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Compras princípios e técnicas

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

Compras princípios e técnicas

Por Baily, Peter & Farmer, David. Trad. Auriphebo Berrance Simões. Rev. téc. Orlando Figueiredo. Do orig. ingl. Purchasing principles and techniques - a management approach. 3. ed. 1977. São Paulo, Saraiva, 1979, Índice remissivo, bibliogr. ilustr. brochura.

O Prof. Orlando Figueiredo escreve no prefácio que este livro sintetiza, em aproximadamente 300 páginas, o relevante, na teoria e na prática da administração de compras. A edição brasileira foi adequada ao uso no Brasil, em função de algumas modificações realizadas na tradução. Os autores são professores em universidades britânicas. O livro tem o seguinte índice:

Primeira parte: Objetivos e organização - 1. Compras: amplitude e objetivos; 2. Organização de compras; 3. Compras e planejamento empresarial.

Segunda parte: Práticas e técnicas - 4. Compra da qualidade certa; 5. Políticas de pedidos: a quantidade certa; 6. Fontes de suprimento; 7. Compras ao preço certo; 8. Compras de bens industriais ao preço certo; 9. Compras internacionais; 10. Negociação; 11. Inflação e escassez.

Terceira parte: Sistemas e controles - 12. Despesas de capital; 13. Subempreitada e decisão de "Fabricar ou Comprar"; 14. O ciclo de compras, 15. Sistemas de computação, 16. Avaliação de desempenho e eficiência; 17. Treinamento e desenvolvimento do pessoal.

Definindo o livro - voltando às palavras do colega, Prof. Orlando Figueiredo podemos dizer que é ótimo para um curso no qual se ensina o essencial sobre compras, no sistema de administração de materiais, não entrando em detalhes de estoques, a não ser quanto ao lote econômico de compras. Ele não insiste muito no aspecto quantitativo matemático - mas aproveita-se da engenharia econômica onde ela se faz necessária.

A tradução é satisfatória, e os poucos deslizes são oriundos do fato de o tradutor, às vezes, usar uma versão literal - por exemplo, na página 111, ele traduz "assuntos públicos" do inglês public affairs. Ora, assunto público, em português, siignifica o que não é segredo enquanto o sentido em inglês é, algo canhestramente, assuntos relativos à administração pública. Mas esses pequenos detalhes não são tão importantes, pois o livro tem uma tradução que não se torna opressiva, em português fluente.

O seu conteúdo está plenamente ao gosto deste professor, que há 20 anos tenta melhorar, tornar mais acessível e mais pertinente o curso de administração de materiais. Assim, estamos na presença do primeiro livro que explica contratos, do ponto de vista do comprador e vendedor hedging (que o tradutor sabiamente deixa sem tradução, apesar da definição dada por um aluno nosso que diz: "ficar na moita de ambos os lados da cerca"), salvaguardadas a especulação e a manipulação de preços

Outra boa nova - o livro traz diversos sistemas de computação diagramados com clareza para leigos no assunto da área de compras, permitindo aquilo que o título em inglês promete, "um ponto de vista administrativo".

Talvez a parte mais fraca do livro seja a ausência de uma coletânea de exercícios e de casos. Os casos, todos resolvidos, não são tratados como problemas para discussão de alunos. Mas isso pode ser remediado com facilidade por uma coletânea independente de problemas e de casos.

Os diagramas de fluxo de papel e as informações, em todas as seções do livro, são muito claros e de fácil leitura, constituindo mais um ponto positivo para esta obra.

Podem ser consideradas, especificamente, as seguintes observações sobre os assuntos tratados nos diversos capítulos:

Na introdução do livro, o autor demonstra que comprar pode dar mais lucro que vender - evidentemente, comprar melhor, contra vender mais. Os organogramas de compras centralizadas e descentralizadas no segundo capítulo são utilíssimos, enquanto no terceiro capítulo o planejamento global e o de compras apresentam diagramas que poderiam ser mais claros, mas que acompanham a própria confusão de fluxos e refluxos do planejamento empresarial e seus inúmeros estágios e pontos de controle. O quarto capítulo, sobre qualidade, mostra custos fixos distribuídos sobre quantidades diversas e métodos de registro de qualidade e de normas técnicas internas e externas. O quinto capítulo tem como realce uma boa apresentação do lote econômico de compra e de seu uso com relação a descontos concedidos em função de quantidade.

Acredito que este excelente livro tem seu ponto alto no sexto capítulo, onde se analisa o marketing industrial. Os fluxogramas são úteis, a técnica de classificação de fornecedores é de alto valor para alunos de administração e pessoal já trabalhando na área, e a escolha de fornecedores múltiplos é bem explicada, apesar de não mencionar a regra de três fornecedores, 60, 30 e 10% do total, usada aqui e nos Estados Undios pelas multinacionais norte-americanas.

O sétimo capítulo, já mencionado, trata do hedging e de compras no futuro, urna novidade, abordada apenas em alguns poucos artigos de revistas como Visão, Exame, etc. Não queremos dizer que o livro pode fazer aparecer no Brasil especialistas para trabalhar na Bolsa de Mercadorias de Chicago ou de Londres, mas, ao menos, pode tornar o nosso pessoal um pouco menos vulnerável às manipulações profissionais da especulação. Há poucos anos ainda, era como tirar o doce de uma criança para os americanos ganhar muito dinheiro com a soja brasileira comprada por eles na baixa e revendida na alta com a colaboração de estimativas falsas sobre colheitas futuras. Aliás, a boa informação é a alma do negócio, do hedging e da especulação, para evitar exatamente manipulação de preços, que é antiética. Muito bom, também, neste capítulo, o extrato acerca de como a pesquisa operacional pode ajudar uma política de especulação, conforme seja conservador ou arriscado o operador, e, por fim, de como se aplica a programação dinâmica (é mantida uma limitação de nove páginas dedicadas a este assunto).

A formulação de preços e a compra de bens industriais é um capítulo que deveria ser leitura obrigatória para os nossos industriais, mas a parte legal (conluio, leis antitruste) é inglesa. Análise e engenharia de valor são mencionadas neste capítulo mas, infelizmente, sem profundidade e sem referência ao trabalho pioneiro na GF. As 15 páginas dedicadas a compras internacionais são úteis para o Brasil, apesar do ponto de vista inglês, pois assuntos como "cofres de carga" (containers), responsabilidade no transporte dentro dos Incoterms (não mencionados com este nome), flutuações cambiais, etc. são tratados sem cor local. O capítulo sobre negociação é um resumo de 16 páginas de psicologia da negociação, que, mesmo não atingindo o alvo (ensinar os procedimentos), ao menos esclarece sobre o que é feito hoje para preparar o negociador. No capítulo 11, a inflação é tratada inclusive com as fórmulas de índices tão conhecidas no Brasil e que, no entanto, sempre que ensinadas em classes de graduação de administração de empresas provocam surpresa. Evidentemente, estamos na frente, e a Albion pode curvar-se diante da coluna de disponibilidade geral da Conjuntura Econômica da FGV. Os subcapítulos sobre escassez são relativamente curtos, e nada têm de novo para alguém que passou pelo período da CEXIM-CACEX até 1954.

A terceira parte do livro, sobre sistemas e controles, apresenta os já mencionados fluxogramas de computador em diagramação de blocos, o problema comprar ou fazer (fabricar), engenharia econômica para avaliar investimentos, papelada burocrática de compras, computação e avaliação. Nesta última, sente-se a falta da teoria dos índices, tão em voga hoje, pois permite estudos horizontais na mesma empresa e comparação vertical entre diferentes empreendimentos de um mesmo ramo.

Resumindo, trata-se de um livro que podemos recomendar, e que pode ser usado no nível de graduação e como leitura suplementar em nível de pós-graduação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1980
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