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Errepeanadas

FORUM DE OPINIÕES

Errepeanadas

"Prezado Sr. José Xavier de Oliveira

"Há muito interessada em Relações Públicas, li seu artigo na Revista de Administração de Emprêsas (N.º 17) intitulado 'Relações Públicas - Teoria versus Práticas' e desejo cumprimentá-lo pelo dinamismo que extravasa de seu conteúdo.

"Desejo confessar ter tido alguma dificuldade em lê-lo, porque sua linguagem rebuscada faz com que o pensamento se interrompa freqüentemente. O prezado articulista parece desconhecer uma das técnicas mais importantes empregadas em Relações Públicas, qual seja a técnica da comunicação. Aconselharia, portanto, que consultasse as obras dos Profs. José Roberto Whitaker Penteado e Teobaldo de Andrade tão citados em seu artigo.

"O mencionado José Roberto Whitaker Penteado em seu artigo 'Do Significado na Comunicação Humana', publicado no mesmo número dessa revista, diz textualmente: 'O administrador moderno cansou-se de fugir ao problema da comunicação humana e resolveu enfrentá-lo. Para isso procura 'falar claro', de maneira a ser bem compreendido pelos seus homens, em todos os escalões. Ao mesmo tempo, através das relações públicas, faz o que lhe é possível para 'falar claro' também perante os diferentes públicos que, no seu campo de atividade, constituam o substrato da opinião pública'.

"A pesquisa elaborada por V.S.ª, de maneira inteligente, foi realmente um trabalho de fôlego e louvável em todos os sentidos, e fornecerá, sem dúvida, um material positivo aos estudiosos da matéria.

"Quanto à sua sugestão de dar às Relações Públicas um 'nome mais condigno', não me pareceria viável tal idéia se ela devesse ser encarada sèriamente. Na realidade, V.S.ªquis encerrar seu artigo com a clássica piadinha brasileira. É, se um nome devesse ser considerado, eu sugeriria Xavierologia. Por quê? Porque o nome do inventor dessa nova idéia não poderia jamais ficar olvidado. Fica aí a sugestão.

São Paulo, SP

MARIA CÂNDIDA TOCANTINS"

Resposta:

"Pêsa-me saber que minha linguagem, por considerada rebuscada', tenha dificultado à amável leitora a seqüência e a compreensão do meu raciocínio. A S. S.ª e aos demais que tiveram encontrado tal dificuldade só me resta, humildemente, pedir desculpas. Para que essa enorme falha não diminua o crédito que eventualmente me dêem para a leitura de futuros trabalhos procurarei, sem medir empenho, minorá-la.

"Por outro lado, não posso, em sã consciência, reconhecer aos errepeanos qualquer autoridade para ensinar técnicas de comunicação a quem quer que seja, porquanto a verificação da triste realidade errepeana tem-me demonstrado exaustivamente que, assim como eu e tanta gente, êles também não sabem 'falar claro'. (Poderá a leitora explicar-me, exempli gratia, a que se referem os errepeanos quando falam em 'Mística de Ação'?)

"Só a um néscio se consentiria negar a importância da comunicação como sendo, senão o maior, um dos maiores problemas de tôda a humanidade, desde as mais priscas eras da civilização. Mas, a solução dêsse problema certamente não será tão simples quanto se afigura à minha prezada conselheira, a quem agradeço, ex corde, a atenção que se dignou de dispensar à análise publicada. Evidentemente, não me bastará para aprender a 'falar claro' consultar e reconsultar as respeitáveis obras dos autores a que S.S.ª se refere em sua carta, muito menos o texto ai reproduzido do amigo JOSÉ ROBERTO WHITAKER PENTEADO, já de mim absolutamente familiar como filho adotivo (o texto, claro, não o WHITAKER!), porque, convenhamos, se o autor de um artigo pode ser considerado - e de fato o é - o legítimo progenitor de sua obra, o revisor copy-desk, por seu turno, tem sôbre esta a responsabilidade e o afeto de pai adotivo, não lhe sendo cabível, destarte, desconhecê-la.

"O problema, a meu ver, não deve ser visto somente sob o ângulo do comunicante, mas também sob o daquele com quem a comunicação deva ser feita. Ora, ao escrever para a Revista de Administração de Emprêsas, o autor teve diante de si - com base rios resultados da pesquisa de circulação, alcance e cobertura, recentemente realizada (V. N.º 14, Editorial e Fórum de Opiniões) - a perspectiva de que o público com o qual pretendia comunicar-se íôsse formado, em sua maioria mais representativa, por administradores de alto nivel e por estudiosos de Administração. Foi-lhe lícito pressupor, portanto, que ambos ésses grupos estivessem (ou, pelo menos, devessem estar) perfeitamente identificados com a terminologia técnica indispensável ao tratamento científico de um fenômeno social. E Relações Públicas, como o querem seus mais competentes tratadistas (aves raras, naturalmente), é sobretudo um fenômeno social cujo estudo deveria ser enquadrado no ramo das Ciências Sociais, especialmente no tocante à Teoria e à Sociologia da Informação.

"Admito, pois, que a 'linguagem rebuscada' mencionada pela gentil missivista haja resultado, em parte, da minha deficiência redacional ou, como ela quer, da minha ignorância em matéria de técnicas errepeanas de comunicação; mas, também em parte, aquela linguagem foi reflexo inevitável da tentativa sincera (porém frustrada, porque inútil) de estudar o fenômeno errepeano brasileiro em termos científicos e, conseqüentemente, sérios.

"No tocante, finalmente, à 'clássica piadinha brasileira', (por sinal, muito bem correspondida pelo sense of humour da Dr.ª TOCANTINS, conquanto seja temerário afirmar qual das duas sugestões - se a minha ou se a dela - teria melhores condições para vencer um concurso de piadas de mau gôsto...), não vejo como erradicar de RP o humorismo que lhe é inerente, a menos que se lhe altere a essência, Qualquer tentativa nesse sentido- sóbre ser inútil, como já disse - redundaria num tratamento incoet rente com a natureza do objeto. Com efeito, estou cada vez mais convencido de que é praticamente impossível falar sério sobre Relações Públicas no Brasil, Como percebe o leitor, o tema, por si só, já é engraçadíssimo!

"Agora, piada mesmo, com foros de alforria, é essa que os jornais vêm divulgando, Imagine o leitor: por incrível e estranho que pareça, o Brasil foi escolhido para sede do próximo Congresso Mundial de Relações Públicas, a ser realizado em setembro do próximo ano, na cidade do Rio de Janeiro! Cadê a piada? Ê que os três congressos anteriores foram realizados em países 'atrasados', como a Bélgica, a Itália e o Canadá, Não houve conseqüências ultraturísticas. Aguardam-se no Brasil melhores resultados...

São Paulo, SP

JOSÉ XAVIER DE OLIVEIRA

Revisor da RAE"

"Prezada Srt.ª Yolanda F. Balcão

"Redatora Chefe da Revista de Administração de Emprêsas,

"Inicialmente, os meus melhores cumprimentos pelo N.º 17 da Revista de Administração de Emprêsas. Permita-me cumprimentá-la pelo editorial 'Somos Práticos ou Teóricos?'. Apreciei, igualmente, o artigo assinado por JOSÉ ROBERTO WHITAKER PENTEADO, a quem rogo transmitir as minhas felicitações.

"A respeito da colaboração 'Relações Públicas - Teoria versus Prática', de JOSÉ XAVIER DE OLIVEIRA, com a devida vénia, gostaria de fazer algumas observações, não sem antes congratular-me com a direção da Revista, pela oportunidade e proficiência do tema apresentado.

"A colocação das Relações Públicas no campo da administração moderna, no seu exato significado, tem sido uma luta árdua, que está longe do seu combate decisivo. Mas, quando a Revista de Administração de Emprêsas, com todo o seu prestígio, acorre ao chamamento e se integra nessa campanha, a certeza do triunfo se me afigura plausível.

"Poucos, mas necessários reparos devo fazer ao artigo de J. XAVIER DE OLIVEIRA, escrito com entusiasmo invejável e profundidade objetiva. Aguardarei, com ansiedade, a monografia prometida, não regateando, desde já, os meus parabéns pelo trabalho apresentado.

"Em primeiro lugar, devo dizer que EÇA DE QUEIROZ e o seu Conselheiro ACÁCIO não estiveram presentes à VI Conferência Inter americana de Relações Públicas. Os resultados do Congresso de Montevidéu, a meu ver, foram positivos. Recomendaria a leitura de minha reportagem 'VI Conferência Interamericana de Relações Públicas em Montevidéu', publicada pela Revista IDORT, de novembro/ dezembro do ano passado.

"A observação seguinte diz respeito ao pretenso anteprojeto de regulamentação profissional de RP, que o articulista atribui ao Conselho Nacional da Associação Brasileira de Relações Públicas. A bem da verdade, torna-se preciso esclarecer que o texto citado é de autoria de um diretor da seção guanabarina da ABRP e não foi encaminhado ao Congresso Nacional, através de nenhum parlamentar. Na verdade, existe um projeto de lei, de autoria do Deputado HERBERT LEVY em tramitação na Câmara dos Deputados, bem como um substitutivo do Deputado EVALDO DE ALMEIDA PINTO. A êste último a Seção de Brasília da ABRP, autorizada pelo Conselho Nacional, prestou assessoramento.

"Quanto aos resultados parciais da pesquisa realizada, apenas de passagem, permita-me estranhar que entre as funções desempenhadas pelos setores de RP não apareça a promoção de visitas, atividade desenvolvida, em grande escala, nas nossas emprêsas com departamentos de Relações Públicas.

"Não pretendo alongar-me nessas considerações dirigidas ao 'Forum de Opiniões'. Contudo, cabe ainda um último reparo: a denominação 'Relações Públicas' já está consagrada no mundo inteiro e não vejo razões que justifiquem o aparecimento de um sucedâneo. Talvez melhor batalha seria a de encontrar um nome para aquêle que exerce as atividades de RP, mesmo porque, até hoje, não existe uma denominação aceita para o profissional de Relações Publicas. Relacionista Público e Relator Público demonstram que já não se admitem os têrmos 'Homem de Relações Públicas' ou, simplesmente, 'Relações Públicas' para aquêle que exercita RP.

"Reafirmando cs meus cumprimentos à Revista de Administração de Emprêsas e ao articulista José XAVIER DE OLIVEIRA, subscrevo-me

São Paulo, SP

CÂNDIDO TEOBALDO DE SOUZA ANDRADE"

Resposta:

"Nunca poderia esperar que meu trabalho viesse a merecer, também a posteriori, a crítica abalizada e orientadora daquele próprio que íoi seu principal mentor e conselheiro. Sou-lhe sinceramente grato, pois é evidente que parecer de tão honrosa procedência - pleno que está de judiciosas observações, apesar de contrárias às opiniões do autor (ou por isso mesmo) - dignifica e recompensa o esforço desenvolvido para a elaboração do pequeno ensaio em questão.

"Não estaria, entretanto, correspondendo à honestidade intelectual, à autoridade e à competência de Mestre TEOBALDO DE ANDRADE - a quem admiro não só como exímio conhecedor do assunto, mas também como autêntico amigo -, se me limitasse, movido talvez pela comodidade aa atitude, a responder, lacónicamente, 'O leitor tem razão'. Mais do que comodista, essa atitude seria hipócrita. Porque, sem prejuízo de seus méritos que não são poucos, não assiste dêsse turno inteira razão ao meu amigo. Como entendo por amigo aquêle com quem posso ser sincero, não terei escrúpulos em fazer alguns reparos aos reparos do Prof. TEOBALDO, sem deixar de reconhecer-lhe razão no que couber. E estou convicto de que o tom polêmico, porém reverente, de que minha resposta passará a revestir-se, muito longe de afrouxar os vínculos da amizade, há de estreitá-los ainda mais.

"Nega S. Sa., primeiramente, terem sido 'acacianos' os resultados da VI Conferência Interamericana de Relações Públicas. Para S. Sa. os resultados foram 'positivos'. É lamentável que ainda não me tenha chegado ao conhecimento a reportagem a que alude o seu autor. Procurarei conhecê-la o quanto antes. Se de fato se trata, porém, de 'reportagem' propriamente dita (e não, digamos, de ode ou apologia), difícil se me apresenta a possibilidade de isentar o Cons. ACÁCIO de alguma conivência na redação das conclusões daquele simpósio, que me pareceram mediocremente sentenciosas, demagógicas e misticamente inspiradas no ritmo do 'blá-blá-blá'. Eis alguns exemplos, colhidos aleatoriamente:

• 'Que sea un compromiso consciente e ineludible de los empresarios el fiel cumplimiento de sus obligaciones para con el Estado, los trabajadores, las demás empresas y la comunidad en general.'

• 'Que las empresas traten por todos los medios la creación de una imágen interior y exterior basada exclusivamente en la verdad.'

• 'Recabar la mayor información respecto de planes y decisiones relacionados con la marcha de la empresa en general para su mas amplia difusión.'

• 'Procurar la incorporación, en cuanto sea posible, de un mayor aporte científico y técnico en las tareas de desarrollo de la comunidad y divulgar con responsabilidad profesional el alto sentido que entrañan los conceptor de JUSTICIA, VERDAD y DEMOCRACIA.'

"E assim por diante... Daí o juízo que faço da VI Conferência e dos demais simposios internacionais de RP como meros pretextos para fazer turismo, como se o turismo já não se justificasse por si mesmo e precisasse de pretextos. "Em seguida, o Prof. TEOBALDO chama de 'pretenso' o anteprojeto reproduzido ipsis litteris, verbis, virgulisque às págs. 66 a 68 do N.º 17, esclarecendo que o responsável por aquela barbaridade foi apenas 'um diretor' da seção carioca da ABRP (e não o Conselho Nacional dessa entidade). Também tranqüiliza o leitor de que o texto não chegou, felizmente, a ser encaminhado ao Congresso Nacional (eu não havia dito o contrário).

"Pudera! Seria de estranhar se algum dos membros do Congresso tivesse ousado patrocinar, de uma tribuna parlamentar, a 'obra-prima' desse gênio legislatório abeerrepeano, cujo nome o Prof. TEOBALDO, diplomáticamente, se abstém de denunciar. Mas, o que efetivamente me causa espécie é que, não sendo o Conselho da ABRP O 'pai da criança, haja sido, entretanto, tão largamente difundido pela imprensaf mediante reproduções de press-releases, o comunicado veiculado pela Associação Brasileira de Relações Públicas em sua circular aos associados, datada de agosto de 1965, com os seguintes têrmos introdutórios; 'Em reunião do Conselho foi discutido e aprovado como texto para servir de base a discussões e interessar um parlamentar na sua apresentação e aprovação por lei do Congresso a Regulamentação Profissional de RP abaixo transcrita [...]'. (Grilos meus.) Ora, foi dessa mesma circular que extraí o texto reproduzido em meu artigo. Coloco o original à disposição de quem quiser verificá-lo. Convém, todavia, enfatizar, mais uma vez, que o Conselho não foi o autor do 'anteprojeto' (aliás, eu nunca lhe atribui essa autoria); tal como disse no artigo e ora repito, o Conselho fez muito pior do que simplesmente elaborar o texto: discutiu-o e aprovou-o! Como, portanto, pretender isentá-lo de responsabilidade?

"Ê de interêsse, não obstante, a informação prestada pelo Prof. TEOBALDO de que se encontra em trâmite pela Câmara dos Deputados um projeto e um substitutivo tendentes a regulamentar Relações Públicas como profissão. Ainda não tive notícia do teor de ambos documentos, embora saiba tratar-se do Projeto de Lei nP 3.275/65. Não tenho elementos, portanto, para emitir qualquer opinião a respeito dêles. O que me enfastia é que os errepeanos cuidem de regulamentar uma atividade pretensamente profissional cuja própria natureza não definem satisfatoriamente e cuja utilidade é por demais discutível.

"Por outro lado, estranha o Prof. TEOBALDO a ausência, no Questionário N.º 1 (destinado a emprêsas com setor de RP), de quesito indagatório da promoção, por essas emprêsas, de visitas às suas instalações. Sucede que a estranheza ê intempestiva. Foi mesmo uma falha, e uma falha que cabe a nós ambos - a mim e ao Prof. TEOBALDO também - porque S. Sa., a polido meu, procedeu, com a devida antecedência, à revisão dos questionários aplicados na pesquisa. Creio, pois, que sua estranheza reflete um pouco de autocrítica, e o louvo por isso?

"Concluindo, devo reafirmar minha convicção de que a expressão 'Relações Públicas' está positivamente desmoralizada. Contràriamente ao Prof. TEOBALDO que a entende 'consagrada no mundo inteiro', para mim ela está, isto sim, profanada no mundo inteiro. E é êsse, justamente, um ¿tos fatores que mais dificultam o encontro de ttm nome designativo do sujeito - também dificílimo de ser encontrado - 'que exercite RP'. O Prof. TEOBALDO justifica muito bem, em seu livro, sua repulsa à expressão 'homem de relações públicas'. (Realmente, que dizer da forma feminina dessa qualificação?!) Mas, por favor, 'relacionista público' e 'relator público' tampouco resistem a qualquer análise. Basta observar que o sufixo ista (de relacionista) corresponderia ao partidário de um ismo qualquer que, no caso, seria o de 'relacionismo público', nome bem adequado, talvez, para designar a Tendência de alguns errepeanos no sentido de reduzirem todos os problemas sociais (e alguns até não sociais) a têrmos de Relações Públicas. Por outro lado, 'relator' é 'aquêle que relata' ou 'aquele que redige um relatório', não o que estabelece e mantêm relações.

Enfim, enquanto não surgirem melhores sugestões, os praticantes de RP que me desculpem, mas vou continuar a chamá-los de 'errepeanos' mesmo.

São Paulo, SP

JOSÉ XAVIER DE OLIVEIRA

Revisor da RAE"

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1966
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