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Alcalóides aporfinóides do gênero Ocotea (Lauraceae)

Aporphine alkaloids in Ocotea species (Lauraceae)

Resumo

During the last decades several aporphinoid alkaloids of the Ocotea species have been isolated. This review describes the occurrence of the fifty four aporphinoids in seventeen different species of Ocotea: thirty nine (39) aporphine sensu stricto, four (4) oxoaporphine, five (5) 6a,7-dehydroaporphine, one (1) didehydroaporphine, one (1) C-3-O-aporphine, one (1) C-4-O-aporphine, two (2) phenanthrene, one (1) proaporphine and their 13C NMR spectral data.

aporphine alkaloids; Ocotea; 13C NMR spectral data


aporphine alkaloids; Ocotea; 13C NMR spectral data

REVISÃO

Alcalóides aporfinóides do gênero Ocotea (Lauraceae)

Aporphine alkaloids in Ocotea species (Lauraceae)

Sandra Maria Warumby ZaninI; Ana Luísa Lacava LordelloII, * * e-mail: lordello@quimica.ufpr.br

IDepartamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná, Av. Prefeito Lothário Meissner, 632, 80210-170 Curitiba - PR, Brasil

IIDepartamento de Química, Universidade Federal do Paraná, CP 19081, 81531-990 Curitiba - PR, Brasil

ABSTRACT

During the last decades several aporphinoid alkaloids of the Ocotea species have been isolated. This review describes the occurrence of the fifty four aporphinoids in seventeen different species of Ocotea: thirty nine (39) aporphine sensu stricto, four (4) oxoaporphine, five (5) 6a,7-dehydroaporphine, one (1) didehydroaporphine, one (1) C-3-O-aporphine, one (1) C-4-O-aporphine, two (2) phenanthrene, one (1) proaporphine and their 13C NMR spectral data.

Keywords: aporphine alkaloids; Ocotea; 13C NMR spectral data.

INTRODUÇÃO

A distribuição da família Lauraceae no mundo é de aproximadamente 1900 espécies, sendo que destas, 390 são encontradas no Brasil, contribuindo assim com cerca de 20% do total dessas espécies1. No estado do Paraná ela está entre as famílias mais representativas1.

Dentre os gêneros mais expressivos das Lauraceae brasileiras, tem-se o gênero Ocotea. Este gênero tem despertado o interesse dos fitoquímicos brasileiros devido a sua ampla distribuição no território nacional, e ao fato de suas espécies serem muito apreciadas no comércio madeireiro, como a Ocotea porosa, popular imbuia e Ocotea odorífera, popular sassafrás2. Contudo, muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção, pois além do desmatamento, as espécies de Ocotea não possuem constância na frutificação, fato que dificulta sua propagação3.

Além dos lignóides, os alcalóides isoquinolínicos constituem um grupo de substâncias bastante freqüente em espécies do gênero Ocotea, embora durante o levantamento realizado foi possível observar que em espécies que acumulam lignóides não foi constatada a presença de alcalóides4,5.

Dentre os alcalóides isoquinolínicos, os aporfinóides representam um grupo grande e ainda em expansão, com mais de 500 alcalóides isolados de mais de 90 gêneros de plantas e/ou sintetizados6. Vários alcalóides aporfinóides comumente encontrados no gênero Ocotea apresentam pronunciada bioatividade, como a nantenina (bloqueador de contração muscular, translocação de Ca2+)7, derivados da nantenina (antagonista a1-adrenoreceptor)8, coclaurina (anti-HIV)9, glaucina (citotóxica)10, derivados halogenados da predicentrina (aumento da afinidade aos receptores dopaminérgicos D1)11, dicentrina (inibição da topoisomerase II12, atividade antineoplásica13), dicentrinona (inibição da topoisomerase I)14, inclusive vários deles tendo sido alvo de patentes6, o que tem acarretado um grande interesse nessa classe de compostos.

Os autores Guinaudeau, Leboeuf e Cavé, em seus trabalhos de revisão de 1975 a 199415-19, focaram a atenção no acompanhamento evolutivo dos estudos sobre os alcalóides aporfinóides, que incluem os aporfínicos sensu stricto e os sensu lato ou biogeneticamente relacionados. Estas revisões merecem destaque pela clareza e praticidade de uso dos dados fornecidos, especialmente em relação aos valores de deslocamentos químicos de RMN de 13C.

Contudo, esse conjunto de dados encontra-se atualmente bastante desatualizado por conta da falta de revisões mais modernas e também, em alguns casos, de revisões posteriores dos dados espectroscópicos de substâncias já identificadas.

Com base nisto, este artigo propõe-se a fazer uma revisão da ocorrência dos alcalóides aporfinóides dentro do gênero Ocotea e correlacioná-los com seus dados de RMN de 13C descritos na literatura, na tentativa de auxiliar na identificação dessa classe de compostos.

Em publicações mais recentes nota-se uma tendência em numerar as posições tradicionalmente conhecidas por 1a e 1b em 11b e 11c (Figura 1) nos alcalóides aporfinóides, apesar de ambas estarem de acordo com as normas da IUPAC para essa classe de compostos20.


ALCALÓIDES APORFÍNOIDES NO GÊNERO Ocotea

A Tabela 1 mostra os 54 alcalóides aporfinóides ordenados em ordem crescente do grau de oxidação (número de grupos hidroxílicos, metoxílicos e/ou metilenodioxílicos) no esqueleto básico (Figura 1), encontrados no gênero Ocotea. Os alcalóides foram agrupados mantendo-se as designações propostas por Guinaudeau e colaboradores15-19, a saber: 39 aporfínicos sensu stricto, 4 oxoaporfínicos, 5 6a,7-diidroaporfínicos, 1 dideidroaporfínico, 1 C-3-O-aporfínico, 1 C-4-O-aporfínico, 2 fenantrenos e 1 pró-aporfínico, distribuídos em 17 diferentes espécies do gênero Ocotea.

Este levantamento permitiu observar que dentre os alcalóides aporfinóides, os aporfínicos sensu stricto são os mais comumente encontrados no gênero e que a RMN de 13C consiste na técnica espectroscópica mais utilizada na identificação dessa classe de compostos.

Em geral, a atribuição dos sinais de RMN de 13C para os carbonos sp3 dos anéis B e C dos alcalóides aporfínicos sensu stricto está baseada não só nos seus valores de deslocamentos químicos, mas também na multiplicidade de seus sinais. A maior dificuldade consiste na atribuição dos sinais de RMN de 13C referente aos doze carbonos aromáticos dos anéis A e D, em especial, aos carbonos sp2 oxigenados, devido a diferenças nos padrões de substituição encontrados para essa classe de alcalóides. Os carbonos sp2 não substituídos absorvem na região de 100–112 d e normalmente indicam o número de substituintes nos anéis A e D, especialmente quando substituídos por grupos hidroxílicos, que não aparecem nos espectros de RMN de 13C. Os carbonos sp2 oxigenados absorvem normalmente acima de 140 d e são posicionados por comparação com dados da literatura ou, mais recentemente, por introspecção dos mapas de contorno heteronuclear a uma ou mais ligações.

A maior parte dos alcalóides identificados no gênero Ocotea, relacionados na Figura 1, apresentam substituintes oxigenados nas posições 1 e 2 (anel A) e 9 e 10 (anel D), porém a presença de substituintes oxigenados nas posições 3 (anel A) e/ou nas posições 8 e 11 (anel D) pode também ser observada no gênero, embora em menor proporção. As Tabelas 2 e 3 apresentam os d de RMN de 13C para todos os alcalóides aporfinóides relatados no gênero Ocotea e, dos 54 alcalóides aporfinóides identificados no gênero, somente 50% deles, ou seja, 27 tiveram seus dados de RMN de 13C descritos na literatura científica.

Essa constatação é que nos motivou a compilar todos os dados de RMN de 13C para essa classe de alcalóides em um único trabalho, de modo a facilitar a identificação estrutural dessa classe de substâncias.

Vale ressaltar ainda que durante este levantamento foi constatado o isolamento e a identificação de alguns alcalóides aporfinóides não usuais, dentre os quais podemos citar variabilina (8), ococriptina (22) e N-óxido dicentrina (17).

CONCLUSÃO

Durante o levantamento que originou esse artigo, observamos que a maior parte dos trabalhos que relatam o isolamento dessa classe de compostos são antigos e fornecem um número limitado de informações acerca dos dados espectroscópicos para essa classe de compostos. Contudo, em trabalhos recentes tem sido relatado um vasto e pronunciado elenco de bioatividades, o que tem provocado, de certa forma, uma retomada do interesse no isolamento e na identificação dessa classe de compostos.

AGRADECIMENTO

Às agências de fomento CNPq e Fundação Araucária pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

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Recebido em 25/7/05; aceito em 9/3/06; publicado na web em 30/8/06

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  • *
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Fev 2007
    • Data do Fascículo
      Fev 2007

    Histórico

    • Aceito
      09 Mar 2006
    • Recebido
      25 Jul 2005
    Sociedade Brasileira de Química Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), CP6154, 13083-0970 - Campinas - SP - Brazil
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