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Greve nos engenhos

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Maria Rita Garcia Loureiro

Sigaud, Lygia. Greve nos engenhos. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1980.

A publicação recente da editora Paz e Terra intitulada Greve nos engenhos compõe-se de um texto analítico sobre o movimento de outubro de 1979 nos engenhos açucareiros de Pernambuco, escrito por Lygia Sigaud, autora de outros importantes estudos sobre os trabalhadores rurais da Zona da Mata pernambucana.1 1 Sigaud, Lygia. Os Clandestinos e os direitos (estudo sobre trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco). São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1979; e A Nação dos homens. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro, 1971. mimeogr. Além dele, completa o volume uma série de documentos, fotografias e inclusive poemas de trabalhadores, referentes à greve de 1979.

A leitura do texto é duplamente interessante: de um lado porque, como mostra a própria Lygia Sigaud, esta foi a primeira manifestação grevista no período pós-64 de trabalhadores rurais daquela região considerada de grande tensão social, mobilizando diretamente 20 mil pessoas e indiretamente mais 100 mil; de outro lado, porque as reivindicações dos trabalhadores dos engenhos açucareiros de Pernambuco têm pontos em comum com aquelas dos operários urbanos: não só aumento salarial, aliás obtido como resultado vitorioso da greve, mas inclusive estabilidade do delegado sindical, ou melhor, do delegado de engenho.

Este segundo ponto merece comentário. Pode levar o analista mais apressado a pensar em situação de homogeneidade das lutas dos trabalhadores do campo e da cidade e, portanto, de ampliação das dimensões do proletariado nacional que com isso passaria a englobar tanto operários urbanos quanto operários rurais.

Ora, as reivindicações dos trabalhadores assalariados dos engenhos têm características singulares em relação àquelas dos assalariados urbanos, como a Autora mesma afirma: a luta pelo direito de acesso à terra para cultivo de lavouras de subsistência e criação de animais e a luta pela aprovação de uma tabela "estabelecendo equivalências entre os diferentes serviços de produção da cana e as formas de remuneração" (p. 42). Estas duas reivindicações são complementares entre si e se articulam de forma específica com a reivindicação por maiores salários. A existência da tabela é fundamental para se garantir um efetivo aumento salarial e o tempo livre para o cultivo no sítio de subsistência. Por outro lado, "a possibilidade de produzir parte de sua subsistência torna o trabalhador mais livre perante o proprietário e, portanto, menos subordinado ao trabalho assalariado" (p. 45).

Além disso, deve-se considerar que a relação de trabalho assalariado e as demandas trabalhistas constituem tão-somente uma dimensão entre outras da complexa realidade agrária brasileira. As lutas de pequenos produtores por melhores condições para produzir, as lutas de posseiros em vários pontos do território nacional para garantir terra onde trabalhar e sobreviver constituem outra dimensão, aliás significativamente mais importante tanto pelo número de pessoas envolvidas como pelo grau de violência atingido.

  • 1 Sigaud, Lygia. Os Clandestinos e os direitos (estudo sobre trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco). São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1979;
  • e A Nação dos homens. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro, 1971. mimeogr.
  • 1
    Sigaud, Lygia.
    Os Clandestinos e os direitos (estudo sobre trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco). São Paulo, Livraria Duas Cidades, 1979; e
    A Nação dos homens. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro, 1971. mimeogr.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Set 1981
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