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Diante da guerra

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Fernando Cláudio Prestes Motta

Castoriadis, Cornelius. Diante da guerra. São Paulo, Brasiliense, 1982. v. 1, 275 p.

"É este Estado de direito, o Estado da lei por excelência, que detém, ao contrário dos Estados pré-capitalistas, o monopólio da violência e do terror supremo, o monopólio da guerra."

(Nicos Poulantzas)

Cornelius Castoriadis, Pierre Chalieu e Paul Garden são a mesma pessoa, em fases diferentes da mesma denúncia, a denúncia de uma ilusão e, ao mesmo tempo, a denúncia de uma opressão. Ultrapassados os limites do pensamento trotskista, era preciso organizar a crítica do próprio trotskismo e da dominação burocrática estabelecida na União Soviética. Foi precisamente para isto que, com Claude Lefort, esse grego que produziu principalmente na França criou o grupo Socialismo ou Barbárie.

Muita coisa importante foi produzida e o grupo e sua revista acabaram. Castoriadis, entretanto, nunca parou. A partir do famoso texto As relações de produção na Rússia prosseguiu sempre. Nessa trajetória o ideal de uma sociedade autenticamente socialista jamais desapareceu. A descrença no regime soviético, porém, só cresceu.

Em Diante da guerra, Castoriadis não está preocupado com uma guerra que estourará amanhã, depois de amanhã, ou daqui a 20 anos. Preocupa-se, isto sim, com a guerra que está presente em toda a teia de relações internacionais e nacionais, no cotidiano das políticas, das práticas e dos discursos. Preocupa-se com o poderio crescente da União Soviética, que prefere chamar de Rússia, e com as condições altamente favoráveis à manutenção e ampliação desse poderio.

Realmente, não importa discutir quem é o grande vilão, se os Estados Unidos ou a União Soviética. Interessa, isso sim, verificar que, enquanto a última se expande, os primeiros se retraem, por motivos absolutamente lógicos e racionais.

É desses motivos que o livro trata. Algo muda na velha Rússia; muda dentro da mesma modelização, apenas na medida em que mudam os vértices da dominação. O Partido/Estado esgotado cede lugar à grande armada.

O crítico implacável da burocracia soviética, que é Castoriadis, não descansa em sua denúncia. Não se trata, evidentemente, de um desvio do socialismo. Chega de ilusões! O regime russo não é e nada tem a ver com o socialismo, a não ser no discurso cada vez menos convincente de seu partido. Tudo isto já fora dito. Faltava denunciar as novas configurações do totalitarismo soviético. É o que Castoriadis fez.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1983
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