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Gerência de projetos: uma reflexão histórica

ARTIGO

Gerência de projetos - uma reflexão histórica

Manuel M. Benitez Codas

Engenheiro eletricista; consultor no campo de gerência de projetos; sócio fundador e ativo participante do Gege - Grupo de Estudos de Gerência e Empreendimentos de São Paulo

1. INTRODUÇÃO

Iniciado para ser um relato de episódios quase anedóticos sobre a evolução do gerenciamento, o presente texto acabou convertendo-se numa narração da história do gerenciamento, quando constatada a ausência de trabalhos similares. A partir de um determinado momento, foi sentida a necessidade de ampliar-se ao máximo a bibliografía utilizada, para facilitar a tarefa futura daqueles profissionais do gerenciamento quando há procura de referência. O presente trabalho não pretende ser um compêndio dogmático, mas representa a vivência do autor ao longo dos últimos 20 anos, nos quais, além de exercer funções de gerenciamento, participou ativamente de seminários, simpósios e cursos no Brasil e no exterior, tanto no papel de assistente, como de expositor.

As referências ao gerenciamento no mundo foram elaboradas não só a partir da bibliografia, mas também de depoimentos de muitos dos que fizeram possível caracterizar o gerenciamento como uma nova disciplina e que não são aqui citados para não se cometer a injustiça de omitir alguns deles.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

No início deste século, aplicou-se o gráfico criado por Henry L. Gantt ao planejamento de obras, sendo a primeira maneira de representação gráfica do desenvolvimento esperado das etapas de execução de um empreendimento, o que constitui os primeiros esforços de planejamento da implantação:1 1 MollicaFº, Armando. Gerenciamento do Prazo. São Paulo, 1982. (Seminários Pianasa.)

Durante a II Guerra Mundial a complexidade das operações multares exigiu o desenvolvimento de métodos de planejamento mais efetivos, já que as operações militares, além do seu grande porte, envolviam marinha, exército e aviação das forças armadas de pelo menos três países. Assim, surgiu a pesquisa operacional e, em decorrência, a análise de sistemas.2 2 Parsons, James A. Operation research and related developments. Handbook of business administration. New York, McGraw-Hill, 1970. Inicialmente, a análise de sistemas fazia parte da pesquisa operacional; porém, sua evolução levou à caracterização de uma nova disciplina denominada engenharia de sistemas, a qual teve grande aplicação no desenvolvimento dos programas de computadores.3 3 Fitzgerald, J. M. & Fitzgerald, A. F. Fundamentals of systems analysis. USA, John Wiley, 1973.

Os métodos de planejamento que se seguiram foram os da análise de redes, como o CPM (Criticai Path Method; 1957) pela Dupont, e o Pert (Program Evolution and Review Technique; 1958), pelo Escritório de Projetos Especiais da Marinha dos EUA; o primeiro foi dirigido à implantação de projetos industriais e o segundo, a projetos militares ligados à corrida espacial. Da combinação de ambas as técnicas, resultou a que ficou conhecida como técnica de Pert-CPM.4 4 Miller, Robert W. Pert-CPM and other network techniques. Handbook of business administration- New York, McGraw-Hill, 1970. O Pert, basicamente, nasceu sendo um Pert-Tempo, que, com a evolução e a importância voltada para a alocação de recursos, passou a se caracterizar como Pert-Custo, já em 1962. Nesta mesma época, surge a primeira definição de projeto que sucintamente, o enunciava como sistema interligado de atividades com objetivo, prazo e custo predeterminados; e junto com a disseminação do uso dos diagramas de precedências é desenvolvida também a técnica da análise da estrutura do projeto denominada EAP (Estrutura Analítica do Projeto).

O conceito de gerência de projetos apareceu, nos EUA, no fim da década de 50 e início da década de 60, e foi inicialmente aplicado à análise de sistemas de computação e a implantação de empreendimentos físicos.5 5 Gaddys, Paul. The project manager. Harvard Business Review, USA, May/June 1959; Cleland, David I. Why project management? Business Horizons, USA, 1964; Cleland, David I. & King, W. R. Análise de sistemas e administração de projetos. São Paulo, Pioneira, 1978; Baumgartner, John S. Project Management. Handbook of Business Administration. New York, MacGraw-Hill, 1970.

Cabe aqui destacar que o gerenciamento empírico, natural ou espontâneo, como se queira chamar, sempre existiu, apenas sem terminologia e tecnologia características, próprias e distintas das de outras disciplinas. O gerenciamento da construção caracterizou-se firmemente na década de 70, e nessa aplicação surgiram técnicas específicas para gerenciamento das interfaces entre a engenharia de projeto, suprimentos e construção.6 6 Biezus, Ladi. O gerenciamento de empreendimentos. Um caso concreto: a implantação do Sanegran. Revista DAE, São Paulo nº 119, 1978. Isto, porém, ocorreu sem a caracterização de uma nova disciplina, distinta da engenharia ou administração de empresas.

A gerência de projetos era definida, então, como sendo a condução dos recursos necessários para a execução do projeto dentro das condições de prazo, qualidade e custo.

Na década de 60, a aplicação da engenharia de sistemas à execução de projetos poderia ser comparada ao funcionamento de uma máquina em condições ideais,quase sem atrito. A década de 70 já apresentou condições diferentes, pois as situações ideais desapareceram, surgindo os sucessivos choques do petróleo, a inflação, a escassez de recursos, a multinacionalização e o aumento do porte e sofisticação dos projetos. Apareceram, então, os softwares específicos para planejamento e controle, tais como Projacs, Proplan, Ártemis etc., que facilitaram o tratamento de projetos com grande número de atividades, porém apresentando restrições, por serem processados em centros de processamento de dados externos aos projetos, de difícil acesso aos gerentes e lenta atualização das informações.7 7 Woodward, John P. Resource domination in large engineering projects. The project manager. England, the association of Project Managers, 1984.

Na década de 80, a necessidade de identificação de responsabilidades num ambiente de múltiplas subdivisões de atividades e de organizações participantes levou à combinação da EAP - Estrutura Analítica do Projeto - com a EAO - Estrutura Analítica da Organização - cuja combinação de forma matricial permitiu a vinculação de frações específicas de atividades a unidades específicas da organização.8 8 Mollica Fº, Armando op. cit.

Os microcomputadores fizeram sua aparição no ambiente dos projetos na década de 80, em virtude sobretudo da facilidade de sua operação e da aparição de software, dirigidos ao gerenciamento de projetos e dos aplicativos de fácil adaptação. O acesso imediato do gerente à informação e a possibilidade de rápida alteração de informações ante a mudança das situações, característica básica dos projetos da década de 80, garantiram o lugar dos microcomputadores no gerenciamento dos projetos.

3. O GERENCIAMENTO COMO UMA NOVA DISCIPLINA

A evolução mais sensível do gerenciamento deu-se nas suas áreas de aplicação, inicialmente muito ligadas ao desenvolvimento de projetos no campo da informática, por um lado, e, por outro, à construção e montagem de obras de grande porte. Hoje, praticamente, é aplicado a todos os campos da atividade humana. Evidentemente, isto só se tornou possível desde o momento em que o conceito de projeto foi sendo difundido na sua acepção mais ampla, como sistema interligado de atividades de relativa complexidade, não-repetitivas, com objetivo pré-especificado, com restrições de custo e prazos, e recursos agrupados no início e dispersados no fim do projeto.9 9 Benitez Codas, M. M. Aplicaciones de la gerencia de proyectos. Anales del I Simposio sobre A âministración de Proyectos y Gerencia de Obras. Asunción, Paraguay, 1982.

O conceito de gerência de projetos a empreendimentos físicos aplicava-se, basicamente, aos componentes da engenharia de projeto, suprimento e construção, no sentido de se atingirem a especificação de qualidade e os limites de prazo e custo. A literatura existente, em sua maioria, trata dos projetos deste ponto de vista e constitui o que podemos chamar de linha clássica do gerenciamento.10 10 Biezus, Ladi. O sistema de gerenciamento na execução de obras de saneamento básico. Anais do I Congresso el A mostra Brasileira de Energia, Saneamento e Meio Ambiente. São Paulo, 1981.

Estes conceitos foram-se ampliando, assim como a abrangência do projeto, desde o momento da tomada de decisão de executá-lo até sua execução final. Também o escopo foi-se alargando, incluindo as atividades da implantação da operação, atingindo o que podemos chamar de gerenciamento integral. A partir desta situação, além dos conhecimentos de engenharia de sistemas, foi sendo necessária a incorporação de outros conhecimentos, tais como: administração, economia, finanças, relações humanas e organização e métodos. Se fôssemos considerar projetos internacionais, seria necessário acrescentar: história, línguas e culturas dos países envolvidos.11 11 Cukierman, Z. S. & Dinsmore, Paul C. Administração de projeto - caracterização e problemática. Rio de Janeiro, Interamericana, 1981; Hori, Jorge. A diversidade de perspectivas do gerenciamento entre os participantes do empreendimento. Anais do I Simpósio Brasileiro sobre Gerenciamento de Empreendimentos, São Paulo, Gege, 1982; Reis, J. R. et alii Manual de Engenharia de Sistemas e Projetos; uma abordagem prática. São Paulo, Vozes, Inpe, ¡980.

Toda esta evolução afetou sensivelmente a equipe do projeto e especialmente o gerente, cujo perfil foi sendo modificado, passando de frio planejador de redes de atividades ao articulador sensível aos problemas humanos, solucionador de conflitos, versátil ante mudanças drásticas de situação e ciente dos problemas do ambiente que circunda o projeto.12 12 Benitez Codas, M. M. Formação do gerente de empreendimentos. I Seminario sobre Gerenciamento de Empreendimentos. Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro do Petróleo e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 1983 ; Graham, R. J. Project management; combining technical and behavioral approaches for effective implementation. USA, Van Nostrand Reinhold, 1985.

Os serviços de gerenciamento foram inicialmente atividades executadas internamente pelo pessoal das próprias empresas, para projetos de engenharia básica e executiva, construção e montagem, desenvolvimento de equipamentos especiais, sistemas de computadores etc. Paulatinamente, esses serviços começaram a ser efetuados para terceiros, como mais um serviço das firmas projetistas e construtoras.

Posteriormente, surgiram as firmas especializadas em gerenciamento, as quais passaram a constituir um setor específico, diferenciado da engenharia de projetos, de construção e de suprimentos. O ponto principal destacado pelas firmas gerenciadoras é que, sendo a função do gerenciamento a administração das interfaces desses três setores, não seria desejável a predominância de um deles, pela acumulação da função gerencial do conjunto com a precípua daquele setor.

4. PRIMEIRAS ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS

Na década de 60 foi fundado, nos EUA, o Project Management Institute (PMI), com o objetivo de promover o desenvolvimento da gerência de projetos, divulgar as tecnologias e os métodos de treinamento para o gerenciamento. Os fundadores eram profissionais do gerenciamento de empresas projetistas, construtoras, indústrias de informática e do meio universitário. A organização, originária da Pensilvânia, difundiu-se pelos diversos estados norte-americanos até o Canadá, surgindo, posteriormente, divisões no Japão, Coréia e em outros países asiáticos.

A partir de 1968, o PMI passou a realizar, anualmente, um seminário-simpósio, que além de ser um fórum para apresentação de trabalhos sobre gerenciamento, dentro de um tema central para o ano, apresenta cursos de introdução e de aperfeiçoamento. Os trabalhos apresentados são publicados nos anais dos simpósios, com informações de interesse para quem atua no gerenciamento.

Sentindo a necessidade de um manual que consolidasse a tecnologia de gerenciamento, um grupo de fundadores do PMI editou um manual de implantação dirigido a profissionais com experiência e que constitui um documento básico de referência.13 13 Stuckenbruck, Lynn C. et alii. "The implementation of project management; the professional's handbook. USA, project Management Institute, Addison Wesley, 1981.

Paralelamente com o desenvolvimento do gerenciamento na América do Norte, alguns profissionais europeus da Suécia, França, Holanda e Alemanha iniciaram conversações para a criação de um fórum de debates sobre a implantação de projetos com qualidade, no prazo e dentro do orçamento. Assim, em 1964, começaram a ser ministrados cursos, dentro desse espirito, na Associação Francesa de Pesquisa Operacional, de onde se partiu para a criação de uma rede internacional que levou o nome de International Network (Internet). Em 1965, foi fundada a International Management Systems Association (Imsa), permanecendo o nome de Internet como marca da associação. Em vários países da Europa Ocidental e Oriental, surgiram associações nacionais, que se foram interligando através do Internet, que passou a ser um tipo de federação de associações, estimuladora da criação de outras associações nacionais. O primeiro congresso do Internet foi celebrado em 1967, congregando delegados de 32 países, e vem-se repetindo a cada dois anos. Em 1981, foi celebrado o Congresso-Simpósio Conjunto PMI - Internet em Boston, marcando o início de um processo de maior intercâmbio entre essas associações.

Atualmente o Internet reúne associações de gerenciamento de quase todos os países da Europa Ocidental e alguns da Oriental, e mantém contato com associações da Ásia e África.14 14 Connor, L.J. The association of project managers and its origins. The Project Managers, England, The Association of Project Managers, 2(8), Apr. 1981.

5. FORMAÇÃOE APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL

Recentemente, um dos grandes professores de gerenciamento de projeto escreveu que o maior problema da gerência de projetos residia no desenvolvimento e treinamento de gerentes de projetos, em virtude de não se ter chegado a um consenso sobre as qualificações necessárias para o gerente e que, em decorrência disto, as universidades não puderam criar os cursos necessários para a formação e o desenvolvimento de gerentes.15 15 Adams, John R. & Kirchof, Nicki S. Developing project managers: adapting training to an organization's need. Proceedings of the 1984 Internet Congress. Rotterdam, 1984. Isto é comprovado analisando-se os meios de formação e aperfeiçoamento existentes na América do Norte e na Europa, quando se constata que não há consenso absoluto a respeito das qualificações necessárias para o gerente.

A maior parte dos cursos de engenharia civil apresenta disciplinas de gerenciamento da construção e os cursos de administração de empresas, disciplinas de gerência de projetos de informática, como extensão da engenharia de sistemas.

Antes do aparecimento dos cursos acadêmicos, surgiram na América do Norte e Europa os work-shops, de curta duração, e seminários de aperfeiçoamento.

O currículo básico da maioria desses meios de formação é centrado nas redes Pert-CPM e no uso dos computadores pessoais para sua aplicação no gerenciamento. Alguns desses cursos incluem a técnica da análise da estrutura do projeto e outros apresentam os critérios e técnicas de administração de contratos e subcontratos. Alguns seminários de aperfeiçoamento estão dando ênfase à importância da troca de experiências vivenciais dos participantes, o que tem sido apontado como o melhor caminho neste sentido.

Não se tem conhecimento de cursos a nível de graduação para formação de gerentes de projeto e são conhecidas as resistências para sua organização, em virtude do consenso, entre os gerentes, de que certa experiência profissional é pré-requisito para a formação do gerente de projetos experiência essa vinculada à maturidade pessoal e profissional do gerente que, em última instância, representa a síntese e o equilíbrio entre as capacidades inerentes ao mesmo, por ele adquiridas e dele exigidas.

6. O GERENCIAMENTO NO BRASIL

No Brasil, o desenvolvimento da gerência de projetos trilhou o mesmo caminho que em outras partes do mundo, com o planejamento da execução de instalações industriais pelas firmas projetistas e montadoras, claramente sob a influência norte-americana, e o gerenciamento de obras hidrelétricas sob um prisma diferente. Os primeiros trabalhos publicados em português tratam, basicamente, de gerenciamento da construção e tiveram bastante divulgação no próprio setor da construção.

O esquema da condução do projeto, quanto aos seus componentes básicos de engenharia de projeto, suprimentos e construção, atendendo aos objetivos especificados e limites de prazo e custo, passou a orientar a maior parte dos gerenciadores brasileiros.16 16 Biezus, Ladi. op. cit. 1978 e 1981. Durante a década de 70, alguns projetos pioneiros, como o do metrô em São Paulo, tiveram a linha geral do seu gerenciamento baseada neste conceito; porém, as condições impostas pela estratégia de implantação adotada obrigaram a repensar a questão e redefinir os conceitos de qualidade, prazo e custo. Resultou, então, que o melhor prazo nem sempre deve ou pode ser o menor, o contrato de custo mais baixo não resulta ser o mais interessante a longo prazo, nem o melhor equipamento importado é necessariamente o mais conveniente.

Coube, então, aos gerenciadores brasileiros a oportunidade de redefinir estes conceitos, levando em conta critérios de políticas nacionais de desenvolvimento, nacionalização, aumento de emprego de mão-de-obra, utilização de tecnologia já existente etc; realizando-se, assim, uma das primeiras inovações dos gerenciadores brasileiros.

O fim da década de 70 significa também o fim do gerenciamento onde o mais importante era a conclusão da obra no prazo, com o custo relegado a um segundo plano. A crise econômica que sucedeu ao milagre dos anos 70 afetou os grandes projetos com sucessivos stop-andgo e diminuição do ritmo de implantação, e foi necessário gerenciar com alta inflação e escassez de recursos. A condição de os grandes projetos serem modulados permitindo antecipar o retorno do investimento resultou da constatação dramática da impossibilidade de parar grandes obras não tão necessárias, obrigando a desviar recursos necessários em outras áreas mais prioritárias. Em 1983, tomaram posse nos maiores estados do país os governos eleitos com as bandeiras das reivindicações populares, alguns dos quais ante a falta de recursos financeiros, dedicaram-se a projetos de cunho social e de pequeno porte. Também a sociedade passou a exigir a sua participação na decisão do empreendimento e a cobrar dos gerentes as agressões ao meio ambiente, e tornaram-se freqüentes os problemas sindicais. As empresas privadas, nacionais e estrangeiras, abandonaram os "megaprojetos", obrigando à reformulação dos conceitos gerenciais vigentes. A necessidade de planejar melhor, abandonando a prática de improvisação ante os imprevistos, e a economia pela redução da escala tornaram-se as novas regras, passando o controle a ser exercido mais rigorosamente, porém com parcos resultados em virtude da alta inflação.

O gerenciamento enfrenta, a partir de março de 1986, as conseqüências do Plano de Estabilização Econômica, que, entre outros aspectos, obrigará à renegociação de grande parte dos contratos de fornecimento de bens e serviços, em face da introdução dos índices de deflação a serem aplicados para efeito dos esquemas de pagamentos. Ao mesmo tempo, enfrentam-se as contingências derivadas do contrachoque do petróleo, provocado pela queda internacional dos preços desse combustível, o que terá necessariamente incidência na economia brasileira a médio prazo, com a inevitável revisão dos projetos ligados à substituição dos combustíveis dele derivados.

7. FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL NO BRASIL

No fim da década de 70, surgem no Brasil duas organizações de profissionais de gerenciamento: a já citada divisão do Project Management Institute e outra, promovendo o desenvolvimento do gerenciamento com base nas experiências nacionais, que é o Grupo de Estudos de Gerência de Empreendimentos de São Paulo (Gege).

Durante os anos 70, praticamente todos os cursos e seminários de gerenciamento vinham sendo ministrados por profissionais estrangeiros; porém, a partir de 1980, a situação se modifica e surgem vários cursos e seminários dados por profissionais do país, difundindo basicamente os conceitos da linha clássica.

Em 1983, surgiu a oportunidade de se estruturar um curso de aperfeiçoamento em gerenciamento, com duração de um semestre, quando o Instituto Mauá de Tecnologia e a Planasa (entidade que promove seminários de aperfeiçoamento) desenvolveram um novo curso de maneira sistemática, o Curso de Extensão em Administração de Projetos (Ceap). Um grupo de profissionais, membros do Gege, elaborou um amplo programa baseado no gerenciamento integral, focalizando o projeto desde a decisão de sua execução até sua operação comercial, e incluindo não só a implantação dos produtos físicos, como, também, a da sua operação, abrangendo todo o amplo universo dos participantes e as tecnologias envolvidas.17 17 Hori, Jorge, op. cit.

Na Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas existe o curso, a nível de pós-graduação, de Gerenciamento da Implantação de Empreendimentos, com duração de um semestre, cujos alunos são, basicamente, engenheiros das áreas de engenharia de projeto e construção. No Curso de Administração de Empresas da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo é dada uma disciplina, de Gerência de Projetos, com duração de um semestre; e, também, na Escola Politécnica da USP, na Fundação de Desenvolvimento Tecnológico foi iniciado, em 1986, o curso de Mestrado em Gerenciamento da Construção Civil. No setor de projetos de pesquisa e desenvolvimento, também conta-se com programas de formação de gerentes de projeto, como é o caso do Pacto - Programa de Administração em Ciência e Tecnologia da FEA/USP.

8. CONCLUSÕES

O principal campo de aplicações do gerenciamento continuará sendo a implantação de empreendimentos físicos, tais como projetos de construção civil e industrial, fabricação de equipamentos complexos e protótipos, reformas de grandes instalações existentes etc. A mudança mais significativa nesses casos consistirá em o gerenciamento ser aplicado desde o início do projeto até a sua conclusão e, eventualmente, incluindo-se neste alguma etapa de operação. Também fará parte do escopo do gerenciamento a implantação da operação, nos aspectos formais, inclusive de recrutamento, seleção e treinamento de pessoal.18 18 Benitez Codas, M. M. Discurso de encerramento. Anaisdo I Simpósio Brasileiro de Gerência de Empreendimentos. São Paulo, Gege, ago. 1985; Baker, Bruce N. The future of project management. Proceedings of the 1984 Internet Congress. Rotterdam, 1984.

No entanto, durante o II Simpósio de Gerência de Empreendimentos patrocinado pelo Gege em 1986, já foi constatado que a gerência de projetos com objetivos não-físicos estava começando a ocupar parcela sensível do mercado de aplicações do gerenciamento, como, por exemplo, no campo dos projetos de cunho social e comercial. Também se tem constatado o aumento do número de projetos de pequeno porte, que estão sendo gerenciados sob a ótica do gerenciamento. O gerenciamento constatado deve aumentar sua importância e, para crescer ainda mais rapidamente, deverá resolver o problema da seleção do gerenciador pela confiança versus a seleção pela concorrência.

O gerenciamento vem-se caracterizando como uma disciplina diferente da engenharia e da administração de empresas, mesmo que os gerentes sejam, na sua maioria, originários destas profissões. Para poder consolidar o gerenciamento como disciplina diferente, é necessário caracterizar mais precisamente os conceitos de projeto e gerenciamento, e as funções próprias executadas pelos gerentes de projeto, tornando esses conceitos de uso corrente no meio profissional. A partir dessa consolidação, poderão ser definidas as qualificações atribuíveis aos gerentes e os meios de formação para atingi-las.

O uso do computador será intensificado; porém, os gerentes não devem perder de vista o fato de que a informática é um instrumento facilitador de gerenciamento e não a solução para todos os problemas.

Quanto às técnicas de gerenciamento, deverão ser procuradas aquelas mais eficientes e, sobretudo, mais eficazes, objetivando relações melhores de custo-benefício para a sociedade da qual se faz parte, a qual exigirá, também, que o gerenciamento de projetos de paz seja mais eficiente e eficaz que os projetos de guerra, para os quais existem tantos recursos e tecnologia.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Jun 2013
    • Data do Fascículo
      Mar 1987
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