatura ao testar o modelo VSA utilizando uma medida de qualidade conjugal, ao invés de medidas usuais de satisfação (ex.: Lampis et al., 2019Lampis, J., & Cataudella, S. (2019). Adult attachment and differentiation of self-constructs: A possible dialogue? Contemporary Family Therapy , 41, 227-235 (2019). https://doi.org/10.1007/s10591-019-09489-7
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; McNulty et al., 2021McNulty, J. K., Meltzer, A. L., Neff, L. A. & Karney, B. R. (2021). How both partners’ individual differences, stress, and behavior predict change in relationship satisfaction: Extending the VSA model. PNAS, 118(27). https://doi.org/10.1073/pnas.2101402118
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, Nguyen et al., 2021Nguyen, T. P., Karney, B. R., Kennedy, D. P., & Bradbury, T. N. (2021). Couples’ diminished social and financial capital exacerbate the association between maladaptive attributions and relationship satisfaction. Cognitive Therapy and Research, 45, 529-541. https://doi.org/10.1007/s10608-020-10161-w
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). Além disso, o estudo corrobora o modelo VSA, sob uma perspectiva individual, predominantemente feminina e heterossexual, em pessoas que vivenciam a etapa inicial do relacionamento em dois aspectos. Primeiro, ao demonstrar que as três classes de variáveis do modelo (qualidades individuais duradouras, eventos estressores e processos adaptativos) influenciaram, em alguma medida, na qualidade conjugal. Segundo, ao confirmar que a qualidade individual testada em nosso estudo - diferenciação de self - moderou a relação entre os processos adaptativos e qualidade conjugal, corroborando parcialmente os achados de McNulty et al. (2021).

Estudos com amostras de nível socioeconômico diversos e com estressores variados são necessários para confirmar os impactos dessas classes de variáveis na população brasileira. Além disso, estudos futuros podem ampliar a compreensão desses resultados ao investigar os impactos das variáveis testadas e as suas relações com as diferentes dimensões da qualidade conjugal, a fim de obter um panorama mais assertivo.

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  • Nota dos autores:

    Estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do RS (Edital Fapergs ARD 04/2019).

Editado por

Editora:

Ana Paula Porto Noronha

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    17 Set 2022
  • Revisado
    16 Jun 2023
  • Aceito
    08 Out 2023
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