RESUMO
Nos últimos cinco anos, antropólogos do Sul global passaram a considerar programas públicos de transferência de renda como uma alternativa tanto a políticas centradas no trabalho como a projetos nacionais de desenvolvimento. Esses estudos sugerem que subsídios hoje extrapolam o domínio das políticas sociais tradicionais e da burocracia governamental e apontam para um horizonte futuro diante da escassez de trabalho. Esse horizonte tornou-se ainda mais próximo com a pandemia de COVID-19, e com governos, entidades nao-governamentais e da esquerda política reafirmando a importância de uma renda básica universal. Considerando essas discussões, meu artigo tem como foco um programa de transferência de renda na África do Sul após o período do Apartheid, situando um relato etnográfico em relação ao desenho de uma política ‘progressista’ de subsídios sociais. Apresento a história do trabalho assalariado em relação à renda de famílias africanas, mostrando como as promessas emancipatórias de projetos de transferência de renda foram lidas como um risco a tradições e morais locais. Além da redução de esperanças políticas investidas nas transferências, examino o aspecto temporal dos subsídios, bem como os possíveis futuros que eles evocam. Ao considerar futuros que os subsídios possibilitam, concluo sugerindo que é prematuro afirmar que eles superaram o trabalho assalariado e a sociabilidade que o trabalho acompanha.
PALAVRAS-CHAVE:
Transferências de renda; valor; distribuição; trabalho; futuro; África do Sul