RESUMO
Neste ensaio, proponho pensar o arquivo como cidade e a cidade como arquivo. As análises formuladas ao longo desse itinerário de mão-dupla, que permeiam documentos e ruas, embasam-se em três imagens conceituais: rastro, ruína e decadência. A partir de Maputo, capital moçambicana, problematizo meu trabalho de campo mostrando como esse exercício afetivo e epistemológico de “caminhar-pesquisar” envolve um olhar duplicado sobre o arquivo e a cidade. Esse olhar me levou, de um lado, a analisar os meios de controle e de silenciamento que cercam histórias e memórias presentes em ambos os espaços; de outro, a escavar outros sentidos que ameaçam esses mecanismos. Meu argumento é que o arquivo, como a cidade, é um espaço vivo, repleto de tensões, hiatos e ambiguidades. Por isso, é preciso testar os limites de se pensar, conjunta e comparativamente, o arquivo institucional e o arquivo urbano. Com esse olhar duplicado, problematizo os rastros das histórias oficiais e como elas são negociadas e disputadas - em imagens guardadas pelo Estado ou em monumentos escondidos.
PALAVRAS CHAVE:
Arquivos; Maputo; memória; fotografia; ruínas