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INTIMIDAÇÃO ACADÊMICA

Judith Butler (2021)Butler, J. (2021, October 23). Why is the idea of ‘gender’ provoking backlash the world over? The Guardian [international edition]. Retraived from https://www.theguardian.com/us-news/commentisfree/2021/oct/23/judith-butler-gender-ideology-backlash
https://www.theguardian.com/us-news/comm...
, ao escrever à versão internacional de The Guardian, afirma que

o termo “gênero” atrai, condensa e eletrifica um conjunto diversificado de ansiedades sociais e econômicas produzidas pela crescente precariedade econômica sob regimes neoliberais, pelas desigualdades sociais cada vez mais intensas e pela paralisação pandêmica.

Butler argumenta que vários países, incluindo Hungria, Polônia, Romênia e Turquia, na Europa, e Brasil, na América do Sul (pode-se adicionar Inglaterra, França e Itália), adotaram políticas cada vez mais nacionalistas, homofóbicas, transfóbicas e misóginas sob o pretexto de se opor à “ideologia de gênero” que atacam, deturpam, e silenciam departamentos universitários, docentes que ministram Estudos de Gênero e pessoas marginalizadas e vulnerabilizadas em razão de seu gênero, sexualidade, etnia, estatuto de migração, pobreza e assim por diante. Butler pessoalmente sofreu ação de silenciamento no Brasil em 2018, quando fascistas queimaram sua efígie na tentativa de impedir sua fala em uma conferência acadêmica (Butler, 2021Butler, J. (2021, October 23). Why is the idea of ‘gender’ provoking backlash the world over? The Guardian [international edition]. Retraived from https://www.theguardian.com/us-news/commentisfree/2021/oct/23/judith-butler-gender-ideology-backlash
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) e quando a edição impressa do Reino Unido do jornal nacional The Guardian excluiu sua entrevista da edição internacional no início do ano passado (Haug, 2021Haug, O. (2021, September 9). This newspaper is being accused of censoring Judith Butler for comparing TERFs to fascists. Them. Retraived from https://www.them.us/story/the-guardian-accused-censoring-judith-butler-comparing-terfs-to-fascists
https://www.them.us/story/the-guardian-a...
). Esses ataques contra pessoas que ensinam e pesquisam Estudos de Gênero são ataques políticos e ideológicos à “liberdade acadêmica” em países cada vez mais autoritários e fascistas.

Eu trabalho em uma universidade no Reino Unido onde as questões “quentes” nos últimos anos têm sido “liberdade acadêmica” e “liberdade de expressão”, em um momento em que o país é assolado por um aumento de desigualdades sociais, Covid-19 e Brexit e sofre impacto do aquecimento global. Mais precisamente, as supostas “liberdades acadêmicas” exigidas na Imprensa Nacional e por agentes políticos conservadores aglutinaram-se em torno de apoio para pessoas que exigem seu direito de voz para manifestar, por exemplo, opiniões racistas ou transfóbicas livres de crítica, enquanto negam “liberdades” semelhantes às demais. A academia, pelo menos no Reino Unido, não é mais a torre dos sonhos distantes do público em geral, mas um lugar onde devemos “alcançar” e influenciar o entendimento público e a política. Pessoas que exigem sua “liberdade acadêmica” o fazem na mídia nacional, dirigindo-se não apenas ao público, mas também a agentes políticos e legisladores: as IES não são “instituições totais” descritas por Goffman, mas porosas, influenciáveis e influenciadoras (McClean, 2021McClean, C. (2021). The growth of the anti-transgender movement in the United Kingdom: The silent radicalization of the British electorate. International Journal of Sociology, 51(6), 473-482. doi: 10.1080/00207659.2021.1939946
https://doi.org/10.1080/00207659.2021.19...
).

Durante a semana que começou em 10 de outubro de 2021, a Imprensa Nacional do Reino Unido primeiro relatou que a professora Kathleen Stock havia sido atacada no campus por suas visões “críticas ao gênero” (alguém diria transfóbicas e, alguns dias depois, havia deixado o cargo por motivos de segurança (Adams, 2021)Adams, R. (2021). Professor says career ‘effectively ended’ by union’s transphobia claims. The Guardian. Retraived from https://www.theguardian.com/education/2021/oct/12/professor-says-career-effectively-ended-by-unions-transphobia-claims
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.) e, alguns dias depois, havia deixado o cargo por motivos de segurança (Adams, 2021)Adams, R. (2021). Professor says career ‘effectively ended’ by union’s transphobia claims. The Guardian. Retraived from https://www.theguardian.com/education/2021/oct/12/professor-says-career-effectively-ended-by-unions-transphobia-claims
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. A transfobia de que Stock é acusada não é uma coisa pequena e isolada, mas é, sim, tão difundida que a mídia do Reino Unido publicou 6.400 artigos sobre pessoas trans no período de 2017-2019, a maioria dos quais foi negativa sobre pessoas trans (Baker, 2019Baker, B. (2019). Representing trans people in the UK press: a follow-up study. CASS. Retraived from http://cass.lancs.ac.uk/representing-trans-people-in-the-uk-press-a-follow-up-study-professor-paul-baker/
http://cass.lancs.ac.uk/representing-tra...
; ver também Serrano, 2017Serrano, J. (2017). Transgender agendas, social contagion, peer pressure, and prevalence. Medium. Retraived from https://medium.com/@juliaserano/transgenderagendas-social-contagion-peer-pressure-andprevalence-c3694d11ed24
https://medium.com/@juliaserano/transgen...
). Para dimensionar, acredita-se que 1% da população do Reino Unido de 67 milhões de pessoas seja transgênero. A mídia de massa, nesse caso, não apenas relata as notícias, mas as fabrica e tem um interesse em citar repetidamente Stock como uma acadêmica em suas publicações para sustentar um posicionamento muitas vezes hediondo com um verniz de credibilidade acadêmica. Houve 43 artigos em inglês nas principais plataformas de notícias que apoiam a “liberdade acadêmica” de Stock para atacar pessoas trans, publicados entre 6 de junho de 2018 e 28 de julho de 2021 (https://kathleenstock.com/tv-and-radio-appearances/). Stock não é uma acadêmica que tem sido silenciada nem tem tido sua liberdade de falar negada.

Os ataques contra Stock em outubro parecem ter incluído uma pequena manifestação de 10 estudantes, que colaram algumas folhas de papel A4 exigindo que ela fosse demitida e também escreveram ao vice-reitor da universidade para exigir o mesmo - bem diferente do levante estudantil de Paris em 1960, ou das demonstrações contra o racismo na Guerra do Vietnã nos EUA entre os anos 1960 e 1970, ou até mesmo do protesto resistente de 200 estudantes de que participei como discente de graduação quando o bar aumentou o preço da caneca de cerveja na década de 1980. Em alguns aspectos, o que surpreendeu não foi a intensidade dos ataques, mas o fato de eles terem acontecido em uma população de estudantes que tem estado cada vez mais politicamente passiva nos últimos anos: o neoliberalismo do ensino superior levou o corpo discente a concentrar-se em preocupações instrumentais sobre suas aspirações de carreiras futuras, em que uma história de militância não ensina a ser “um colaborador que veste a camisa”.

Por acaso, duas outras histórias acadêmicas passaram despercebidas e pouco comentadas na mesma semana, mas ambas falam sobre “liberdade acadêmica”. O professor David Miller foi demitido de seu cargo, já estável, sua posição estável acusado de antissemitismo, uma acusação da qual uma investigação o havia declarado inocente (Hall, 2021Hall, R. (2021). Bristol University sacks professor accused of antisemitic comments. The Guardian. Retraived from https://www.theguardian.com/education/2021/oct/01/bristol-university-sacks-professor-accused-of-antisemitic-comments
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); o convite da professora Priyamvada Gopal para falar para trabalhadores em home office foi aparentemente cancelado pelo governo após a intervenção de um grupo de extrema-direita (Gopal, 2021Gopal, P. (2021). Statement on home office cancellation of my talk on anticolonialism, race, and empire. Priyamvada Gopal. Retraived from https://zen-catgirl.medium.com/statement-on-home-office-cancellation-of-my-talk-on-anticolonialism-race-and-empire-e52cf149ec81
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). Ao contrário de Stock, que é professora de estética filosófica, não de gênero, tanto Miller quanto Gopal são docentes notáveis, mas tanto a ele quanto a ela foi negada a "liberdade" de suas áreas acadêmicas especializadas.

O que conecta essas três histórias é a ideia de “liberdade acadêmica”, o que as separa é que apenas Kathleen Stock recebeu o apoio público do vice-reitor da sua universidade, da Imprensa Nacional e de agentes políticos. Stock recebeu muito apoio na mídia; Miller e Gopal quase não recebem menção, muito menos apoio. Parece que a “liberdade acadêmica”, ou como ela é vista, é partidária, aplicando-se apenas às pessoas alinhadas com um globalismo cada vez mais neoliberal, amado pelo ex-presidente Trump, pelo primeiro-ministro Johnson, pelo presidente Bolsonaro, pelo presidente Putin, pelo primeiro-ministro Modi e assim por diante. O termo é apoiado por uma imprensa cada vez mais neoliberal que, embora exija “liberdade de expressão”, cria artigos insípidos atacando discentes e docentes “conscientes”, enquanto simultaneamente silencia discentes e docentes muito “conscientes” (Haug, 2021Haug, O. (2021, September 9). This newspaper is being accused of censoring Judith Butler for comparing TERFs to fascists. Them. Retraived from https://www.them.us/story/the-guardian-accused-censoring-judith-butler-comparing-terfs-to-fascists
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. Ver https://michaelhobbes.substack.com/p/moral-panic-journalism para uma discussão).

Nesse turbilhão de preocupações com a “liberdade acadêmica” e a “liberdade de expressão” no campus, há outras histórias que geralmente não foram relatadas nas plataformas de mídia de massa que atacam pessoas “conscientes”. Houve uma ação da universidade de Stock de silenciamento contra estudantes ao relatarem que sofreram assédio (https://twitter.com/graceelavery/status/1450508397820981250). Essa é uma universidade que tem um histórico de fracassos em lidar com o abuso sexual de estudantes (Tobin, 2021Tobin, K. (2021, October 21) Sussex University supports ‘gender critics’ while sexual violence festers. Dazed. Retraived from https://www.dazeddigital.com/life-culture/article/54521/1/sussex-university-supports-gender-critics-while-sexual-violence-festers
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). O fracasso das universidades em proteger mulheres e estudantes e funcionáries pertencentes a minorias de gênero e de sexo contra assédio, abuso e violência, entretanto, não se limita ao empregador de Stock, mas é mais amplamente difundido e endêmico da violência sexual dos sistemas patriarcais, racistas e elitistas dentro das universidades neoliberais (Srinivasan, 2021Srinivasan, A. (2021). The right to sex: feminism in the 21st Century. London, UK: Bloomsbury.). Mesmo quando uma universidade aparentemente age para investigar, ela pode construir paredes para bloquear essa investigação (Ahmed, 2017Ahmed, S. (2017). Living a feminist life. Durham, USA: Duke University Press.).

Em “universidades” cada vez mais neoliberais, a “liberdade acadêmica” tornou-se um rótulo que descreve como se obrigam estudantes e funcionáries vulneráveis a proteger a frágil imagem pública de uma instituição que falhou em seu dever de cuidar dessas pessoas. É esse um rótulo usado para silenciar minorias vulneráveis enquanto protege de críticas uma elite institucional. “Liberdade acadêmica” é um conceito nebuloso que significa algo muito diferente para quem defende o neoliberalismo daquilo que é geralmente concebido na academia.

INTIMIDAÇÃO ACADÊMICA

No Reino Unido, a liberdade acadêmica geralmente significa que temos a liberdade de conduzir pesquisas, de divulgá-las e de ensinar os conteúdos em que nos especializamos, amplamente livres de interferências. Digo amplamente livre, pois nossas liberdades são restringidas pela necessidade de encontrar financiamento para pesquisas empíricas e de obedecer às exigências do órgão de financiamento, de nossas instituições e de pares e colegas. A liberdade está cada vez mais afetada pelas demandas de um governo e de uma indústria que exigem que as universidades "produzam" indivíduos graduados empregáveis e está cada vez mais sujeita à opinião de jornalistas e do público em geral. Essa “liberdade acadêmica” limitada supõe que falemos e pratiquemos a partir de uma posição em que tenhamos autoridade acadêmica com base em nosso conhecimento avançado de um assunto e que passemos por julgamento de pares.

Grace Lavery (2021)Lavery, G. (2021). The UK media has seriously bungled the Kathleen Stock story. The Wazzock's Review. Retraived from https://grace.substack.com/p/the-uk-media-has-seriously-bungled
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fornece uma discussão crítica muito útil e relativamente concisa sobre o que é “liberdade acadêmica” e como ela difere de “liberdade de expressão” e opinião pessoal. Ao fazer isso, Lavery deixa evidente como Stock falha nos requisitos de “liberdade acadêmica” e, em vez disso, apresenta, na melhor das hipóteses, “liberdade de expressão” e, muito provavelmente, mera opinião pessoal. A opinião de Stock sobre as mulheres transgêneras não é apoiada pela “liberdade acadêmica”, não é baseada em pesquisas empíricas, e ela não submeteu seu trabalho à revisão por pares acadêmicos especializados em Estudos de Gênero. Em vez disso, ela optou por publicar seu trabalho em veículos jornalísticos, incluindo o Quillette, um veículo descrito como “inclinado para a direita”, “antifeminista”, que tem repetido tropos racistas e é considerado de “baixa credibilidade” (https://mediabiasfactcheck.com/quillette/). Ela publicou no Quillette duas vezes e teve três artigos publicados por essa plataforma apoiando sua depreciação das pessoas trans, que ela compara a uma “ideologia”. Ela também publicou na plataforma on-line do Reino Unido Spiked, de propriedade da Fundação Charles Koch, uma plataforma descrita como “alimentando a extrema direita” (Monbiot, 2018Monbiot, G. (2018, December 7). How US billionaires are fuelling the hard-right cause in Britain. The Guardian. Retraived from https://www.theguardian.com/commentisfree/2018/dec/07/us-billionaires-hard-right-britain-spiked-magazine-charles-david-koch-foundation
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). Qualidades semelhantes a muitas pessoas para quem a imprensa neoliberal exige “liberdade acadêmica” enquanto ataca a liberdade acadêmica de acadêmiques como Miller e Gopal por falarem sobre um assunto acadêmico em que tenham credibilidade acadêmica. Reivindicar o direito à liberdade para certas pessoas e negá-lo a outras não é liberdade; isso é intimidação acadêmica partidária.

A “NOVA” ORDEM MUNDIAL

Judith Butler (2021)Butler, J. (2021, October 23). Why is the idea of ‘gender’ provoking backlash the world over? The Guardian [international edition]. Retraived from https://www.theguardian.com/us-news/commentisfree/2021/oct/23/judith-butler-gender-ideology-backlash
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discute como um

movimento de ideologia antigênero atravessa fronteiras, ligando organizações na América Latina, Europa, África e leste da Ásia. A oposição ao “gênero" é expressa por governos tão diversos como a França de Macron e a Polônia de Duda, circulando em partidos de direita na Itália, aparecendo nas principais plataformas eleitorais na Costa Rica e na Colômbia.

Esse partidarismo não atende a simples noções de “esquerda” e “direita”, mas à manutenção de elites globais que transcendem o Norte Global e o Sul Global e as fronteiras nacionais em um mundo pós-capitalista e mapeadas por meio do fluxo de dinheiro e da homossocialidade de suas redes que mantêm coalizões poderosas construídas sobre ideologia política e religiosa.

Desvendar essas redes e identificar os fluxos de poder, dinheiro e influência (política) está além deste artigo; na verdade, seria o material de um grande estudo longitudinal e multi-institucional. Em vez disso, concentro-me apenas em (algumas) redes homossociais de indivíduos e grupos transfóbicos no Norte Global e, particularmente, no Reino Unido e nos EUA.

Na Inglaterra, as pessoas “críticas ao gênero” insistem nessa ideia publicamente ao serem veiculadas por uma Imprensa Nacional hostil aos direitos de pessoas trans (Kathleen Stock, por exemplo, escreveu e teve vários artigos apoiando suas opiniões “críticas ao gênero” em The Times, The Daily Telegraph, The Daily Mail, The Spectator e The Guardian, juntamente com veículos de extrema-direita, incluindo Quillette e Spiked), no parlamento por meio de grupos de lobby e no sistema jurídico por meio de ações legais contra organizações e indivíduos os quais sejam considerados apoiadores do “transgenerismo”. Em 2021, pessoas “críticas ao gênero” pagaram mais de £ 300 mil a apenas um advogado por serviços jurídicos para defender a fala transfóbica como “liberdade de expressão” ou para tentar restringir os direitos legais das pessoas trans. O financiamento para esses serviços jurídicos foi acumulado rapidamente nas mídias sociais por meio de “vaquinhas”, onde é impossível identificar a verdadeira fonte das doações, muitas das quais são "anônimas".

O Fórum Parlamentar Europeu (EPF, 2021EPF - European Parliamentary Forum for Sexual e Reproductive Rights. (2021). Tip of the iceberg: religious extremist funders against Human Rights for sexuality and reproductive health in Europe 2009 - 2018. Retraived from https://www.epfweb.org/sites/default/files/2021-08/Tip%20of%20the%20Iceberg%20August%202021%20Final.pdf
https://www.epfweb.org/sites/default/fil...
) identificou centenas de milhões de euros de financiamento de uma rede internacional de grupos neoliberais, jornalistas, agentes políticos, grupos religiosos ultraortodoxos e a extrema-direita. Perreau (2016)Perreau, B. (2016). Queer theory: The French response. Bloomington, USA: Stanford University Press. e Villa (2017)Villa, P.-I. (2017). “Anti-genderismus”: German angst? In R. Kuhar & D. Paternotte (Eds.), Anti-gender campaigns in Europe: Mobilizing against equality (pp. 99-116). New York, USA; London, UK: Rowman & Littlefield International escreveram sobre as conexões entre feministas anti-LGBT críticas ao gênero, grupos religiosos extremistas e a extrema-direita na Europa, que Villa denominou anti-genderismus (ver também Redecker, 2016Redecker, E. Von. (2016). Anti-genderismus and right-wing hegemony. Radical Philosophy. Retraived from https://www.radicalphilosophy.com/commentary/anti-genderismus-and-right%e2%80%91wing-hegemony
https://www.radicalphilosophy.com/commen...
). Esse dinheiro, muitas vezes desviado por meio de redes da “dark web”, tem sido usado para estabelecer e apoiar uma rede de grupos “críticos ao gênero” em toda a Europa, incluindo o Reino Unido, e para financiar atividades que não se restringem somente à transfobia, mas também incluem ataques contra casamento igualitário, contra autonomia do corpo e direitos ao aborto e de fundamentalismo contrário a profissionais do sexo. Grupos de “crítica ao gênero” no Reino Unido e na Europa foram ligados à supremacia branca e grupos cristãos ultraortodoxos nos Estados Unidos e na Europa Oriental, e o movimento “anti-genderismus”, originado pelo Vaticano, que gerou o movimento de “crítica ao gênero”, foi adotado e popularizado por neonazistas (Redecker, 2016Redecker, E. Von. (2016). Anti-genderismus and right-wing hegemony. Radical Philosophy. Retraived from https://www.radicalphilosophy.com/commentary/anti-genderismus-and-right%e2%80%91wing-hegemony
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).

Para concluir, o conceito de “liberdade acadêmica” baseado na liberdade de pesquisar e ensinar matérias nas quais somos especialistas e temos conhecimento acadêmico é uma liberdade que eu apoio totalmente. É uma liberdade cada vez mais negada à disciplina de Estudos de Gênero. O próprio conceito de “liberdade acadêmica” tem sido grosseiramente distorcido por poderosas elites em Estados neoliberais em todo o mundo para promover o totalitarismo e atacar minorias vulneráveis. Isso não é liberdade acadêmica, mas uma intimidação acadêmica para qualquer pessoa que não seja fascista.

REFERENCES

NOTA

  • Texto traduzido para o português por Luiz Eduardo Pereira Batista e revisado pela RAE

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    2022
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