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Teoria da aplicação do capital: um estudo das decisões de investimento

RESENHA BIBLIOGRAFICA

Kurt Ernst Weil

Teoria da aplicação do capital: um estudo das decisões de investimento

Por Gerald A. Fleischer. São Paulo, Edgard Blücher, Editora da Universidade de São Paulo, 1973. XIV + 272 p.

Bibliografia, bibliografia adicional (nacional), índice alfabético, glossário e apêndice: tabelas de juros compostos, série gradiente etc.

Tradução de Capital allocation theory Appleton-Century-Crofts Educ. Div. 1969, por Miguel Cezar Santoro e Cibele Freire Santoro.

Este livro consegue, em 186 páginas de texto e 86 de tabelas, bibliografias, etc, satisfazer a demanda nacional de um livro-texto que ultrapasse as meras necessidades da engenharia econômica para se dedicar ao interessante e importante campo da decisão de investir. Para isso conta com dois elementos preciosos:

1. o valor do livro em inglês - completo e conciso;

2. um casal tradutor que coloca as necessárias observações, onde as condições americanas são distintas das nacionais. Por exemplo, o imposto de renda é de 30%.

Infelizmente, mais uma vez temos de voltar ao velho assunto - um livro-texto que dá uma série de problemas merece um "guia do professor" mesmo que seja só mimeografado. Esse "guia", além de facilitar a programação das aulas, evita eventuais soluções erradas dos problemas dados.

O autor e os tradutores deixaram fora - falha essa fácil de sanar na segunda edição do livro em português - algumas das abreviações usadas no seu glossário, por exemplo CSPW e CSA. Também falta a citação do capítulo "Análise econômica dos investimentos" do 1.º volume do Manual de administração da produção, de Claude Machline, FGV. Mas isso esgota as críticas. O livro é excelente e, antes de tudo, possui um plano que é profundamente didático. Os capítulos são:

1. Uma introdução ao orçamento de capital, 7 páginas.

2. Conceitos e cálculos dos juros compostos, 16 páginas.

3. Métodos equivalentes par a seleção de alternativas, 22 páginas.

4. Alguns métodos incorretos e/ou aproximados comumente usados para seleção de alternativas, 15 páginas.

5. Múltiplas alternativas, 16 páginas.

6. Efeitos da depreciação sobre rendas tributáveis, 18 páginas.

7. Impostos e lucratividade, 19 páginas.

8. Problemas especiais de reposição e baixa, 17 páginas.

9. O futuro incerto (Análise de sensibilidade - Resultados futuros com probabilidade desconhecida. Resultados futuros com probabilidade conhecida. Algumas abordagens adicionais), 22 páginas.

10. Custo do capital - Fontes e custos dos fundos - Custo do capital como critério - Alavancagem e estrutura ótima, 17 páginas.

11. Procedimentos em orçamento de capital, 17 páginas. Total: 186 páginas.

O glossário tem uma página e meia, e o apêndice de juros compostos vai de 1/2 em 1/2% até 10%, e de porcento até 20%, em seguida de 5 em 5% até 50%. É uma tabela ótima, plenamente adequada às necessidades brasileiras. Talvez nos valores de até 3% poderiam estar acréscimos de 0,25%, mas mesmo assim não há problema, pois a interpolação dá resultados satisfatórios.

Uma palavra especial de louvor para a fotocomposição Monophoto do departamento de composição da editora. Simplesmente excelente. Legibilidade extraordinária. O método exposto está ainda mais claro pela distribuição gráfica do livro.

No prefácio, o autor fala que a engenharia econômica teve sua gênese no texto clássico de Arthur Wellington The economic theory of hailway location, de 1887. Sempre acreditamos no desenvolvimento da teoria pela Bell Telephone Co., como nos fazia acreditar o nosso velho mestre Eugene Grant, da Universidade de Stanford. Como, porém , Fleischer também veio de lá, foi também aluno de Grant, e portanto deve ter-se aprofundado mais com ele no assunto. Podemos dizer que o prefácio já mostra um autor inteligente - e o desenvolvimento do texto confirma isso.

As deduções de fórmulas são concisas e claras. Talvez, para contribuir ainda mais para a clareza - algumas abreviações usadas pelo autor:

CR - Fator de Recuperação do Capital.

SPW - Fator do valor presente para a série uniforme.

SF - Fator do fundo de renovação.

SCA - Fator da quantia capitalizada para a série uniforme.

GUS - Fator da série gradiente uniforme.

GPW - Fator do valor presente gradiente.

CSPW - Fator do valor presente para a série uniforme com juros contínuos.

CSPW - Fator de valor presente com juros contínuos e fluxo de caixa contínuo.

Note-se que as tabelas de juros incluem 11 colunas, a saber: Quantia capitalizada CA, valor presente PW e com juros contínuos CPW. Quantia capitalizada de série uniforme SCA e CSCA com juros contínuos. Valor presente PW e CSPW com juros contínuos. Fundo de renovação SF (sinking fund) e valor de recuperação do capital CR. Finalmente as duas séries gradientes GUS e GPW.

O primeiro capítulo, que constitui uma agradável novidade em livros deste tipo, é dedicado a métodos incorretos ou aproximados. Não se trata do problema de estimativa incorreta de dados futuros, mas simplesmente da aplicação incorreta de princípios. O ponto de equilíbrio entre duas alternativas é tratado graficamente na p. 49 e teoricamente, sem muita profundidade, na mesma página. Merecia maior aprofundamento. A seleção entre múltiplas alternativas é ótima, como também o é o tratamento do erro de ordenação (ranking), pela exclusão de alternativas pela limitação de capital e não pelo resultado.

O capítulo 6, sobre os efeitos da depreciação, o imposto de renda, etc, tem notas dos tradutores, que são interessantes, instrutivas e necessárias. Lamentamos com os tradutores que o Brasil só "permitisse qualquer esquema de depreciação desde que a cota a ser lançada em cada período não ultrapasse o valor determinado pela depreciação linear" (N.D.T.) "Satisfeito esse requisito, pode-se, inclusive, alterar o esquema de um período para outro". Ao que tem certeza responderá o administrador "Para que alterar? - beneficia só as R.I. e o I.R.". O método da soma dos dígitos só passa abaixo do permitido (10%) do I.R. após metade do período - o que torna o problema acadêmico. Infelizmente nenhum livro até hoje pôde incluir, coerentemente, nos cálculos da engenharia econômica, o efeito de aplicação de Sudene, Sudam, ou de exportação, com benefícios. O capítulo seguinte - Impostos e lucratividade - sofre de uma tradução literal de corporations em corporações. De acordo com o Pequeno dicionário da língua portuguesa, "Corporação é um conjunto de pessoas sujeitas a mesma regra ou estatutos". Outro dicionário ainda coloca: "usufruindo os mesmos direitos e deveres". Mas "empresa" ou mesmo "firma" teria sido melhor, ao menos num livro-texto. O pagamento do imposto de renda no ano corrente por estimativa agora também existe no Brasil - e, assim, a maneira de usá-lo no valor presente assemelha-se à americana.

No capítulo de "Reposição e baixa", encontramos mais uma abreviação CAUE (custo anual uniforme equivalente) para, finalmente, no modelo MAP I (Machinery and Allied Products - o mais antigo dos modelos em uso para reposição) encontrarmos o Mínimo adverso do desafiante (MAD). Tudo isso não está no glossário - e lá deve ir antes da próxima edição, sob pena de ficarmos no miasma das letras. E fora de qualquer outra consideração, a explicação é boa, mas o livro Dynamic equipment policy simplesmente não pode ser resumido em tão poucas páginas.

O nono capítulo, "O futuro incerto", começa com a análise de sensibilidade, muito bem explicada. Sempre torna-se necessário ensinar em cursos de administração essa análise, pois, em produção ou engenharia, a verdade é um número considerado imutável e imóvel pelos alunos. O ponto de equilíbrio estudado para três alternativas sob a "sensibilidade" explica ainda melhor o procedimento. Maximin e Mini max passam e levam a critérios de Hurwicz com funções de índices de otimismo. Em poucas palavras, o capítulo é gostoso de se ler, importante para se aprender; está ótimo. A decisão, sob o risco e certeza, fecha o capítulo que traz superficialmente algumas abordagens adicionais. No 10.º capítulo está o melhor tratamento até hoje por nós encontrado do custo de capital resumido, em português. O estudo da alavancagem, a tese de Modigliani-Miller, tudo contribui para um claro avanço no estudo da matéria no Brasil. Finalmente, o último capítulo é dedicado ao "como fazer" o orçamento de capital. Satisfaz às necessidades.

Todos os capítulos têm problemas no fim, infelizmente sem solução. Mas isso já foi motivo de comentário no início da resenha. Resumidamente, é um ótimo livro para empresas, engenheiros, economistas, administradores, pós-graduados, banqueiros e orçamentistas. Vale a pena possuí-lo, inclusive para fins pessoais. Parabéns ao autor e à editora.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Fev 1974
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