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Nationalism in Brazil: a historical survey

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Nationalism in Brazil: a historical survey

Manoel Tosta Berlinck

Escola de Administração de Emprêsas de São Paulo

NATIONALISM IN BRAZIL: A HISTORICAL SURVEY - Por E. BRADFORD BURNS, Nova Iorque, Frederick A. Praeger, Publishers, 1968, 158 páginas, US$ 5.50.

Nos últimos cinco ou seis anos, a historiogràfia brasileira vem sendo enriquecida por diversos estudos realizados por especialistas norte-americanos. Tais estudos - entre os quais podem ser lembrados o de JOHN W. F. DULLES, Vargas of Brazil: A Political Biography, o de THOMAS E. SKIDMORE, Politics in Brazil: 1930-1964 e o de RICHARD GRAHAM, Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914 - constituem trabalhos originais baseados em extensas pesquisas bibliográficas e empíricas aos quais os autores procuram adicionar interpretações teóricas, E. BRADFORD BURNS coloca-se, quer pela quantidade de trabalhos, quer pela qualidade de suas investigações, à frente de tais estudiosos. Como se não bastassem os seus Perspectives on Brazilian History; A Documentary History of Brazil e The Unwritten Alliance: Rio-Branco and Brazilian-American. Relations, publica êste estudo sôbre o nacionalismo no Brasil.

O livro, ainda que não esgote o tema - e nem é essa a intenção do autor - pode ser considerado, pelo cuidado com que foi escrito e pelas fontes consultadas, como documento fundamental para a compreensão do papel daquela ideologia no processo de transformação da realidade brasileira. A importância do livro, entretanto, não termina aí. Ainda que não tenha sido a intenção explícita do autor, Nationalism in Brazil analisa o processo pelo qual uma determinada ideologia pode contribuir para a modificação da estrutura social. Nesse sentido, o livro de BURNS coloca-se na tradição weberiana e adquire importância teórica para o estudo sociológico da realidade brasileira.

O nacionalismo brasileiro tem sido objeto de uma série muito grande de estudos que BURNS conhece. Êsses estudos, entretanto, têm sido feitos, em grande parte, por analistas que pretendem defender ou atacar um ou outro aspecto da ideologia. BURNS os utiliza, portanto, como manifestações da ideologia realizando, em conseqüência, uma análise do ponto de vista da sociologia do conhecimento.

BURNS identifica três etapas fundamentais no desenvolvimento do nacionalismo no Brasil. A primeira, o autor denomina "nativismo colonialista" e considera-a manifestação ingênua que reflete a procura de uma identificação com a terra recém-descoberta. As primeiras manifestações de tal nativismo podem ser encontradas, segundo o autor, nas obras de AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO, escrita em 1618, de FREI VICENTE DO SALVADOR, escrita em 1627, e, também, na defesa do território nacional contra as invasões holandesas. BURNS percebe em Diálogos das Grandezas do Brasil, de BRANDÃO, "uma procura da auto-identificação" que se acentua nos anos subseqüentes. Essa primeira fase do nacionalismo vai se encerrar com a vinda de D. João VI e com a Proclamação da Independência. Segundo o autor, "o crescimento da consciência nacional teve o seu triunfo inevitável na Proclamação da Independência do Brasil em 1822. Membros da elite brasileira, transformados de nativistas bucólicos em nacionalistas radicais, ajudaram a criar uma nação e juraram defender sua soberania. O Brasil expandiu-se e cresceu como uma nação unificada, graças, pelo menos em parte, a um nacionalismo viril ou a um nacionalismo precoce. Um sentimento nacional, entre a elite, e um vago sentimento de devoção à terra, entre segmentos das massas, ajudam a explicar porque aquêle país gigantesco, ao contrário de outras grandes áreas administrativas da América Latina colonial, não se fragmentou depois da independência"(p. 28).

A segunda etapa, que o autor chama de "nacionalismo defensivo do século XIX" manifesta-se a partir de 1821 e é nitidamente antiportuguês e antiinglês; suas manifestações mais completas foram a Proclamação da Independência, o Romantismo Indigenista e a República. É nessa fase que, para BURNS, o nacionalismo procura uma definição nacional, enfatizando a importância do negro e do índio na formação da nacionalidade. Essa fase ultrapassa a República e chega até a crise internacional de 1930.

A partir de 30, BURNS identifica uma terceira fase, que denomina "nacionalismo ofensivo do século XX" e subdivide, para efeitos de análise, em nacionalismo político, cultural e econômico. Ao examinar essa etapa, o autor demonstra como o nacionalismo transborda dos limites da elite intelectual do país e atinge a crescente classe média urbana e até mesmo o proletariado. Analisa o papel de VARGAS, da UNE e do ISEB na formulação dêsse nacionalismo e na implementação de uma política desenvolvimentista. Refere-se, ainda que de passagem, às contradições dessa política e ao papel de JUSCELINO KUBITSCHEK na acentuação de tais contradições. Finalmente, examina a deterioração do nacionalismo enquanto fator de união nacional, durante os períodos de QUADROS e GOULART.

BURNS sugere uma série de caminhos para a investigação das causas e conseqüências da ideologia nacionalista em relação à política social e econômica do Brasil. Até que ponto, por exemplo, o nacionalismo desenvolvimentista de JUSCELINO KUBITSCHEK facilitou a implantação de uma indústria estrangeira na economia brasileira gerando, em conseqüência, uma contradição entre ideologia e processo? Quais as conexões entre populismo e nacionalismo? Até que ponto o nacionalismo foi uma ideologia da elite brasileira e serviu aos interêsses dessa elite? Enfim, o livro de BURNS não é só informativo, mas é, também, estimulante.

O autor termina o livro examinando o significado histório da mudança no poder político ocorrido em 1964 e a política de CASTELO BRANCO à luz da ideologia nacionalista.

O livro contém vasta bibliografia comentada em apêndice.

Nationalism in Brazil passa, portanto, a ser obra importante para a compreensão do papel da ideologia nos processos de transformação da sociedade brasileira e fonte bibliográfica rica para o estudo da História do Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1969
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