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Pladoyer pour l'autre

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Fernando Cláudio Prestes Motta

Professor titular no Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos (ADM) da EAESP/FGV

Berthoud, Gérald. Pladoyer pour l'autre. Genève, Paris, Droz, 1982. 294 p.

A autogestão é freqüentemente pensada apenas em termos de produção e trabalho, o que em geral implica uma aceitação ainda que inconsciente em muitos casos do produtivismo e da uniformização capitalista.

Essa tendência perigosa ignora que a espécie humana constrói e transmite, de uma geração para outra, sistemas simbólicos que garantem a comunicação entre indivíduos e grupos e que permitem, ao mesmo tempo, a identificação e a diferenciação daqueles que compartilham o mesmo universo de significado.

Pois bem, se a autogestão pretende ser mais do que uma participação igualitária num mundo utilitário hipertrofiado, herdado diretamente da sociedade capitalista, ela não pode evitar procurar um caminho possível na soberania comunitária.

Com efeito, as sociedades se exprimem por intermédio do sentido que dão à riqueza material. Pode-se apreender essa noção em dois níveis da análise. Evidentemente, pode-se permanecer na significação banal. A riqueza, inserindo-se no universo da escassez, de acordo com as exigências da economia liberal, equivale a um valor destinado ao abarcamento individual ou coletivo. Todavia, por trás da riqueza-coisa há um modo de comunicação social ou de troca. Dessa forma, é possível se opor a uma riqueza monopolizada ou acumulada, uma riqueza compartilhada ou comunicativa, própria da formação comunitária.

O que é importante ter em conta. é que uma das condições para a construção de uma sociedade autogestionária seria caminhar em direção a uma riqueza compartilhada ou simbólica, qualquer que fosse o nível e a natureza das forças produtivas. Isto implica livrarmo-nos de nossas concepções produtivistas, procurando empenhar-nos na criação de um modo de organização qualitativamente diverso do que conhecemos.

É importante lembrar que o Estado e o mercado levaram as modernas sociedades desenvolvidas a uma uniformização opressora e alienante onde o utilitarismo corrompe a socialidade. Nesse sentido, o estudo antropológico de sociedades diversas pode indicar-nos a viabilidade de outras formas da viver e pensar. Não que devamos imitar os montanheses dos Alpes suíços ou os ganawuri da Nigéria. É bem o contrário. Não há possibilidade de autogestão sem respeito à diversidade e, portanto, à sìngularidade.

O antropólogo Gérald Berthoud em seu livro Pladoyer pour l'autre trata de uma forma nem sempre simples, mas sempre muito interessante, desse tipo de questão, que em última análise se insere na problemática da dominação e da resistência no mundo moderno.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1983
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