Open-access Mapeamento da produção científica de pesquisadores brasileiros de ciências da comunicação: período de 2000 a 2009

Planeamiento de la producción científica de investigadores brasileños en ciencias de la comunicación: período de 2000 a 2009

Analyse de la production scientifique des chercheurs brésiliens en sciences de la communication: la période de 2000 à 2009

Resumos

Análise e mapeamento da produção científica de pesquisadores brasileiros em ciências da comunicação, a partir do currículo disponível no sistema Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a fim de sistematizar e identificar quais tipologias documentais foram mais utilizadas para disseminação dos resultados de pesquisas no período de 2000-2009 (livros, capítulos de livros e artigos em revistas científicas). Os resultados foram analisados quanto ao perfil de atuação dos distintos programas de pós-graduação e quanto ao perfil dos pesquisadores deixando evidente que não existe diferença substancial no uso dos veículos “artigos de revistas” e “livros” para a publicação de seus resultados.

Bibliometria; Ciências da Comunicação; Currículo Lattes; Produção científica


Análisis y planeamiento de la producción científica de los investigadores brasileños en ciencias de la comunicación con base en el currículum disponible en el sistema Lattes del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), con el fin de sistematizar e identificar qué tipologías documentales se utilizó más para diseminar los resultados de investigación en el período de 2000-2009 (libros, capítulos de libros e artículos de periódicos científicas). Se analizó los resultados en función del perfil de acción de los diferentes programas de posgrado y del perfil de los investigadores, por lo que es claro que no existe una diferencia sustancial en el uso de los vehículos “artículos de periódicos” y “libros” para la publicación de sus resultados.

Bibliometría; Ciencias de la comunicación; Currículum Lattes; Producción científica


Analyse et systématisation de la production scientifique des chercheurs brésiliens en sciences de la communication, à travers de l’utilisation du curriculum disponible sur le système Lattes (Conseil National de Développement Scientifique et Technologique - CNPq), pour identifier et systématiser les types de documents les plus fréquemment utilisés pour la diffusion des résultats de recherches dans la période 2000-2009 (des livres, des chapitres de livres et des articles de revues cientifiques). Les résultats ont été analysés en fonction du profil d’action des différents programmes d’études supérieures et le profil des chercheurs, indiquant clairement qu’il n’y a pas de différence substantielle dans l’utilisation des véhicules “articles de revues” et “livres” pour la publication de ses résultats.

Bibliométrie; Sciences de la Communication; Lattes; Production scientifique


Analysis and systematization of the of Brazilian researchers scientific production in communication science. This analysis was developed from the curriculum Lattes coordenated by the Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), in order to organize and identify which types of documents were used the most to disseminate the results research in the period 2000-2009 (books, chapter books or scientific papers). The results were analyzed according to the profile of action from different graduate programs and on the profile of researchers, making it clear that there is no substantial difference in the use of those vehicles, scientific papers and books, to publish their results.

Bibliometrics; Communication Sciences; Curriculum Lattes; Scientific production


ARTIGOS ORIGINAIS

Mapeamento da produção científica de pesquisadores brasileiros de ciências da comunicação: período de 2000 a 20091

Scientific production analysis of Brazilian researchers in communication sciences: the period from 2000 to 2009

Analyse de la production scientifique des chercheurs brésiliens en sciences de la communication: la période de 2000 à 2009

Planeamiento de la producción científica de investigadores brasileños en ciencias de la comunicación: período de 2000 a 2009

Geni Aparecida Toffoli2; Sueli Mara Soares Pinto Ferreira

Universidade de São Paulo - USP

RESUMO

Análise e mapeamento da produção científica de pesquisadores brasileiros em ciências da comunicação, a partir do currículo disponível no sistema Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a fim de sistematizar e identificar quais tipologias documentais foram mais utilizadas para disseminação dos resultados de pesquisas no período de 2000-2009 (livros, capítulos de livros e artigos em revistas científicas). Os resultados foram analisados quanto ao perfil de atuação dos distintos programas de pós-graduação e quanto ao perfil dos pesquisadores deixando evidente que não existe diferença substancial no uso dos veículos "artigos de revistas" e "livros" para a publicação de seus resultados.

Palavras-chave: Bibliometria. Ciências da Comunicação. Currículo Lattes. Produção científica.

ABSTRACT

Analysis and systematization of the of Brazilian researchers scientific production in communication science. This analysis was developed from the curriculum Lattes coordenated by the Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), in order to organize and identify which types of documents were used the most to disseminate the results research in the period 2000-2009 (books, chapter books or scientific papers). The results were analyzed according to the profile of action from different graduate programs and on the profile of researchers, making it clear that there is no substantial difference in the use of those vehicles, scientific papers and books, to publish their results.

Keywords: Bibliometrics. Communication Sciences. Curriculum Lattes. Scientific production.

RÉSUMÉ

Analyse et systématisation de la production scientifique des chercheurs brésiliens en sciences de la communication, à travers de l'utilisation du curriculum disponible sur le système Lattes (Conseil National de Développement Scientifique et Technologique - CNPq), pour identifier et systématiser les types de documents les plus fréquemment utilisés pour la diffusion des résultats de recherches dans la période 2000-2009 (des livres, des chapitres de livres et des articles de revues cientifiques). Les résultats ont été analysés en fonction du profil d'action des différents programmes d'études supérieures et le profil des chercheurs, indiquant clairement qu'il n'y a pas de différence substantielle dans l'utilisation des véhicules "articles de revues" et "livres" pour la publication de ses résultats.

Mots-clés: Bibliométrie. Sciences de la Communication. Lattes. Production scientifique.

RESUMEN

Análisis y planeamiento de la producción científica de los investigadores brasileños en ciencias de la comunicación con base en el currículum disponible en el sistema Lattes del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), con el fin de sistematizar e identificar qué tipologías documentales se utilizó más para diseminar los resultados de investigación en el período de 2000-2009 (libros, capítulos de libros e artículos de periódicos científicas). Se analizó los resultados en función del perfil de acción de los diferentes programas de posgrado y del perfil de los investigadores, por lo que es claro que no existe una diferencia sustancial en el uso de los vehículos "artículos de periódicos" y "libros" para la publicación de sus resultados.

Palabras-clave: Bibliometría. Ciencias de la comunicación. Currículum Lattes. Producción científica.

1 Introdução

O desenvolvimento das atuais tecnologias de informação e comunicação, agregado ao avançado estágio das tecnologias digitais, tem impactado sobremaneira o modelo vigente da comunicação científica e, muito mais fortemente, os modelos de avaliação da produção científica resultante. Projetos rediscutindo as métricas em uso, as distintas tipologias documentais emergentes e suas características, os contextos de produção do conhecimento distinto e singular para cada área do conhecimento refletindo suas culturas de geração de resultados, aumentam em quantidade e qualidade ano a ano.

Um desses projetos é o METRICS - Métricas para a avaliação da produção científica em ciências sociais: em foco a área de ciências da comunicação brasileira, desenvolvido na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tal projeto visa propor e testar indicadores alternativos para avaliar a produção científica da área de ciências sociais, mais especificamente a área de ciências da comunicação. Atentando para a diversidade de produtos da área e para a relevância e reconhecimento específico, tanto das monografias como das revistas para as ciências sociais, pretende buscar tais indicadores a partir do cruzamento de citação entre os artigos das revistas e os livros publicados no período de 2000 a 2009. O corpus de estudo será composto pela produção de pesquisadores/autores brasileiros ou vinculados a instituições brasileiras, tais como: (a) artigos publicados nas revistas brasileiras dos programas de pós-graduação em ciências da comunicação e (b) livros (monografias resultantes de pesquisa) publicados por autores brasileiros, resultado de projeto de pesquisa. Foca-se na revisão das métricas atuais partindo da identificação, comparação e avaliação dos padrões de citação utilizados por autores de artigos científicos e de monografias brasileiras.

De acordo com Ferreira (2010) a avaliação das atividades científicas de todas as áreas do conhecimento é feita a partir de indicadores baseados em contagem de citações3, cuja expressão é o Fator de Impacto (FI)4, e tais medidas tomam como base um único tipo de publicação: os periódicos científicos. Segundo a autora, o FI tem sido o indicador mais comumente utilizado pelas diversas instâncias avaliativas superiores no sentido de qualificar e direcionar políticas às pesquisas. Exemplo disso é a qualificação feita no Brasil pelo sistema Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que adota esse indicador para avaliação de professores e cursos de pós-graduação (Mugnaini, 2006; Vilhena & Crestana, 2002). Segundo Strehl (2005), as agências de fomento "são uma audiência assídua do índice publicado pelo ISI ... identificando as instituições que melhor correspondam às metas e objetivos por eles definidos" (p. 20).

Contudo, centralizar a avaliação científica em apenas um tipo de publicação anula as singularidades intrínsecas de cada área do conhecimento - exatas, biológicas e sociais - uma vez que diversas são as metodologias, teorias e abordagens utilizadas por cada uma delas e suas respectivas subáreas/disciplinas. Como aponta Ferreira (2010), a avaliação das ciências sociais é tomada a partir de citação em revistas científicas, sem considerar que

as estruturas, as disciplinas e as especificidades da área de ciências sociais, diferem significativamente das entidades equivalentes nas áreas das ciências naturais. No Brasil, tal diferença se inicia com a percepção da heterogeneidade implícita nas diversas disciplinas envolvidas e cobertas com o rótulo de ciências sociais: Artes, Ciência da Informação, Ciências da Comunicação, Filosofia, Direito, Letras e Linguística, Psicologia, Administração e Economia, Antropologia, Arqueologia, Ciência Política ... Vale lembrar ainda, que muitas destas disciplinas, por si só já trazem outras tantas e distintas subáreas e especificidades no seu bojo, como é o caso da área de Artes que envolvem música, artes plásticas, teatro, dança e outras, ou as Ciências da Comunicação que cobrem jornalismo, publicidade, propaganda, cinema, rádio, editoração, relações públicas e televisão. (p. 330)

Além disso, diversos são os canais de comunicação e tipologias de publicações utilizadas pelos pesquisadores das áreas de ciências sociais para divulgar resultados de estudos ou trocar experiências. Esses também podem variar quanto à natureza da área do conhecimento, público-alvo e propósito (Meadows, 1999). Consequentemente, os padrões de citação também serão diferenciados. Kobashi e Santos (2006), referindo-se às especificidades e comportamentos comunicacionais das ciências, advertem que

É fato conhecido que as áreas de ciências exatas e biológicas não têm a mesma cultura de publicação das ciências sociais e humanas. Enquanto as primeiras tendem a privilegiar a publicação de artigos em revistas, nas ciências humanas e sociais, privilegia-se a publicação de livros. (p. 33)

Outras evidências sobre o comportamento de publicações das ciências sociais são apontadas pelo estudo de Hicks (2005), por meio do qual a autora aponta a existência de três outros tipos de literatura utilizados pela área, além dos artigos publicados em revistas científicas, e cujos impactos têm grande importância em nível local: as monografias/livros; as literaturas de caráter nacional; e as publicações não científicas dirigidas a não especialistas (como professores do ensino médio ou o público em geral, como, por exemplo, revistas informativas, jornais, catálogos etc.). Segundo a autora os livros recebem 40% das citações dos artigos publicados em revistas indexadas pelo Social Science Citation Index (SSCI), o que revela o valor dessa tipologia documental para a área, evidenciando que tal formato de publicação não deveria ser desprezado.

Em estudo relativo ao campo das ciências da comunicação, em que toma como base as teses e dissertações brasileiras, Romancini (2006) demonstra que os livros são mais referenciados, alcançando 51,6% das citações.

Em análise às citações dos trabalhos aprovados pelo XVII Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação- Compós 2008, Primo e Stumpf (2008, p. 7) confirmam a tendência do uso dos livros como principal fonte de consulta: 57,7% das citações para livros, 13% para capítulos de livros e 14,1% para artigos.

Face aos resultados mencionados, definiram-se os objetivos do projeto METRICS com foco em estudos aprofundados dos padrões de comportamento dos pesquisadores de ciências da comunicação, ou seja, o que e quanto publicam, quais os canais de comunicação preferenciais dessa comunidade científica e sua dispersão pelo território nacional. Sistematizando as distintas atividades e etapas possíveis e necessárias para o referido estudo de comportamento, elegeu-se como primeira análise a proposta de traçar o perfil de publicação do pesquisador brasileiro da área de ciências da comunicação a partir do "mapeamento de sua produção científica" divulgada e disseminada por meio do Currículo Lattes. Este artigo descreve a metodologia utilizada e os resultados obtidos nessa primeira etapa do projeto maior (METRICS).

O objeto deste trabalho, portanto, é analisar e mapear a produção científica de pesquisadores brasileiros em ciências da comunicação, a partir do currículo disponível na Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a fim de sistematizar e identificar quais tipologias documentais foram mais utilizadas para disseminação dos resultados de pesquisas no período de 2000 a 2009.

2 Procedimentos metodológicos

O estudo se foca especificamente na identificação dos pesquisadores brasileiros da área de Ciência da Comunicação e, inicialmente, tornase necessário estabelecer os critérios para identificação desta amostra. Visando garantir que os perfis analisados fossem realmente de pesquisadores brasileiros, definiu-se como estratégia o levantamento de todos os docentes cadastrados nos 37 programas de pós-graduação em ciências da comunicação referendados pela CAPES. Uma visita individual aos sites de tais programas possibilitou a identificação dos docentes/pesquisadores e recuperação de nome completo.

Com base nessa lista, a segunda etapa foi a localização dos Currículos Lattes individuais e a coleta das produções ali declaradas, no que se refere a artigos de revistas, livros e capítulos de livros, publicados no período de 2000 a 2009.

Como terceira etapa tem-se que todos os metadados coletados referentes às distintas produções foram armazenados em arquivo Excel. Neste momento trabalhos em coautoria foram identificados e as repetições, excluídas.

A seguir, etapa quarta, extensa atividade de normalização nos metadados levantados relativos aos livros, capítulos e artigos publicados foi necessária visando a equalizar os conteúdos e garantir a possibilidade de compatibilidade e comparação dos dados.

Finalmente, etapa cinco, cômputo e análise final da produção dos pesquisadores brasileiros em artigos e em livros/capítulos de livros observando- se dois indicativos: a) produção de artigos versus produção de livros e capítulos; e b) produção por tipologia documental distribuída pelos programas de pós-graduação e respectivas regiões.

3 Coleta/análise de dados e resultados

3.1 Identificação do pesquisador brasileiro na área em foco

Tal levantamento foi feito, a princípio, no site da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós) e, posteriormente, procedeu-se à confirmação da certificação destes programas no portal da CAPES do Ministério da Educação (MEC). Foram identificados 37 Programas de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPG/COM), sendo a totalidade com mestrado e 15 com doutorado.

Dos 37 PPG/COM identificados, três deles localizam-se na região Centro-Oeste do país; cinco no Nordeste; um único PPG/COM na região Norte; sete na região Sul; e 21 deles encontram-se na região Sudeste, como mostra a Figura 1.


A Figura 2 acima mostra a distribuição dos PPG/COM por unidades da federação, por meio da qual se pode observar que o estado de São Paulo concentra o maior número de programas: 14, no total. Os outros 23 programas distribuem-se da seguinte forma: quatro no Rio Grande do Sul; quatro no Rio de Janeiro; três em Minas Gerais; dois no Distrito Federal; dois no Paraná; e, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Santa Catarina abrigam um PPG/COM cada um.


Em relação aos setores administrativos (público e privado) a que os PPG/COM vinculam-se, o quadro apresenta-se da seguinte forma: 14 programas no setor privado e 23 no setor público, sendo 16 na esfera federal, seis na esfera estadual e um na esfera municipal, conforme observado na Figura 3.


Quanto à distribuição por regiões geográficas, tem-se que: dos 14 PPG/COM do setor privado, um localiza-se no Centro-Oeste, dez na região Sudeste e três na região Sul. Os 23 PPG/COM vinculados ao setor público distribuem-se como segue: dos 16 vinculados à esfera federal, um situa-se na região Norte, cinco no Nordeste, dois no Centro-Oeste, cinco no Sudeste e três no Sul do país; na esfera estadual, temos seis PPG/COM, sendo cinco na região Sudeste e um na região Sul; já na esfera municipal, apenas um na região Sudeste, conforme esquematizado na Figura 4:


Uma visita individual a todos os sites dos programas de pós-graduação forneceu a lista dos nomes dos docentes e, quando possível, URL do currículo na Plataforma Lattes do CNPq. Obteve-se como resultado um total bruto de 519 nomes, sendo 498 docentes efetivos, três docentes convidados, 14 docentes colaboradores e quatro docentes associados, conforme mostra a Tabela 1. Contudo, 16 docentes figuram em mais de um PPG/COM. Por esse motivo procedeu-se à eliminação das repetições, obtendo-se, assim, um total real de 503 nomes.

Os dados esquematizados na tabela acima evidenciam os programas e respectivos totais de docentes a eles vinculados. O maior número de docentes concentra-se no PPG/COM da USP (46), seguido da UFRJ (27), UnB (25) e UFF (20), sendo os quatro do setor público e três deles situados na região Sudeste. Já entre os programas com menor número de docentes, encontram-se a ESPM (07), USCS e UFSCar (08 cada uma), PUC-RJ, UFSM, UNISO, UAM, PUC-MG, UEL e UCB (09 cada uma), sendo seis deles vinculados a instituições do setor privado e quatro vinculados ao setor público.

Com tal listagem pronta, partiu-se para a localização dos Currículos Lattes para a coleta da produção científica dos docentes, bem como padronização dos nomes de acordo com o constante no Sistema Lattes que, por vezes, diferiam da relação de nomes constante no site de cada programa de pós-graduação. Houve a constatação de alguns currículos desatualizados, e um currículo não foi localizado.

3.2 Levantamento da produção bibliográfica do pesquisador brasileiro de 2000 a 2009

Os currículos dos 503 docentes foram analisados individualmente e cada registro de documentos por eles declarados nas categorias "artigos completos publicados em periódicos", "livros publicados/organizados ou edições" e "capítulos de livros", publicados no período de 2000-2009, foi recuperado e inserido em uma planilha Excel.

Obteve-se um número total bruto de 6520 documentos categorizados como "artigos", 1772 "livros" e 4635 "capítulos de livros", os quais foram distribuídos conforme a vinculação do autor ao programa de pós-graduação - Tabela 2.

A maior parte dos Programas de Pós-Graduação (72,2%) produziu até 400 documentos (artigos, livros e capítulos de livros), enquanto sete programas situam-se acima da faixa de 500 documentos, com destaque para o PPG/COM da Universidade de São Paulo, que ultrapassou a faixa dos 1000 documentos. A sistematização da produção por tipologia documental dos pesquisadores possibilitou a elaboração de um gráfico de produção total de documentos por Programa de Pós-Graduação, como mostra a Figura 5.


3.2.1 Análise e seleção dos artigos de periódicos publicados de 2000 a 2009

Ao final da coleta e preparação da planilha Excel com todos os dados oriundos dos Currículos Lattes, procedeu-se à identificação e início de sua padronização. Esse foi um trabalho árduo e moroso frente à grande quantidade de informações faltantes, erros de digitação e na correta classificação da produção. Muitos dos documentos declarados pelos docentes como "artigos de periódicos" tratavam-se na verdade de resenhas, entrevistas, apresentações, sites etc., algumas vezes publicados em revistas. Outros tantos documentos foram publicados em revistas, mas não necessariamente científicas. Portanto, o conceito de cientificidade dos artigos se apresentou, muitas vezes, comprometido.

Deste modo, tomou-se como base para este estudo os artigos publicados nas revistas identificadas como efetivamente científicas, quer seja por seu vínculo com a pós-graduação, quer seja por estar indexada em alguma base de dados científica (por exemplo: SciELO, WOS, SCOPUS, REDALYC etc.).

Dos 6520 artigos identificados, 766 (12%) artigos foram publicados em revistas científicas internacionais (espanholas, francesas, colombianas, argentinas etc.), 1659 (25%) foram publicados em revistas brasileiras de programas de pós-graduação. O restante, 4095 documentos, foram:

a) publicados em outras revistas da área, que não as coordenadas por PPG/COM (entre elas artigos publicados na LOGOS, Verso e Reverso etc.);

b) publicados em revistas de outras áreas; e

c) outros tipos de documentos (resenhas, entrevistas, trabalhos apresentados em eventos, catálogo, documentos de trabalho de grupo de estudos, documentos em sites etc.).

Analisando-se especificamente os 1659 artigos publicados nas 24 revistas brasileiras nestes dez anos, verificou-se que a média de publicação por PPG/COM é de 44,8 artigos, e a média de publicação por pesquisadores é de 3,3 artigos. Entretanto, dividindo-se esse valor por ano, temse: 4,48 artigos por PPG/COM e 0,33 artigos por docente.

A Figura 6 demonstra a distribuição destes artigos (1659) pelas revistas coordenadas pelos programas de pós-graduação.


Verifica-se que as quatro revistas nacionais mais procuradas pelos pesquisadores brasileiros para publicação são: Famecos, Compós, Intercom e Comunicação & Sociedade, com 226, 152, 118 e 114 artigos, respectivamente. Já as revistas que menos publicaram foram a Lâmina, da UFPE, e Comunicologia, da UCB de Brasília, com dois e seis artigos, respectivamente.

Distribuindo esses valores por regiões geográficas, referentes à origem das revistas, obtêm-se os seguintes resultados: as regiões Sudeste e Sul são responsáveis por 30% das publicações de artigos, respectivamente. Em seguida vem a região Centro-Oeste com 15% da produção; a região Nordeste, com 4% e, por fim, a região Norte, que não pontuou.

Dentre as unidades da federação, as que mais publicam são: São Paulo, com 36%; Rio Grande do Sul, com 24%; Distrito Federal, com 12%; e Rio de Janeiro, com 11%. As outras unidades da federação (BA, PB, PE, GO, MG, PR e SC), somadas, perfazem o total de 18,12%. Esses dados estão expressos na Tabela 4.

Foi possível, ainda, obter um quadro dos artigos por ano de publicação (Tabela 5), em que os anos de 2007 e 2008 foram os mais produtivos, com 229 e 240 publicações, respectivamente.

O comportamento de publicações em revistas nacionais é crescente do ano de 2000 até o ano de 2008, com queda de publicações no ano de 2009. A Figura 7 abaixo nos permite uma melhor visualização dessa evolução.


3.2.2 Análise e seleção dos livros publicados/organizados pelos docentes dos PPG/COM

A análise e seleção dessa tipologia documental foram priorizadas devido à dificuldade de localização das obras, uma vez que sua disponibilidade em meio eletrônico não é tão comum, ao contrário do que ocorre com os artigos de revistas. A atividade teve como finalidade efetuar uma primeira limpeza no banco de dados. Com base na definição de Cunha e Cavalcanti (2008), na qual "livro" caracteriza-se por ser uma "publicação avulsa, contendo no mínimo 50 páginas" (p. 231), foram descartados todos aqueles documentos com número de páginas inferior a esse valor. Além desse primeiro critério, estabeleceu-se que não fariam parte do estudo:

- as publicações anteriores ao ano de 2000;

- livros traduzidos;

- os títulos que não fossem resultado de pesquisa científica (livros técnicos, didáticos/texto; produtos de eventos e anais; os relatórios institucionais e de projetos; livros com autoria institucional); e

- os documentos que não correspondessem a essa tipologia documental, muito embora tivessem sido incluídos no Lattes dessa forma.

Ademais dessas características, adotou-se como norma que seria mantido apenas um título independente de autores múltiplos e as edições mais recentes dos livros, eliminando-se as anteriores.

Muito embora tenha sido coletado e mencionado anteriormente os capítulos de livros publicados por pesquisadores brasileiros e divulgados nos respectivos Currículos Lattes, eles não serão aqui tratados, tendo em vista que o foco principal deste artigo é observar o padrão de uso do veículo livro versus o veículo artigo.

A partir dessa primeira seleção, os 1772 livros localizados foram classificados em três categorias, conforme mostra a Tabela 6.

Os 413 documentos não selecionados para este estudo se referem a materiais que não atenderam aos requisitos estabelecidos anteriormente (tratam-se, portanto, de traduções, livros não científicos, anais de eventos e outros documentos não monográficos).

Em análise comparativa entre as obras monográficas e as organizadas, neste primeiro momento constatou-se que existe um equilíbrio, uma vez que a diferença numérica entre as duas categorias é de apenas 38 itens. Individualmente, a maior diferença entre as duas categorias de livros (organizados e monográficos) é da UMESP, com 24 títulos, seguida da UNIMAR, com 14; FACASPER e PUCRS, com 13; ESPM e UFSM, com 12 e; UFF e UNICAMP, com 11 títulos de diferença.

Para a área de ciências sociais, o livro organizado é prática comum, derivado dos vários encontros e reuniões de trabalho que, ao final, levam à organização de livros contendo a compilação de textos dos principais pesquisadores e/ou convidados.

A Tabela 7 nos mostra a distribuição da produção de monografias, livros organizados e fontes referenciais por PPG/COM.

Com base nessa distribuição e classificação dos livros, verificou-se que a média de produção em livros por docentes é de 2,7 e a média de livros por PPG/COM é de 36,7. Já a média por PPG/COM/ano é de 3,67 livros e a média por pesquisador/ano é de 0,27 livros.

A Tabela 8 apresenta a distribuição dos livros publicados por tipologia e ano de publicação:

Analisando-se a produção anual de livros, os anos de 2007 e 2008 concentraram o maior número de publicações, com 169 e 200 publicações, respectivamente. A Figura 8 aponta que houve um crescimento de publicações do ano de 2000 até 2002, uma leve queda em 2003, novo crescimento a partir de 2004 até 2008 e outra queda em 2009. Essa baixa produtividade em 2009 pode ser explicada levando-se em conta o período da coleta para o estudo (entre o final de 2009 e início de 2010) e as atualizações curriculares de cada docente.


Durante a atividade de seleção e estabelecimento das categorias de livros foram detectadas algumas inconsistências no que se refere à padronização das referências disponibilizadas nos currículos dos docentes, como, por exemplo, local de publicação e editora, títulos incompletos e documentos não condizentes com a categoria "livro", demandando um tempo maior do que o previsto para a finalização da atividade.

4 Considerações finais

Obteve-se, no decorrer deste estudo, tanto uma panorâmica da produção nacional em termos de documentos e sua dispersão pelo território nacional, quanto em relação ao número de programas de pós-graduação, sua distribuição regional e por unidades da federação. Os dados armazenados e analisados no período vêm, a cada atividade finalizada, fornecendo a base fundamental para a continuidade da pesquisa, bem como os subsídios necessários ao projeto maior em que este se insere, qual seja, o METRICS.

Os resultados obtidos até o momento demonstram não só a concentração dos Programas de Pós-Graduação na região Sudeste, como também o maior número de docentes e de publicações nesta mesma região, com destaque para o estado de São Paulo, em detrimento, por exemplo, da região Norte do país, o que pode sugerir um maior direcionamento de recursos financeiros, humanos e de infraestrutura para os Programas de Pós-Graduação de ciências da comunicação localizados na região em questão. Tais constatações podem, por sua vez, fornecer elementos para um estudo futuro mais aprofundado acerca dessas diferenças regionais.

Em relação ao comportamento da produção científica, o estudo evidenciou que não existe diferença significativa nos resultados encontrados referentes à publicação de artigos (6520) e de livros/capítulos de livros (6407). Tal resultado corrobora com o estudo de Hicks (2005), evidenciando um equilíbrio na escolha da tipologia documental a ser utilizada para disseminação de resultados de pesquisa.

Entretanto, um ponto que chama e merece atenção é a falta de normalização e completude dos dados das referências bibliográficas, fator negativo, uma vez que dificulta o manuseio e filtragem dos dados, podendo levar a erros na tabulação destes e, obviamente, na definição de indicadores de qualidade e produção para a área. Outra constatação igualmente complexa quanto a resultados precisos de produção científica foi a existência de distintas tipos de documentos inseridos nas categorias de artigos e livros dos Currículo Lattes (por exemplo, editoriais, entrevistas, prefácio, resenhas, artigos de jornais e revistas não científicas, dentre outros).

Cabe salientar que, neste primeiro momento do estudo, foram analisados artigos publicados em revistas coordenadas por PPG/COM e livros, sempre de autores brasileiros, cobrindo o período de 2000 a 2009. Na próxima etapa da pesquisa será efetuado o estudo de citação desses livros e artigos aqui identificados visando verificar o cruzamento de citações entre eles. Isto é, busca-se mapear quais livros são citados nos artigos de revistas e quais revistas são citadas nos livros.

Desse modo, a continuidade do estudo e seus resultados poderão ainda servir de base para uma futura análise comparativa relacionada à produção científica tanto no interior da área como entre as diversas áreas do conhecimento. Permitirão ainda a prospecção de uma rede de relacionamentos dos pesquisadores intra e interprogramas, das tendências das pesquisas em Ciências da Comunicação.

Recebido em: 02/05/2011

Aceito em: 31/05/2011

Geni Aparecida Toffoli, Graduanda em Biblioteconomia e Documentação da ECA/ USP. Endereço para correspondência: Av. Prof. Luciano Gualberto, Trav. J, 374, 1º andar, Cid. Universitária, São Paulo, SP, Brasil. CEP: 05508-010. Endereço eletrônico: ge_born@yahoo.com.br

Sueli Mara Soares Pinto Ferreira, Professora da ECA/USP e Diretora do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP, Livre-Docente em Geração e Uso da Informação. Endereço para correspondência: Av. Prof. Luciano Gualberto, Trav. J, 374, 1º andar, Cid. Universitária, São Paulo, SP, Brasil. CEP: 05508-010. Endereço eletrônico: smferrei@usp.br

Referências bibliográficas

  • Cunha, M. B. da, & Cavalcanti, C. R. de O. (2008). Dicionário de biblioteconomia e arquivologia Brasília, DF: Briquet de Lermos.
  • Ferreira, S. M. S. P. (2010). Em busca de novas métricas de avaliaçăo da produçăo científica em cięncias da comunicaçăo. Observatório (OBS*) Journal, 4(1), 323- 348. Recuperado em 23 de maio de 2010, de http://www.obs.obercom.pt/ index.php/obs/article/viewArticle/322
  • Hicks, D. (2005). The four literatures of social sciences. Journal of Management and Social Sciences, 1(1), 1-20. Recuperado em 02 de novembro de 2009, de http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?ar ticle=1015& context=diana_hicks
  • Kobashi, N. Y., & Santos, R. N. M. (2006). Institucionalizaçăo da pesquisa científica no Brasil: cartografia temática e de redes sociais por meio de técnicas bibliométricas. Transinformaçăo, 18(1), 27-36. Recuperado em 07 de junho de 2010, de http://revistas.puc-campinas.edu.br/transinfo/viewarticle.php? id=144
  • Meadows, A. J. (1999). A comunicaçăo científica. Brasília, DF: Briquet de Lemos.
  • Mugnaini, R. (2006). Caminhos para a adequaçăo da produçăo científica brasileira: impacto nacional versus internacional Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduaçăo em Cięncia da Informaçăo, Escola de Comunicaçőes e Artes, Universidade de Săo Paulo, Săo Paulo. Recuperado em 05 de maio de 2010, de http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-11052007- 091052
  • Primo, A., & Stumpf, I. (2008). Análise de citaçőes dos trabalhos da Compós 2008. E-Compós, 11(3), Recuperado em 05 de maio de 2010, de http://www. compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/328/311
  • Romancini, R. (2006). O campo científico da comunicaçăo no Brasil: institucionalizaçăo e capital científico Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduaçăo em Cięncias da Comunicaçăo, Escola de Comunicaçőes e Artes, Universidade de Săo Paulo, Săo Paulo. Recuperado em 05 de maio de 2010, de http:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27152/tde-07052009-150949
  • Strehl, L. (2005). O fator de impacto do ISI e a avaliaçăo da produçăo científica: aspectos conceituais e metodológicos. Cięncia da Informaçăo, 34(1), 19-27. Recuperado em 23 de maio de 2010, de www.scielo.br/pdf/ci/v34n1/a03 v34n1.pdf
  • Vilhena, V., & Crestana, M. F. (2002). Produçăo científica: critérios de avaliaçăo de impacto. Revista da Associaçăo Médica Brasileira, 48(1), 20-21. Recuperado em 25 de maio de 2010, de http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S01044 2302002000100024&script=sci_arttext
  • 1
    Trabalho resultante das atividades de pesquisas junto ao Projeto METRICS - Métricas para a avaliação da produção científica em ciências sociais: em foco a área de Ciências da Comunicação brasileira, Processo FAPESP n. 2009/ 08808-1 e CNPq.
  • 2
    Bolsista de iniciação científica FAPESP junto ao projeto METRICS - Processo n. 2009/17709-7.
  • 3
    Indicadores de citação são construídos pela contagem do número de citações recebidas por uma publicação de artigo de periódico (Kobashi & Santos, 2006, p. 32).
  • 4
    O FI foi proposto por Eugene Garfield no início da década de 1960, no âmbito do Institute for Scientific Information (ISI), cujo conteúdo é disponibilizado nas bases de dados
    Science Citation Index (SCI),
    Social Science Citation Index (SSCI) e
    Arts and Humanities Citation Index (AHCI).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jul 2011
    • Data do Fascículo
      Jun 2011

    Histórico

    • Recebido
      02 Maio 2011
    • Aceito
      31 Maio 2011
    location_on
    Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revpsico@usp.br
    rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
    Acessibilidade / Reportar erro