“Mis hormonas me enloquecen”: investigación psicoanalítica con mommy blogs brasileños

pusp Psicologia USP Psicol. USP 0103-6564 1678-5177 Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Resumen Este estudio tiene como objetivo investigar psicoanalíticamente imaginarios colectivos de madres sobre sufrimientos maternos desde la perspectiva de la psicología psicoanalítica concreta. Se justifica como una búsqueda de conocimiento comprensivo que puede aportar subsidios para la clínica psicológica contemporánea y para debates de movimientos sociales y sociedad civil con el fin de mejorar las condiciones de cuidados a madres e hijos. Se organiza alrededor del método psicoanalítico, utilizando como material publicaciones provenientes de mommy blogs brasileños. La lectura del conjunto de publicaciones, en estado de atención fluctuante y libre asociación de ideas, permite la producción interpretativa del campo de sentido afectivo-emocional “Mis hormonas me enloquecen”. Ese campo se organiza en torno a la fantasía, de que los afectos ansiosos y depresivos vividos por las madres durante el puerperio serían determinados por hormonas y/o neurotransmisores. El cuadro general indica una tendencia significativa de priorizar el valor de la esfera biológica en detrimento del drama de la vida relacional-vincular. Introdução O objetivo de estudar imaginários coletivos de mães sobre sofrimentos maternos, na perspectiva da psicologia psicanalítica concreta, insere-se numa visão segundo a qual a experiência de maternidade é afetada, na sociedade contemporânea, por sofrimentos emocionais, aqui entendidos como socialmente determinados. Produzir conhecimento sobre essa questão parece-nos uma iniciativa importante, tanto porque pode gerar subsídios para práticas clínico-sociais, entre as quais se inclui a psicologia, como porque pode enriquecer e fundamentar debates que se travam em movimentos sociais e na sociedade civil no âmbito da busca de transformações que fundamentem convivências mais solidárias e respeitosas entre indivíduos e grupos. Deste modo, o conceito de sofrimento social merece ser focalizado. Evidentemente, pode ser usado numa acepção ampla, consoante, por exemplo, com a perspectiva de Bleger (1963/1977), para quem a natureza humana seria social. Entretanto vem sendo utilizado, desde as últimas décadas do século passado, quando condições sociais adversas afetam mais clara e diretamente o bem-estar, a segurança e mesmo os direitos fundamentais de indivíduos e coletivos humanos. Exemplos de sofrimentos sociais são aqueles que surgem em certas situações, tais como tortura, guerra, racismo, antissemitismo. Podemos aqui lembrar, como estudos seminais, os trabalhos de Carreteiro (2003), Werlang e Mendes (2013) e Fonseca (2017), sem nos esquecermos de Renault (2010) que destaca que sentimentos de desamparo, humilhação e injustiça parecem se configurar nessas situações. Não há dúvida, contudo, de que mulheres podem ser consideradas como grupo socialmente atingido, de modo que não nos surpreende encontrar um capítulo específico sobre sua condição na obra organizada por Kleinman, Das e Lock (1997). De certo modo, toda a literatura feminista pode ser tomada como evidência de que as mulheres lutam pela superação de condições de desigualdade que geram sofrimentos emocionais importantes. Nesse sentido, o trabalho de Das (1996) é exemplar na medida em que focaliza aquilo que denomina de eventos críticos, ou seja, circunstâncias provocadoras de sofrimentos caracterizadas pela brutalidade que afetam a todos, mas, mais principalmente, às mulheres. A contribuição da autora fornece subsídios para não somente refletir sobre tais situações, como também para que profissionais possam realizar intervenções, seja no âmbito individual, com as próprias mulheres, seja em âmbito institucional, com instituições que acolhem esta população ou que estejam envolvidas na gênese desse sofrimento. Todavia não nos parece que a clara vinculação entre maternidade contemporânea e sofrimento social tenha sido suficientemente explorada, motivo pelo qual julgamos oportuna a realização de estudos sobre imaginários coletivos de mães sobre dificuldades e sofrimentos maternos. Quando partirmos de posicionamentos teóricos que valorizam as condições concretas dentro das quais transcorre a vida humana, entendemos que este estudo se localiza num capítulo maior sobre preocupações clínicas referentes a sofrimentos emocionais, entendidos como socialmente determinados. A partir do reconhecimento daquilo que mães vivem concretamente, justificamos a realização desta pesquisa. Esta investigação se insere na interface de duas grandes ordens. Por um lado, há exigências sociais de acordo com as quais a mulher-mãe deveria se devotar inteiramente à maternidade (Visintin & Aiello-Vaisberg, 2017). Por outro, em diversos ambientes, há expectativas segundo as quais as mães deveriam se dedicar ao trabalho e a carreiras profissionais, engajando-se de modo comprometido com o mundo laboral sem abrir mão da maternidade como missão de vida, conforme encontrado, por exemplo, por Schulte, Gallo-Belluzzo e Aiello-Vaisberg (2019), em investigação psicanalítica, e Märtsin (2018), em pesquisa baseada na semiótica cultural. Entendemos que a confluência destas duas ordens, a da exigência idealizada às mães de atenção devotada e integral ao filho e a das expectativas de que também se dediquem ao trabalho, configura uma situação geradora de tensão para as mulheres na medida em que enfrentam pesadas exigências ao conciliar o trabalho e a maternidade, conhecida como dupla jornada, e que, hoje em dia, a mulher que se dedica exclusivamente à maternidade não usufrui do mesmo conforto e realização que certas mulheres de outros tempos poderiam ter sentido como mães e donas de casa. Há pesquisas que indicam que a mãe seria vista como um ser de incríveis capacidades de doação e de amor. Podemos nos lembrar do estudo de Greinert e Milani (2015), que, valendo-se da análise de conteúdo, afirmam que a impossibilidade de alcançar um ideal de maternidade pode favorecer a emergência de sentimentos depressivos. Entre outros trabalhos recentes, podemos destacar o de Henderson, Harmon e Newman (2016) que, ao delinearem sua pesquisa como survey, chegam a conclusões semelhantes ao perceberem que mães que não atendem às expectativas socialmente estabelecidas referentes ao cuidado infantil tendem a se sentir mais ansiosas e culpadas. Outros autores, tais como Alves e Poli (2016) e Schechter e Perelson (2017), apoiados em certas perspectivas psicanalíticas, também concordam com a ideia de que a maternidade seria o meio pelo qual a mulher viria a ser reconhecida socialmente. Consideramos que esses achados de pesquisas indicam posicionamentos que podem estar a serviço da manutenção da organização social vigente quanto à responsabilidade pelas crianças, o que pode dificultar que vínculos comunitários e sociais comprometidos com o cuidado infantil se estabeleçam mais firmemente. Hollway (2016) postula que ocorrem cristalizações do modelo feminino e masculino em nossa sociedade, o que repercute nas organizações sociais e legais do trabalho. Aparentemente, acredita-se, ainda, que a mulher deveria permanecer no ambiente privado, cuidando dos filhos e da casa, de modo que, ao homem, restaria o dever de prover financeiramente à esposa e aos filhos. Esse tipo de organização se relaciona proximamente ao modo como a sociedade tem lidado com os direitos laborais e reprodutivos das mulheres. Entendemos que, mesmo que a gestação de um bebê dependa do corpo feminino, a disposição dos cuidados infantis pode ocorrer de inúmeras maneiras, considerando a dimensão cultural e histórica segundo a qual as pessoas se preparam para receber um novo membro (Gottlieb & DeLoache, 2016; Rogoff, 2005). Com o avanço da tecnologia, conversas sobre muitos assuntos, entre eles a maternidade, deixaram de ocorrer apenas vis-à-vis para se desenrolarem em outros ambientes. De acordo com Abetz e Moore (2018), uma das formas no mundo on-line para comunicação são os blogues, que se conformam como um meio muito utilizado por mulheres-mães que tentam lidar com as dificuldades da maternidade. Desse modo, mommy blogs - nomenclatura específica para designar blogues escritos por mulheres-mães - tornam-se ambiente importante que oferecem material valioso para pesquisas psicanalíticas, uma vez que bloggers, de modo voluntário e espontâneo, falam sobre suas vivências emocionais relacionadas aos cuidados infantis (Schulte et al., 2016). Reconhecemos, assim, a importância daquilo que as mães vivem concretamente, incluindo o modo como acolhem seus próprios medos e dúvidas relativas à maternidade. Justificamos, portanto, esta pesquisa que objetiva investigar psicanaliticamente os imaginários coletivos de mulheres-mães sobre o sofrimento materno por meio de postagens de mommy blogs brasileiros. Fundamentos e procedimentos metodológicos Este estudo se delineia como pesquisa qualitativa com uso do método psicanalítico. Desde sua criação, este método clínico se mantém invariante, sustentado pelos pilares da associação livre de ideias e da atenção flutuante, enquanto as teorias e procedimentos clínicos dele derivados têm sofrido importantes mudanças e desenvolvimentos ao longo do tempo. Esse fato não deve causar estranheza, uma vez que, do ponto de vista lógico, o método se antepõe à criação das doutrinas psicanalíticas e aos procedimentos clínicos, como bem demonstrou Herrmann (1979). Tendo em mente que propomos compreender os fundamentos afetivos e emocionais de atos humanos, entendemos como indispensável que esclareçamos, inicialmente, nosso posicionamento teórico-epistemológico. A seguir, definimos os conceitos fundamentais utilizados nesta pesquisa para, então, descrever os procedimentos investigativos que correspondem ao modo como operacionalizamos o método psicanalítico. Quando o método psicanalítico é colocado em marcha, acaba por gerar material clínico passível de ser teorizado de distintas maneiras. Abordando estes distintos modos, Greenberg e Mitchell (1983) puderam reconhecer que se articulam como alinhados a dois modelos, o estrutural-pulsional e o estrutural-relacional, entre os quais se perfilam propostas teóricas que buscam acomodações entre esses dois polos. Esse quadro derivaria do fato, argutamente percebido por Politzer (1928/2004), segundo o qual o discurso freudiano seria constituído por duas diferentes vertentes, uma energética e fisicalista e outra clínica e dramática, apontamento que foi amplamente reconhecido no campo da psicanálise, mas que gerou diferentes posicionamentos. Alguns autores, como Ricoeur (1977), entendem que a mescla das duas vertentes seria altamente vantajosa, enquanto outros, como Bleger (1963/1977), criticam o abstracionismo do paradigma pulsional, entendendo que esse tipo de teorização deve ser abandonado. Convencidos pelas colocações blegerianas, a partir de claras ressonâncias fenomenológicas que nos convidam a pensar num inconsciente intersubjetivo, temos colocado nosso trabalho sob a égide do modelo estrutural-relacional da psicanálise, partindo de um posicionamento teórico conhecido como psicologia psicanalítica concreta (Bleger, 1963/1977). Essa perspectiva adere ao método psicanalítico, porém se afasta de teorizações metapsicológicas, na medida em que as entende como tributárias de mitos positivistas inaceitáveis segundo os quais a pessoa seria vista de modo abstrato, natural e isolado das condições concretas de sua existência. Trata-se de uma teorização relacional que se distingue de outras do mesmo tipo exatamente por enfatizar que indivíduos e coletivos transitam em campos vinculares que estão sempre inseridos em contextos macrossociais que não podem ser desconsiderados (Sas, 2004). Ao passo em que todos os fenômenos humanos devem ser entendidos como inerentemente sociais (Bleger, 1963/1977), Goldmann (1974), cujas contribuições decorrentes de suas investigações sobre criação cultural coincidem com a visão blegeriana, definiu pessoalidade coletiva transindividual com precisão. Esse aspecto se mostra muito significativo em pesquisas qualitativas com uso do método psicanalítico sobre imaginários coletivos, uma vez que focalizamos aquilo que é compartilhado por muitas pessoas, mesmo que não deixe de ser absolutamente pessoal. Tais sujeitos coletivos são, evidentemente, concretos, mas tal concretude se configura por meio de atos individuais, lembrando que os humanos são, simultânea e paradoxalmente, individuais e coletivos. Para organizarmos a nossa pesquisa, utilizamos certos conceitos metodológicos. Valemo-nos, aqui, de três: conduta, imaginário coletivo e campo de sentido afetivo emocional. Na perspectiva da psicologia concreta (Bleger, 1963/1977), as condutas correspondem a todo e qualquer tipo de manifestação do ser humano, expressas mentalmente, corporalmente e/ou como atuação no mundo externo. Tais manifestações humanas seriam objeto de estudo compartilhado por todas as ciências humanas. As condutas seriam, também, passíveis de serem consideradas em termos de níveis de causalidade infra-humanos, ou seja, químicos, físicos e biológicos. Entretanto a psicologia, com vistas a compreender as condutas no nível humano de integração, não necessita ser complementada com saberes provenientes das áreas biológicas e exatas para estudar a experiência vivida. Desse modo, as condutas são entendidas como atos sociais, sempre vinculares, que emergem de campos situados em contextos macrossociais. Portanto não estamos trabalhando com o resultado de um acordo entre forças intrapsíquicas contraditórias, mas com vínculos de pessoas concretas situadas em contextos sociais. Neste âmbito teórico, sempre lidamos com condutas humanas, entendidas como emergentes de campos denominados “campos de sentido afetivo-emocional”, que podem ser definidos como substratos emocionais subjacentes às manifestações humanas, cujo caráter é não consciente. No âmbito da psicologia concreta, a dimensão inconsciente é concebida como campos intersubjetivamente plasmados, e não como interioridade psíquica individual cujo conteúdo coincidiria com o reprimido. O conceito de imaginário coletivo corresponde a um tipo particular de conduta, sob a acepção que o termo assume sob a pena de Bleger (1963/1977). Deve ser definido como conjunto de atos humanos que não se limitam à atividade imaginativa propriamente dita. Como conduta, imaginários coletivos se expressam mentalmente, corporalmente e/ou como atuação no mundo externo (Aiello-Vaisberg & Machado, 2008). Ou seja, neste contexto, o conceito de imaginário coletivo pode ser definido como condutas que criam mundos vivenciais, de modo que não se confunde, de forma alguma, com o que é falso ou especular (Ambrosio, 2013). A fim de facilitar a nossa comunicação com pesquisadores interessados na temática, mas eventualmente pouco familiarizados com esse referencial teórico-metodológico, apresentamos a seguir os procedimentos investigativos por meio dos quais operacionalizamos o método psicanalítico. Nesta pesquisa, que tomou postagens de mommy blogs como material, os procedimentos que utilizamos foram: procedimento investigativo de levantamento e seleção de postagens; procedimento investigativo de registro de postagens; procedimento investigativo de interpretação de postagens. Finalizamos a pesquisa cumprindo as interlocuções reflexivas. Esse momento, que corresponde ao usualmente chamado de discussão em outros trabalhos empíricos, caracteriza-se pela suspensão da atenção flutuante e da associação de ideias. Desse modo, em prol do estabelecimento de um trabalho teórico de cunho reflexivo, discutimos os campos de sentido afetivo-emocional, que, rigorosamente falando, conformam-se como os resultados de pesquisa, à luz de diálogos com outros autores. Para cumprirmos o procedimento investigativo de levantamento e seleção de postagens, realizamos um levantamento no Google a partir do termo “depressão pós-parto blogues”. Como resultado deste levantamento, obtivemos o total de 240 links. O conteúdo de todos os endereços eletrônicos foi examinado à luz dos critérios definidos a priori, resultando em 48 postagens, tomadas como corpus de material de pesquisa: postagens provenientes de blogues brasileiros; postagens escritas por internautas que se identificam como mães; postagens sobre depressão pós-parto. Devemos esclarecer que o terceiro critério, relativo à seleção de postagens que tematizam a depressão pós-parto, corresponde a um artifício metodológico que se fundamenta na ideia de procedimentos encobertos de pesquisa (Aiello-Vaisberg, 1995). Os procedimentos encobertos se valem da enunciação de um interesse que não coincide exatamente com o objetivo. Ou seja, não tomamos a depressão pós-parto nem como objeto de estudo, nem como problema de pesquisa. Optamos por estudar postagens sobre depressão pós-parto na medida em que se configuram como locus privilegiado para compreender o sofrimento materno. No que tange ao procedimento investigativo de registro do material, realizamos uma transcrição ipsis literis das postagens selecionadas a fim de salvá-las em um documento com finalidades de pesquisa. Isso se fez necessário, pois conteúdos disponíveis na rede podem, eventualmente, ser deletados e, assim, perder-se o acesso ao material selecionado. A seguir, excluímos quaisquer dados que, porventura, pudessem identificar suas autoras. Esse cuidado foi bem explicado por Townsend e Wallace (2017) no que tange a preocupações éticas em pesquisas com materiais on-line. Em relação ao procedimento investigativo de interpretação do material, realizamos leituras sucessivas das postagens selecionadas em estado de atenção flutuante e de associação livre de ideias, conforme os passos do método psicanalítico, a fim de chegar interpretativamente aos campos de sentido afetivo-emocional. Nesse momento, inspiramo-nos nas palavras de ordem de Herrmann (1979), que podem ser consideradas como guias para criação da interpretação psicanalítica: “deixar que surja”, “tomar em consideração” e “completar a configuração do sentido emergente”. Portanto, se campos são entendidos como fundo não consciente, mas produtor das condutas, propor interpretativamente campos de sentido afetivo-emocional corresponde a enunciar um movimento plausível de criação, ou seja, buscar chegar aos determinantes emocionais das condutas. Com o intuito de garantirmos a legitimidade da proposição das interpretações, ou seja, da enunciação dos campos, discutimos as 48 postagens e os nossos impactos transferenciais no âmbito do grupo de pesquisa. Esclarecemos que, na pesquisa psicanalítica, nenhuma interpretação, entendida como resultado de investigação empírica visa esgotar todos os sentidos que surgem nas comunicações. Entretanto, como pesquisadores, privilegiamos determinada linha interpretativa em função do avanço do conhecimento científico que tal resultado pode suscitar, em discussão com outros autores, à luz das repercussões clínicas e sociais do achado de pesquisa. Interpretações e interlocuções reflexivas A leitura do material, em estado de atenção flutuante e associação livre de ideias, permitiria distinguir mais de um campo de sentido afetivo-emocional, ou seja, mais de um resultado interpretativo, como seria de se esperar numa pesquisa qualitativa com uso do método psicanalítico. Podemos abalizar, mesmo que rapidamente, que seria possível produzir, a partir do mesmo material, campos ligados a exigências sociais de que a mulher deveria assumir responsabilidades integrais pelo cuidado infantil. Nesse sentido, deparamo-nos com um imaginário em que a mãe figura como um ser dotado de notáveis capacidades de dedicação ao bebê, o que também foi encontrado em outras pesquisas, realizadas com materiais on-line semelhantes, tais como os estudos de Schulte et al. (2019) e Visintin e Aiello-Vaisberg (2017). Entretanto o exame do material desta pesquisa permitiu o destaque de outro campo que merece ser focalizado em separado, em função das reflexões que suscita. Assim, focalizamos o campo de sentido afetivo-emocional “Meus hormônios me enlouquecem”, que se organiza ao redor da fantasia segundo a qual afetos ansiosos e depressivos, vivenciados por mães durante o puerpério, seriam determinados por hormônios e/ou neurotransmissores. A seguir, apresentamos três trechos ilustrativos de postagens diferentes. Tais vinhetas correspondem a exemplos de condutas emergentes deste campo: Quando eu já estava com os sintomas de depressão, passei por um neurologista que prescreveu antidepressivos que me fizeram sentir pior do que antes. Lembrei, então, que durante a gravidez meu obstetra recomendou que eu procurasse um endócrino, pois tive alteração e comecei a tomar remédio para a tireoide... Talvez, se tivesse ouvido a recomendação do meu obstetra e procurado o endócrino antes, eu poderia não ter sofrido durante 8 meses após o nascimento do meu filho. Eu tive depressão pós-parto. Ela foi diagnosticada há 3 meses, mais ou menos, e agora, me sentindo bem novamente, opto por compartilhar com vocês a minha história. História essa que deve se parecer com de muitas outras mães e que eu espero, através do meu relato, possam se identificar, encontrar forças para procurar ajuda, e se curar... eu quero que as pessoas entendam que depressão pós-parto não é algo para se envergonhar, não é falta de amor, não é sinal de fraqueza. Depressão pós-parto é uma realidade que muitas mães experimentam, devido às alterações hormonais (...) que a maternidade nos traz, e que, principalmente, ela tem cura. O quanto antes ela for identificada, diagnosticada e tratada, melhor. Oi comadre! Tudo joia? A depressão pós-parto é um assunto delicado, muitas vezes negligenciado, e pouco comentado… As mamães se envergonham, se culpam e se escondem... O que acontece afinal? Por que isso acontece? Bom, fisiologicamente, a explicação é que a mulher, no período do pós-parto + amamentação, entra numa montanha russa hormonal, com queda brusca de alguns hormônios e aumento brusco de outros… E isso, por si só, já deixa a gente bem sensível, com os sentimentos “à flor da pele”. Quando sob a vigência desse campo de sentido afetivo-emocional, a mãe-internauta, entendida como pessoalidade coletiva transindividual (Goldman, 1974), parece entender seu sofrimento como determinado pelo funcionamento cerebral e/ou hormonal. Assim, parece desconsiderar suas próprias vivências e relacionamentos como relevantes na gênese de seu mal-estar, tampouco a organização social de cuidados de bebês. Podemos compreender este fenômeno como uma dissociação. Segundo Bleger (1963/1977), a estrutura de conduta dissociativa se refere a manifestações contraditórias entre áreas de expressão, a saber, mental, corporal e de atuação no mundo externo. No caso aqui retratado, observamos dissociações como afastamentos da mãe-internauta de sua própria experiência emocional, valendo-se, para tanto, de explicações relativas a elementos infra-humanos, no caso, hormônios e/ou neurotransmissores. Tal configuração nos leva a ponderar sobre um aspecto a partir do qual a maternidade pode ser vivida na contemporaneidade, período em que o conhecimento científico positivista não é apenas muito prestigiado, como também encontra fácil divulgação pela internet. A associação do rigor científico com conhecimento do funcionamento cerebral parece favorecer uma visão antropológica segundo a qual a conduta deveria ser explicada a partir do nível de causalidade biológica, para o qual a experiência vivida surgiria como mero derivado de reações hormonais e/ou neuroquímicas. Evidentemente, reconhecemos que todos os avanços das ciências biológicas são importantes na medida em que permitem que inúmeros problemas humanos possam ser solucionados, diminuindo o sofrimento das pessoas. Cabe lembrar que o desenvolvimento tecnológico contemporâneo permite que inúmeras doenças fetais possam ser detectadas in utero. Além disso, nem sempre a revelação diagnóstica de uma condição problemática é feita com a devida consideração da experiência emocional dos pais, de modo que acabam sendo ativados temores e fantasias que se concretizam numa situação permeada por culpa (Cunha, Pereira, Caldeira, & Carneiro, 2016). Quando voltamos nossa atenção para o campo de sentido afetivo-emocional aqui interpretado, “Meus hormônios me enlouquecem”, aproximamo-nos de um vasto território acerca da relação entre corpo e mente, tema bem abordado por Bleger (1963/1977) quando teorizou sobre os chamados “níveis de integração da conduta”. Mesmo que a conduta possa ser considerada, por outras ciências, em termos de níveis de causalidade infra-humano, ou seja, físicos, químicos e biológicos, no que diz respeito à psicologia, os atos humanos devem ser abordados no nível humano, vale dizer, em seu nível maior de integração. No nível humano, e na perspectiva psicológica, vale dizer, aquela que focaliza a experiência vivida, importaria entender a conduta como emergente de campos vinculares não conscientes que se inserem em contextos macrossociais. Entretanto a busca de conhecimento do que ocorre em níveis de causalidade infra-humanos, apesar de extremamente importante e necessária, não se confundiria com estudos sobre o que se passa no nível humano. Um desentendimento no que se refere aos níveis de integração levaria a uma incompreensão do fenômeno humano em si, ou seja, de uma manifestação emergente de campos relacionais devidamente situados social e culturalmente. Um exemplo desse tipo de desentendimento seria compreender a tristeza que uma mulher sente no pós-natal como uma revolução hormonal e/ou neuroquímica, deixando de compreender tal afeto como fenômeno vivencial. Estaríamos, desse modo, caindo num reducionismo prejudicial em vez de nos posicionarmos de modo a aproveitar conhecimentos derivados de diferentes áreas do saber. Se não houver clareza sobre os níveis de conduta, certas concepções altamente discutíveis, como a do “self neuroquímico”, podem ser usadas. Rose (2003), a partir de um posicionamento foucaultiano, denominou de “self neuroquímico” um fenômeno que consiste na invocação do corpo e da neuroquímica pelas pessoas não somente para se caracterizarem e se identificarem, mas também para compreenderem a vida humana, no sentido biográfico que o termo deveria tomar. Evidentemente, não negamos que os fenômenos emocionais incluem inevitavelmente a dimensão corporal, característica do modo humano de existência. Contudo criticamos, com Bleger (1963/1977), a ideia de que os níveis humanos de causalidade da conduta possam ser elucidados pelos níveis infra-humanos de causalidade. Convergindo com tal visão, ainda que de modo independente, Rose e Abi-Rached (2013) apontam para a incoerência de equalizar algumas terminologias, como cérebro, hormônios, neurotransmissores, self, experiência e personalidade. Além disso, não devemos esquecer que tal equacionamento, que, à primeira vista, parece significar mera incompreensão epistemológica e conceitual, provavelmente não corresponde a um erro inocente, uma vez que atende a interesses de certos setores econômicos, principalmente ligados à produção farmacológica e à venda de exames e tratamentos médicos, ao mesmo tempo em que conspira contra a percepção de que muitos sofrimentos humanos derivam diretamente do modo como organizamos nossas vidas e não de desordens de caráter exclusivamente orgânico, passíveis de serem resolvidas via medicação. Ganhando ampla divulgação nos espaços sociais, inclusive pela internet e mommy blogs (Hunter, 2015), tal visão concorre para a legitimação do uso de fármacos com vistas a alterar ou modular as emoções. Assim, a partir de estratégias de diversos grupos, como indústrias, profissionais da saúde e governos, toda a complexidade da vida humana se resumiria a um produto de combinações bioquímicas. Tais variações genética e fisiologicamente determinadas explicariam a experiência de modo que as pessoas poderiam, portanto, ser tratadas farmacologicamente (Rotondaro, 2013). Esse tipo de posicionamento diminui consideravelmente a importância dos vínculos humanos e dos contextos macrossociais, o que dificulta mudanças de condições concretas da vida das pessoas, restringindo a oportunidade de um viver mais autêntico. Ponderamos que, de acordo com o campo “Meus hormônios me enlouquecem”, relativo ao imaginário coletivo de mães-internautas sobre o sofrimento materno, experiências de mal-estar psicológico derivariam de fatores biológicos. Tememos as consequências do uso dessas explicações num momento em que a mãe se volta para o atendimento das necessidades do recém-nascido, considerando devidamente a organização de cuidados de bebês e crianças em cada contexto da nossa sociedade. Podemos compreender que, na linha de atender melhor à condição da pessoa como ser social, seria mais acertado sopesar a importância de que a puérpera vivesse experiências de acolhimento pela família nuclear e extensa, além de laços comunitários e serviços institucionais, de modo que pudessem sustentá-la nesse período. Desse modo, na base daquilo que o próprio amadurecimento pessoal permitiria (Winnicott, 1960/1995), a integração pessoal da mulher-mãe não seria perturbada. Pensamos, portanto, que o drama de mães se desenrola em contextos específicos, que podem ou não favorecer seu sofrimento. Estudos recentes, dentre os quais os de Aching e Granato (2018), Schulte et al. (2019), Scobie (2017) e Visintin e Aiello-Vaisberg (2017), denunciam que há expectativas de acordo com as quais o cuidado infantil deveria ser de responsabilidade exclusiva de mães, o que favorece significativamente o mal-estar emocional materno. Assim, os autores alumiam como a maternidade deve ser entendida como fenômeno socialmente determinado. De nossa parte, compreendemos que, para uma compreensão mais rigorosa do sofrimento materno, é necessário se afastar de postulações de acordo com as quais o desconforto psicológico de mães seria resultado de substâncias orgânicas, como, por exemplo, hormônios. Parece que, em relação a esse campo de sentido afetivo-emocional, a vida humana é invocada enquanto fenômeno biológico, de modo a suplantar a biografia e os sentidos dos atos humanos. Lembramos que Schneider (1951), aparentemente, não acredita na possibilidade de compreender que algumas condutas seriam carregadas de sentido. Ele comenta: “É possível conceber que ‘a alma’ se possa transformar por si mesma de um modo tão grotesco sem que isso seja causado por uma enfermidade do corpo?” (Schneider, 1951, p. 23). Tal posicionamento se mostra absolutamente inaceitável àqueles que se apoiam na psicanálise, pois, enquanto método, como demonstrou Politzer (1928/2004) contundentemente, assenta-se sobre o pressuposto revolucionário de que toda conduta humana é prenhe de sentido, independentemente de quão estranha ou cruel possa parecer, à primeira vista, a um observador externo ou à própria pessoa. Entendemos, com o auxílio de Bleger (1963/1977), que é necessário abordar o fenômeno humano, em função de sua complexidade, em termos de perspectivas e de níveis. As perspectivas corresponderiam às ciências humanas, que compartilham o mesmo objeto de estudo, a saber, o ser humano, gerando conhecimento compreensivo. Por outro, conhecimentos objetivantes poderiam ser produzidos, pelas ciências naturais, por meio da consideração de determinações infra-humanas de caráter físico, químico e biológico. Conhecimentos gerados a partir de perspectivas humanas e a partir de níveis infra-humanos podem contribuir decisivamente para a solução dos mais diversos problemas, entre os quais se incluem os sofrimentos sociais associados à maternidade contemporânea. Contudo advertimos sobre a confusão, de caráter teórico e epistemológico, entre perspectivas e níveis, de modo a evitarmos reducionismos no estudo da conduta humana. Pontuamos, então, que entender o sofrimento materno como unicamente derivado da ação de hormônios e/ou neurotransmissores pode obturar transformação de situações concretas que oprimem a mãe e dificultam a superação de defesas que lhe custam um viver mais integrado e autêntico. Referências Abetz, J., & Moore, J. (2018). “Welcome to the Mommy Wars, Ladies”: making Sense of the Ideology of Combative Mothering in Mommy Blogs. Communication, Culture and Critique, 11(2), 265-281. doi: 10.1093/ccc/tcy008 Abetz J. 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Studies in the theory of emotional development 37 55 London Karnac Books Trabalho original publicado em 1960 Article “My hormones drive me crazy”: psychoanalytic research with Brazilian mommy blogs 0000-0002-1995-1047 Visintin Carlos Del Negro a * 0000-0001-5082-1438 Schulte Andréia de Almeida b 0000-0003-3894-1300 Aiello-Vaisberg Tania Maria José a a Pontifical Catholic University of Campinas, Campinas, SP, Brazil b Michigan School of Psychology, Farmington Hills, MI, United States of America *Address for correspondence: [e-mail] Abstract Our article seeks to investigate the collective imaginaries of mothers about maternal suffering in the perspective of the concrete psychoanalytical psychology. This investigation may ground contemporary psychological clinical practices and offer a comprehensive knowledge to debates of social movements and civil society that focus on improving the conditions of emotional and mental care for mothers and children. Our study applies the psychoanalytic method, using posts from Brazilian mommy blogs as material. The psychoanalytical consideration of the posts, based on hovering attention and free association of ideas, allowed the interpretive production of one affective-emotional field “My hormones drive me crazy”. This field is organized around the phantasy that anxious and depressive feelings experienced by mothers during the post-partum (postpartum period) would be determined by hormones and/or neurotransmitters. The results indicate an imaginative tendency to prioritize biological dimensions of human behaviors rather than the drama of relational contexts. Keywords: motherhood suffering collective imaginary Introduction The objective of studying the collective imaginaries of mothers about maternal suffering from the perspective of the concrete psychoanalytic psychology is part of a view according to which the experience of motherhood is affected, in contemporary society, by emotional suffering, here understood as socially determined. Producing knowledge of this issue seems to us to be an important initiative, both because it can generate subsidies for clinical-social practices, including psychology, and because it can enrich and substantiate debates that take place in social movements and civil society in the context of the search for transformations that support more solidary and respectful coexistence between individuals and groups. In this way, the concept of social suffering has to be brought to the central point. Evidently, it can be used in a broad sense, according, for example, to the perspective of Bleger (1963/1977), for whom human nature would be social. However, it has been used since the last decades of the twentieth century, when adverse social conditions most clearly and directly affected well-being, safety and even the fundamental rights of human individuals and groups. Examples of social suffering are those that arise in certain situations, such as torture, war, racism, and anti-Semitism. We can recall here, as seminal studies, the works of Carreteiro (2003), Werlang and Mendes (2013), and Fonseca (2017), without forgetting Renault (2010), who highlights that feelings of helplessness, humiliation and injustice seem to be configured in these situations. There is no doubt, however, that women can be considered a socially affected group; then, it is not surprising to find a specific chapter about their condition in the work organized by Kleinman, Das and Lock (1997). In a way, all feminist literature can be taken as evidence that women struggle to overcome the conditions of inequality that generate significant emotional suffering. In this sense, the work of Das (1996) is exemplary as focuses on what he calls critical events, that is, circumstances that cause suffering characterized by the brutality that affects everyone, but, more especially, women. The author’s contribution provides subsidies to not only reflect on such situations, but also for professionals to be able to carry out interventions, whether individually, with women, or institutionally, with institutions that receive this population or that are involved in the genesis of that suffering. Nevertheless, it does not seem to us that the clear connection between contemporary motherhood and social suffering has been sufficiently explored, and this is the reason why we consider it opportune to carry out studies on the collective imaginaries of mothers about maternal difficulties and suffering. When we start from theoretical positions that value the concrete conditions within which human life goes, we understand that this study is located in a larger chapter on clinical concerns regarding emotional suffering, understood as socially determined. We justify this research from the acknowledgement of what mothers live concretely. This investigation is part of the interface of two major orders. On the one hand, there are social requirements according to which the woman-mother should devote herself entirely to motherhood (Visintin & Aiello-Vaisberg, 2017). On the other hand, in different environments, there are expectations that mothers will dedicate themselves to work and professional careers, remaining committed to the working world without giving up motherhood as a life mission, as found, for example, by Schulte, Gallo-Belluzzo and Aiello-Vaisberg (2019), in psychoanalytic research, and Märtsin (2018), in research based on cultural semiotics. We understand that the confluence of these two orders, the one of mothers in idealized demand to devote and give integral attention to their child, and the other of the expectations that they also will dedicate themselves to work, constitutes a situation that generates tension for women as they face heavy demands when reconciling work and motherhood, known as a double shift, and because today’s woman who dedicates herself exclusively to motherhood does not enjoy the same comfort and fulfillment that certain women of other times could have felt as mothers and housewives. There is research that indicates that the mother would be seen as a being with incredible capacities of devotion and love. We can remember the study by Greinert and Milani (2015), who, using content analysis, claim that the impossibility of achieving an ideal of motherhood can favor the emergence of depressive feelings. Among other recent works, it is possible to highlight that of Henderson, Harmon and Newman (2016) who, when outlining their research as a survey, come to similar conclusions when realizing that mothers who do not meet the socially established expectations regarding child care tend to feel more anxious and guilty. Other authors, such as Alves and Poli (2016) and Schechter and Perelson (2017), supported by certain psychoanalytic perspectives, also agree with the idea that motherhood would be the means by which women would be socially recognized. We believe that these research findings indicate positions that may be at the service of maintaining the current social organization regarding responsibility for children, which may make it more difficult to establish more strong community and social bonds committed to child care. Hollway (2016) postulates that crystallizations of the female and male model occur in our society, affecting the social and legal organizations of work. Apparently, it is also believed that women should remain in the private environment, taking care of the children and the house so that men would have the duty to provide for their wives and children. This type of organization is closely related to the way in which society has dealt with women’s labor and reproductive rights. We understand that, even if the gestation of a baby depends on the female body, provision of child care can occur in many ways, considering the cultural and historical dimension according to which people prepare themselves to receive a new member (Gottlieb & DeLoache, 2016; Rogoff, 2005). With the advancement in technology, conversations about many subjects, and motherhood among them, stopped happening just vis-à-vis to occur in other environments. According to Abetz and Moore (2018), blogs are one of the ways to communicate in the online world and used by women-mothers who try to deal with the difficulties of motherhood. In this way, mommy blogs - specific nomenclature to designate blogs written by women-mothers - become an important environment that offer valuable material for psychoanalytic research, since bloggers, voluntarily and spontaneously, talk about their emotional experiences related to child care (Schulte et al., 2016). Thus, the importance of what mothers live concretely is recognized, including the way they accept their own fears and doubts related to motherhood. We therefore justify this research, which aims to psychoanalytically investigate the collective imaginaries of women-mothers about maternal suffering through posts from Brazilian mommy blogs. Fundamentals and methodological procedures This study is a qualitative research with employment of the psychoanalytic method. Since its creation, this clinical method has remained invariant, supported by the pillars of free association of ideas and hovering attention, while theories and clinical procedures derived from it have undergone important changes and developments over time. This fact should not be surprising, since, from a logical point of view, the method precedes the creation of psychoanalytic doctrines and clinical procedures, as demonstrated by Herrmann (1979). Bearing in mind that the proposal is to understand the affective and emotional foundations of human acts, the initial clarification of our theoretical-epistemological positioning is understood as essential. Next, we define the fundamental concepts used in this research to then describe the investigative procedures that correspond to the way in which we use the psychoanalytic method. When the psychoanalytic method is set in motion, it ends up generating clinical material that can be theorized in different ways. When approaching these different modes, Greenberg and Mitchell (1983) were able to recognize that they are articulated as aligned to two models, the drive/structure model and the relational/structure model, between which theoretical proposals are outlined, seeking accommodations in the midst of these two poles. Politzer (1928/2004) astutely perceived that this perspective would derive from the fact according to which Freudian discourse would be constituted by two different aspects, one energetic and physicalist and the other clinical and dramatic, a note that was widely recognized in the field of psychoanalysis, but which generated different points of view. Some authors, like Ricoeur (1977), understand that the mixture of the two aspects would be highly advantageous, while others, like Bleger (1963/1977), criticize the abstractionism of the drive paradigm, understanding that this type of theorization should be abandoned. Convinced by the Blegerian points of view, from clear phenomenological resonances that invite us to think about an intersubjective unconscious, we have placed our work under the aegis of the relational-structure model of psychoanalysis, starting from a theoretical position known as concrete psychoanalytic psychology (Bleger, 1963/1977). This perspective is in line with the psychoanalytic method but moves away from metapsychological theorizations, since it understands them as dependent on unacceptable positivist myths according to which the person would be seen in an abstract and natural way, isolated from the concrete conditions of their existence. It is a relational theorization that is distinguished from others of the same type precisely because it emphasizes that individuals and groups move in connected fields that are always inserted in macrosocial contexts that cannot be disregarded (Sas, 2004). Whereas all human phenomena must be understood as inherently social (Bleger, 1963/1977), Goldmann (1974), whose contributions resulting from his investigations on cultural creation coincide with the Blegerian view, defined transindividual (collective) subject in a precise manner. This aspect is very significant in qualitative research with employment of the psychoanalytic method on collective imaginaries, since we focus on what is shared by many people, even if it is absolutely personal. Such collective subjects are, of course, concrete, but such concreteness is configured through individual acts, remembering that humans are, simultaneously and paradoxically, individual and collective. To organize our research, we use certain methodological concepts. Here, we make use of three concepts: conduct, collective imaginary and affective-emotional sense field. In the perspective of concrete psychology (Bleger, 1963/1977), the behaviors correspond to any and all types of manifestations of the human being, expressed mentally, bodily and/or as performance in the external world. Such human manifestations would be the object of study shared by all human sciences. The conducts would also be liable to be considered in terms of levels of infra-human causality, that is, chemical, physical and biological. However, psychology, with a view to understanding the conduct at the human level of integration, does not need to be complemented with knowledge from the biological and exact areas to study the lived experience. In this way, conducts are understood as always connected social acts that emerge from fields located in macro-social contexts. Therefore, we are not working with the result of an agreement between contradictory intrapsychic forces, but with bonds of concrete people located in social contexts. In this theoretical context, we always deal with human behaviors, understood as emerging from fields called “affective-emotional sense fields,” which can be defined as emotional substrates underlying human manifestations, whose character is non-conscious. In the realm of concrete psychology, the unconscious dimension is conceived as intersubjectively shaped fields, and not as individual psychic interiority whose content would coincide with the repressed. The concept of collective imaginary corresponds to a particular type of conduct, meaning what the term assumes in the work of Bleger (1963/1977). It must be defined as a set of human acts that are not limited to the imaginative activity itself. As a conduct, collective imaginary is expressed mentally, bodily and/or as performance in the external world (Aiello-Vaisberg & Machado, 2008). In other words, in this context, the concept of collective imaginary can be defined as conducts that create experiential worlds, so that it is not confused in any way with what is false or specular (Ambrosio, 2013). In order to facilitate our communication with researchers interested in the theme, but eventually unfamiliar with this theoretical-methodological framework, below we present the investigative procedures through which we operationalize the psychoanalytic method. In this research, which took mommy blog posts as material, the procedures used were: investigative procedure for post survey and selection; investigative procedure for post registration; investigative procedure for post interpretation. We finished the research fulfilling the reflexive interlocutions. This moment, which corresponds to what is usually called discussion in other empirical works, is characterized by suspending the hovering attention and the association of ideas. Thus, in favor of establishing a reflective theoretical work, we discuss the affective-emotional sense fields, which, strictly speaking, are the research results, in the light of dialogues with other authors. In order to carry out the investigative procedure for post survey and selection, we conducted a survey on Google using the term “depressão pós-parto blogues” [postpartum depression blogs]. As a result, we obtained a total of 240 links. The content of all electronic addresses was examined in the light of the criteria defined a priori, resulting in 48 posts, taken as a corpus of research material: posts from Brazilian blogs; posts written by Internet users who identify themselves as mothers; posts about postpartum depression. We must clarify that the third criterion, related to the selection of posts that deal with postpartum depression, corresponds to a methodological artifice that is based on the idea of covert research procedures (Aiello-Vaisberg, 1995). The covert procedures use the enunciation of an interest that does not exactly coincide with the objective. In other words, we do not take postpartum depression as an object of study or as a research problem. We chose to study posts about postpartum depression as they are configured as a privileged locus for understanding maternal suffering. Regarding the investigative procedure for material registration, we performed a verbatim transcription of the selected posts in order to save them in a document for research purposes. This was necessary, since content available on the network can eventually be deleted and, thus, access to the selected material can be lost. Below, any data that could possibly identify its authors were excluded. This care was well explained by Townsend and Wallace (2017) with regard to ethical concerns in research with online materials. For the investigative procedure related to material interpretation, we carried out successive readings of the selected posts in a state of hovering attention and free association of ideas, according to the steps of the psychoanalytic method, in order to interpretively reach the affective-emotional sense fields. At that moment, we were inspired by the watchwords of Herrmann (1979), which can be considered guides for the creation of psychoanalytic interpretation: “let it arise,” “take into consideration” and “complete the configuration of the emerging sense.” Therefore, if fields are understood as a non-conscious background, but a producer of behaviors, interpretively proposing affective-emotional sense fields corresponds to enunciating a plausible movement of creation, that is, seeking to reach the emotional determinants of behaviors. In order to guarantee the legitimacy of the proposition of the interpretations, that is, the enunciation of the fields, we discussed the 48 posts and our transferential impacts within the scope of the research group. We clarify that, in psychoanalytic research, no interpretation, understood as a result of empirical research, aims to exhaust all the meanings that arise in communications. However, as researchers, we favor a certain interpretative line due to the advancement in scientific knowledge that such a result may raise, in discussion with other authors, in light of the clinical and social repercussions of the research finding. Reflective interpretations and interlocutions Reading the material, in a state of hovering attention and free association of ideas, would make it possible to distinguish more than one affective-emotional sense field, that is, more than one interpretative result, as would be expected in a qualitative research with the use of the psychoanalytic method. It is possible to mention, even if concisely, that it would be possible to produce, from the same material, fields connected to women in social demands to assume full responsibility for child care. In this sense, we are faced with an imaginary in which the mother appears as a being endowed with remarkable capacities of dedication to the baby, which was also found in other research, carried out with similar online materials, such as the studies by Schulte et al. (2019) and Visintin and Aiello-Vaisberg (2017). Nevertheless, the examination of the material of this research allowed highlighting another field that deserves to be focused separately due to the reflections it raises. Thus, we focus on the affective-emotional sense field “My hormones drive me crazy,” which is organized around the fantasy according to which anxious and depressive affections, experienced by mothers during the puerperium, would be determined by hormones and/or neurotransmitters. Below there are three excerpts from different posts. They correspond to examples of conducts emerging in this field: When I was already experiencing symptoms of depression, I went to a neurologist who prescribed antidepressants that made me feel worse than before. Then I remembered that during pregnancy my obstetrician recommended that I should look for an endocrinologist, because I’ve undergone [hormonal] changes and started taking thyroid drugs... Perhaps if I had listened to my obstetrician’s recommendation and looked for the endocrinologist earlier, I might not have suffered for 8 months after my son was born. I had postpartum depression. It was diagnosed about 3 months ago, and now, feeling good again, I choose to share my story with you. A story that may be like that of many other mothers; I hope that with my report they can identify with it, find the strength to seek help, and heal.. I want people to understand that postpartum depression is not something to be ashamed of, it is not a lack of love, it is not a sign of weakness. Postpartum depression is a reality that many mothers experience due to hormonal changes (...) is brought by motherhood and which can be cured. The sooner it is identified, diagnosed and treated, the better. Hi girl! Everything good? Postpartum depression is a delicate subject, often neglected, and little talked about… Moms are ashamed, blame themselves and hide... What happens? Why does it happen? Well, physiologically, the explanation is that the woman, in the postpartum + breastfeeding period, enters a hormonal roller coaster, with a sudden drop in some hormones and a sudden increase in others… And that, in itself, already makes us feel pretty sensitive, with nerves “on edge.” When under the influence of this affective-emotional sense field, the mother-Internet user, understood as a transindividual (collective) subject (Goldman, 1974), seems to understand her suffering as determined by brain and/or hormonal functioning. Thus, she seems to disregard her own experiences and relationships as relevant to the genesis of her malaise, as well as the social organization of baby care. We can understand this phenomenon as dissociation. According to Bleger (1963/1977), the structure of dissociative conduct refers to contradictory manifestations of what is expressed mentally, bodily and/or as performance in the external world. In the case presented here, we observe dissociations as separations of the mother-Internet user from her own emotional experience, making use of explanations related to infra-human elements, in this case, hormones and/or neurotransmitters. This configuration leads us to ponder on an aspect from which motherhood can be lived in contemporary times, a period in which positivist scientific knowledge is not only very prestigious, but also easy to be disseminated on the Internet. The association of scientific rigor with knowledge of brain functioning seems to favor an anthropological view according to which the conduct should be explained from the level of biological causality, for which the lived experience would appear as a mere derivative of hormonal and/or neurochemical reactions. We certainly recognize that all advances in the biological sciences are important since they allow countless human issues to be solved, reducing people’s suffering. It is worth remembering that contemporary technological development allows numerous fetal diseases to be detected in the uterus. In addition, the diagnostic disclosure of a problematic condition is not always made with due consideration of the parents’ emotional experience, so that fears and fantasies end up being activated in a situation permeated by guilt (Cunha, Pereira, Caldeira, & Carneiro, 2016). When we turn our attention to the affective-emotional sense field interpreted here, “My hormones drive me crazy,” we approach a vast territory about the relationship between body and mind, a theme well addressed by Bleger (1963/1977) when he theorized about the so-called “levels of conduct integration.” Even if the conduct can be considered, by other sciences, in terms of levels of infra-human causality, that is, physical, chemical and biological, with regard to psychology, human acts must be approached at the human level, that is, at its highest level of integration. At the human level, and from a psychological perspective, which focuses on the lived experience, it would be important to understand the conduct as emerging from non-conscious linking fields that are inserted in macrosocial contexts. However, the search for knowledge of what happens at the levels of infra-human causality, although extremely important and necessary, would not be confused with studies on what is happening at the human level. A disagreement with regard to the levels of integration would lead to a misunderstanding of the human phenomenon itself, that is, of an emergent manifestation of relational fields socially and culturally situated. An example of this type of disagreement would be to understand the sadness that a woman feels in postnatal period as a hormonal and/or neurochemical revolution, failing to understand such affection as an experiential phenomenon. In this way, we would be falling into harmful reductionism instead of positioning ourselves in order to take advantage of knowledge derived from different areas. If the levels of conduct are not clear, certain highly debatable conceptions, such as that of the “neurochemical self,” can be used. Rose (2003), from a Foucauldian perspective, called “neurochemical self” a phenomenon that consists of the invocation of the body and neurochemistry by people not only to characterize and identify themselves, but also to understand human life, in the biographical sense that the term should take. Evidently, we do not deny that emotional phenomena inevitably include the bodily dimension, characteristic of the human way of existence. Nevertheless, we criticize, with Bleger (1963/1977), the idea that the human levels of causality of conduct can be elucidated by the infra-human levels of causality. Converging with this view, albeit independently, Rose and Abi-Rached (2013) point to the incoherence of equalizing some terminologies, such as brain, hormones, neurotransmitters, self, experience, and personality. Furthermore, we must not forget that this equation, which, at first glance, seems to mean mere epistemological and conceptual misunderstanding, probably does not correspond to an innocent error, since it serves the interests of certain economic sectors, mainly linked to pharmacological production and selling medical exams and treatments, while conspiring against the perception that many human sufferings stem directly from the way we organize our lives and not from exclusively organic disorders that can be resolved via medication. With wide dissemination in social spaces, including on the Internet and mommy blogs (Hunter, 2015), this view contributes to the legitimation of the use of drugs in order to alter or modulate emotions. Thus, based on the strategies of different groups, such as industries, health professionals and governments, all the complexity of human life would be reduced to a product of biochemical combinations. Such genetic and physiologically determined variations would explain the experience so that people could therefore undergo pharmacological treatment (Rotondaro, 2013). The importance of human ties and macro-social contexts is considerably reduced by this type of positioning, which makes it difficult to change concrete conditions in people’s lives, restricting the opportunity for a more authentic life. We think that, according to the field “My hormones drive me crazy” related to the collective imaginary of mothers-Internet users about maternal suffering, experiences of psychological malaise would derive from biological factors. We fear the consequences of using these explanations at a time when the mother turns to meet the newborn’s needs, properly considering the organization of care for babies and children in each context of our society. It is possible to understand that, in line with better attending to the condition of the person as a social being, it would be more appropriate to consider the importance of the puerperal woman being well received by the nuclear and extended family, in addition to community ties and institutional services, so that they could support her in that period. Thus, on the basis of what personal maturation itself would allow (Winnicott, 1960/1995), the personal integration of the woman-mother would not be disturbed. We think, therefore, that the drama of mothers unfolds in specific contexts, which may or may not favor their suffering. Recent studies, including those by Aching and Granato (2018), Schulte et al. (2019), Scobie (2017) and Visintin and Aiello-Vaisberg (2017), denounce that there are expectations according to which child care should be the exclusive responsibility of mothers, which significantly favors maternal emotional malaise. Thus, the authors highlight how motherhood should be understood as a socially determined phenomenon. In turn, we perceive that, for a more rigorous understanding of maternal suffering, it is necessary to move away from postulations according to which mothers’ psychological discomfort would be the result of organic substances, such as hormones. It seems that, in relation to this field of affective-emotional sense, human life is invoked as a biological phenomenon, in order to supplant the biography and the meanings of human acts. We remember that Schneider (1951), apparently, does not believe in the possibility of understanding that some behaviors would be charged with meaning. He comments: “Is it possible to conceive that ‘the soul’ can transform itself in such a grotesque way without it being caused by an illness of the body?” (Schneider, 1951, p. 23). Such a positioning is absolutely unacceptable to those who rely on psychoanalysis, because as a method, as Politzer (1928/2004) demonstrated, it is based on the revolutionary assumption that all human conduct is full of meaning, regardless of how strange or cruel it may appear, at first glance, to an external observer or to the person himself/herself. We understand, with the help of Bleger (1963/1977), that it is necessary to approach the human phenomenon, due to its complexity, in terms of perspectives and levels. The perspectives would correspond to the human sciences, which share the same object of study, that is, the human being, generating comprehensive knowledge. On the other hand, objective knowledge could be produced, by the natural sciences, through the consideration of infrahuman determinations of a physical, chemical and biological character. Knowledge generated from human perspectives and from infra-human levels can contribute decisively to the solution of the most diverse problems, such as social suffering associated with contemporary motherhood. However, we warn about the confusion, of theoretical and epistemological character, between perspectives and levels, in order to avoid reductionism in the study of human conduct. We point out, then, that understanding maternal suffering as solely derived from the action of hormones and/or neurotransmitters can hamper transformation in concrete situations that oppress the mother and make it difficult to overcome defenses that cost her a more integrated and authentic life.