Texto 2: FALCÃO (Jango) |
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Aí garçom, desce mais uma que hoje eu tenho muita coisa pra escrever |
Mas o tempo tem passado |
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Os amigos ficaram no passado |
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Minha raiva tem aumentado |
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Meu pai tá em outro estado |
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A gente não tem se falado |
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Sei lá, eu tô melhor assim |
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Eu já não tenho medo de morrer |
Eu sei quem corre por mim |
Eu sei desde os 13 que eles não vão me tratar com carícias |
Quem chora por mim |
É aí que nasceu minha malícia |
Quem morreu e quem morreria por mim |
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E no rádio aquela música não sai do repeat |
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“TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM” |
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Mas é que eu tenho que ter malícia |
Mas, se tristeza não tem fim, a luta também não |
Pra não virar notícia |
O que a minha mãe fez por mim não pode ser em vão |
Eu tenho nojo dessa farda, mano |
Eu tô sonhando tão alto que me chamam de falcão |
Foda-se a polícia |
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Eles não ligam pra nossa existência |
E eu era tipo: jovem, preto, novo, pequeno |
Minha mãe falando que eu preciso ter resiliência |
“Jango, cuida de ti que na rua é só veneno” |
E só me vem aquela do Hércules Marques: |
E geral dizia que meu bairro era só: drogas, armas, sem futuro |
“Eu cansei de ser resistência, tô precisando é de um abraço” |
Mas tem vários pretos tipo eu ganhando o mundo |
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Eu virei uma mistura de ódio e cansaço |
E eu queria ser que nem o BIG - notório |
Fazia tempo que eu não chorava |
Mas, se me matarem, eu sei que não vão trocar nem o nome do diretório |
Quando veio deixou meus olhos num puro inchaço |
E, se me matarem, não fiquem de luto, façam uma revolução ao invés de irem no meu velório |
Mas me responde: quem é que nota a lágrima do palhaço? |
Sejam tipo aquele personagem que mata nazistas em Bastardos Inglórios |
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Tudo nessa vida é ilusório |
Lembrei o que um mano meu me falou |
Ainda tô procurando minha terra prometida, vou defender meu território |
“Um corpo negro não cai por um único motivo” |
É um milagre eu não ter ido pro “reformatório” |
Eu tô vendo meus irmãos morrer desde os meus 6 anos |
Cês conseguem entender porque eu tenho tanto ódio? |
Não é à toa que meu olhar é caído |
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Eu tô abatido e abatido sigo |
As pintas tão se achando maçom |
Os professores na faculdade me olhando como se me falassem que há muito eu devia ter desistido |
Fumando pontas, bebendo Red Label |
Mas eu tô tipo o meu pai há uns anos atrás, mano |
Mas foda-se, eu sou campeão |
Não ligo |
Vou buscar meu fio de contas com meu amor |
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Eu tô sem tempo, irmão |
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Sei que tem muitos contra, mas tem alguns a favor |
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Eu já perdi a conta de quantas vezes a felicidade bateu na minha porta |
Aí garçom, pede lá pra fechar a conta, por favor |
E eu não abri com medo de ser o proprietário |
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Eu não quero mais ser despejado |
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Tenho mó saudade de uns amigos |
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Da época que a gente era aliado |
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De quando a gente era lado a lado |
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Texto 3 (síntese de elementos narrativos do território): Reafirmação da invisibilização, da saudade de um lugar próprio, do cansaço, da ancestralidade. |