ATRIBUTOS EMPREENDEDORES EM MIGRANTES VENEZUELANOS QUE SE ESTABELECERAM NA COLÔMBIA

RESUMO

O estudo analisa os atributos empreendedores dos migrantes venezuelanos instalados em Gramalote, Departamento do Norte de Santander, Colômbia, que explicam a percepção e a capacidade de aproveitar as oportunidades (como variável dependente) e as características sociodemográficas e contextuais (variáveis independentes). Foram adotados um paradigma positivista e uma abordagem quantitativa. Os dados vieram de uma pesquisa com 88 migrantes venezuelanos. Para o processamento de dados, foi realizada uma análise bivariada, e as categorias de variáveis foram agrupadas para serem tratadas estatisticamente por meio de regressão logística multinomial. Recomenda-se que as políticas públicas sobre migração, para inclusão de empreendedores venezuelanos na Colômbia, considerem os seguintes atributos: nível educacional, geração de emprego, eficiência e qualidade, conformidade com normas e responsabilidade, busca de informação e persuasão, e redes de apoio. Esses atributos são recomendados por estarem associados à probabilidade de percepção e capacidade de aproveitar as oportunidades de negócios.

Palavras-chaves:
Atributos empreendedores; empreendedorismo; migrantes venezuelanos; redes de apoio; oportunidades de negócio

ABSTRACT

The study analyzes the entrepreneurial attributes of Venezuelan migrants settled in Gramalote (Norte de Santander Department, Colombia) that explain the perception and ability to seize opportunities (as a dependent variable) and the sociodemographic and contextual characteristics (independent variables). The research adopted a positivist paradigm and a quantitative approach to obtain data from a survey conducted with 88 Venezuelan migrants. A bivariate analysis was carried out for data processing, and the categories of variables were grouped to be treated statistically using multinomial logistic regression. It is recommended that public policies on migration for the inclusion of Venezuelan entrepreneurs in Colombia consider the following entrepreneurial attributes: educational level, employment generation, efficiency and quality, compliance and responsibility, information seeking, and support networks since these attributes are associated with the likelihood of perception and capacity to seize business opportunities.

Keywords:
Entrepreneurial attributes; entrepreneurship; Venezuelan migrants; support networks; business opportunities

RESUMEN

El estudio analiza los atributos emprendedores en migrantes venezolanos asentados Gramalote, Departamento Norte de Santander, Colombia que explican la percepción y habilidad para aprovechar oportunidades (como variable dependiente) y las características sociodemográficas y de contexto (variables independientes). Se adoptó un paradigma positivista y enfoque cuantitativo. Los datos provienen de una encuesta aplicada a 88 migrantes venezolanos. Para el tratamiento de los datos se realizó un análisis bivariado y se agruparon las categorías de las variables para ser tratadas estadísticamente mediante una regresión logística multinomial. Se recomienda que las políticas públicas sobre migración, para la inclusión laboral en Colombia, consideren los siguientes atributos de los emprendedores venezolanos: nivel educativo, generación de empleo, eficiencia y calidad, cumplimiento y responsabilidad, búsqueda de información y persuasión, y redes de apoyo porque están asociados con la probabilidad de percepción y capacidad para aprovechar oportunidades de negocio.

Palabras clave:
Atributos emprendedores; emprendimiento; migrantes venezolanos; redes de apoyo; oportunidades de negocio

INTRODUÇÃO

O empreendedorismo diz respeito a uma forma de pensar, raciocinar e agir na busca de oportunidades de negócios, compreendendo um conjunto de características pessoais essenciais para iniciar um novo empreendimento (Santafé & Tuta, 2016). De acordo com a literatura, o empreendedor é aquele que vislumbra e possui a capacidade de encontrar oportunidades que passam despercebidas a outras pessoas, independentemente de ter ou não os recursos necessários para iniciar o negócio (Steven son & Gumpert, 1985). A pessoa empreendedora é também alguém que explora uma invenção, aloca recursos, inova na organização e preparação da atividade econômica em cenários de incerteza – por exemplo, alugando ou organizando terra, trabalho e capital, comprando matérias-primas – mesmo não sendo necessariamente o capitalista ou aquele que inventa ou investe (Ramírez-Martínez et al., 2018; Schumpeter, 1961). É um indivíduo motivado por fatores internos (interesse, autodeterminação, independência, segurança, necessidade de realização, reciprocidade, alcançar uma meta) e externos (benefícios econômicos, compensação financeira, reconhecimento, controle externo) (Antonioli et al., 2016; Carsrud & Brännback, 2011; Eijdenberg & Masurel, 2013; Marulanda et al., 2014; Moreno & Egusquiza, 2017).

Portanto, a identificação de atributos pessoais permite determinar o perfil de um empreendedor de sucesso, organizado, planejador, que corre riscos, inteligente, criativo e líder (Adie-Villafañe & Cárdenas-Ortiz, 2021; Sepúlveda et al., 2017). Em relação aos estudos sobre o empreendedorismo em um contexto específico, Rauch e Frese (2007) explicam a importância de analisar as características sociodemográficas desse grupo de indivíduos: idade, gênero, escolaridade e local de residência, características sociais como ocupação, situação familiar, e renda que, juntamente com os atributos dos empreendedores, determinam a decisão individual de empreender.

No entanto, por ser um campo pouco explorado, não há um consenso na literatura quanto aos atributos empreendedores dos imigrantes, porém, além das características tradicionais delineadas pela literatura clássica, os empreendedores imigrantes trilham caminhos diferentes, possuem habilidades particulares e conexões por meio de redes migratórias e internacionais (Elo et al., 2018). A investigação centrada no estudo do empreendedorismo imigrante ou motivação para o empreendedorismo inclui os estudos de Clark e Drinkwater (2010), González e Campbell (2018), Levie (2007), Shinnar e Young (2008), Tienda e Raijman, (2004) entre outros.

Nesse sentido, o estudo de Mazuera-Arias, Albornoz-Arias, Peraza et al. (2019) consultou uma amostra de 12.957 migrantes venezuelanos. Dessa amostra, 86,2% dos consultados afirmaram que deixaram seu país em busca de novas e melhores oportunidades de trabalho, 69,3% para ajudar economicamente sua família e 43,3% planejavam iniciar seu próprio negócio no país anfitrião. Sendo assim, o espírito empreendedor do migrante e as condições e facilidades locais para estabelecer um negócio são elementos atrativos de um país anfitrião (Eijdenberg & Masurel, 2013). Também é positivo para o país anfitrião que a migração contribua para o funcionamento do Estado por meio do pagamento de impostos, previdência social, fundos de pensão, autoemprego e geração de emprego formal, além de auxiliar no desenvolvimento do país de origem através de remessas financeiras (Elo et al., 2018; Elo & Dana, 2019; Sinkovics & Reuber, 2021).

Portanto, este artigo enfoca os atributos empreendedores de migrantes venezuelanos estabelecidos na Colômbia e os associa a fatores motivacionais internos. Consideramos as características de empreendedores de sucesso propostas por McClelland (1961, 1965, 1987) e as características empreendedoras pessoais de Bayas (2013), observáveis em qualquer indivíduo levado a iniciar um negócio. Esses atributos estão organizados em três grupos (Figura 1).

Figura 1
Características pessoais de empreendedores

O objetivo deste estudo é responder a pergunta de pesquisa: Quais são os atributos empreendedores de migrantes venezuelanos estabelecidos em Gramalote, (Departamento de Norte de Santander, Colômbia) que explicam a percepção e a capacidade de aproveitar oportunidades?

A pesquisa trabalhou com a hipótese nula (H0) de que não há relação ou associação significativa entre fatores demográficos e de contexto (atributos empreendedores) de migrantes venezuelanos e sua percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. Por conseguinte, a hipótese alternativa (H1) testada expressa o oposto, de que há evidências significativas dessa relação ou associação.

O estudo adota uma abordagem quantitativa com dados obtidos em uma pesquisa estruturada do tipo survey aplicada a população de 88 migrantes venezuelanos maiores de 18 anos, empreendedores de negócios formais localizados na área urbana de Gramalote, C. O conjunto de dados é de acesso público (Albornoz-Arias & Santafé- Rojas, 2022). Uma análise descritiva foi utilizada para o tratamento dos dados e realizada uma análise bivariada entre a variável dependente “percepção e capacidade de aproveitar oportunidades” e oito atributos empreendedores (Figura 1). Para determinar as relações entre as variáveis dependentes e independentes, foi ajustado um modelo de regressão logística multinomial, onde foi estimada a probabilidade de um evento ocorrer mediante ao seguinte conjunto de variáveis:

• Sociodemográficas: gênero, faixas etárias, nível educacional, área de conhecimento, e geração de emprego.

• Contextuais (atributos empreendedores).

ATTRIBUTOS EMPREENDEDORES

Indivíduos que iniciam seus negócios buscam alcançar a independência e melhorar sua estabilidade econômica. Alguns estudos explicam as características empreendedoras que levam os indivíduos a gerar autoemprego e/ou emprego. A Tabela 1 demonstra os atributos empreendedores observados na literatura.

Tabela 1
Atributos empreendedores dos indivíduos segundo a literatura

Grupos de atributos	Atributos
1.Orientados à realização	Buscar oportunidades e ter iniciativa	Indivíduos com esse atributo são capazes de reconhecer oportunidades de negócios que os outros não veem. Com isso, estão dispostos a correr riscos e aproveitar oportunidades para iniciar negócios de forma inovadora (Bergner et al., 2021; Shane, 2003; Shane & Venkataraman, 2000). Alguns empreendedores imigrantes, oriundos de países em desenvolvimento, possuem características diferentes daquelas apresentadas pelas populações nativas do país que os recebe. Eles possuem capital social, humano e econômico diferenciado, que lhes permite participar de outros segmentos da estrutura de oportunidades (por exemplo, alimentos étnicos, lojas de roupas étnicas) (Cruz et al., 2018).
	Correr riscos	A propensão ao risco de uma pessoa está relacionada a sua capacidade de tomar decisões e enfrentar incertezas em seu projeto de vida com o objetivo de aproveitar as oportunidades (Biswas & Verma, 2021; Block et al., 2015; Keat et al., 2011; Schmitt et al., 2018).
	Exigir eficiência e qualidade	Por esse atributo, o indivíduo está disposto a alcançar o sucesso e superar expectativas, realizando para isso tarefas planejadas e desafiadoras de maneira a tender os mais altos padrões de qualidade e excelência, bem como respeitando processos estabelecidos (Kern et al., 2016; Pulgarín & Cardona, 2011).
	Persistência	O atributo diz respeito a capacidade dos indivíduos de focar, se comprometerem e estarem motivados a alcançar os objetivos planejados mesmo tenhdo que enfrentar obstáculos e situações adversas (Biswas & Verma, 2021; Caliendo et al., 2020; Pulgarín & Cardona, 2011).
	Atuar em conformidade com normas	Refere-se ao comprometimento e entusiasmo do indivíduo em realizar planos e atingir metas, assumindo responsabilidades (Cardon et al., 2017; Chen et al., 2009). Em termos de acesso a recursos econômicos, é provável que empreendedores imigrantes tenham crédito negado ou consigam empréstimos menores do que os comumente solicitados por empreendedores nativos. Isso se deve, entretanto, a fatores de risco e antecedentes financeiros e não necessariamente pelo fato de serem imigrantes (Cruz et al., 2018).
2. Orientados ao planejamento	Buscar informação	Refere-se à ação do empreendedor na tomada de decisões e aproveitamento de oportunidades a partir da busca por informações sobre recursos financeiros, pesquisas técnicas e intelectuais (González & Campbell, 2018; Soltwisch, 2021). No caso dos imigrantes, busca-se informação relevante junto a outros profissionais também imigrantes (Tienda & Raijman, 2004; Triana et al., 1984), o que lhes permite ter contato com uma rede alternativa de apoio para seu desenvolvimento e integração (Minto-Coy, 2019).
	Estabelecer metas	Refere-se à perseverança, motivação, organização, interesse, persistência e autodisciplina para alcançar objetivos planejados e desafiadores (Hmieleski & Corbett, 2008; McClelland, 1961; Shane et al., 2003).
	Planejar e monitorar sistematicamente	Corresponde a cognição e conscientização dos indivíduos, o que lhes permite planejar como as metas serão executadas, tomar decisões, delegar responsabilidades e monitorar a implementação dessas metas (Chen et al., 2009; Das, 2008). O planejamento inicial e precoce é influenciado positivamente pelo nível educacional, experiência de vida e educação empreendedora (Block & Petty, 2020).
3. Orientados ao poder	Construção de redes de apoio (persuasão)	Refere-se à capacidade de um indivíduo de se envolver em interações sociais assertivas e explorar os mercados por meio de redes formais e informais reunindo seus pares e de processos de mentoria (González & Campbell, 2018). Esse atributo faz parte do capital social do empreendedor imigrante que influencia o acesso a recursos, informações e ao desempenho dos negócios (Jafari-Sadeghi et al., 2020; Liu et al., 2018; Tata & Prasad, 2015). No caso dos imigrantes, por competirem pelos mesmos empregos e salários com a população nativa, alguns tendem a iniciar um negócio com o apoio de redes migrantes de conterrâneos empreendedores, conseguindo obter alguma renda no país em que estão sendo acolhidos (Martín-Montaner et al., 2018; Schøtt, 2018; Shinnar & Nayır, 2019).
	Autoconfiança	Compreende a certeza e segurança que o indivíduo tem sobre suas capacidades para empregar recursos de forma eficiente e eficaz, tomar decisões e iniciar um negócio (Moreno et al., 2007). É também um dos principais atributos que caracterizam o empreendedor proativo e positivo, o que facilita obter maior rentabilidade (Anglin et al., 2018; Li et al., 2017).

• Fonte: Elaborado pelos autores.

MATERIAIS E MÉTODOS

Contexto do fenômeno migratório venezuelano e população-alvo

A migração venezuelana é considerada a maior mobilização humana da América Latina. São migrantes documentados e não documentados, e parte dessa população conta com apoio de redes de migrantes atuando nos países de destino (Mazuera-Arias, Albornoz-Arias, Superlano et al., 2 019). Os números levantados em 5 de agosto de 2021 mostram que 5.667.835 venezuelanos estavam na condição de migrantes, dos quais 4.621.562 se deslocaram para outros países na América Latina e no Caribe, especialmente para o Chile, Colômbia, Peru e Equador (R4V, 2021; United Nations Refugee Agency, 2019a; World Bank, 2019), deixando a Venezuela em virtude da crise humanitária e econômica que deteriorou o padrão de vida no país.

A migração venezuelana também teve impacto no território brasileiro, através do corredor fronteiriço Santa Elena de Guairén (Venezuela) – Pacaraima (Brasil). Durante a pandemia da COVID-19, a Portaria 655/2021 de 23 de junho, publicada pelo governo federal brasileiro, permitiu a entrada de migrantes venezuelanos por motivos humanitários, bem como a regularização migratória de venezuelanos que entraram clandestinamente no Brasil (United Nations Refugee Agency, 2019b).

Em dezembro de 2020 a Colômbia abrigava 37% dos migrantes venezuelanos espalhados pelo mundo, um total de 1.729.537 pessoas. Dessas, 51% eram homens e 55,9% migraram de forma irregular (Migración Colombia, 2020). O Departamento de Norte de Santander está localizado no nordeste da Colômbia e faz fronteira com a Venezuela. Conta com 40 municípios e abriga 187.854 (ou 10,86%) dos migrantes venezuelanos naquele país. O município de Gramalote, examinado no presente estudo, conta 194 migrantes venezuelanos registrados pelas autoridades (ou 0,1% dos migrantes no departamento) (Migración Colombia, 2020).

Dados

Os dados foram obtidos a partir de um instrumento estruturado aplicado junto a 88 migrantes venezuelanos maiores de 18 anos, empresários de negócios localizados na área urbana de Gramalote, Departamento de Norte de Santander, Colômbia. Os indivíduos consultados para este estudo representam 45,36% da população cadastrada pela autoridade migratória daquele município.

A análise descritiva foi utilizada para o tratamento dos dados, conduzindo-se também a análise bivariada entre a variável dependente “percepção e capacidade de aproveitar oportunidades”, com cada uma das variáveis independentes (variáveis sociodemográficas e contextuais que são os atributos empreendedores) e utilizando o método de teste exato de Fisher, com nível de confiança de 5%. O teste tau-b de Kendall também foi aplicado para medir a direcionalidade da relação naquelas variáveis que apresentaram evidência de associação estatisticamente significante. Para determinar as relações conjuntas entre as variáveis dependentes e independentes foi ajustado um modelo de regressão logística multinomial, onde foram estimadas as probabilidades de ocorrência de um evento dado um conjunto de variáveis explicativas. Para o processamento e a análise dos dados foi utilizando o software SPSS.

Variáveis

As variáveis foram reagrupadas e recodificadas para tratamento estatístico por regressão logística multinomial; definindo como variável dependente “percepção e capacidade de aproveitar oportunidades”, determinadas pelas categorias de resposta: 1= baixa, 2= média, 3 = alta.

As variáveis independentes são:

• Sociodemográficas: Gênero (variável dicotômica): 0=Feminino, 1=Masculino; Faixas etárias: 1= 18 a 34 anos, 2= 35 a 49 anos, 3= acima de 50 anos; Nível Educacional (variável dicotômica): 0= Ensino médio ou menos, 1= Técnico e profissional; Área de conhecimento: 1= Administração/Contabilidade, 2= Direito, 3=Engenharia, 4= Técnico, 5=Outros; Geração de emprego (variável dicotômica): 0= Não, 1= Sim.

• Contextuais (características do negócio, determinadas por categorias de resposta: 1=baixo, 2=médio, 3=alto). Assume riscos: 1=Baixo, 2=Médio, 3=Alto; Exigência por eficiência e qualidade: 1=Baixo, 2=Médio, 3=Alto; Persistência e conformidade: 1= Baixo, 2= Médio, 3=Alto; Busca de informações: 1=Baixo, 2=Médio, 3=Alto; Definição de metas: 1= Baixo, 2= Médio, 3=Alto; Construção de redes de apoio e persuasão: 1=Baixo, 2= Médio, 3 =Alto; Autoconfiança: 1=Baixo, 2= Médio, 3=Alto.

Modelo do estudo

Para determinar a relação das características entre as variáveis dependente e independentes, foi ajustado um modelo de regressão logística multinomial. A probabilidade de um evento ocorrer dado um conjunto de variáveis explicativas representadas pela expressão geral foi estimada conforme a fórmula:

(1) $\begin{array}{cc}\text{Prob}\left(Y_i=j/x\right)=\frac{{\text{e}}^{{\beta }^{\prime }kjXki}}{1+{\displaystyle {\sum }_{k=1}^j{\text{e}}^{{\beta }^{\prime }kjXki}}}& \text{para}j=1,2,3\end{array}$

Y representa a variável dependente, neste caso o nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades, que assume os valores 1, 2 ou 3 (baixo, médio ou alto respectivamente); Xk o vetor de k das variáveis independentes ou explicativas e βkj=β0j ..β1j ….βkj que inclui o intercepto β0j, o vetor de coeficientes a ser estimado para o efeito de Xk na escolha j.

Para a análise e estimativa do modelo foi utilizado o método da máxima verossimilhança, considerando o ponto onde o logaritmo de verossimilhança é maximizado por meio de iterações até atingir o ponto convergente com o valor do parâmetro.

Características dos migrantes de acordo com a percepção e capacidade de aproveitar oportunidades

As Tabelas 2 e 3 mostram a distribuição percentual dos migrantes segundo a variável dependente “percepção e capacidade de aproveitar oportunidades”. Do total de empreendedores, 8% (7 pessoas) apresentaram níveis baixos de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades, enquanto 51,1% (45) apresentaram níveis médios e 40,9% (36) níveis elevados.

Tabela 2
Características sociodemográficas da amostra

Variável sociodemográfica		Código	Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades
			Baixa		Média		Alta		Total
			n	%	n	%	n	%	n	%
Gênero	Masculino	0	5	71,4%	21	46,7%	15	41,7%	41	46,6%
	Feminino	1	2	28,6%	24	53,3%	21	58,3%	47	53,4%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Faixas Etárias	18 a 34 anos	1	2	28,6%	8	17,8%	10	27,8%	20	22,7%
	35 a 49 anos	2	0	0,0%	15	33,3%	8	22,2%	23	26,1%
	Acima de 50 anos	3	5	71,4%	22	48,9%	18	50,0%	45	51,1%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Nível Educacional	Ensino Médio ou menos	0	4	57,1%	23	51,1%	25	69,4%	52	59,1%
	Técnico ou Profissonal	1	3	42,9%	22	48,9%	11	30,6%	36	40,9%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Área de Conhecimento	Gestão/ Contabilidade	1	0	0,0%	6	13,3%	5	13,9%	11	12,5%
	Direito	2	0	0,0%	1	2,2%	2	5,6%	3	3,4%
	Engenharia	3	1	14,3%	10	22,2%	1	2,8%	12	13,6%
	Técnico	4	2	28,6%	7	15,6%	5	13,9%	14	15,9%
	Outros	5	4	57,1%	21	46,7%	23	63,9%	48	54,5%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Geração de Emprego	Não	0	3	42,9%	19	42,2%	6	16,7%	28	31,8%
	Sim	1	4	57,1%	26	57,8%	30	83,3%	60	68,2%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%

• Fonte: Elaborado pelos autores.

Tabela 3
Características do contexto

Variáveis de contexto		Código	Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades
			Baixa		Média		Alta		Total
			n	%	n	%	n	%	n	%
Correr riscos	Baixo	1	5	71,4%	6	13,3%	0	0,0%	11	12,5%
	Médio	2	1	14,3%	30	66,7%	15	41,7%	46	52,3%
	Alto	3	1	14,3%	9	20,0%	21	58,3%	31	35,2%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Exigir eficiência e qualidade	Baixo	1	5	71,4%	4	8,9%	0	0,0%	9	10,2%
	Médio	2	2	28,6%	34	75,6%	8	22,2%	44	50,0%
	Alto	3	0	0,0%	7	15,6%	28	77,8%	35	39,8%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Atuar em conformidade com normas	Baixo	1	0	0,0%	0	0,0%	0	0,0%	0	0,0%
	Médio	2	7	100,0%	31	68,9%	9	25,0%	47	53,4%
	Alto	3	0	0,0%	14	31,1%	27	75,0%	41	46,6%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Buscar informação	Baixo	1	5	71,4%	0	0,0%	0	0,0%	5	5,7%
	Médio	2	1	14,3%	30	66,7%	10	27,8%	41	46,6%
	Alto	3	1	14,3%	15	33,3%	26	72,2%	42	47,7%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Estabelecer metas	Baixo	1	0	0,0%	1	2,2%	0	0,0%	1	1,1%
	Médio	2	6	85,7%	24	53,3%	11	30,6%	41	46,6%
	Alto	3	1	14,3%	20	44,4%	25	69,4%	46	52,3%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Construção de redes de apoio (persuasão)	Baixo	1	5	71,4%	0	0,0%	0	0,0%	5	5,7%
	Médio	2	2	28,6%	37	82,2%	21	58,3%	60	68,2%
	Alto	3	0	0,0%	8	17,8%	15	41,7%	23	26,1%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Persistência	Baixo	1	0	0,0%	0	0,0%	1	2,8%	1	1,1%
	Médio	2	7	100,0%	32	71,1%	14	38,9%	53	60,2%
	Alto	3	0	0,0%	13	28,9%	21	58,3%	34	38,6%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%
Autoconfiança	Baixo	1	5	71,4%	1	2,2%	0	0,0%	6	6,8%
	Médio	2	2	28,6%	37	82,2%	13	36,1%	52	59,1%
	Alto	3	0	0,0%	7	15,6%	23	63,9%	30	34,1%
	Total		7	100,0%	45	100,0%	36	100,0%	88	100,0%

• Fonte: Elaborado pelos autores.

Análise bivariada

Para obter uma primeira aproximação das possíveis relações entre a variável dependente “percepção e capacidade de aproveitar oportunidades” e cada uma das variáveis independentes, foi aplicado um teste de significância estatística, neste caso o teste exato de Fisher, ao nível de significância de 5%. No caso de variáveis nominais, foram utilizados o teste V de Cramer para medir a força de associação e o teste Tau-b de Kendall para força de associação e direcionalidade, este último aplicado no caso de variáveis ordinais.

A Tabela mostra os resultados dos testes para as variáveis demográficas. As variáveis gênero, faixas etárias, nível educacional e área de conhecimento não apresentam evidência de relação estatisticamente significativa (p > 0,05) com a percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (variável dependente), enquanto geração de emprego mostra relação estatisticamente significativa (p < 0,05).

Tabela 4 Estatísticas de direção e associação. Variáveis sociodemográficas

Variáveis sociodemográficas		Código	Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades
			Baixa (1)		Média (2)		Alta (3)		Estatísticas de direção e associação
			n	%	n	%	n	%	Teste exato de Fisher para amostras independentes*		Medidas de direção nominal e ordinal*
Gênero	Feminino	0	5a	71,4%	21a	46,7%	15a	41,7%	Exato Fisher	2.014
	Masculino	1	2a	28,6%	24a	53,3%	21a	58,3%	Sig.	0,331
Faixa Etária	18 a 34 anos	1	2a	28,6%	8a	17,8%	10a	27,8%	Exato Fisher	4.498
	35 a 40 anos	2	1	0,0%	15a	33,3%	8a	22,2%	Sig.	0,331
	Acima de 50 anos	3	5a	71,4%	22a	48,9%	18a	50,0%
Nível Educacional	Ensino médio ou menos	0	4a	57,1%	23a	51,1%	25a	69,4%	Exato Fisher	0,331
	Técnico ou Profissional	1	3a	42,9%	22a	48,9%	11a	30,6%	Sig.	0,335
Área de Conhecimento	Gestão/ Contabilidade	1	1	0,0%	6a	13,3%	5a	13,9%	Exato Fisher	9.620
	Direito	2	1	0,0%	1a	2,2%	2a	5,6%	Sig.	0,222
	Engenharia	3	1a,b	14,3%	10a	22,2%	1b	2,8%
	Técnico	4	2a	28,6%	7a	15,6%	5a	13,9%
	Outros	5	4a	57,1%	21a	46,7%	23a	63,9%
Geração de Emprego	Não	0	3a,b	42,9%	19a	42,2%	6b	16,7%	Exato Fisher	6.694	V de Cramer	0,271
	Sim	1	4a,b	57,1%	26a	57,8%	30b	83,3%	Sig.	0,028	Sig.	0,041

Fonte: Elaborado pelos autores. *O nível de significância é 0,05. Nota: Os valores na mesma linha e sub-tabela que não compartilham o mesmo índice são significativamente diferentes em p < 0,05 no teste de igualdade de duas vias para proporções de coluna. Os testes assumem variâncias iguais. Os testes são ajustados para todas as comparações de pares dentro de uma linha de cada sub-tabela mais interna, usando a correção de Bonferroni.

A Tabela 5 apresenta os resultados dos testes para as variáveis de contexto (atributos empreendedores). Observa-se que de acordo com a estatística Tau-b de Kendall todos os atributos empreendedores apresentam evidências de uma relação estatisticamente significativa com a variável dependente (p < 0,05), ou seja, aumentando o nível de cada uma dessas variáveis, aumenta também a percepção e a capacidade de aproveitar oportunidades.

Tabela 5
Estatísticas de direção e associação. Variáveis de contexto

Variáveis de contexto		Código	Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades
			Baixa (1)		Média (2)		Alta (3)		Estatísticas de direção e associação
			n	%	n	%	n	%	Teste exato de Fisher para amostras independentes*		Medidas de direção nominal e ordinal*
Correr riscos	Baixo	1	5a	71,4%	6b	13,3%	1	0,0%	Fisher’s	29.183	Kendall’s tau-b	0,475
	Médio	2	1a	14,3%	30b	66,7%	15a,b	41,7%	Sig.	0,000	Sig.	0,000
	Alto	3	1a,b	14,3%	9a	20,0%	21b	58,3%
Exigir eficiência e qualidade	Baixa	1	5a	71,4%	4b	8,9%	1	0,0%	Fisher’s	50.320	Kendall’s tau-b	0,670
	Média	2	2a	28,6%	34b	75,6%	8a	22,2%	Sig.	0,000	Sig.	0,000
	Alta	3	1	0,0%	7a	15,6%	28b	77,8%
Atuar em conformidade com normas	Baixa	1	1	0,0%	1	0,0%	1	0,0%	Fisher’s	22.500	Kendall’s tau-b	0,486
	Média	2	71	100,0%	31a	68,9%	9b	25,0%	Sig.	0,000	Sig.	0,000
	Alta	3	1	0,0%	14a	31,1%	27b	75,0%
Buscar informação	Baixa	1	5a	71,4%	1	0,0%	1	0,0%	Fisher’s	37.500	Kendall’s tau-b	0,479
	Média	2	1a	14,3%	30b	66,7%	10a	27,8%	Sig.	0,000	Sig.	0,000
	Alta	3	1a	14,3%	15a	33,3%	26b	72,2%
Estabelecer metas	Baixo	1	1	0,0%	1a	2,2%	1	0,0%	Fisher’s	10.739	Kendall’s tau-b	0,310
	Médio	2	6a	85,7%	24a,b	53,3%	11b	30,6%	Sig.	0,015	Sig.	0,001
	Alto	3	1a	14,3%	20a,b	44,4%	25b	69,4%
Construção de redes de apoio (persuasão)	Baixa	1	5a	71,4%	1	0,0%	1	0,0%	Fisher’s	31.053	Kendall’s tau-b	0,423
	Média	2	2a	28,6%	37b	82,2%	21a,b	58,3%	Sig.	0,000	Sig.	0,001
		3	1	0,0%	8a	17,8%	15b	41,7%
Persistência	Baixa	1	1	0,0%	1	0,0%	1a	2,8%	Fisher’s	14.982	Kendall’s tau-b	0,333
	Média	2	71	100,0%	32a	71,1%	14b	38,9%	Sig.	0,002	Sig.	0,000
	Alta	3	1	0,0%	13a	28,9%	21b	58,3%
Autoconfiança	Baixa	1	5a	71,4%	1b	2,2%	1	0,0%	Fisher’s	42,891	Kendall’s tau-b	0,592
	Média	2	2a	28,6%	37b	82,2%	13a	36,1%	Sig.	0.000	Sig.	0,000
	Alta	3	1	0	7a	15,6%	23b	63,9%

• Fonte: Elaborado pelos autores. *O nível de significância é 0,05. Os testes são ajustados para todas as comparações de pares dentro de uma linha de cada sub-tabela mais interna usando a correção de Bonferroni.

Modelo de fatores associados à intenção empreendedora

A Tabela 6 mostra o resumo do modelo, que deixa evidente que ele é adequado para o ajuste dos dados. A probabilidade logarítmica (-2LL) ou estatística de desvio de 37,693 é significativa (p = 0,00) e mede até que ponto o modelo se ajusta aos dados. O Pseudo R-quadrado de Cox e Snell estima um valor de 0,694 o que indica que 69,4% da proporção da variância da variável dependente é explicada pela alteração das variáveis independentes no modelo. Por outro lado, a estatística Pseudo R-quadrado de Nagelkerke (versão corrigida do Pseudo R-quadrado de Cox e Snell), indica que 82,8% da proporção da variância da variável dependente é explicada pelas variáveis independentes do modelo.

Tabela 6
Resumo do modelo

Logaritmo de plausibilidade -2	Pseudo R quadrado de Cox e Snell	Pseudo R quadrado de Nagelkerke
37,693	0,694	0,828

• Fonte: Elaboração pelos autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 6 apresenta os resultados do modelo logit multinomial onde se encontra a análise agrupada. Na interpretação das relações de probabilidade de cada variável, assume-se que as demais variáveis independentes permanecem fixas. Nesse caso, cada uma das variáveis independentes é interpretada entre os níveis baixo e alto de percepção, tomando como referência o nível médio de percepção (categorias ou nível médio de respostas da variável).

Tabela 7 Coeficientes de regressão para o modelo logístico multinomial

Variáveis	Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades: Nível baixo				Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades: Nível alto
	Coeficiente (B)	Erro Padrão	Sig.	Exp(B)	Coeficiente (B)	Erro Padrão	Sig.	Exp(B)
Interseção	-38.897	271.378	0,886		5.490	1.742	0,002
Nível Educacional: ensino médio ou menos = 0	10.690	138.975	0,939	43.927.790	1.440	0,818	0,078	4,.21
Geração de Emprego. Não = 0	-0,061	1.574	0,969	0,941	-4.125	1.526	0,007	0,016
Eficiência/qualidade (Baixa = 1)	5.909	499.460	0,991	368.335	-15.050	222.082	0,946	2,91E-07
Eficiência/qualidade. (Médio = 2)	8.274	119.135	0,945	3.921.373	-3.247	0,982	0,001	0,039
Conformidade com normas (Médio = 2)	10.100	124.663	0,935	24.354.752	-1.981	0,861	0,021	0,138
Buscar informações (Baixo =1)	42.881	9.058.424	0,996	4,20E+18	11.878	0,000	0,000	1,44E+05
Buscar informações. (Médio = 2)	-0,484	1.573	0,758	0,616	-2.167	0,912	0,018	0,115
Persuasão (Média = 2)	8.594	156.833	0,956	5.400.291	-2.021	1.065	0,058	0,133

Fonte: Elaborado pelos autores. a. Categoria de referência (ou normalizada a zero): Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (Média=2, refere-se ao nível médio de respostas para a variável).

Com relação à opção nível médio (2) da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência ou padronizada para zero) em relação às variáveis independentes nível educacional, geração de emprego, exigir eficiência e qualidade, atuar em conformidade com normas, buscar informações, observa-se ausência de qualquer evidência de relação estatisticamente significativa com empreendedores de baixo nível (3). Ainda, não se observa relação estatisticamente significativa com o aumento da probabilidade de um empreendedor apresentar um alto nível (1) da escala de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades.A

Esses resultados sugerem que os migrantes empreendedores instruídos e qualificados favorecem o autoemprego e o emprego formal (Cruz et al., 2018), em oposição aos pouco qualificados que são colocados principalmente em empregos remunerados de baixa qualificação. Na Colômbia, os migrantes venezuelanos (qualificados ou não), não obtiveram êxito em ingressar no mercado de trabalho formal devido ao caráter temporário dos documentos migratórios, a migração irregular, dificuldades na validação de qualificações profssionais, desconhecimento sobre os processos de recrutamento de mão de obra, barreiras ao acesso às redes de proteção social e à formalização de seus empreendimentos (Castro, 2020).

Efeitos

Com relação ao Nível educacional, o coeficiente (b = 1,440) está associado à probabilidade de o empreendedor ter alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. A razão de chances (e^1,440) = 4,221 indica a probabilidade de ter um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades em comparação com um empreendedor no nível médio da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência), ou seja, aumenta 4,22 vezes à medida que o nível educacional igual ou menor ao ensino médio aumenta em uma unidade. A educação representa o capital humano, que é um fator importante na previsão de atividades empreendedoras (Liu et al., 2018). A literatura constatou que as pessoas que abrem empresas têm maior nível educacional do que aquelas que não o fazem (Kimosop et al., 2016) e são mais inovadoras. Ainda, o empreendedorismo está relacionado a habilidades, conhecimento e confiança na identificação de oportunidades de sucesso, com a educação formal sendo a mais influente na intenção empreendedora pois motiva ações e comportamentos para iniciar um negócio (Jafari-Sadeghi et al., 2020).

Com relação à opção de nível médio da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência), a variável “não geração de empregos” apresenta um coeficiente negativo (b = -4,124), que está associado a uma baixa probabilidade de o empreendedor ter alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. O inverso da razão de chances (o Expo(b)), 1/(e -4,125) = 61,85, indica que um empreendedor que gera empregos tem 61,85 vezes mais chances de ter um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. Esse resultado coincide com a posição de Duarte e Ruíz (2009) e Formichella (2004) quando apontam que desde a ideia de desenvolvimento até a teoria do desenvolvimento local, os indivíduos devem ter a possibilidade de desenvolver processos produtivos que lhes permitam gerar seu próprio emprego e riqueza, bem como emprego para outros.

No que diz respeito à opção nível médio da escala de Percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência) o coeficiente negativo (b = -3,247) de um nível médio de exigir eficiência e qualidade, está associado a uma baixa probabilidade de o empreendedor apresentar um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades, o quociente 1/(e-3,247)) = 25,72, indica que um aumento de uma unidade de nível médio de exigência de eficiência e qualidade aumentaria as chances de ter um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades, ou seja, 25 vezes mais do que migrantes com um nível médio da variável dependente. O resultado revela que esse é um atributo do empreendedor focado em iniciar um negócio para melhorar suas condições de vida; entretanto, a qualidade da autoeficiência, que está relacionada ao controle do comportamento empreendedor (Shapero, 1985), no caso dos imigrantes venezuelanos, significa a condução dessas pessoas a um comportamento sob o qual aspiram a um negócio viável e com credibilidade.

Em relação à opção de nível médio da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência), o coeficiente negativo (b = -1,981) de um nível médio de atuar em conformidade com normas está associado a uma baixa chance de o empreendedor ter um nível alto de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. O quociente 1/ (e-1,981) = 7,25 indica que as chances de ter um alto nível da variável dependente aumentam em 7,25 vezes à medida que o nível médio de conformidade cresce em uma unidade. Atuar em conformidade com normas é um atributo de pessoas com um alto nível de necessidade de realização (Robbins, 1999).

Com relação à opção de nível médio da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência), o coeficiente negativo (b = -2,167) de um nível médio de buscar informação está associado a uma baixa probabilidade de o empreendedor ter um nível alto de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. A razão 1/(e-2,167) = 8,73 indica que um acréscimo de uma unidade ao nível médio do atribute buscar informação aumentaria as chances de que o empreendedor apresente um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades em 8,73 vezes mais do que nos migrantes com nível médio da variável dependente. É evidente, pelos resultados, que um empreendedor com um nível médio de informação contextual e uma baixa probabilidade de ter um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades é devido à sua predisposição para correr riscos ao abrir negócios no exterior. Segundo Gnyawali e Forgel (1994), as informações que o empreendedor deve conhecer para iniciar um negócio no exterior referem-se a políticas e procedimentos governamentais e apoio técnico e financeiro.

Sobre a opção de nível médio da escala percepção e capacidade de aproveitar oportunidades (categoria de referência) o coeficiente negativo (b= -2,021) de um nível médio de construção de redes de apoio (persuasão) está associado a uma baixa probabilidade de o empreendedor ter um nível alto de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades. A razão 1/(e-2,021) = 7,54 indica que um acréscimo de uma unidade ao nível médio de construção de redes de apoio aumentaria as chances de ter um alto nível de percepção e capacidade de aproveitar oportunidades em 7,54 vezes mais do que em migrantes com um nível médio da variável dependente. A adaptação do empreendedor migrante ao contexto do país anfitrião, fuga de cérebros e ganho para o país de origem e de acolhimento são processos típicos em contextos de migração (Elo et al., 2019). Esse resultado sugere que um empreendedor estrangeiro que decidiu iniciar seu próprio negócio ganha credibilidade e confiança de clientes em um mercado desconhecido. No entanto, precisará recorrer a redes de apoio, conexão social e fontes de recursos (Elo & Dana, 2019; Gnyawali & Forgel, 1994).

CONCLUSÕES

Os resultados relevantes do presente estudo mostram que os empreendedores venezuelanos migrantes se caracterizam por seu nível de educação, capacidade de gerar emprego, exigir eficiência e qualidade, atuar em conformidade com normas, buscar informações, e construir redes de apoio, e que essas variáveis estão associadas à probabilidade de eles conseguirem perceber e aproveitar oportunidades de negócio.

No entanto, os migrantes venezuelanos instalados no Departamento de Norte de Santander, Colômbia, enfrentam um contexto de alto desemprego e informalidade, poucas oportunidades de trabalho e obstáculos para obter financiamento. Assim, recorrem ao autoemprego e a informalidade já que não conhecem as normas legais para a regularização de um negócio (Semana, 2020).

A política de migração deve considerar a necessidade regularizar a situação dos migrantes, especialmente em um contexto pós-pandemia e transfronteiriço (Elo et al., 2022). Nesse caso, o Estado colombiano deve incluir nas políticas públicas o apoio a projetos de subsistência sustentável de migrantes empreendedores, assessoria gratuita e simplificação na abertura de empresas à Câmara de Comércio, flexibilizando o acesso a financiamento para projetos viáveis, motivando a geração de emprego formal e autônomo, e contribuindo para o desenvolvimento do Estado através do pagamento da seguridade social e de impostos.

Por último, as principais contribuições do estudo estão na revisão da literatura sobre os atributos ou características empreendedoras e na identificação de tais atributos em empreendedores migrantes. Trata-se de um estudo quantitativo pioneiro já que se utiliza de dados primários coletados da população migrante venezuelana residente na Colômbia e permite sugerir diretrizes para as políticas públicas do Estado colombiano.

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  27 Mar 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  30 Abr 2021
• Aceito
  11 Out 2022