Acessibilidade / Reportar erro

Resultados econômico, monetário e de recursos financeiros

ARTIGOS

Resultados econômico, monetário e de recursos financeiros

Yuichi Richard Tsukamoto

Professor contratado do Departamento de Contabilidade, Finanças e Controle da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, e Diretor-Controlador da Companhia Paulista de Adubos (COPAS), São Paulo

O Professor ROBERT JOHNSON, no seu livro Administração Financeira, compara o papel do administrador financeiro numa emprêsa (microeconomia) com o do sistema de preço numa economia de livre iniciativa (macroeconomia). Ambos têm sua função principal de alocação de recursos disponíveis para obter máxima satisfação.1 1 JOHNSON, Robert W., Administração Financeira, vol. 1, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1967, Capítulo 1.º, A Função do Administrador Financeiro, Capítulo 2.º, O Dilema do Administrador: Liquidez vs. Rentabilidade. Para uma emprêsa, satisfação máxima significa dois objetivos:

• aumentar o mais possível a sua riqueza (rentabilidade e retorno);

• manter em ótimo estado a sua "saúde" financeira (liquidez).

A companhia poderá ser bastante rica, possuindo elevados valores de ativos fixos, mas, exatamente por esta razão, não poderá liquidar seus compromissos a curto prazo por causa da baixa liquidez financeira. Por outro lado, a companhia poderá manter um nível alto de numerários para proteger sua reputação creditícia sôbre seus compromissos, mas, exatamente por esta filosofia conservadora. ela não investe em instalações e maquinarias suficientemente para acompanhar o desempenho do mercado. O administrador financeiro, em ambos os casos, falha por não manter o equilíbrio entre o objetivo da liquidez e o da retôrno-rentabilidade.

No Brasil, o divórcio entre a tesouraria e a contadoria é visto, freqüentemente, na prática da administração financeira. A justificativa desta separação quase sempre foi o impacto inflacionário na administração financeira. A excessiva ênfase na manutenção da liquidez, numa época inflacionária, motivava a descapitalização da emprêsa em muitos casos. A excessiva ênfase na rentabilidade, baseada numa equação entre preços e custos, levava a emprêsa a dificuldades monetárias. Agora, uma vez que o Brasil caminha para uma relativa estabilidade financeira, as empresas deverão reexaminar suas políticas e estrutura financeira para obter máxima satisfação dos recursos disponíveis.

O fluxo de fundos (caixa e capital de giro), neste sentido, tem sido considerado um importante método por apresentar uma visão integrada de liquidez e rentabilidade, quando sua apresentação fôr feita de maneira apropriada, vinculada à Demonstração de Lucros e Perdas. Os estudiosos norte-americanos têm advogado a inclusão do fluxo de fundos como um relatório financeiro necessário para o relatório anual submetido à Assembléia de Acionistas.2 2 KOHLER, Eric L., Accounting for Management, Englewood Cliffs, N. J. Prentice-Hall, Inc., 1965, Capítulo 14, Flow Statements. Refletindo êste pensamento já em 1962 o Prof. JACK KEMPNER, então Consultor Técnico da Escola de Administração de Emprêsa da Fundação Getúlio Vargas, contribuiu com um artigo, Controle Financeiro Através da Análise do Fluxo de Fundos nesta Revista (Vol. 2, n.º 7, maio/agôsto de 1962, p. 22 a 43). O presente artigo abrangerá o esquema de preparação de um relatório que combina:

• o resultado econômico refletido em Demonstração de Lucros e Perdas;

• o resultado monetário contido no Fluxo de Caixa; e

• o resultado de recursos financeiros através do Fluxo de Fundos.

Como exemplo, a COMPANHIA A apresenta o seguinte balanço comparativo do determinado exercício:

A Demonstração de Lucros e Perdas da COMPANHIA A do mesmo exercício, apresenta o seguinte resultado:

Primeiramente, vamos converter a Demonstração de Lucros e Perdas no fluxo de caixa. Para facilitar a explicação, identificamos os itens da Demonstração de Lucros e Perdas com as letras (A) a (I).

Analisamos acima, conforme identificados de (A) a (I), todos os itens de Demonstração de Lucros e Perdas em sua relação ao Fluxo de Caixa. Uma grande parte dos itens do Balanço foi também considerada nesse processo de conversão ao Fluxo de Caixa. Restam três itens no Balanço que não se vinculam com os itens de Demonstração de Lucros e Perdas, ou sejam:

- Empréstimos Bancários a Curto Prazo

- Dividendos a Pagar

- Credores Diversos-Diretores

Analisamos, a seguir, êstes três itens com as siglas (J), (K) e (L).

Os dois itens acima movimentam-se conforme a decisão da Assembléia de Acionistas sôbre a disposição de lucro do exercício. A conta Lucros Retidos foi assim movimentada:

Conseqüentemente, as duas contas em questão (Dividendos a Pagar e Credores Diversos-Diretores) mostram os seguintes movimentos:

Apresentamos, no Quadro 1, a demonstração consolidada de resultados econômico (Lucros e Perdas) e monetário (Fluxo de Caixa). Esta demonstração nitidamente oferece resposta à pergunta: Por que o aumento de caixa foi tão pouco, embora o resultado do exercício tenha sido ótimo?


O cash (caixa e bancos), indubitavelmente, é um dos mais importantes itens de recursos financeiros da empresa. O crédito que fornecedores proporcionam na compra de mercadorias é também considerado como uma fonte de recursos financeiros. O crédito que a emprêsa concede a seus clientes representa a utilização de tais recursos.

A fonte mais importante de recursos financeiros da emprêsa é, portanto, o lucro oriundo de operações. Vamos, então, analisar os recursos financeiros adicionais criados através de atividades econômicas da emprêsa:

É importante observar no quadro anterior que, em comparação com o fluxo de caixa, o movimento de recursos financeiros (o Fluxo de Fundos) reflete o resultado de operações na base de transações incorridas (accrual basis), ao invés de acordo com incidências de recebimentos e desembolsos monetários (cash basis).

O aumento líquido de recursos financeiros através de atividades econômicas de NCr$ 1.860 significa o aumento de capital de giro. Do Balanço Comparativo preparamos o seguinte quadro sôbre as aplicações de recursos financeiros de operações para a formação do aumento do capital de giro:

O fluxo de caixa respondia à pergunta: Por que o aumento de caixa foi tão pouco, embora o resultado do exercício tenha sido ótimo? Agora, então, a segunda pergunta é: Onde foi o resto do lucro? O fluxo de fundos responde a esta pergunta - uma grande parte para o aumento de outros itens do capital de giro e outra para os itens não circulantes, principalmente ativos fixos e a disposição dos lucros retidos.

Resumidos, no Quadro 2, Demonstração Integrada de Resultados Econômico, Monetário e de Recursos Financeiros, os três resultados, interligando-os:


• o resultado econômico refletido em Demonstração de Lucros e Perdas;

• o resultado monetário contido no Fluxo de Caixa; e

• o resultado de recursos financeiros através do Fluxo de Fundos.

A função principal dêste quadro, conforme comentamos no início dêste artigo, é demonstrar à alta administração da emprêsa um retrato do resultado de rentabilidade e liquidez financeiras, simultáneamente na forma simples e consolidada.

A técnica apresentada neste artigo, naturalmente, não somente poderá ser útil à análise financeira do passado, mas, também, à análise integrada do orçamento financeiro.

OBSERVAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Em adição aos livros e artigos citados nas notas de rodapé deste artigo, recomendamos a leitura:

• do Capítulo 8.º, The Flow of Cash, de Managerial Accounting, dos Professores JAEDICKE e MOORE, Chicago, E.U.A., South-Western Publishing Co., 1963.

• também, Accounting Flows: Income, Funds and Cash, dos Professores JAEDICKE e SPROUSE (Englewood Cliffs, N. J., E.U.A., Prentice-Hall, Inc., 1965) é excelente.

• O Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (AICPA) publicou duas obras sôbre os fluxos de caixa e de fundos: Cash Flow Analysis and the Funds Statement (1961) e The Statement of Source and Application of Funds (1963). Consideramos o Relatório de Pesquisa N.º 38 da Associação Americana de Contadores (NAA), Cash Flow Analysis tor Managerial Control (1961), mais analítico e prático para administradores de empresas.

• Existem monografias ótimas sôbre o assunto, publicadas pela INTERCOLLE-GIATE CASE CLEARING HOUSE da Universidade de Harvard, por exemplo: ICH 10 C 41. Introduction to Cash Flows and Income Measurement (5 páginas).

ICH 10 C 92. Note on the Funds Flow Statement (12 páginas).

ICH 10 C 2. Cash Flow and Fund Flow Statements (24 páginas e cinco exercícios).

  • 1 JOHNSON, Robert W., Administração Financeira, vol. 1, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1967, Capítulo 1.ş, A Função do Administrador Financeiro, Capítulo 2.ş, O Dilema do Administrador: Liquidez vs. Rentabilidade.
  • 2 KOHLER, Eric L., Accounting for Management, Englewood Cliffs, N. J. Prentice-Hall, Inc., 1965, Capítulo 14, Flow Statements.
  • 1
    JOHNSON, Robert W.,
    Administração Financeira, vol. 1, São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1967, Capítulo 1.º, A Função do Administrador Financeiro, Capítulo 2.º, O Dilema do Administrador: Liquidez vs. Rentabilidade.
  • 2
    KOHLER, Eric L.,
    Accounting for Management, Englewood Cliffs, N. J. Prentice-Hall, Inc., 1965, Capítulo 14, Flow Statements.
    Refletindo êste pensamento já em 1962 o Prof. JACK KEMPNER, então Consultor Técnico da Escola de Administração de Emprêsa da Fundação Getúlio Vargas, contribuiu com um artigo, Controle Financeiro Através da Análise do Fluxo de Fundos nesta
    Revista (Vol. 2, n.º 7, maio/agôsto de 1962, p. 22 a 43).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Jul 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 1968
    Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: rae@fgv.br