Acessibilidade / Reportar erro

Complexo teníase-cisticercose em assentamentos da reforma agrária, Brasil

RESUMO:

Milhares de famílias vivem nos assentamentos da reforma agrária, criados no Brasil desde a década de 1980. Fatores como aglomerações de famílias convivendo no mesmo ambiente de produção de animais domésticos podem favorecer a transmissão e manutenção de zoonoses nessas áreas. A epidemiologia e distribuição geográfica das doenças zoonóticas nas comunidades assentadas precisam ser destacadas. Neste sentido, o presente estudo objetivou investigar a prevalência, fatores de risco e distribuição espacial do complexo teníase-cisticercose nos assentamentos rurais da reforma agrária no estado de Minas Gerais. Um total de 497 propriedades da agricultura familiar, distribuídas em 52 assentamentos, foram selecionadas e amostradas aleatoriamente. Amostras biológicas de humanos, bovinos e suínos foram coletadas e processadas. Questionários epidemiológicos foram aplicados em cada propriedade para a coleta de dados sobre a produção animal, condições sanitárias, higiênicas e sociais de cada família. Amostras fecais humanas foram analisadas para detecção de infecção por teníase, e amostras de sangue de animais foram coletadas e submetidas a testes sorológicos para detecção de infecção por cisticercose. Foram encontrados três (0,35%) casos positivos para teníase humana, 64 (4,2%) para cisticercose bovina e 17 (3,3%) para cisticercose suína. A prevalência por unidade de agricultura familiar foi de 0,6% (3/497) para teníase por exame fecal, 5,8% (17/294) para cisticercose suína e 11,1% (52/469) para cisticercose bovina. O perfil espacial da teníase humana e da cisticercose suína agrupou-se em duas regiões distintas, enquanto a cisticercose bovina apresentou distribuição geográfica dispersa. Dois fatores de risco estiveram associados à ocorrência de cisticercose bovina: riacho como fonte de água (p=0,009) e meio ambiente como destino de esgoto (p=0,031), enquanto a queima de lixo mostrou-se um fator de proteção significativo (p<0,001). O fator de risco para cisticercose suína foi associado à presença de suínos caipira (p=0,008) e ao meio ambiente como destino do esgoto (p≤0,024). Estas doenças zoonóticas representam um risco significativo para a saúde pública devido à sua ocorrência em rebanhos que são produzidos tanto para consumo de carne quanto para comercialização. Neste estudo os assentamentos analisados se configuram em áreas endêmicas no estado de Minas Gerais, e esses achados sugerem a importância de maiores investimentos na educação em saúde pública, melhoria das instalações sanitárias dos assentamentos como fonte e tratamento de água e destinação adequada de esgoto. São necessárias ações integradas entre os setores de saúde humana, animal e ambiental, em âmbito local e regional, visando a adoção de políticas públicas efetivas de controle e erradicação do complexo teníase-cisticercose onde estiver presente.

TERMOS DE INDEXAÇÃO:
Epidemiologia; zoonose; reforma agrária; teníase-cisticercose; saúde única; Brasil

Colégio Brasileiro de Patologia Animal - CBPA Pesquisa Veterinária Brasileira, Caixa Postal 74.591, 23890-000 Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel./Fax: (55 21) 2682-1081 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: pvb@pvb.com.br