Acessibilidade / Reportar erro

Desafios teórico-metodológicos na pesquisa em imagem corporal

Theoretical-methodological challenges in body image research

Défis théoriques et méthodologiques dans la recherche sur l’image corporelle

Desafíos teórico-metodológicos en la investigación de la imagen corporal

Resumo

Imagem corporal é um conceito plural e probabilístico que vem sendo investigado a partir de diversas perspectivas em uma literatura interdisciplinar. Este estudo defende que o histórico plural de definições e avaliações da imagem corporal contribuiu para a emergência de uma literatura científica sólida sobre o tema, com as divergências de definição não tendo impedido o desenvolvimento do diálogo sobre os métodos e modelos conceituais de investigação. Ademais, este texto aponta possíveis direcionamentos de integração da literatura de imagem corporal, tendo como base modelos teóricos de representação corporal e o avanço tecnológico na área. Uma das possibilidades para o avanço das pesquisas em imagem corporal envolve a especificação do conceito em diferentes níveis de evidência e/ou consciência relacionados à satisfação, percepção e atenção para corpos.

Palavras-chave:
imagem corporal; avaliação; conceitos

Abstract

Body image is a plural and probabilistic concept that has been investigated from different perspectives in an interdisciplinary literature. This study argues that the plural history of body image definitions and assessments contributed to the emergence of a solid scientific literature on the topic, without divergent definitions preventing the dialogue concerning methods and conceptual models of research. Additionally, it points out possible paths for integrating body image literature based on theoretical models of body representation and technological advances in the area. One possible path for advancing body image research involves specifying the concept at different levels of evidence and/or awareness related to satisfaction, perception and attention toward bodies.

Keywords:
body image; assessment; concepts

Résumé

L’image corporelle est un concept pluriel et probabiliste qui a été étudié sous différentes perspectives dans une littérature interdisciplinaire. Cette étude soutient que l’histoire plurielle des définitions et des évaluations de l’image corporelle a contribué à l’émergence d’une solide littérature scientifique sur le sujet, sans que des définitions divergentes n’empêchent le dialogue concernant les méthodes et les modèles conceptuels de la recherche. En outre, elle indique des voies possibles pour l’intégration de la littérature sur l’image corporelle, fondée sur des modèles théoriques de représentation du corps et des avancées technologiques dans ce domaine. L’une des voies possibles pour faire progresser la recherche sur l’image corporelle consiste à spécifier le concept à différents niveaux de preuve et/ou de conscience liés à la satisfaction, à la perception et à l’attention á l’égard des corps.

Mots-clés :
image corporelle; évaluation; concepts

Resumen

La imagen corporal es un concepto plural y probabilístico que ha sido investigado por diversas perspectivas en una literatura interdisciplinaria. Este estudio sostiene que la historia plural de definiciones y evaluación de la imagen corporal fue positiva para el surgimiento de una literatura científica sólida sobre el tema, y las divergencias de definición no impidieron el desarrollo de un diálogo sobre métodos y modelos conceptuales de investigación. Este estudio señala posibles direcciones para integrar la literatura sobre imagen corporal, con base en modelos teóricos de representación corporal y avances tecnológicos en el área. Una de las posibilidades para avanzar en la investigación de la imagen corporal pasa por especificar el concepto en diferentes niveles de evidencia y/o autoconciencia relacionados con la satisfacción, la percepción y la atención a los cuerpos.

Palabras clave:
imagen corporal; evaluación; conceptos

O crescimento, nos últimos 20 anos, do número de pesquisas sobre imagem corporal é incontestável (Kling et al., 2019Kling, J., Kwakkenbos, L., Diedrichs, P. C., Rumsey, N., Frisén, A., Brandão, M. P.,. . . Fitzgerald, A. (2019). Systematic review of body image measures. Body Image , 30, 170-211. doi: 10.1016/j.bodyim.2019.06.006
https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2019.06...
), com uma série de fatores parecendo serem responsáveis pelo fenômeno: questões como o aumento dos índices globais de obesidade e a valorização cultural de uma estética corporal magra parecem aliar-se a fatores endógenos do campo, como a melhor depuração conceitual e metodológica das pesquisas em imagem corporal. Nesse contexto, este artigo pretende abordar as origens plurais do conceito de imagem corporal e como as diferenças teórico-metodológicas presentes na literatura ajudaram, desde os primórdios, a desenvolver um campo fértil de investigações sobre o tema. Inicialmente, busca-se revisar o histórico plural de componentes conceituais que levaram às definições e formas de acesso da imagem corporal. Em seguida, apresentam-se as dificuldades da literatura em integrar os diferentes achados relacionados ao tema. Por fim, indicam-se possíveis direcionamentos de integração da literatura de imagem corporal a modelos teóricos de representação corporal.

Imagem corporal: conceitualização e avaliação

A imagem corporal tem sido estudada em um amplo escopo, da ciência básica à pesquisa aplicada, e de maneira interdisciplinar por um conjunto de diferentes campos científicos, como psicologia, medicina, antropologia e sociologia (Tylka, 2018Tylka, T. L. (2018). Overview of the field of positive body image. In E. A. Daniels, M. M. Gillen, & C. H. Markey (Eds.), Body positive: Understanding and improving body image in science and practice (pp. 6-33). Cambridge: Cambridge University Press.). Adotar uma perspectiva teórica unitária dentro da psicologia para a defesa ou sustentação do construto seria incompatível com a própria história plural de suas definições originais (Margolis & Laurence, 2014Margolis, E., & Laurence, S. (2014). Concepts. In E. N. Zalta & U. Nodelman (Eds.), The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2014 Edition). Recuperado de https://tinyurl.com/y2ktce2j (Publicado originalmente em 2005)
https://tinyurl.com/y2ktce2j...
). Em geral, na literatura contemporânea, a imagem corporal tem sido definida como o conjunto de percepções, pensamentos e sentimentos de uma pessoa em relação a seu próprio corpo (Cash & Pruzinsky, 2002Cash, T. F., & Pruzinsky, T. (Eds.). (2002). Body image: A handbook of theory, research, and clinical practice. Nova York: Guilford Press.). Essa definição é ampla, pois são reconhecidas as diferentes matrizes teóricas e os componentes conceituais que fundamentam a ideia de imagem corporal.

Na pesquisa científica moderna, os primeiros enunciados de imagem corporal remontam às décadas de 1920 e 1930 (Prince, 1923Prince, M. (1923). A case of complete loss of all sensory functions excepting hearing but including cœnesthesis and visual images of the body. The Journal of Abnormal Psychology and Social Psychology, 18(3), 238-243. doi: 10.1037/h0069347
https://doi.org/10.1037/h0069347...
; Schilder, 1934Schilder, P. (1934). The somato-psyche in psychiatry and social psychology. The Journal of Abnormal and Social Psychology, 29(3), 314-327. doi: 10.1037/h0075479
https://doi.org/10.1037/h0075479...
), mas os termos relacionados a sua definição introdutória têm sido investigados desde as décadas de 1900 e 1910 (Head & Holmes, 1911Head, H., & Holmes, G. (1911). Sensory disturbances from cerebral lesions. Brain, 34(2-3), 102-254. doi: 10.1093/brain/34.2-3.102
https://doi.org/10.1093/brain/34.2-3.102...
). Neste período, a ideia de imagem do corpo foi marcada pela influência de disciplinas como psicanálise, fenomenologia e neurologia (De Preester & Knockaert, 2005De Preester, H., & Knockaert, V. (Eds). (2005). Body image and body schema: Interdisciplinary perspectives on the body. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.). A própria definição do conceito, em sua origem, já indicava a integração dessas diferentes matrizes.

Na neurologia, por exemplo, a ideia de uma autopercepção do corpo foi associada ao senso de movimento autorreferido e ao senso de posição do corpo no espaço, no que era, e ainda é, investigado sob as denominações de esquema corporal e propriocepção (DeCastro & Gomes, 2017Castro, T. G., Pinhatti, M. M., & Rodrigues, R. M. (2017). Avaliação de imagem corporal em obesos no contexto cirúrgico de redução de peso: Revisão sistemática. Temas em Psicologia, 25(1), 53-65. doi: 10.9788/TP2017.1-04Pt
https://doi.org/10.9788/TP2017.1-04Pt...
). Originalmente concebido por Head e Holmes (1911Head, H., & Holmes, G. (1911). Sensory disturbances from cerebral lesions. Brain, 34(2-3), 102-254. doi: 10.1093/brain/34.2-3.102
https://doi.org/10.1093/brain/34.2-3.102...
) como esquema postural, o esquema corporal foi definido como uma representação espacial do corpo continuamente atualizada, sobre a qual geralmente não se tem experiência consciente. Nazareth e DeCastro (2021Nazareth, A. C. P., & DeCastro, T. G. (2021). Análise histórico-conceitual da imagem corporal em fontes científicas de psicologia (1900-1935). Psicologia em Estudo, 26, e47372. doi: 10.4025/psicolestud.v26i0.47372
https://doi.org/10.4025/psicolestud.v26i...
) mapearam a circulação desse tipo de marcador conceitual espaço-corporal associado às versões mais contemporâneas de imagem corporal em artigos e livros datados da primeira década do século XX (Baldwin, 1903Baldwin, J. M. (1903). Mind and body, from the genetic point of view. Psychological Review, 10(3), 225-247. doi: 10.1037/h0070757
https://doi.org/10.1037/h0070757...
; Gordy, 1902Gordy, J. P. (1902). New psychology. Nova York: Hinds & Noble.). Os autores identificaram a presença de componentes conceituais relacionados à autoconsciência, às teorias funcionalistas do self e à psicofísica do movimento corporal. As influências desses componentes conceituais da neurologia sobre a primeira definição psicológica de imagem corporal, na década de 1930, tem sido reconhecida na literatura especializada da área (de Vignemont, 2010de Vignemont, F. (2010). Body schema and body image - pros and cons. Neuropsychologia, 48(3), 669-680. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
https://doi.org/10.1016/j.neuropsycholog...
).

Na década de 1930, essa referência implícita a um esquema corporal foi indexada ao conceito de imagem corporal, tornando a definição uma referência mais explícita e autoconsciente aos esquemas representacionais do corpo. Schilder (1935/2000)Schilder, P. (2000). A imagem do corpo: As energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1935) definiu “o esquema corporal é a imagem tridimensional que todos têm de si mesmos. Podemos chamá-la de imagem corporal” (p. 7). Com essa versão de um processo autoconsciente e explícito, sem excluir seus componentes implícitos na formação da representação corporal, a ideia de imagem corporal foi popularizada. Vale destacar que Schilder desenvolveu o conceito em uma combinação entre a fenomenologia da experiência consciente sobre o próprio corpo e uma noção de persistência configuracional do esquema corporal, o que sinaliza a diversidade composicional do construto e a possibilidade de múltiplas formas de investigação deste. Como fator invariável na definição está a noção de que a imagem do corpo é uma forma de representação corporal. No entanto, a pluralidade de teorias e métodos, marca característica desse campo de investigação, sinalizou o desenvolvimento de um conceito altamente probabilístico e dependente de seu contexto de enunciação (De Preester & Knockaert, 2005De Preester, H., & Knockaert, V. (Eds). (2005). Body image and body schema: Interdisciplinary perspectives on the body. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.). Nesse sentido, o conceito de imagem corporal não tem uma origem pura ou totalmente original, pois é composto por outros marcadores conceituais que já circulavam na literatura antes da sua emergência, como é o caso do esquema corporal.

Conceitos probabilísticos são relativamente comuns na psicologia, como se pode observar em conceitos como o de autoconsciência (Morin, 2006Morin, A. (2006). Levels of consciousness and self-awareness: A comparison and integration of various neurocognitive views. Consciousness and Cognition, 15(2), 358-371. doi: 10.1016/j.concog.2005.09.006
https://doi.org/10.1016/j.concog.2005.09...
). A natureza probabilística de determinados conceitos tende a sinalizar a imaturidade de certas ideias e áreas de investigação em algumas comunidades científicas, que buscam um contínuo trabalho de depuração dos componentes conceituais a partir de investigações sistemáticas. Nesse sentido, a distribuição plural de significados não reflete um aspecto negativo da ciência que sustenta tais campos de investigação, e sim seu estágio de desenvolvimento. Por outro lado, a natureza da probabilidade conceitual pode também indicar um status de imprecisão ou fragmentação do campo, característico da ausência de compromisso ou verificação da clareza e correspondência entre construtos e ocorrência empírica de fenômenos. No caso da imagem corporal, a probabilidade do conceito parece estar vinculada à primeira descrição, de conceito em desenvolvimento, como se pode constatar pela profícua proposição de modelos conceituais sustentados empiricamente na literatura recente (Pitron & de Vignemont, 2017Pitron, V., & de Vignemont, F. (2017). Beyond differences between the body schema and the body image: Insights from body hallucinations. Consciousness and Cognition , 53, 115-121. doi: 10.1016/j.concog.2017.06.006
https://doi.org/10.1016/j.concog.2017.06...
; Pitron, Alsmith & de Vignemont, 2018Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08...
).

Um componente adicional à pluralidade do conceito de imagem corporal está nas formas distintas de mensuração do fenômeno. A avaliação empírica sistemática da imagem corporal teve seu início apenas no final da década de 1960, com as observações da psiquiatra Hilde Bruch (1904-1984) sobre seus pacientes diagnosticados com anorexia (Gardner, 2012Gardner, R. M. (2012). Measurement of perceptual body image. In T. F. Cash (Ed.), Encyclopedia of body image and human appearance (Vol. 2, pp. 526-532). Londres: Academic Press .). A partir das anotações de Bruch sobre a tendência de pacientes anoréxicos a superestimar sua forma corporal, pesquisadores desenvolveram técnicas para medir a distorção da percepção da imagem corporal, no que tem sido designado como dimensão perceptiva do construto. Entre as décadas de 1960 e 1970, as técnicas mais aplicadas no campo foram relacionadas à medição do ajuste da largura do corpo, usando dois pontos de luz ou paquímetros de madeira (Slade & Russel, 1973Slade, P. D., & Russell, G. F. (1973). Awareness of body dimensions in anorexia nervosa: Cross-sectional and longitudinal studies. Psychological Medicine, 3(2), 188-199. doi: 10.1017/S0033291700048510
https://doi.org/10.1017/S003329170004851...
), além de técnicas de marcação em papel (Askevold, 1975Askevold, F. (1975). Measuring body image: Preliminary report on a new method. Psychotherapy and Psychosomatics, 26(2), 71-77. doi: 10.1159/000286913
https://doi.org/10.1159/000286913...
) e espelhos distorcidos (Traub & Orbach, 1964Traub, A. C., & Orbach, J. (1964). Psychophysical studies of body-image. I. The adjustable body-distorting mirror. Archives of General Psychiatry, 11(1), 53-66. doi: 10.1001/archpsyc.1964.01720250055007
https://doi.org/10.1001/archpsyc.1964.01...
). No final desse período, a tecnologia permitiu o uso do sistema de vídeo televisivo para medir a estimativa do tamanho do corpo (Allebeck, Hallberg, & Espmark, 1976Allebeck, P., Hallberg, D., & Espmark, S. (1976). Body image: An apparatus for measuring disturbances in estimation of size and shape. Journal of Psychosomatic Research, 20(6), 583-589. doi: 10.1016/0022-3999(76)90060-X
https://doi.org/10.1016/0022-3999(76)900...
).

Entre as décadas de 1980 e 1990, os pesquisadores da área começaram a investigar outro aspecto do fenômeno, chamado de dimensão atitudinal da imagem corporal, que corresponderia ao nível de satisfação subjetiva geral dos sujeitos em relação a partes específicas de seu corpo (Cash, 2012Cash, T. F. (2012). Cognitive-behavioral perspectives on body image. In T. F. Cash (Ed.), Encyclopedia of body image and human appearance (Vol. 1, pp. 334-342). Londres: Academic Press.). Para avaliar tal dimensão, que inclui componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da imagem corporal, questionários de autorrelato foram desenvolvidos (Cooper, Taylor, Cooper, & Fairbum, 1987Cooper, P. J., Taylor, M. J., Cooper, Z., & Fairbum, C. G. (1987). The development and validation of the body shape questionnaire. International Journal of Eating Disorders, 6(4), 485-494. doi: 10.1002/1098-108X (198707)6:4<485::AIDEAT2260060405>3.0.CO;2-O
https://doi.org/10.1002/1098-108X (19870...
) juntamente com escalas de classificação de figuras de silhueta corporal (Stunkard, Sørensen, & Schulsinger, 1983Stunkard, A. J., Sørensen, T., & Schulsinger, F. (1983). Use of the Danish adoption register for the study of obesity and thinness. Research publications - Association for Research in Nervous and Mental Disease, 60, 115-120. Recuperado de https://tinyurl.com/2tann86u
https://tinyurl.com/2tann86u...
).

Ainda no período que abrange as décadas de 1980 e 1990, a investigação da imagem corporal foi orientada pela literatura de distúrbios de representação corporal, que inclui pesquisas do campo neurológico e investigações psiquiátricas (de Vignemont, 2010de Vignemont, F. (2010). Body schema and body image - pros and cons. Neuropsychologia, 48(3), 669-680. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
https://doi.org/10.1016/j.neuropsycholog...
). No entanto, os instrumentos de investigação derivados estavam mais associados à literatura clínica da psicologia e da psiquiatria (Kling et al., 2019Kling, J., Kwakkenbos, L., Diedrichs, P. C., Rumsey, N., Frisén, A., Brandão, M. P.,. . . Fitzgerald, A. (2019). Systematic review of body image measures. Body Image , 30, 170-211. doi: 10.1016/j.bodyim.2019.06.006
https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2019.06...
). Embora o construto tenha sido um tópico de intenso debate entre literaturas de campos científicos distintos, poucas interações acadêmicas que gerassem ganho metodológico e teórico ocorreram nesse período. O resultado observado foi um corpo de evidências fragmentado, com dificuldades de integração conceitual e baixa replicabilidade de resultados.

Um exemplo dessa fragmentação e dificuldade de integração conceitual foi observado na distinção entre distúrbios do esquema corporal, listados na literatura de neurociências, e perturbações da imagem corporal, visualizadas na literatura de psiquiatria (Denes, 1990Denes, G. (1990). Disorders of body awareness and body knowledge. In F. Boller & J. Grafman (Eds.), Handbook of neuropsychology. Volume 2: Memory and its disorders (pp. 207-228). Amsterdam: Elsevier.). Essa divisão originou duas classes diferentes de avaliação de imagem corporal (Longo & Haggard, 2012Longo, M. R., & Haggard, P. (2012). Implicit body representations and the conscious body image. Acta Psychologica , 141(2), 164-168. doi: 10.1016/j.actpsy.2012.07.015
https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2012.07...
): de um lado, uma classe acessou a comparação do tamanho ou forma de uma parte do corpo com algum padrão não-físico, como registrado em técnicas de paquímetro móvel e estimativas de tamanho visual e representação espacial e marcação de imagem. De outro, acessou-se a comparação do corpo real com uma figura corporal semelhante, como registrado em métodos de distorção no espelho, fotografia distorcida e comparação de figuras de silhueta corporal. Mesmo representando conceitos distintos, a literatura de imagem corporal passou a se referir a esse conjunto de técnicas como formas de acesso ao construto. Em outras palavras, a investigação do esquema corporal foi reconhecida como parte da pesquisa em imagem corporal, mas seus modelos de conceitualização e operacionalização nas neurociências não foram adequadamente contemplados nessa indexação.

As duas classes de avaliação referidas remetem a métodos métricos e representativos da pesquisa em imagem corporal, que parecem avaliar o mesmo construto, mas na verdade estão avaliando dimensões distintas da representação corporal. Enquanto os métodos métricos, menos utilizados, envolvem representações corporais implícitas do processamento somatossensorial, os métodos representativos, mais populares, estão relacionados à imagem corporal autoconsciente (Longo & Haggard, 2012Longo, M. R., & Haggard, P. (2012). Implicit body representations and the conscious body image. Acta Psychologica , 141(2), 164-168. doi: 10.1016/j.actpsy.2012.07.015
https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2012.07...
). A Figura 1 apresenta um diagrama esquemático da trajetória das medidas aplicadas na avaliação de imagem corporal nos últimos 50 anos.

Figura 1
Trajetória da avaliação da imagem corporal com exemplos de referência.

Mesmo com o avanço tecnológico e a consequente ampliação de possibilidades de avaliação da imagem corporal, permanecem dúvidas se as evidências encontradas têm permitido um avanço significativo na conceitualização do tema e uma redução de sua variabilidade conceitual. Há, ainda, uma incerteza sobre se os avanços metodológicos observados recentemente admitem a produção de evidências mais consistentes e replicáveis em relação às técnicas iniciais de avaliação da imagem corporal. Outra questão é se o construto imagem corporal pode subsistir na literatura sem um teste de hipótese orientado para modelos mais amplos de representação corporal, que envolvam outras variáveis para além da imagem corporal.

Desafios na integração de evidências na pesquisa de imagem corporal

A evolução das pesquisas nesse campo foi marcada por uma ampla adesão a ferramentas tecnológicas de manipulação de imagens de corpos, no caso de métodos representativos, e pelo aumento do uso de paradigmas experimentais, no caso de métodos métricos. De maneira geral, observou-se melhora na qualidade geral das imagens dos estímulos de corpos pelo uso de computação gráfica de alta resolução (CGI), tendo como justificativa a ampliação da validade ecológica e o rigor científico dessas pesquisas (Fuentes, Longo, & Haggard, 2013Fuentes, C. T., Longo, M. R., & Haggard, P. (2013). Body image distortions in healthy adults. Acta Psychologica, 144(2), 344-351. doi: 10.1016/j.actpsy.2013.06.012
https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2013.06...
; Mölbert et al., 2017Mölbert, S. C., Klein, L., Thaler, A., Mohler, B. J., Brozzo, C., Martus, P.,. . . Giel, K. E. (2017). Depictive and metric body size estimation in anorexia nervosa and bulimia nervosa: A systematic review and meta-analysis. Clinical Psychology Review , 57, 21-31. doi: 10.1016/j.cpr.2017.08.005
https://doi.org/10.1016/j.cpr.2017.08.00...
).

Contudo, o uso de tecnologias mais avançadas não representa a maioria das pesquisas sobre imagem corporal, como indicam revisões prévias sobre a aplicação de instrumentos e softwares de manipulação corporal na área (Castro, Pinhatti, & Rodrigues, 2017Castro, T. G., Pinhatti, M. M., & Rodrigues, R. M. (2017). Avaliação de imagem corporal em obesos no contexto cirúrgico de redução de peso: Revisão sistemática. Temas em Psicologia, 25(1), 53-65. doi: 10.9788/TP2017.1-04Pt
https://doi.org/10.9788/TP2017.1-04Pt...
; Pinhatti, Guerin, & Castro, 2021Pinhatti, M. M., Guerin, K. S. A., & DeCastro, T. G. (2021). Body image software programs: A comprehensive literature review. Universitas Psychologica, 20, 1-16. doi: 10.11144/Javeriana.upsy20.bisp
https://doi.org/10.11144/Javeriana.upsy2...
). A maior parte das pesquisas aplica medidas psicométricas de autorrelato e escalas de figuras de silhuetas para acessar o fenômeno. Enquanto isso, pesquisas que aplicam tecnologias mais sofisticadas com métodos representacionais ficaram mais restritas aos artigos de divulgação da técnica, que não tem sido amplamente reutilizada em outras pesquisas. As explicações para esse fenômeno incluem a relação da literatura de imagem corporal com campos de investigação tradicionalmente mais clínicos e descritivos e menos experimentais e de pesquisa básica, além dos custos para formação e aquisição de tecnologias mais onerosas.

A partir dos anos 2000, buscando ampliar a consistência dos achados e a replicabilidade dos estudos, a literatura clínica em imagem corporal passou a incluir evidências de correlatos de atenção para corpos à medidas psicométricas de imagem corporal. Tal medida envolveu a adesão a paradigmas experimentais de acesso direto e indireto da atenção para corpos. No entanto, a adesão a esses métodos não previu uma revisão no modelo de conceitualização de imagem corporal, que seguiu sendo pautado pela distinção atitudinal versus perceptivo em um nível de consciência explícita corporal. Nessa medida, os componentes implícitos de consciência corporal, previstos na literatura inicial de imagem corporal, continuaram sendo coadjuvantes da produção de evidências no campo.

A pesquisa experimental com viés de atenção para corpos tem focado na investigação de mecanismos de processamento atencional sobre aspectos prioritariamente emocionais da imagem corporal. Nessa linha, são interesses da operacionalização conceitual da atenção a investigação de vieses de engajamento e desengajamento atencional para corpos em diferentes estágios de processamento cognitivo. De acordo com essa visão, vieses no processamento de atenção para corpos subjazem a etiologia e a manutenção de distúrbios associados à insatisfação com a imagem corporal (Gao, Wang, Chen, Wang, & Zhao, 2012Gao, X., Wang, Q.-C., Chen, H., Wang, B.-Y., & Zhao, G. (2012). Time course of attentional bias components toward body-shape related pictures among women with fat negative physical self: An eye movement study. Acta Psychologica Sinica, 44(4), 498-510. doi: 10.3724/SP.J.1041.2012.00498
https://doi.org/10.3724/SP.J.1041.2012.0...
; Williamson, White, York-Crowe, & Stewart, 2004Williamson, D. A., White, M. A., York-Crowe, E., & Stewart, T. M. (2004). Cognitive-behavioral theories of eating disorders. Behavior Modification, 28(6), 711-738. doi: 10.1177/0145445503259853
https://doi.org/10.1177/0145445503259853...
).

Apesar da variabilidade de métodos, as pesquisas experimentais têm se dividido, de forma geral, em duas abordagens principais: a primeira utiliza paradigmas que examinam a ocorrência de atenção preferencial de indivíduos com insatisfação de imagem corporal a informações relacionadas ao corpo. Essa literatura tem como exemplos a tarefa Stroop modificada (Williams, Mathews, & MacLeod, 1996Williams, J. M. G., Mathews, A., & MacLeod, C. (1996). The emotional Stroop task and psychopathology. Psychological Bulletin, 120(1), 3-24. doi: 10.1037/0033-2909.120.1.3
https://doi.org/10.1037/0033-2909.120.1....
), a tarefa Dot-Probe (MacLeod, Mathews, & Tata, 1986MacLeod, C., Mathews, A., & Tata, P. (1986). Attentional bias in emotional disorders. Journal of Abnormal Psychology, 95(1), 15-20. doi: 10.1037/0021-843X.95.1.15
https://doi.org/10.1037/0021-843X.95.1.1...
) e a tarefa de pesquisa visual (Hollitt, Kemps, Tiggemann, Smeets, & Mills, 2010Hollitt, S., Kemps, E., Tiggemann, M., Smeets, E., & Mills, J. S. (2010). Components of attentional bias for food cues among restrained eaters. Appetite, 54(2), 309-313. doi: 10.1016/j.appet.2009.12.005
https://doi.org/10.1016/j.appet.2009.12....
). Já a segunda abordagem busca investigar padrões atencionais voltados para imagens do próprio corpo ou do corpo de outras pessoas, empregando técnicas de rastreio ocular (eye-tracking).

Mesmo aplicando técnicas diferentes, ambas abordagens investigam elementos visuais representativos de categorias semânticas (corpos). Similarmente aos métodos pictográficos representativos de figuras de silhueta, essas abordagens permitem uma avaliação de insatisfação da imagem corporal pela visualização de imagens de corpos. No entanto, se diferenciam em relação a literatura de métodos pictográficos de imagem corporal quanto ao indexador objetivo que permite aferir essa insatisfação corporal.

A pesquisa de paradigmas atencionais para corpos faz uso dos tempos de reação dos sujeitos para inferir o estágio de processamento atencional em que evidências diferenciais das respostas ocorrem. Nesse caso, para evidenciar respostas diferenciais, os paradigmas comparam reações a diferentes conjuntos de estímulos visuais em um mesmo fluxo controlado de exposição visual (corpos vs. utensílios domésticos, diferentes tamanhos de corpos, etc.). Trata-se de um correlato atencional indireto de imagem corporal, pois a variável operacionalizada é retirada de cômputos baseados nos tempos de reação dos participantes (Jiang & Vartanian, 2018Jiang, M. Y. W., &Vartanian, L. R. (2018). A review of existing measures of attentional biases in body image and eating disorders research. Australian Journal of Psychology, 70, 3-17. doi: 10.1111/ajpy.12161
https://doi.org/10.1111/ajpy.12161...
).

Por outro lado, a literatura de rastreio ocular mensura o tempo e a concentração espacial de visualização direta sobre os objetos corporais. A mensuração da atenção é direta e indica o padrão dinâmico e atual de relação entre os movimentos oculares e as possíveis áreas de visualização dos corpos. Trata-se de um correlato atencional direto de imagem corporal, pois em sua especificação conceitual indica a atenção como o processo primário sob investigação. Já as medidas clínicas tradicionais de imagem corporal, que aplicam métodos representativos, indicam evidências diretas de insatisfação de imagem corporal por métodos de autocomparação entre a experiência do próprio corpo e a imagem visualizada de si ou de outros corpos.

Críticas indicam interpretações ambíguas dos dados quando os paradigmas de atenção com tempo de reação são considerados (Jiang & Vartanian, 2018Jiang, M. Y. W., &Vartanian, L. R. (2018). A review of existing measures of attentional biases in body image and eating disorders research. Australian Journal of Psychology, 70, 3-17. doi: 10.1111/ajpy.12161
https://doi.org/10.1111/ajpy.12161...
). Os pesquisadores do campo indicam que não é possível saber com precisão se respostas mais rápidas a estímulos corporais refletem um engajamento atencional por preferência ou uma evitação por meio de aversão emocional ao estímulo apresentado. Também pode-se supor que respostas mais lentas aos estímulos corporais refletiriam maior envolvimento atencional com a pista anterior ao estímulo representado (Thigpen, Gruss, Garcia, Herring, & Keil, 2018Thigpen, N. N., Gruss, L. F., Garcia, S., Herring, D. R., & Keil, A. (2018). What does the dot-probe task measure? A reverse correlation analysis of electrocortical activity. Psychophysiology, 55(6), e13058. doi: 10.1111/psyp.13058
https://doi.org/10.1111/psyp.13058...
). Além da ambiguidade nas análises dos resultados, as evidências têm se mostrado inconclusivas na investigação da relação entre viés atencional e insatisfação corporal, por exemplo (Dobson & Dozois, 2004Dobson, K. S., & Dozois, D. J. A. (2004). Attentional biases in eating disorders: A meta-analytic review of Stroop performance. Clinical Psychology Review, 23(8), 1001-1022. doi: 10.1016/j.cpr.2003.09.004
https://doi.org/10.1016/j.cpr.2003.09.00...
; Jiang & Vartanian, 2018Jiang, M. Y. W., &Vartanian, L. R. (2018). A review of existing measures of attentional biases in body image and eating disorders research. Australian Journal of Psychology, 70, 3-17. doi: 10.1111/ajpy.12161
https://doi.org/10.1111/ajpy.12161...
). Essas incongruências também podem ocorrer devido a um equívoco em relação à transposição de paradigmas experimentais que originalmente utilizam imagens com valências emocionais fortes para a pesquisa de imagem corporal. É possível que as imagens de corpos utilizadas em estudos sobre insatisfação corporal não apresentem valência emocional suficiente para gerar algum efeito de ativação emocional da forma como o paradigma original de viés de atenção propõe. Mesmo assim, os resultados divergentes parecem estar condicionados aos diferentes grupos pesquisados e ao emprego de diferentes paradigmas experimentais de viés de atenção.

Em função dos resultados conflitantes entre os paradigmas de viés atencional, os rastreadores de movimentos oculares se apresentaram como uma alternativa para a investigação de vieses atencionais para corpos. Sua vantagem seria a capacidade de observar diretamente os parâmetros do olhar durante a apresentação dos estímulos (Horndasch et al., 2012Horndasch, S., Kratz, O., Holczinger, A., Heinrich, H., Hönig, F., Nöth, E., & Moll, G. H. (2012). “Looks do matter” - visual attentional biases in adolescent girls with eating disorders viewing body images. Psychiatry Research, 198(2), 321-323. doi: 10.1016/j.psychres.2011.12.029
https://doi.org/10.1016/j.psychres.2011....
; Kollei, Horndasch, Erim, & Martin, 2017Kollei, I., Horndasch, S., Erim, Y, & Martin, A. (2017). Visual selective attention in body dysmorphic disorder, bulimia nervosa and healthy controls. Journal of Psychosomatic Research , 92, 26-33. doi: 10.1016/j.jpsychores.2016.11.008
https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.201...
). De maneira geral, os estudos com rastreadores de movimentos oculares buscam identificar padrões de atenção relacionados à insatisfação com o corpo. Algumas evidências indicam que indivíduos com maiores índices de insatisfação corporal mantêm o foco atencional visual por mais tempo em figuras de corpos consideradas ideais (Cho & Lee, 2013Cho, A., & Lee, J.-H. (2013). Body dissatisfaction levels and gender differences in attentional biases toward idealized bodies. Body Image, 10(1), 95-102. doi: 10.1016/j.bodyim.2012.09.005
https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2012.09...
; Dondzilo, Rieger, Palermo, Byrne, & Bell, 2017Dondzilo, L., Rieger, E., Palermo, R., Byrne, S., & Bell, J. (2017). The mediating role of rumination in the relation between attentional bias towards thin female bodies and eating disorder symptomatology. PLoS One , 12(5), e0177870. doi: 10.1371/journal.pone.0177870
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
; Misener & Libben, 2020Misener, K., & Libben, M. (2020). Examination of the relationship between attentional biases and body dissatisfaction: An eye-tracking study. Cognitive Therapy and Research, 44, 581-595. doi: 10.1007/s10608-020-10084-6
https://doi.org/10.1007/s10608-020-10084...
). Simultaneamente, outras pesquisas revelam padrões de evitação visual para corpos idealizados entre indivíduos com elevada insatisfação corporal (Janelle, Hausenblas, Fallon, & Gardner, 2003Janelle, C. M., Hausenblas, H. A., Fallon, E. A., & Gardner, R. E. (2003). A visual search examination of attentional biases among individuals with high and low drive for thinness. Eating and Weight Disorders, 8, 138-144. doi: 10.1007/BF03325003
https://doi.org/10.1007/BF03325003...
; Warschburger, Calvano, Richter, & Engbert, 2015Warschburger, P., Calvano, C., Richter, E. M., & Engbert, R. (2015). Analysis of attentional bias towards attractive and unattractive body regions among overweight males and females: An eye-movement study. PLoS One , 10(10), e0140813. doi: 10.1371/journal.pone.0140813
https://doi.org/10.1371/journal.pone.014...
).

De modo semelhante aos estudos com tempo de reação, os resultados de pesquisas que aplicam eye-tracking têm sido frequentemente contraditórios. Jiang e Vartanian (2018Jiang, M. Y. W., &Vartanian, L. R. (2018). A review of existing measures of attentional biases in body image and eating disorders research. Australian Journal of Psychology, 70, 3-17. doi: 10.1111/ajpy.12161
https://doi.org/10.1111/ajpy.12161...
) sugerem que o uso combinado de medidas de tempo de reação e tecnologia de eye-tracking podem identificar o mecanismo atencional específico e reduzir as confusões subjacentes às divergências. Já outros autores entendem que essas discrepâncias podem ser explicadas pela grande amplitude de variações na apresentação de estímulos visuais de imagens relacionadas ao corpo, sugerindo que se tenha cautela ao empregar estímulos de computação gráfica em pesquisas experimentais de atenção em imagem corporal (Alexi et al., 2019Alexi, J., Dommisse, K., Cleary, D., Palermo, R., Kloth, N., & Bell, J. (2019). An assessment of computer-generated stimuli for use in studies of body size estimation and bias. Frontiers in Psychology, 10, 2390. doi: 10.3389/fpsyg.2019.02390
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.02390...
; Cass, Giltrap, & Talbot, 2020Cass, J., Giltrap, G., & Talbot, D. (2020). Female body dissatisfaction and attentional bias to body images evaluated using visual search. Frontiers in Psychology , 10, 2821. doi: 10.3389/fpsyg.2019.02821
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.02821...
).

Uma característica em comum entre as diversas pesquisas que investigam os correlatos atencionais é que uma parcela significativa dos estudos experimentais se concentra apenas na insatisfação corporal, não avaliando a dimensão perceptiva da imagem corporal na representação implícita de corpos. Tal dimensão teria relevância no processamento atencional, pois um viés seletivo de detecção de formas corporais com maior facilidade, comparativamente a outros objetos, já seria detectado em intervalos de exposição visual em que o processamento atencional é automático (Nazareth, Escobar, & DeCastro, 2020Nazareth, A. C. P., Escobar, V. S., & DeCastro, T. G. (2020). Body size judgments at 17 ms: Evidence from perceptual and attitudinal body image indexes. Frontiers in Psychology , 10, 3018. doi: 10.3389/fpsyg.2019.03018
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.03018...
). Essa evidência sugere que o processamento atencional de estímulos relacionados ao corpo ocorre em níveis iniciais do processamento visual, referindo possivelmente um modelo interno de representação ou esquema corporal, como aludido nas versões conceituais originais dessa literatura. Nessa direção, a distinção usual entre as dimensões atitudinal e perceptiva, proposta pela literatura de imagem corporal, não parece ser suficiente para abarcar conceitual e metodologicamente o processamento de representações corporais em níveis implícitos e explícitos de cognição.

Mesmo referindo um avanço metodológico nas pesquisas de imagem corporal, a indexação de correlatos atencionais não parece ter resolvido a inconsistência dos achados na literatura da área. Uma das principais explicações para esse desfecho é a falta de regramento no tipo de estímulo utilizado entre as diferentes pesquisas experimentais sobre o tema, assim como a variabilidade amostral que inclui não apenas elementos relativos ao índice de massa corporal variado como também diferentes culturas sob investigação. Outra razão parece ser a ausência de parâmetros conceituais claros nessas pesquisas, aliada à falta de hipóteses conceituais sobre representação corporal que embasem as definições de imagem corporal.

Modelos de representação corporal: integração de variáveis

O conhecimento sobre como o corpo é usado, sua postura, seu tamanho, sua forma e sua composição física são fundamentais para interpretar e reagir às informações que constantemente compõem a interação com o mundo (D’Amour & Harris, 2017D’Amour, S., & Harris, L. R. (2017). Perceived face size in healthy adults. PLoS One, 12(5), e0177349. doi: 10.1371/journal.pone.0177349
https://doi.org/10.1371/journal.pone.017...
). A relação entre essas variáveis corporais caracteriza o que se denomina como o campo das representações corporais (Harris et al., 2015Harris, L. R., Carnevale, M. J., D’Amour, S., Fraser, L. E., Harrar, V., Hoover, A. E. N.,. . . Pritchett, L. M. (2015). How our body influences our perception of the world. Frontiers in Psychology , 6, 819. doi: 10.3389/fpsyg.2015.00819
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2015.00819...
). Nesse espectro, as pesquisas envolvem desde a conceitualização de características dinâmicas da interação do corpo com seu ambiente, como a percepção de movimento, até os esquemas representacionais desenvolvidos ao longo da vida, como o esquema corporal e a imagem corporal.

Paralelamente à literatura clínica da imagem corporal, uma série de experimentos em representação corporal começou a ser publicada a partir de meados dos anos 2000 nas literaturas de neurociências cognitivas e psicologia experimental. Esses experimentos, em sua variabilidade, inicialmente buscaram acessar as dimensões cognitivas e fenomênicas associadas aos erros perceptivos e de julgamento do tamanho corporal em amostras clínicas e não clínicas (Brooks, Bell, Boothroyd, & Stephen, 2021Brooks, K. R., Bell, J., Boothroyd, L. G., & Stephen, I. D. (2021). Experimental approaches to body image, representation and perception [Editorial]. Frontiers in Psychology , 12, 809385. doi: 10.3389/fpsyg.2021.809385
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.80938...
; Longo, 2017Longo, M. R. (2017). Distorted body representations in healthy cognition. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 70(3), 378-388. doi: 10.1080/17470218.2016.1143956
https://doi.org/10.1080/17470218.2016.11...
). Diferentemente da literatura de indicadores de atitude e percepção de imagem corporal, característicos da pesquisa clínica, esse ramo partiu de modelos de integração representacional corporal fundamentados em neurociência, nos quais a divisão conceitual mais válida é a que diferencia esquema de imagem corporal. Nessa direção, modelos teóricos de representação corporal passaram a indexar a literatura de imagem corporal a um maior escopo conceitual do que os previstos no campo instrumental do construto (Pitron et al., 2018Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08...
).

Apesar da aparente distinção conceitual entre uma representação corporal mais implícita, associada ao esquema corporal, e uma imagem corporal consciente e explícita, debates recentes levantaram a questão da relação entre os dois conceitos (Pitron & de Vignemont, 2017Pitron, V., & de Vignemont, F. (2017). Beyond differences between the body schema and the body image: Insights from body hallucinations. Consciousness and Cognition , 53, 115-121. doi: 10.1016/j.concog.2017.06.006
https://doi.org/10.1016/j.concog.2017.06...
; Gadsby, 2018Gadsby, S. (2018). How are the spatial characteristics of the body represented? A reply to Pitron & de Vignemont. Consciousness and Cognition, 62, 163-168. doi: 10.1016/j.concog.2018.04.011
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.04...
; Pitron et al., 2018Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08...
). As principais perguntas apresentadas são: “até que ponto o esquema corporal e a imagem corporal se comunicam?”; e “eles estão de alguma forma se remodelando ou, pelo contrário, são relativamente independentes?”. de Vignemont (2010)de Vignemont, F. (2010). Body schema and body image - pros and cons. Neuropsychologia, 48(3), 669-680. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
https://doi.org/10.1016/j.neuropsycholog...
sugeriu que uma das dificuldades encontradas na investigação de ambos os conceitos é o pouco acordo sobre a definição das próprias noções, propondo que um modelo mais dinâmico, baseado em mecanismos de integração multimodal bayesiana, seja preferencial no teste de hipóteses de representação corporal integrada.

O modelo sugerido por de Vignemont (2010de Vignemont, F. (2010). Body schema and body image - pros and cons. Neuropsychologia, 48(3), 669-680. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
https://doi.org/10.1016/j.neuropsycholog...
) foi aprimorado na última década e sugere que as representações do esquema corporal e da imagem corporal são maleáveis, apesar de representarem propriedades de longo prazo do corpo, que podem se modificar. Pitron et al. (2018Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08...
) chamaram essa visão de modelo de co-construção, segundo o qual o esquema e a imagem corporal são funcionalmente distintos, mas sua construção é parcialmente baseada em suas interações. Além disso, os autores defendem um modelo serial no qual o esquema corporal tem alguma primazia sobre a imagem corporal. Ou seja, o esquema do corpo é construído primeiro, com base em sinais multissensoriais e conhecimentos prévios, incluindo a especialização motora. Uma vez construído, o esquema do corpo pode funcionar como um precedente para a construção da imagem corporal. Portanto, o esquema corporal é apenas um anterior, entre outros, sobre o qual a imagem corporal é construída. Embora os pesquisadores afirmem que seja difícil resolver o debate no nível das evidências empíricas, eles acreditam que existem razões conceituais para pensar que as representações corporais são co-construídas e separadas, ao invés de totalmente independentes ou mescladas, conforme definido em modelos conceituais prévios de representação corporal (Gadsby, 2018Gadsby, S. (2018). How are the spatial characteristics of the body represented? A reply to Pitron & de Vignemont. Consciousness and Cognition, 62, 163-168. doi: 10.1016/j.concog.2018.04.011
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.04...
; Pitron et al., 2018Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08...
; Pitron & de Vignemont, 2017Pitron, V., & de Vignemont, F. (2017). Beyond differences between the body schema and the body image: Insights from body hallucinations. Consciousness and Cognition , 53, 115-121. doi: 10.1016/j.concog.2017.06.006
https://doi.org/10.1016/j.concog.2017.06...
).

Considerando a natureza implícita do esquema corporal, como definida desde sua primeira versão moderna (Head & Homes, 1911Head, H., & Holmes, G. (1911). Sensory disturbances from cerebral lesions. Brain, 34(2-3), 102-254. doi: 10.1093/brain/34.2-3.102
https://doi.org/10.1093/brain/34.2-3.102...
), pesquisas baseadas exclusivamente na imagem corporal consciente não teriam capacidade conceitual suficiente para manejar adequadamente as associações teóricas entre imagem e esquema. Essa lacuna empírico-teórica vem sendo endereçada com o crescente uso de abordagens experimentais na pesquisa de imagem corporal, o que indica a importância de processos automáticos, implícitos e motores na definição de uma representação corporal consciente (Keizer et al., 2013Keizer, A., Smeets, M. A. M., Dijkerman, H. C., Uzunbajakau, S. A., van Elburg, A., & Postma, A. (2013). Too fat to fit through the door: First evidence for disturbed body-scaled action in anorexia nervosa during locomotion. PLoS ONE, 8(5), e64602. doi: 10.1371/journal.pone.0064602
https://doi.org/10.1371/journal.pone.006...
; Longo & Haggard, 2012Longo, M. R., & Haggard, P. (2012). Implicit body representations and the conscious body image. Acta Psychologica , 141(2), 164-168. doi: 10.1016/j.actpsy.2012.07.015
https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2012.07...
).

Considerações finais

Este artigo abordou desafios nos âmbitos conceitual e metodológico do construto de imagem corporal. Apesar da existência de investigações sobre esse construto desde o início do século XX, sua especificação conceitual não evoluiu para uma homogeneidade na literatura recente. A conceitualização foi afetada pela natureza interdisciplinar do fenômeno e pela produção de inúmeros instrumentos almejando avaliar a imagem corporal. Esta avaliação passou por uma divisão de literaturas, especialmente oriundas da psiquiatria e das neurociências, sendo que a falta de integração dos resultados contribuiu para a manutenção de definições distintas do conceito e desentendimentos acerca de seu papel em modelos integrativos de representação corporal.

Uma parte das dúvidas relacionadas à especificação conceitual de imagem corporal está nas divisões perceptivo vs. atitudinal, proposta pela literatura clínica do campo, e implícito vs. explícito, relacionada à origem do conceito e mantida pela literatura de neurociências cognitivas. No exame da dispersão das pesquisas, verificou-se que a divisão perceptivo vs. atitudinal é prioritariamente investigada a partir de medidas explícitas de imagem corporal, o que significa que boa parte das conclusões na área ancora o conceito a um processo consciente, autolimitado à própria experiência, e sem uma análise de sua constituição de longo prazo. Nessa direção, os constituintes implícitos do conceito inicial, que remetiam às propriedades de postura corporal dinâmica no espaço, são referidos a outras literaturas de representação corporal, como a pesquisa de esquema corporal, senso de agência e cinestesia.

No entanto, como observado na literatura de correlatos atencionais para corpos, seria possível avaliar as propriedades perceptivas e atitudinais explícitas da imagem corporal em conjunto com processamentos implícitos de atenção para corpos, não necessariamente do campo do esquema corporal, por exemplo. Isso significa que a literatura pode progredir por dois caminhos: um que integre o conceito aos modelos de construção de representação corporal, envolvendo teste de hipótese da direcionalidade da relação entre esquema e imagem corporal, e outra que derive a especificação conceitual da imagem corporal da integração de diferentes índices de evidência relacionados à satisfação, percepção e atenção para corpos em níveis explícito e implícito, por exemplo. Essas linhas de investigação não são oponentes, pois uma qualificação das evidências entre as dimensões atitudinais/perceptivas e os indicadores implícitos de atenção para corpos poderia impactar em um melhor teste de hipóteses de modelos de representação corporal.

O status probabilístico do conceito é justificado pelas diferentes literaturas e tradições de investigação relacionadas ao termo imagem corporal. Ainda que a imagem corporal inclua um processo dinâmico de longo prazo, associado ao desenvolvimento do sistema cognitivo e com múltiplos desafios de mensuração, nenhum desses fatores impede que seja realizada a especificação operacional clara do que se investiga nessas pesquisas. Assim, as pesquisas da área devem localizar a referência de conceitualização de imagem corporal e torná-la explícita em sua comunicação na literatura.

Referências

  • Alexi, J., Dommisse, K., Cleary, D., Palermo, R., Kloth, N., & Bell, J. (2019). An assessment of computer-generated stimuli for use in studies of body size estimation and bias. Frontiers in Psychology, 10, 2390. doi: 10.3389/fpsyg.2019.02390
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.02390
  • Allebeck, P., Hallberg, D., & Espmark, S. (1976). Body image: An apparatus for measuring disturbances in estimation of size and shape. Journal of Psychosomatic Research, 20(6), 583-589. doi: 10.1016/0022-3999(76)90060-X
    » https://doi.org/10.1016/0022-3999(76)90060-X
  • Askevold, F. (1975). Measuring body image: Preliminary report on a new method. Psychotherapy and Psychosomatics, 26(2), 71-77. doi: 10.1159/000286913
    » https://doi.org/10.1159/000286913
  • Baldwin, J. M. (1903). Mind and body, from the genetic point of view. Psychological Review, 10(3), 225-247. doi: 10.1037/h0070757
    » https://doi.org/10.1037/h0070757
  • Brooks, K. R., Bell, J., Boothroyd, L. G., & Stephen, I. D. (2021). Experimental approaches to body image, representation and perception [Editorial]. Frontiers in Psychology , 12, 809385. doi: 10.3389/fpsyg.2021.809385
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2021.809385
  • Cash, T. F. (2012). Cognitive-behavioral perspectives on body image. In T. F. Cash (Ed.), Encyclopedia of body image and human appearance (Vol. 1, pp. 334-342). Londres: Academic Press.
  • Cash, T. F., & Pruzinsky, T. (Eds.). (2002). Body image: A handbook of theory, research, and clinical practice. Nova York: Guilford Press.
  • Cass, J., Giltrap, G., & Talbot, D. (2020). Female body dissatisfaction and attentional bias to body images evaluated using visual search. Frontiers in Psychology , 10, 2821. doi: 10.3389/fpsyg.2019.02821
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.02821
  • Castro, T. G., Pinhatti, M. M., & Rodrigues, R. M. (2017). Avaliação de imagem corporal em obesos no contexto cirúrgico de redução de peso: Revisão sistemática. Temas em Psicologia, 25(1), 53-65. doi: 10.9788/TP2017.1-04Pt
    » https://doi.org/10.9788/TP2017.1-04Pt
  • Cho, A., & Lee, J.-H. (2013). Body dissatisfaction levels and gender differences in attentional biases toward idealized bodies. Body Image, 10(1), 95-102. doi: 10.1016/j.bodyim.2012.09.005
    » https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2012.09.005
  • Cooper, P. J., Taylor, M. J., Cooper, Z., & Fairbum, C. G. (1987). The development and validation of the body shape questionnaire. International Journal of Eating Disorders, 6(4), 485-494. doi: 10.1002/1098-108X (198707)6:4<485::AIDEAT2260060405>3.0.CO;2-O
    » https://doi.org/10.1002/1098-108X (198707)6:4<485::AIDEAT2260060405>3.0.CO;2-O
  • D’Amour, S., & Harris, L. R. (2017). Perceived face size in healthy adults. PLoS One, 12(5), e0177349. doi: 10.1371/journal.pone.0177349
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0177349
  • DeCastro, T. G., & Gomes, W. B. (2017). Rubber hand illusion: Evidence for multisensory integration of proprioception. Avances en Psicología Latinoamericana, 35(2), 219-231. doi: 10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3430
    » https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.3430
  • Denes, G. (1990). Disorders of body awareness and body knowledge. In F. Boller & J. Grafman (Eds.), Handbook of neuropsychology. Volume 2: Memory and its disorders (pp. 207-228). Amsterdam: Elsevier.
  • De Preester, H., & Knockaert, V. (Eds). (2005). Body image and body schema: Interdisciplinary perspectives on the body. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.
  • de Vignemont, F. (2010). Body schema and body image - pros and cons. Neuropsychologia, 48(3), 669-680. doi: 10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
    » https://doi.org/10.1016/j.neuropsychologia.2009.09.022
  • Dobson, K. S., & Dozois, D. J. A. (2004). Attentional biases in eating disorders: A meta-analytic review of Stroop performance. Clinical Psychology Review, 23(8), 1001-1022. doi: 10.1016/j.cpr.2003.09.004
    » https://doi.org/10.1016/j.cpr.2003.09.004
  • Dondzilo, L., Rieger, E., Palermo, R., Byrne, S., & Bell, J. (2017). The mediating role of rumination in the relation between attentional bias towards thin female bodies and eating disorder symptomatology. PLoS One , 12(5), e0177870. doi: 10.1371/journal.pone.0177870
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0177870
  • Ferrer-García, M., & Gutiérrez-Maldonado, J. (2008). Body image assessment software: Psychometric data. Behavior Research Methods, 40(2), 394-407. doi: 10.3758/BRM.40.2.394
    » https://doi.org/10.3758/BRM.40.2.394
  • Fuentes, C. T., Longo, M. R., & Haggard, P. (2013). Body image distortions in healthy adults. Acta Psychologica, 144(2), 344-351. doi: 10.1016/j.actpsy.2013.06.012
    » https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2013.06.012
  • Gadsby, S. (2018). How are the spatial characteristics of the body represented? A reply to Pitron & de Vignemont. Consciousness and Cognition, 62, 163-168. doi: 10.1016/j.concog.2018.04.011
    » https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.04.011
  • Gao, X., Wang, Q.-C., Chen, H., Wang, B.-Y., & Zhao, G. (2012). Time course of attentional bias components toward body-shape related pictures among women with fat negative physical self: An eye movement study. Acta Psychologica Sinica, 44(4), 498-510. doi: 10.3724/SP.J.1041.2012.00498
    » https://doi.org/10.3724/SP.J.1041.2012.00498
  • Gardner, R. M. (2012). Measurement of perceptual body image. In T. F. Cash (Ed.), Encyclopedia of body image and human appearance (Vol. 2, pp. 526-532). Londres: Academic Press .
  • Gardner, R. M., & Boice, R. (2004). A computer program for measuring body size distortion and body dissatisfaction. Behavior research methods, instruments, & computers: a journal of the Psychonomic Society, 36(1), 89-95. doi: 10.3758/bf03195553
    » https://doi.org/10.3758/bf03195553
  • Gila, A., Castro, J., Toro, J., & Salamero, M. (1998). Subjective body-image dimensions in normal and anorexic adolescents. The British journal of medical psychology, 71(2), 175-184. doi: 10.1111/j.2044-8341.1998.tb01378.x
    » https://doi.org/10.1111/j.2044-8341.1998.tb01378.x
  • Glucksman, M. L., & Hirsch, J. (1969). The response of obese patients to weight reduction. Psychosomatic Medicine, 31(1), 1-7. doi: 10.1097/00006842-196901000-00001
    » https://doi.org/10.1097/00006842-196901000-00001
  • Gordy, J. P. (1902). New psychology. Nova York: Hinds & Noble.
  • Harris, L. R., Carnevale, M. J., D’Amour, S., Fraser, L. E., Harrar, V., Hoover, A. E. N.,. . . Pritchett, L. M. (2015). How our body influences our perception of the world. Frontiers in Psychology , 6, 819. doi: 10.3389/fpsyg.2015.00819
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2015.00819
  • Head, H., & Holmes, G. (1911). Sensory disturbances from cerebral lesions. Brain, 34(2-3), 102-254. doi: 10.1093/brain/34.2-3.102
    » https://doi.org/10.1093/brain/34.2-3.102
  • Hollitt, S., Kemps, E., Tiggemann, M., Smeets, E., & Mills, J. S. (2010). Components of attentional bias for food cues among restrained eaters. Appetite, 54(2), 309-313. doi: 10.1016/j.appet.2009.12.005
    » https://doi.org/10.1016/j.appet.2009.12.005
  • Horndasch, S., Kratz, O., Holczinger, A., Heinrich, H., Hönig, F., Nöth, E., & Moll, G. H. (2012). “Looks do matter” - visual attentional biases in adolescent girls with eating disorders viewing body images. Psychiatry Research, 198(2), 321-323. doi: 10.1016/j.psychres.2011.12.029
    » https://doi.org/10.1016/j.psychres.2011.12.029
  • Irvine, K. R., McCarty, K., Pollet, T. V., Cornelissen, K. K., Tovée, M. J., & Cornelissen, P. L. (2019). The visual cues that drive the self-assessment of body size: Dissociation between fixation patterns and the key areas of the body for accurate judgement. Body image, 29, 31-46. doi: 10.1016/j.bodyim.2019.02.006
    » https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2019.02.006
  • Janelle, C. M., Hausenblas, H. A., Fallon, E. A., & Gardner, R. E. (2003). A visual search examination of attentional biases among individuals with high and low drive for thinness. Eating and Weight Disorders, 8, 138-144. doi: 10.1007/BF03325003
    » https://doi.org/10.1007/BF03325003
  • Jiang, M. Y. W., &Vartanian, L. R. (2018). A review of existing measures of attentional biases in body image and eating disorders research. Australian Journal of Psychology, 70, 3-17. doi: 10.1111/ajpy.12161
    » https://doi.org/10.1111/ajpy.12161
  • Keizer, A., Smeets, M. A. M., Dijkerman, H. C., Uzunbajakau, S. A., van Elburg, A., & Postma, A. (2013). Too fat to fit through the door: First evidence for disturbed body-scaled action in anorexia nervosa during locomotion. PLoS ONE, 8(5), e64602. doi: 10.1371/journal.pone.0064602
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0064602
  • Kling, J., Kwakkenbos, L., Diedrichs, P. C., Rumsey, N., Frisén, A., Brandão, M. P.,. . . Fitzgerald, A. (2019). Systematic review of body image measures. Body Image , 30, 170-211. doi: 10.1016/j.bodyim.2019.06.006
    » https://doi.org/10.1016/j.bodyim.2019.06.006
  • Kollei, I., Horndasch, S., Erim, Y, & Martin, A. (2017). Visual selective attention in body dysmorphic disorder, bulimia nervosa and healthy controls. Journal of Psychosomatic Research , 92, 26-33. doi: 10.1016/j.jpsychores.2016.11.008
    » https://doi.org/10.1016/j.jpsychores.2016.11.008
  • Longo, M. R. (2017). Distorted body representations in healthy cognition. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 70(3), 378-388. doi: 10.1080/17470218.2016.1143956
    » https://doi.org/10.1080/17470218.2016.1143956
  • Longo, M. R., & Haggard, P. (2012). Implicit body representations and the conscious body image. Acta Psychologica , 141(2), 164-168. doi: 10.1016/j.actpsy.2012.07.015
    » https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2012.07.015
  • MacLeod, C., Mathews, A., & Tata, P. (1986). Attentional bias in emotional disorders. Journal of Abnormal Psychology, 95(1), 15-20. doi: 10.1037/0021-843X.95.1.15
    » https://doi.org/10.1037/0021-843X.95.1.15
  • Margolis, E., & Laurence, S. (2014). Concepts. In E. N. Zalta & U. Nodelman (Eds.), The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2014 Edition). Recuperado de https://tinyurl.com/y2ktce2j (Publicado originalmente em 2005)
    » https://tinyurl.com/y2ktce2j
  • Misener, K., & Libben, M. (2020). Examination of the relationship between attentional biases and body dissatisfaction: An eye-tracking study. Cognitive Therapy and Research, 44, 581-595. doi: 10.1007/s10608-020-10084-6
    » https://doi.org/10.1007/s10608-020-10084-6
  • Mölbert, S. C., Klein, L., Thaler, A., Mohler, B. J., Brozzo, C., Martus, P.,. . . Giel, K. E. (2017). Depictive and metric body size estimation in anorexia nervosa and bulimia nervosa: A systematic review and meta-analysis. Clinical Psychology Review , 57, 21-31. doi: 10.1016/j.cpr.2017.08.005
    » https://doi.org/10.1016/j.cpr.2017.08.005
  • Morin, A. (2006). Levels of consciousness and self-awareness: A comparison and integration of various neurocognitive views. Consciousness and Cognition, 15(2), 358-371. doi: 10.1016/j.concog.2005.09.006
    » https://doi.org/10.1016/j.concog.2005.09.006
  • Nazareth, A. C. P., & DeCastro, T. G. (2021). Análise histórico-conceitual da imagem corporal em fontes científicas de psicologia (1900-1935). Psicologia em Estudo, 26, e47372. doi: 10.4025/psicolestud.v26i0.47372
    » https://doi.org/10.4025/psicolestud.v26i0.47372
  • Nazareth, A. C. P., Escobar, V. S., & DeCastro, T. G. (2020). Body size judgments at 17 ms: Evidence from perceptual and attitudinal body image indexes. Frontiers in Psychology , 10, 3018. doi: 10.3389/fpsyg.2019.03018
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.03018
  • Pinhatti, M. M., Guerin, K. S. A., & DeCastro, T. G. (2021). Body image software programs: A comprehensive literature review. Universitas Psychologica, 20, 1-16. doi: 10.11144/Javeriana.upsy20.bisp
    » https://doi.org/10.11144/Javeriana.upsy20.bisp
  • Pitron, V., Alsmith, A., & de Vignemont, F. (2018). How do the body schema and the body image interact? Consciousness and Cognition , 65, 352-358. doi: 10.1016/j.concog.2018.08.007
    » https://doi.org/10.1016/j.concog.2018.08.007
  • Pitron, V., & de Vignemont, F. (2017). Beyond differences between the body schema and the body image: Insights from body hallucinations. Consciousness and Cognition , 53, 115-121. doi: 10.1016/j.concog.2017.06.006
    » https://doi.org/10.1016/j.concog.2017.06.006
  • Prince, M. (1923). A case of complete loss of all sensory functions excepting hearing but including cœnesthesis and visual images of the body. The Journal of Abnormal Psychology and Social Psychology, 18(3), 238-243. doi: 10.1037/h0069347
    » https://doi.org/10.1037/h0069347
  • Roy, M., & Forest, F. (2007). Assessment of body image distortion in Eating and Weight Disorders : the validation of a computer-based tool (Q-BID). EWD, 12(1), 1-11. doi: 10.1007/BF03327766
    » https://doi.org/10.1007/BF03327766
  • Ruff, G. A., & Barrios, B. A. (1986). Realistic assessment of body image. Behavioral Assessment, 8(3), 237-251.
  • Schilder, P. (1934). The somato-psyche in psychiatry and social psychology. The Journal of Abnormal and Social Psychology, 29(3), 314-327. doi: 10.1037/h0075479
    » https://doi.org/10.1037/h0075479
  • Schilder, P. (2000). A imagem do corpo: As energias construtivas da psique. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1935)
  • Slade, P. D., & Russell, G. F. (1973). Awareness of body dimensions in anorexia nervosa: Cross-sectional and longitudinal studies. Psychological Medicine, 3(2), 188-199. doi: 10.1017/S0033291700048510
    » https://doi.org/10.1017/S0033291700048510
  • Stunkard, A. J., Sørensen, T., & Schulsinger, F. (1983). Use of the Danish adoption register for the study of obesity and thinness. Research publications - Association for Research in Nervous and Mental Disease, 60, 115-120. Recuperado de https://tinyurl.com/2tann86u
    » https://tinyurl.com/2tann86u
  • Thigpen, N. N., Gruss, L. F., Garcia, S., Herring, D. R., & Keil, A. (2018). What does the dot-probe task measure? A reverse correlation analysis of electrocortical activity. Psychophysiology, 55(6), e13058. doi: 10.1111/psyp.13058
    » https://doi.org/10.1111/psyp.13058
  • Traub, A. C., & Orbach, J. (1964). Psychophysical studies of body-image. I. The adjustable body-distorting mirror. Archives of General Psychiatry, 11(1), 53-66. doi: 10.1001/archpsyc.1964.01720250055007
    » https://doi.org/10.1001/archpsyc.1964.01720250055007
  • Tylka, T. L. (2018). Overview of the field of positive body image. In E. A. Daniels, M. M. Gillen, & C. H. Markey (Eds.), Body positive: Understanding and improving body image in science and practice (pp. 6-33). Cambridge: Cambridge University Press.
  • Warschburger, P., Calvano, C., Richter, E. M., & Engbert, R. (2015). Analysis of attentional bias towards attractive and unattractive body regions among overweight males and females: An eye-movement study. PLoS One , 10(10), e0140813. doi: 10.1371/journal.pone.0140813
    » https://doi.org/10.1371/journal.pone.0140813
  • Williams, J. M. G., Mathews, A., & MacLeod, C. (1996). The emotional Stroop task and psychopathology. Psychological Bulletin, 120(1), 3-24. doi: 10.1037/0033-2909.120.1.3
    » https://doi.org/10.1037/0033-2909.120.1.3
  • Williamson, D. A., White, M. A., York-Crowe, E., & Stewart, T. M. (2004). Cognitive-behavioral theories of eating disorders. Behavior Modification, 28(6), 711-738. doi: 10.1177/0145445503259853
    » https://doi.org/10.1177/0145445503259853

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Fev 2024
  • Aceito
    15 Fev 2024
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Mello Moraes, 1721 - Bloco A, sala 202, Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira, 05508-900 São Paulo SP - Brazil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revpsico@usp.br