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Perfil fenotípico e susceptibilidade antimicrobiana de Streptococcus equi isolados de equinos da região Sul do Brasil

Phenotypic profile and antimicrobial susceptibility of Streptococcus equi isolated from horses in southern Brazil

Resumos

As características fenotípicas [morfológicas, bioquímicas, susceptibilidade aos antimicrobianos, índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA), concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM) da benzilpenicilina] de 38 isolados de Streptococcus equi oriundos de amostras clínicas de animais com adenite equina foram alvo deste estudo. A fenotipia demonstrou três padrões de colônias, três biotipos de fermentação de carboidratos e variação de 0 a 0,4 no IRMA. Todos os isolados de S. equi demonstraram sensibilidade à penicilina, tanto pelo método de disco difusão quanto pelo método de microdiluição. A CIM e CBM média de benzilpenicilina foi de 0,0095μg/mL e 0,0267μg/mL para S. equi subesp. equi e de 0,0128μg/mL e 0,0380μg/mL para S. equi subesp. zooepidemicus. Os valores de CIM e CBM diferiram entre as subespécies (p<0,05). O diâmetro do halo de inibição de penicilina demonstrou relação com a CIM (ì=0,03638 - 0,00072x) para S. equi subesp. equi. Também foi demonstrada relação entre o diâmetro do halo de inibição de penicilina com a CBM para S. equi subesp. equi (ì=0,10931- 0,00223x). Entretanto para as amostras de S. equi subesp. zooepidemicus esta relação somente foi verificada para a CBM (ì=0,1322 - 0,00271x). A CIM de benzilpenicilina frente às amostras isoladas da região Central, Planalto e Sul do estado do Rio Grande do Sul foram estatisticamente semelhantes, mas diferiram do isolado do estado do Paraná, sugerindo o caráter atípico desta cepa. Todos os isolados de S. equi são sensíveis à penicilina e sulfazotrim, confirmando a eleição destes antimicrobianos para o tratamento das infecções por este agente na clínica veterinária. Os resultados obtidos não dispensam a utilização prudente dos antimicrobianos.

Streptococcus equi; garrotilho; fenotipia; susceptibilidade; resistência


Phenotypic characteristics [morphology, biochemical fermentation, antimicrobial susceptibility, index of multiple resistances to antimicrobials (IMRA), minimum inhibitory concentration (MIC) and minimum bactericidal concentration (MBC) of benzilpenicillin] of 38 Streptococcus equi isolates from clinical samples of horses with strangles were the aim of this study. The phenotypic analyses demonstrated three colony patterns, three carbohydrate fermentation biotypes and IMRA variation from 0 to 0.4. All the isolates of S. equi demonstrated sensitivity to penicillin, both by the disc diffusion method and microdilution method. The average MIC and MBC for benzilpenincillin were of 0.0095μg/mL and 0.0267μg/mL for S. equi subsp. equi and of 0.0128μg/mL and 0.0380μg/mL for S. equi subsp. zooepidemicus. The values of MIC and MBC differed between the subspecies (p<0.05). The diameter of penicillin inhibition halo demonstrated a relation with the MIC (ì=0.03638 - 0.00072x) for Streptococcus equi subsp. equi. A relation between the diameter of the inhibition halo of penincillin was also observed with the MBC for S. equi subsp. equi (ì=0.10931 - 0.00223x). However for the samples of S. equi subsp. zooepidemicus this relation was only verified with the MBC (ì=0.1322 - 0.00271x). The MIC of benzilpenicillin of the samples isolated from the Central, Planalto and South regions of Rio Grande do Sul were statistically similar, although different from the Paraná state sample, suggesting the atypical character of this strain. All the S. equi isolates are sensitive to penicillin and sulfazotrim, confirming these as antibiotics of choice for the treatment of infections caused by this agent in the clinical veterinary practice. The results obtained do not discard the prudent use of antimicrobials.

Streptococcus equi; strangles; phenotypic characterization; susceptibility; resistance


ANIMAIS DE PRODUÇÃO

Perfil fenotípico e susceptibilidade antimicrobiana de Streptococcus equi isolados de equinos da região Sul do Brasil

Phenotypic profile and antimicrobial susceptibility of Streptococcus equi isolated from horses in southern Brazil

Jackeline K. Kirinus; Luciana Pötter; Letícia T. Gressler; Fernando L.L. Leite; Agueda P.C. Vargas* * Autor para correspondência: agueda.vargas@gmail.com

Laboratório de Bacteriologia (Labac), Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Rurais(CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Av. Roraima 1000, sala 5137, prédio 44, Camobi, Santa Maria, RS 97105-900, Brasil

RESUMO

As características fenotípicas [morfológicas, bioquímicas, susceptibilidade aos antimicrobianos, índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA), concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM) da benzilpenicilina] de 38 isolados de Streptococcus equi oriundos de amostras clínicas de animais com adenite equina foram alvo deste estudo. A fenotipia demonstrou três padrões de colônias, três biotipos de fermentação de carboidratos e variação de 0 a 0,4 no IRMA. Todos os isolados de S. equi demonstraram sensibilidade à penicilina, tanto pelo método de disco difusão quanto pelo método de microdiluição. A CIM e CBM média de benzilpenicilina foi de 0,0095μg/mL e 0,0267μg/mL para S. equi subesp. equi e de 0,0128μg/mL e 0,0380μg/mL para S. equi subesp. zooepidemicus. Os valores de CIM e CBM diferiram entre as subespécies (p<0,05). O diâmetro do halo de inibição de penicilina demonstrou relação com a CIM (ì=0,03638 - 0,00072x) para S. equi subesp. equi. Também foi demonstrada relação entre o diâmetro do halo de inibição de penicilina com a CBM para S. equi subesp. equi (ì=0,10931- 0,00223x). Entretanto para as amostras de S. equi subesp. zooepidemicus esta relação somente foi verificada para a CBM (ì=0,1322 - 0,00271x). A CIM de benzilpenicilina frente às amostras isoladas da região Central, Planalto e Sul do estado do Rio Grande do Sul foram estatisticamente semelhantes, mas diferiram do isolado do estado do Paraná, sugerindo o caráter atípico desta cepa. Todos os isolados de S. equi são sensíveis à penicilina e sulfazotrim, confirmando a eleição destes antimicrobianos para o tratamento das infecções por este agente na clínica veterinária. Os resultados obtidos não dispensam a utilização prudente dos antimicrobianos.

Termos de indexação:Streptococcus equi, garrotilho, fenotipia, susceptibilidade, resistência.

ABSTRACT

Phenotypic characteristics [morphology, biochemical fermentation, antimicrobial susceptibility, index of multiple resistances to antimicrobials (IMRA), minimum inhibitory concentration (MIC) and minimum bactericidal concentration (MBC) of benzilpenicillin] of 38 Streptococcus equi isolates from clinical samples of horses with strangles were the aim of this study. The phenotypic analyses demonstrated three colony patterns, three carbohydrate fermentation biotypes and IMRA variation from 0 to 0.4. All the isolates of S. equi demonstrated sensitivity to penicillin, both by the disc diffusion method and microdilution method. The average MIC and MBC for benzilpenincillin were of 0.0095μg/mL and 0.0267μg/mL for S. equi subsp. equi and of 0.0128μg/mL and 0.0380μg/mL for S. equi subsp. zooepidemicus. The values of MIC and MBC differed between the subspecies (p<0.05). The diameter of penicillin inhibition halo demonstrated a relation with the MIC (ì=0.03638 - 0.00072x) for Streptococcus equi subsp. equi. A relation between the diameter of the inhibition halo of penincillin was also observed with the MBC for S. equi subsp. equi (ì=0.10931 - 0.00223x). However for the samples of S. equi subsp. zooepidemicus this relation was only verified with the MBC (ì=0.1322 - 0.00271x). The MIC of benzilpenicillin of the samples isolated from the Central, Planalto and South regions of Rio Grande do Sul were statistically similar, although different from the Paraná state sample, suggesting the atypical character of this strain. All the S. equi isolates are sensitive to penicillin and sulfazotrim, confirming these as antibiotics of choice for the treatment of infections caused by this agent in the clinical veterinary practice. The results obtained do not discard the prudent use of antimicrobials.

Index terms:Streptococcus equi, strangles, phenotypic characterization, susceptibility, resistance.

INTRODUÇÃO

A adenite equina é uma enfermidade respiratória, causada por Streptococcus equi subsp. equi, cocos Gram positivos b-hemolíticos do grupo C de Lancefield, catalase negativa (Quinn et al. 1994). A doença é considerada altamente contagiosa entre os equídeos, afetando o trato respiratório superior com formação de abscessos nos linfonodos regionais que podem eventualmente romper, drenando o conteúdo purulento para o trato respiratório superior, ou supurar pela pele (Quinn et al. 1994, Timoney 1997, Harrington et al. 2002, Waller & Jolley 2007).

S. equi subsp. equi é fenotípica e geneticamente relacionado com S. equi subesp. zooepidemicus, ambos considerados até 1984 espécies distintas (Facklam 2002). Acredita-se que S. equi subsp. equi possa ter evoluído do ancestral S. equi subsp. zooepidemicus, que é causador de doenças secundárias em equinos e também em outras espécies de animais, incluindo o homem (Holden et al. 2009).

A diferenciação entre os subtipos é realizada de forma rotineira pela utilização de técnicas fenotípicas, como a fermentação de açúcares (Timoney 2004). O grupo C de Lancefield, do qual faz parte S. equi, apresenta três espécies, classificadas de acordo com a produção de hemólise e capacidade de fermentação de trealose, sorbitol e lactose (Lancefield 1933, Quinn et al. 1994, Kuwamoto et al. 2001). Apesar da larga utilização desses critérios fenotípicos, cepas atípicas de S. equi subsp. equi podem fermentar alguns dos carboidratos, induzindo a erros na interpretação dos resultados (Grant et al. 1993).

A partir do diagnóstico da enfermidade, a conduta terapêutica recomendada inclui o uso de antimicrobianos. Todavia, o tratamento pode ser dificultado pela resistência de S. equi aos antimicrobianos, o que se constitui numa consequência natural e inevitável (Harrington et al. 2002, Feary 2005). Por outro lado, cabe ressaltar que estudos referentes à susceptibilidade de S. equi são muito escassos, tanto no Brasil como na literatura internacional. Neste contexto, o objetivo desse estudo foi analisar amostras clínicas oriundas de equinos com adenite equina, relacionando as características fenotípicas [morfológicas, bioquímicas, susceptibilidade aos antimicrobianos, índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA), concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM) da benzilpenicilina] para isolados de S. equi com vistas à aplicação no diagnóstico e tratamento.

MATERIAL E MÉTODOS

Características fenotípicas

Morfologia das colônias de Streptococcus sp. Foram analisadas 38 amostras de S. equi, isoladas de equinos das raças puro sangue inglês, crioulo e brasileiro de hipismo com sinais clínicos de garrotilho, obtidos da rotina de diagnóstico laboratorial (37 dos isolados do estado do Rio Grande do Sul: destes, 22 da região sul do estado, 14 da região central e um da região do planalto) e um isolado do estado do Paraná; distribuídos em 19 estabelecimentos de criação.

O cultivo bacteriano primário foi realizado em meio base de ágar sangue (Himedia Laboratories®) acrescido de 5% de sangue ovino desfibrinado e incubado a 37ºC por 48 horas. Foram observadas as características morfo-tintorais dos isolados, bem como a produção de hemólise (Quinn et al. 1994). Colônias beta-hemolíticas de cocos Gram positivos, catalase negativa, foram repicadas no meio de cultura citado anteriormente, incubadas a 37ºC por 48 horas e após caracterizadas morfologicamente (Koneman et al. 2001) através da margem, cor, densidade, superfície, hemólise e tamanho das colônias.

Amostras de referência de S. equi subesp. equi_ATCC 39506, Staphylococcus aureus_ATCC 25923 e Escherichia coli_ATCC 25922 foram utilizadas como controle de qualidade tanto para o método de disco difusão, como para o método de microdiluição.

Caracterização bioquímica

As colônias morfologicamente caracterizadas como S. equi foram suspensas em solução salina em turvação equivalente a escala cinco de McFarland, para a inoculação dos testes bioquímicos de fermentação de carboidratos: trealose, sorbitol e lactose (Grant et al. 1993, Quinn et al. 1994).

Teste de susceptibilidade aos antimicrobianos (TSA) - método de disco difusão

Para avaliação da susceptibilidade antimicrobiana in vitro, utilizou-se o método de Kirby Bauer Modificado (Nccls 1999). Foram testados os seguintes antimicrobianos pertencentes às classes: 1) aminoglicosídeos - amicacina (30μg), estreptomicina (10μg), gentamicina (10μg) e neomicina (30μg); 2) beta-lactâmicos - amoxicilina (10μg), ampicilina (10μg), cefalexina (30μg), cefalotina (30μg), imipenem (10μg), oxacilina (1μg) e penicilina (10 UI); 3) fluoroquinolonas - enrofloxacina (5μg); 4) lincosamidas - lincomicina (2μg); 5) propanodiol - cloranfenicol (30μg); 6) macrolídeos - azitromicina (15μg) e eritromicina (15μg); 7) polimixinas - polimixina B (300 UI); 8) rifamicinas - rifampicina (5μg); 9) sulfamidas - sulfazotrim (25μg); e 10) tetraciclinas - tetraciclina (30μg);

Os resultados foram interpretados de acordo com o padrão estabelecido pelo Nccls (1999) e os diâmetros dos halos de inibição da penicilina foram anotados para correlacionar com os resultados da concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM).

O índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA) foi calculado conforme metodologia descrita por Krumperman (1983), através da razão entre o número de classes antimicrobianas contra as quais cada isolado é resistente e o número total de classes de antimicrobianos testados.

Determinação da CIM e CBM de benzilpenicilina - método de microdiluição

A atividade antimicrobiana foi determinada para a benzilpenicilina (Novafarma, indústria farmacêutica®) utilizando o método de microdiluição, baseado no documento M7-A6 do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI 2003), com pequenas modificações. O método consistiu na distribuição de 100μL de caldo Mueller Hinton (Himedia Laboratories®) em placas de poliestireno retangulares com 96 poços de fundo chato, estéreis. A seguir, 100μL da solução estoque de benzilpenicilina (2,4μg/mL) foram acrescidos ao primeiro poço e após homogeneização, sucessivamente foi realizada diluição na razão de dois, sendo testadas 12 concentrações (1,2 a 0,00058μg/mL) da penicilina.

O inóculo bacteriano foi preparado, com turbidez idêntica à solução padrão da escala 0,5 de McFarland (1-2x108 UFC/mL), com cultivo em placa dos isolados (S. equi subsp. equi e S. equi subsp. zooepidemicus) em base de ágar sangue acrescido de 5% de sangue ovino desfibrinado, por 24 horas a 35ºC+2ºC. Esta suspensão foi diluída em caldo Mueller Hinton (Himedia Laboratories®) para aproximadamente 1-9x106 UFC/mL e 100μL/poço foram utilizados nos ensaios até 15 minutos após o preparo. As microplacas foram incubadas por 24 horas a 35ºC+2ºC, em condições de aerobiose. Após o período de incubação, a CIM foi determinada como a menor concentração que inibiu efetivamente o crescimento bacteriano nos poços de microdiluição. Para esta determinação foi adicionado 20μL de solução a 1% do corante cloreto de 2,3,5-trifenil tetrazólio (Vetec®), em cada poço da microplaca, a fim de auxiliar na revelação da CIM (Murari et al. 2008). De acordo com os padrões, para estreptococos beta-hemolítico (CLSI 2009), os isolados com valores de CIM <0,12μg/mL foram considerados sensíveis à penicilina.

A CBM foi determinada através do plaqueamento de 50 μL de cada poço em base de ágar sangue, acrescido de 5% de sangue ovino desfibrinado em placas de Petri de 60x15mm (Prolab®) incubadas por 24 horas a 35ºC+2ºC.

O ensaio de cada amostra foi realizado em triplicata; também foram realizados controles positivos (meio de cultura e inóculo) e negativos (somente meio de cultura; meio de cultura e antimicrobiano) para cada ensaio.

Análise estatística

Os dados foram submetidos ao teste de normalidade, distribuição de frequência, análise de variância e análise não paramétrica de Kruskal-Wallis. Foi realizado teste de correlação e comparação de médias em nível de 5% de significância. Também foram submetidos à análise de regressão, na qual a escolha dos modelos baseou-se na significância dos coeficientes linear, quadrático e cúbico, utilizando-se o teste "t" de Student, com 5% de probabilidade (Sas 2001).

Para estabelecer a relação entre CIM, CBM e o diâmetro do halo de inibição da penicilina em milímetros (mm) foi aplicada a análise de regressão linear.

A susceptibilidade das amostras de S. equi frente aos antimicrobianos foi avaliada pelo teste de Kruskal-Wallis. Foram atribuídos valores para as respostas ao teste de sensibilidade (sensível = 2, intermediário = 1, resistente = 0). Quando identificadas diferenças aplicou-se o teste de Duncan para comparar as médias. As análises foram realizadas pelo proGrama estatístico Sas (2001).

RESULTADOS

Todos os 38 isolados bacterianos beta-hemolíticos do gênero Streptococcus apresentaram colônias de densidade translúcida, superfície brilhante e tamanho variando de 0,5-1,0mm. A margem e a cor das colônias analisadas tiveram três padrões entre os isolados. Assim 16 isolados demonstraram margem inteira e cor amarela (padrão A), dois isolados com margem inteira e cor branca (padrão B) e 20 isolados com margem ondulada e cor branca (padrão C).

A análise bioquímica classificou os 38 isolados em três biotipos. Vinte isolados do biotipo I (S. equi subsp. equi), não fermentadores dos carboidratos trealose, sorbitol e lactose; 16 isolados do biotipo II (S. equi subsp. zooepidemicus), fermentadores de lactose e sorbitol e dois isolados do biotipo III, considerados como S. equi subsp. equi atípicos, somente fermentadores de lactose.

Os 38 isolados de S. equi analisados demonstraram 100% de sensibilidade à azitromicina, cefalexina, cloranfenicol, imipenem, lincomicina, penicilina, polimixina B e sulfazotrim; 97% de sensibilidade à ampicilina, cefalotina e eritromicina; 95% à gentamicina e neomicina; 92% à amoxicilina e oxacilina; 87% à enrofloxacina e estreptomicina; 85% à rifampicina; 79% à tetraciclina; e 76% à amicacina (Quadro 1).


Entre as classes de antimicrobianos testados, ocorreu maior resistência ao grupo dos aminoglicosídeos 42% (16/38 isolados), dentre estes 16 isolados, 11 foram classificados como S. equi subsp. equi e cinco S. equi subsp. zooepidemicus. Seis isolados de S. equi subsp. equi foram resistentes à classe dos beta-lactâmicos. Foi observado 8% (3/38) dos isolados resistentes à oxacilina e amoxacilina. Já ao grupo das fluoroquinolonas, observou-se que 13% (5/38) das amostras eram resistentes, novamente um maior número nas amostras classificadas como S. equi subsp. equi (4/22). Entretanto, na classe das tetraciclinas o maior número de resistências ocorreu nas amostras de S. equi subsp. zooepidemicus (6/16) do que nas amostras de S. equi subsp. equi (2/22). A análise estatística comprovou que os resultados aos grupos das tetraciclinas e das fluoroquinolonas diferiram entre as subespécies de S. equi (p<0,05).

Dos 38 isolados, seis (15,7%) foram sensíveis aos 20 antimicrobianos das 10 classes testadas e 15 (39,4) tiveram índice de resistência múltipla aos antimicrobianos (IRMA) 0,0, ou seja, resistência a somente uma classe de antimicrobiano testado. O (IRMA) dos isolados de S. equi variou de 0 a 0,4 (resistência a 6 classes de antimicrobianos). Porém, cinco (13%) dos 38 isolados clínicos demonstraram IRMA acima de 0,2. O maior número de isolados com resistência múltipla aos antimicrobianos ocorreu em S. equi subesp. equi. O IRMA médio foi de 0,13 para S. equi subsp. equi e de 0,07 para S. equi subsp. zooepidemicus.

O diâmetro médio do halo de inibição da penicilina para os isolados de S. equi subsp. equi foi de 37,00mm (variação de 27-50mm) e de S. equi subsp. zooepidemicus foi de 34,75mm (variação de 25-50mm). As amostras de controle de qualidade Escherichia coli, Staphylococcus aureus e S. equi subsp. equi demonstraram diâmetro do halo de inibição da penicilina de 20, 30 e 34mm, respectivamente.

A concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM) média de benzilpenicilina foram de 0,0095μg/mL e 0,0267μg/mL para S. equi subsp. equi e de 0,0128μg/mL e 0,0380μg/mL para S. equi subsp. zooepidemicus. A análise de regressão linear (ì = -0,00012 + 2,94849x) estabeleceu relação entre a CIM e CBM nas 22 amostras classificadas fenotipicamente como S. equi subsp. equi (p<0,05; R2 = 78,9%). A CIM e o diâmetro do halo de inibição da penicilina em milímetros (mm) tiveram relação nas amostras de S. equi subsp. equi (ì = 0,03638 - 0,00072x) (p<0,05; R2 = 59,2%).

Desta mesma forma, a CBM e o diâmetro do halo de inibição da penicilina em mm relacionaram-se para as duas subespécies de S. equi. Pode-se inferir que na equação de regressão linear, a cada um mm de aumento no diâmetro do halo de inibição da penicilina, reduz a CBM em 0,00223μg/mL e 0,00271μg/mL para S. equi subsp. equi e S. equi subsp. zooepidemicus, respectivamente (Fig.1).


A origem geográfica das amostras diferiu para valores da CIM de benzilpenicilina, e mostrou que os isolados da região Central, Planalto e Sul do estado do Rio Grande do Sul foram semelhantes, cerca de 0,010μg/mL, mas diferentes quando comparados à amostra oriunda do estado do Paraná, 0,075μg/mL (Fig.2).


A CIM50 de benzilpenicilina foi de 0,0093μg/mL tanto para as amostras de S. equi subsp. equi, quanto para S. equi subsp. zooepidemicus. A CBM50 de benzilpenicilina foi de 0,0187μg/mL e 0,0375μg/mL para S. equi subsp. equi e S. equi subsp. zooepidemicus, respectivamente. A CIM90 de benzilpenicilina e a CBM90 de benzilpenicilina foram de 0,0187μg/mL e 0,0750μg/mL, respectivamente para as duas subespécies de S equi. A distribuição de frequência mostrou diferença para valores de CIM de benzilpenicilina em S. equi subsp. equi e S. equi subsp. zooepidemicus (Fig.3).


A CIM e CBM das amostras utilizadas como controle de qualidade foram respectivamente 0,60μg/mL e 1,20μg/mL para Escherichia coli; 0,0187μg/mL e 0,0750μg/mL para Staphylococcus aureus e 0,0046μg/mL e 0,0046μg/mL para S. equi subsp. equi.

A análise estatística não demonstrou relação entre as raças dos animais das quais tiveram origem as amostras, o IRMA, a procedência dos estabelecimentos e os biotipos das amostras estudadas.

DISCUSSÃO

De acordo com a classificação das colônias, o padrão C das colônias de Staphylococcus equi subsp. zooepidemicus foi uniforme. No entanto, para os isolados de S. equi subsp. equi, o padrão de colônias foi variável, o que confirma que esta característica fenotípica não pode ser utilizada para diferenciar estas subespécies (Timoney 2004).

Lindsay et al. (2009) relataram a relação entre a lise do ácido hialurônico com bacteriófagos carreadores de genes integrados ao cromossoma das bactérias em amostras de S. equi subsp. zooepidemicus. Chanter et al. (1999) e Holden et al. (2009) sugeriram que S. equi subsp. zooepidemicus, in vitro, têm baixo nível de expressão do gene codificador da cápsula de ácido hialurônico, o que pode justificar porque os isolados de S. equi subsp. zooepidemicus apresentaram o padrão de colônias mais secas e espalhadas.

A variação do perfil fermentativo em cepas de S. equi mostra limitações da caracterização fenotípica (Grant et al. 1993), o que justifica a classificação de duas cepas de S. equi como atípicas, pois eram fermentadoras de lactose.

Os estudos sobre a susceptibilidade antimicrobiana de bactérias patogênicas a equinos são clinicamente importantes. A coleta de dados locais sobre a susceptibilidade aos antimicrobianos é o primeiro passo para a utilização antimicrobiana prudente (Weese et al. 2008). No entanto, no Brasil, bem como na literatura internacional são raros os dados disponíveis para discussão, o que limitou a comparação dos resultados obtidos neste trabalho, apenas com dados disponíveis de outras espécies de Streptococcus.

Os resultados obtidos para o IRMA são relevantes, pois segundo Krumperman (1983) índices acima de 0,2 podem ser potencial fonte de transmissão de genes de resistência. Uma vez que distintos genes de resistência são frequentemente agrupados, a transferência horizontal de um único elemento genético pode resultar em aquisição pelas bactérias receptoras de múltipla resistência (Poole 2005). A resistência a múltiplos antimicrobianos em bactérias isoladas de equinos aumenta o risco de falhas terapêuticas, além disso, os custos para os proprietários de cavalos tornam-se elevados devido à prolongada hospitalização e uso de antimicrobianos onerosos (Weese et al. 2008).

A classe dos aminoglicosídeos é comumente usada no tratamento de infecções bacterianas (Mckenzie 2004), entretanto, a resistência bacteriana a esta classe é relativamente comum devido à transferência por plasmídeos (Spinosa 2006). Embora na teoria os aminoglicosídeos possam ser utilizados, a maior resistência de S. equi observada às classes de antimicrobianos que apresentam elementos móveis pode estar atribuída ao desenvolvimento de vários mecanismos para neutralizar a ação dos agentes antimicrobianos (Sweeney et al. 2005). O mais comum é a inativação enzimática do fármaco, modificação ou substituição deste, ativação do efluxo e redução da assimilação. A resistência natural de S. equi subsp. equi frente aos aminoglicosídeos pode ser explicada pela natureza microaerófila deste microrganismo, uma vez que a entrada deste antimicrobiano na parede bacteriana é dependente de oxigênio (Prescott & Baggot 1994).

A sensibilidade à penicilina encontrada em todos os isolados do presente estudo, tanto no método de disco difusão quanto no método de microdiluição corroboraram o estudo realizado por Trolldenier et al. (2000) na Alemanha e Sweeney et al. (2005) nos Estados Unidos da América, que demonstraram a sensibilidade aos antimicrobianos pertencentes à classe dos beta-lactâmicos (benzilpenicilina, ampicilina, oxacilina e cefotaxime) em 100% dos 191 isolados de S. equi, oriundos de equinos. Também um estudo realizado na Escola Veterinária de Ontario, no Canadá, mostrou que 97% dos isolados clínicos de S. equi foram sensíveis à penicilina (Weese et al. 2008). Penicilina e sulfazotrim são usualmente utilizadas como fármacos de primeira escolha para o tratamento de infecções por S. equi em equinos (Luque et al. 2006). Também foi observada sensibilidade >90% em um estudo sobre o tratamento de sinusites e infecções das bolsas guturais em equinos (Clark et al. 2008), o que ratifica o resultado encontrado no presente trabalho. Este dado é contrastante com as declarações dos médicos veterinários clínicos de falhas nos tratamentos de adenite equina (comunicações pessoais) quando utilizam penicilina, antimicrobiano de eleição. Isto pode ser atribuído às considerações de Yelle (1987) de que a utilização da terapia antimicrobiana após a formação dos abscessos nos linfonodos dos equinos pode prolongar o curso da infecção e dificultar a cura. Também as concentrações da penicilina em produtos comerciais bem como condutas terapêuticas inapropriadas, podem justificar as discrepâncias dos resultados obtidos in vitro e in vivo frente às amostras de S. equi.

Ainda na classe dos beta-lactâmicos, pode-se observar que ocorreu uma resistência de 8% à oxacilina e amoxacilina; este fato pode estar relacionado ao espectro de ação desses antimicrobianos. Prescott (2004) relata que a combinação de espectro, fármacos inibidores de beta-lactamases e o aumento da eficiência podem estar relacionados à resistência adquirida à estes antimicrobianos.

Alerta-se que possam ocorrer interações entre antimicrobianos, principalmente de natureza farmacodinâmica (Saraiva et al. 1997, Lopardo 2007). Por isso, é importante que o médico veterinário respeite os parâmetros como a susceptibilidade do agente infectante, propriedades farmacocinéticas do medicamento e toxicidade potencial antes da administração de antimicrobianos, o que pode justificar falhas nos tratamentos (Prescott 2004).

A resistência das subespécies de S. equi à classe das fluorquinolonas foi inferior à observada nos isolados clínicos deste gênero bacteriano na Escola Veterinária de Ontario, no Canadá (33%) e pelo Instituto Nacional de Veterinária de Uppsala na Suécia (100%) (Weese et al. 2008). Este fato pode ser explicado pelas diferenças nas populações estudadas. Ressalta-se a menor relevância destes resultados na terapia de infecções produzidas por S. equi, uma vez que a enrofloxacina deve ser evitada em potros devido aos efeitos adversos, como artropatias, nessa faixa etária bem como atividade limitada para esse gênero bacteriano (Yoon et al. 2004).

A maior frequência dos isolados resistentes à tetraciclina ocorreu no grupo do S. equi subesp. zooepidemicus; este resultado foi ao encontro dos obtidos por Clark et al. (2008) no Canadá, onde observaram que 26,7% dos isolados de S. equi subsp. zooepidemicus eram resistentes à tetraciclina. Lopardo (2007) observou resistência de 72,4% de amostras de S. agalactiae isoladas de humanos frente à tetraciclina num trabalho realizado na Argentina. A utilização das tetraciclinas em equinos tem sido evitada devido à tendência de supressão da microbiota intestinal normal e à superinfecção com Salmonella sp. ou Clostridium difficile (Prescott 2004).

A concentração inibitória mínima (CIM) e concentração bactericida mínima (CBM) são parâmetros amplamente utilizados na avaliação da susceptibilidade antimicrobiana, normalmente estão relacionadas com a farmacocinética e estimativa de dosagem do fármaco para determinação dos organismos resistentes ou susceptíveis aos antimicrobianos (Prescott & Yielding 1990).

Segundo o CLSI não existe um número de breakpoints para a interpretação de CIM e CBM de benzilpenicilina para S. equi. De acordo com o CLSI (2009), valores de CIM <0,12μg/mL para estreptococos beta-hemolítico os classifica como sensíveis à penicilina. Portanto, os resultados obtidos através do método de disco difusão foram confirmados pela CIM de benzilpenicilina, assegurando a correlação dos resultados. Em outro estudo, Tracy et al. (2001) avaliaram a susceptibilidade de 44 isolados de S. milleri frente à penicilina; CIM <0,12μg/mL confirmaram a sensibilidade desta espécie a este antimicrobiano. No entanto, Heffelfinger et al. (2000) interpretam como sensível quando a CIM for <1,00μg/mL de penicilina para Streptococcus pneumoniae. Pesquisa envolvendo Enterococcus fecalis, demonstrou sensibilidade à penicilina para valores de 1,2-4,8μg/mL (Zimmermann et al. 1971). Os valores de benzilpenicilina na CIM50 = 0,0093μg/mL foram aproximadamente três vezes inferior às concentrações relatadas por Breiman & Silverblatt (1986), onde um isolado humano de S. equi requereu uma CIM = 0,025μg/mL para penicilina. Portanto, constatou-se que os valores CIM e CBM de benzilpenicilina para S. equi foram inferiores quando comparados aos outros estudos.

Cabe ressaltar que os níveis de resistência são sempre definidos em relação às concentrações do soro baseados nos breakpoints propostos pelo NCCLS, contudo não dizem respeito a concentrações do antimicrobiano no sítio da infecção (Fong & Drlica 2008). Segundo Firth et al. (1986) as concentração plasmásticas máximas e mínimas de penicilina variaram de 1,86 a 0,4μg/mL, também variando com a via de aplicação e tempo após administração (valores 200 e 45 vezes superiores) aos obtidos na CIM média de benzilpenicilina para S. equi neste estudo.

Os dados de resistência provenientes de hospital/estabelecimento de criação devem ser interpretados com cautela, uma vez que a cultura e teste de susceptibilidade não são normalmente realizados antes de um tratamento inicial, em cavalos que estão sendo assistidos em hospitais. Geralmente os dados publicados na literatura científica são baseados em infecções refratárias previamente tratadas com um ou mais antimicrobianos. Estes vieses de seleção tendem a sobrevalorizar os níveis reais de resistência antimicrobiana e têm de ser considerados para uma interpretação correta dos dados sobre a prevalência da resistência. Diferenças metodológicas (métodos e critérios utilizados para a medição e definição de resistência) também devem ser consideradas quando se comparam os resultados comunicados por diferentes laboratórios. Da mesma forma, é importante considerar tais divergências, sobretudo quando compara-se amostras de diferentes países (Weese et al. 2008).

Por fim, a utilização prudente e racional dos antimicrobianos deve ser considerada como uma importante questão ética na profissão veterinária, principalmente relacionada aos regimes de dosagens e administração adequada de cada fármaco. A abordagem global e os princípios básicos preconizados por organizações internacionais para minimizar o possível impacto do uso de antimicrobianos em animais sobre saúde pública são: a prevenção de doenças como uma ferramenta para reduzir o uso de antimicrobianos; diagnóstico preciso e teste de susceptibilidade antimicrobiana; justificativa para o uso de antimicrobianos; escolha de um produto antimicrobiano e via de administração apropriada; posologia adequada; aspectos éticos relacionados à prescrição e fornecimento de medicamentos antimicrobianos (Guardabassi et al. 2008).

CONCLUSÕES

A resistência múltipla aos antimicrobianos dos isolados representa um risco potencial para a saúde dos animais e uma ameaça à saúde pública.

Todos os isolados de Staphylococcus equi foram sensíveis à penicilina e sulfazotrim o que confirma a eleição destes antimicrobianos para o tratamento das infecções por este agente na clínica veterinária.

A concentração inibitória mínima (CIM), concentração bactericida mínima (CBM) apresentam relação com o diâmetro do halo de inibição da penicilina para isolados de S. equi.

Agradecimentos - À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa concedida e suporte financeiro; aos colaboradores do Laboratório de Bacteriologia da Universidade Federal de Santa Maria (Labac-UFSM), pela ajuda no desenvolvimento desse trabalho.

Recebido em 6 de setembro de 2010.

Aceito para publicação em 6 de outubro de 2010

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    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Abr 2011
    • Data do Fascículo
      Mar 2011

    Histórico

    • Aceito
      06 Out 2010
    • Recebido
      06 Set 2010
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