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AUTOEFICÁCIA E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO DE EMPREENDEDORAS: UM ESTUDO NA FRONTEIRA BRASIL-ARGENTINA

RESUMO

O objetivo do estudo foi comparar os níveis de autoeficácia empreendedora e bem-estar psicológico e as relações entre ambos os construtos em empreendedoras brasileiras e argentinas. No total, participaram de um estudo survey 404 mulheres durante um programa de desenvolvimento de duas universidades fronteiriças. Os resultados apontam diversas semelhanças, que podem promover aproximação e desenvolvimento, e também diferenças, que se não forem geridas de forma assertiva podem gerar conflitos. As evidências demonstram associações entre autoeficácia empreendedora e bem-estar psicológico que ampliam a literatura de empreendedorismo. A contribuição desenvolve o entendimento da motivação na cognição empreendedora, ressignifica o sucesso empreendedor, expande os limites do papel empreendedor da mulher nessa região fronteiriça e, ainda, identifica elementos para promover a cooperação entre as empreendedoras nos dois países. Do ponto de vista gerencial, a pesquisa mostra aos dirigentes a necessidade de ter presentes as diferenças culturais no cotidiano das ações e negociações nesses territórios.

Palavras-chave:
mulheres empreendedoras; América Latina; autoeficácia empreendedora; bem-estar psicológico; cognição empreendedora

ABSTRACT

The study aimed to compare entrepreneurial self-efficacy and psychological well-being as well as the relationships between these constructs in Brazilian and Argentinean female entrepreneurs. A total of 404 women participated in a survey during a development program at two universities located on the border. The results point to several similarities, which can promote rapprochement and development, and differences, which, if not managed assertively, can lead to conflicts. The results demonstrate associations between entrepreneurial self-efficacy and psychological well-being, thereby expanding the entrepreneurship literature. This study develops the understanding of motivation in entrepreneurial cognition, redefines entrepreneurial success, boaden the scope of women’s entrepreneurial role in this border region, and identifies elements to promote cooperation between female entrepreneurs in both countries. From a managerial point of view, the research shows the need for managers to be aware of cultural differences in everyday actions and negotiations within these territories.

Keywords:
women entrepreneurs; Latin America; entrepreneurial self-efficacy; psychological well-being; entrepreneurial cognition

RESUMEN

El estudio se propuso comparar los niveles de autoeficacia empresarial y bienestar psicológico y las relaciones entre ambos constructos en emprendedoras brasileñas y argentinas. En total, 404 mujeres participaron en una encuesta durante un programa de desarrollo en dos universidades fronterizas. Los resultados apuntan similitudes que pueden promover el acercamiento y desarrollo, y también diferencias, que, si no fueran gestionadas asertivamente, podrían generar conflictos. La evidencia demuestra asociaciones entre la autoeficacia empresarial y el bienestar psicológico que amplían la literatura sobre emprendimiento. La contribución desarrolla la comprensión de la motivación en la cognición emprendedora, ofrece un nuevo significado al éxito empresarial, amplía los límites del rol emprendedor de las mujeres en esta región fronteriza e identifica elementos para promover la cooperación entre ambos países. Desde el punto de vista empresarial, la investigación muestra la necesidad de que los directivos sean conscientes de las diferencias culturales en las acciones y negociaciones cotidianas en estos territorios.

Palabras clave:
mujeres emprendedoras; América Latina; autoeficacia emprendedora; bienestar psicológico; cognición empreendedora

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico e social de regiões fronteiriças depende do fomento de aproximações que contribuam para a superação dos desafios impostos pelo contexto cultural diverso convergido pelos países integrantes desses territórios (Barros & Samurio, 2019Barros, P. S., & Samurio, S. E. (2019). A institucionalidade da integração fronteiriça na Unasul e no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 25, 35-43. http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9800/1/BEPI_n25_Institucionalidade.pdf
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream...
; Carneiro, 2019Carneiro, C. P., Filho. (2019). La cooperación transfronteriza en las ciudades gemelas de la Frontera Sur de Brasil. Aldea Mundo, 24(47), 39-50. https://www.redalyc.org/jatsRepo/543/54364072012/html/index.html
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; Lopes et al., 2023Lopes, I. R. M., Faria, L. C. C., & Gonçalves, J. R. (2023). Mercosul: Problemas estruturais e o dilema da classificação frente aos modelos de bloco econômico. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 6(12), 199-215. https://doi.org/10.5281/zenodo.7692527
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; Miyazaki, 2023Miyazaki, W. E. (2023). Mercosul e parceria transpacífico (CPTPP): Uma análise comparativa e pontos de interesse para a economia brasileira (Dissertação de mestrado). https://dspace.mackenzie.br/handle/10899/31882
https://dspace.mackenzie.br/handle/10899...
; Pessoa & Souza, 2021Pessoa, L. O., & Souza, L. E. S. de. (2021). A integração fronteiriça no Mercosul: Histórico, balanço e perspectivas nos 30 anos do bloco. Brazilian Journal of International Relations, 10(1), 222-252. https://doi.org/10.36311/2237-7743.2021.v10n1.p222-252
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).

A proposta oferece conhecimento sobre características similares e diferentes entre empreendedoras do Brasil e da Argentina, com o intuito de servir como base para o desenvolvimento de processos de interação, já que implicam oportunidades de construção de alianças e de identidades (Carneiro, 2019Carneiro, C. P., Filho. (2019). La cooperación transfronteriza en las ciudades gemelas de la Frontera Sur de Brasil. Aldea Mundo, 24(47), 39-50. https://www.redalyc.org/jatsRepo/543/54364072012/html/index.html
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).

Estudos com empreendedoras na América Latina são limitados (Amorós et al., 2019Amorós, J. E., Poblete, C., & Mandakovic, V. (2019). R&D Transfer, policy and innovative ambitious entrepreneurship: Evidence from Latin America countries. The Journal of Technology Transfer, 44, 1396-1415. https://doi.org/10.1007/s10961-019-09728-x
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). É sabido que o empreendedorismo por mulheres nessa região ocorre na maioria das vezes por necessidade, não obstante leva ao empoderamento e à emancipação quando comparado a outras escolhas ocupacionais (Ibáñez & Guerrero, 2022Ibáñez, M. J., & Guerrero, M. (2022). Women’s empowerment and emancipation through entrepreneurship: Extending Professor Alistair Anderson’s contributions. Entrepreneurship & Regional Development, 34(7/8), 722-741. https://doi.org/10.1080/08985626.2022.2075038
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). No caso do Brasil e da Argentina, a participação de mulheres empreendedoras na economia apresenta relevância (Bosma & Kelley, 2019Bosma, N., & Kelley, D. (2019). Global Entrepreneurship Monitor 2018/2019. Global report. Andes, Chile.). Como a integração fronteiriça expressa um processo político, econômico e social de aprofundamento das relações de cooperação com objetivo de desenvolvimento (Pessoa & Souza, 2021Pessoa, L. O., & Souza, L. E. S. de. (2021). A integração fronteiriça no Mercosul: Histórico, balanço e perspectivas nos 30 anos do bloco. Brazilian Journal of International Relations, 10(1), 222-252. https://doi.org/10.36311/2237-7743.2021.v10n1.p222-252
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), ganham força as investigações sobre elementos que compõem essas fronteiras enquanto espaços de formação de demandas e de experimentação de soluções nas quais decisões regionais adquirem repercussão com intensidade (Desiderá & Penha, 2016Desiderá, W. A., Neto, & Penha, B. (2016). As regiões de fronteira como laboratório da integração regional no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 22, 33-50. https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/6733
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). A cognição das empreendedoras representa um desses elementos determinantes dessas decisões.

No que tange ao amplo espectro que representa a cognição empreendedora, nesta pesquisa foi escolhido como objeto teórico de estudo a relação entre a autoeficácia empreendedora (AEE) e o bem-estar psicológico (BEP). Anteriormente, estudiosos demonstraram evidências de associação entre AEE e BEP (Bandura, 2010Bandura, A. (2010). Self-efficacy. The Corsini encyclopedia of psychology (pp. 1-3). John Wiley & Sons, Inc.; Liu et al., 2010Liu, J., Siu, O., & Shi, K. (2010). Transformational leadership and employee well‐being: The mediating role of trust in the leader and self‐efficacy. Applied Psychology, 59(3), 454-479. https://doi.org/10.1111/j.1464-0597.2009.00407.x
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; Singh et al., 2019Singh, S. K., Pradhan, R. K., Panigrahy, N. P., & Jena, L. K. (2019). Self-efficacy and workplace well-being: Moderating role of sustainability practices. Benchmarking: An International Journal, 26(6), 1692-1708. https://doi.org/10.1108/BIJ-07-2018-0219
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), entretanto poucos estudos foram realizados com empreendedores (Ryff, 2018Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.). Shir e Ryff (2022)Shir, N., & Ryff, C. D. (2022). Entrepreneurship, self-organization, and eudaimonic well-being: A dynamic approach. Entrepreneurship Theory and Practice, 46(6), 1658-1684. https://doi.org/10.1177/10422587211013798
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salientam que há necessidade de estudos adicionais para explicar o bem-estar à luz da natureza dinâmica do processo empreendedor. Além disso, estudos com foco na relação entre AEE e BEP junto a mulheres empreendedoras são necessários (Bianchi et al., 2016Bianchi, M., Parisi, V., & Salvatore, R. (2016). Female entrepreneurs: Motivations and constraints: An Italian regional study. International Journal of Gender Entrepreneurship, 8(3), 198-220. https://doi.org/10.1108/IJGE-08-2015-0029
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; Castellano et al., 2017Castellano, R., Musella, G., & Punzo, G. (2017). Structure of the labour market and wage inequality: Evidence from European countries. Quality & Quantity, 51(5), 2191-2218. https://doi.org/10.1007/s11135-016-0381-7
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) porque estas enfrentam barreiras diferentes para empreender, tais como dificuldade em equilibrar trabalho e família, por possuírem maior grau de responsabilidade nas atividades domésticas, menor acesso e alcance a rede e oportunidades, menor acesso na obtenção de financiamentos, e, ainda, barreiras pessoais associadas à vida profissional oriundas de crenças socioculturais (Adikaram & Razik, 2022Adikaram, A. S., & Razik, R. (2022). Femininity penalty: Challenges and barriers faced by STEM woman entrepreneurs in an emerging economy. Journal of Entrepreneurship in Emerging Economies, 15(5), 1113-1138. https://doi.org/10.1108/JEEE-07-2021-0278
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; Lemos et al., 2020Lemos, A. H. Da C., Barbosa, A. De O., & Monzato, P. P. (2020). Mulheres em home office durante a pandemia da Covid-19 e as configurações do conflito trabalho-família. RAE-Revista de Administração de Empresas, 60(6), 388-399. https://doi.org/10.1590/S0034-759020200603
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; Naguib, 2022Naguib, R. (2022). Motivations and barriers to female entrepreneurship: Insights from Morocco. Journal of African Business, 25(1), 9-36. https://doi.org/10.1080/15228916.2022.2053400
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; Ribes-Giner et al., 2018Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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; Wu et al., 2019Wu, J., Li, Y., & Zhang, D. (2019). Identifying women’s entrepreneurial barriers and empowering female entrepreneurship worldwide: A fuzzy-set QCA approach. International Entrepreneurship and Management Journal, 15, 905-928. https://doi.org/10.1007/s11365-019-00570-z
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).

Diante disso, o problema reside em saber se a AEE é suficiente para produzir bem-estar de modo a mitigar tais barreiras (Ribes-Giner et al., 2018Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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). Ademais, conhecer essa relação em dois contextos nos quais predomina o empreendedorismo por necessidade para mulheres (Puente et al., 2019Puente, R., Espitia, C. G. G., & Cervilla, M. A. (2019). Necessity entrepreneurship in Latin America: It´s not that simple. Entrepreneurship & Regional Development, 31(9/10), 953-983. https://doi.org/10.1080/08985626.2019.1650294
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), área com recomendação de estudos associados ao bem-estar (Ryff, 2018Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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), pode ser ainda mais promissor porque desvenda políticas necessárias nesse campo.

A AEE é o julgamento da capacidade de agir (Rosique-Blasco et al., 2018Rosique-Blasco, M., Madrid-Guijarro, A., & García-Pérez-de-Lema, D. (2018). The effects of personal abilities and self-efficacy on entrepreneurial intentions. International Entrepreneurship and Management Journal, 14, 1025-1052. https://doi.org/10.1007/s11365-017-0469-0
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). Como um senso de “agência pessoal” ou “agência dos empreendedores”, a autoeficácia influencia a escolha individual de atividades, bem como o desempenho dos negócios (Bandura, 1994Bandura, A. (1994). Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran, Encyclopedia of human behavior (pp. 71-81), Academic Press., 2001Bandura, A. (2001). Social cognitive theory: An agentic perspective. Annual Review of Psychology, 52(1), 1-26. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.1
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; Zhao et al., 2005Zhao, H., Hills, G. E., & Seibert, S. E. (2005). The mediating role of self-efficacy in the development of entrepreneurial intentions. Journal of Applied Psychology, 90(6), 1265-1272. https://doi.org/10.1037/0021-9010.90.6.1265
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), influenciando até mesmo a abertura para a aprendizagem empreendedora (Markowska & Wiklund, 2020Markowska, M., & Wiklund, J. (2020). Entrepreneurial learning under uncertainty: Exploring the role of self-efficacy and perceived complexity. Entrepreneurship & Regional Development, 32(7/8), 606-628. https://doi.org/10.1080/08985626.2020.1713222
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). Além disso, a AEE serve como combustível para o BEP, especificamente para empreendedores (Ribes-Giner et al., 2018Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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). Para mulheres empreendedoras (Mozahem, 2021Mozahem, N. A. (2021). Gender differences in entrepreneurial self-efficacy: An educational perspective. The International Journal of Management Education, 19(3), 1-8. https://doi.org/10.1016/j.ijme.2021.100535
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), a autoeficácia contribui para um maior engajamento no trabalho (Newman et al., 2019Newman, A., Obschonkab, M., Schwarzc, S., Cohena, M., & Nielsena, I. (2019). Entrepreneurial self-efficacy: A systematic review of the literature on its theoretical foundations, measurement, antecedents, and outcomes, and an agenda for future research. Journal of Vocational Behavior, 110, 403-419. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2018.05.012
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), bem como para o desempenho dos negócios (Kazumi & Kawai, 2017Kazumi, T., & Kawai, N. (2017). Institutional support and women’s entrepreneurial self-efficacy. Asia Pacific Journal of Innovation and Entrepreneurship, 11(3), 345-365. https://doi.org/10.1108/APJIE-12-2017-041
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).

Por sua vez, o BEP consiste no pleno funcionamento das potencialidades de uma pessoa (Ryan & Deci, 2001Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2001). On happiness and human potentials: A review of research on hedonic and eudaimonic well-being. Annual Review of Psychology, 52(1), 141-166. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.141
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) que influencia o comprometimento e a motivação dos empreendedores (Ribes-Giner et al., 2018Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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; Shir et al., 2019Shir, N., Nicolaev, B. N., & Wincent, J. (2019). Entrepreneurship and well-being: The role of psychological autonomy, competence, and relatedness. Journal of Business Venturing, 34(5), 1-17. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.05.002
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; Stephan, 2018Stephan, U. (2018). Entrepreneurs’ mental health and well-being: A review and research agenda. Academy of Management Perspectives, 32(3), 290-322. https://doi.org/10.5465/amp.2017.0001
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; Wiklund et al., 2019Wiklund, J., Nikolaev, B., Shir, N., Foo, M., & Bradleu, S. (2019). Entrepreneurship and well-being: Past, present, and future. Journal of Business Venturing, 34(4), 579-588. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019.01.002
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019....
). A autoeficácia está relacionada às crenças dos empreendedores em suas capacidades de execução de tarefas (Bandura, 1986Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Prentice Hall., 2000Bandura, A. (2000). Exercise of human agency through collective efficacy. Current Directions in Psychological Science, 9(3), 75-78. https://doi.org/10.1111/1467-8721.00064
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; Bandura & Wood, 1989Bandura, A. (2010). Self-efficacy. The Corsini encyclopedia of psychology (pp. 1-3). John Wiley & Sons, Inc.; Stephan, 2018Stephan, U. (2018). Entrepreneurs’ mental health and well-being: A review and research agenda. Academy of Management Perspectives, 32(3), 290-322. https://doi.org/10.5465/amp.2017.0001
https://doi.org/10.5465/amp.2017.0001...
; Wiklund et al., 2019Wiklund, J., Nikolaev, B., Shir, N., Foo, M., & Bradleu, S. (2019). Entrepreneurship and well-being: Past, present, and future. Journal of Business Venturing, 34(4), 579-588. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019.01.002
https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019....
) e o bem-estar, ao seu senso de desenvolvimento do potencial individual (Ryan & Deci, 2001Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2001). On happiness and human potentials: A review of research on hedonic and eudaimonic well-being. Annual Review of Psychology, 52(1), 141-166. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.141
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).

A descrição dos níveis e da relação entre esses construtos teóricos nos dois grupos de empreendedoras poderá indicar que não há homogeneidade entre as mulheres, e, assim, elementos relacionados à cultura nacional poderão ser observados e confirmados (Bullough et al., 2022Bullough, A., Guelich, U., Manolova, T. S., & Schjoedt, L. (2022). Women’s entrepreneurship and culture: Gender role expectations and identities, societal culture, and the entrepreneurial environment. Small Business Economics, 58, 985-996. https://doi.org/10.1007/s11187-020-00429-6
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; Naidu & Chand, 2017Naidu, S., & Chand, A. (2017). National culture, gender inequality and women’s success in micro, small and medium enterprises. Social Indicators Research, 130, 647-664. https://doi.org/10.1007/s11205-015-1203-3
https://doi.org/10.1007/s11205-015-1203-...
). Dessa forma, traçou-se como objetivo desta pesquisa o de avaliar diferenças e semelhanças de AEE e BEP em empreendedoras brasileiras e argentinas. Para tanto, primeiro os construtos foram validados por meio de análise fatorial confirmatória multigrupo. Segundo, foram testadas diferenças significativas entre os níveis obtidos nos escores padronizados. E, terceiro, os construtos foram correlacionados em cada grupo e, posteriormente, novamente comparados para determinar diferenças significativas entre as correlações.

Os resultados revelaram evidências que demonstraram tanto diferenças quanto semelhanças. Indicativo de que as mulheres empreendedoras não são um grupo homogêneo, um reforço de que a cultura influencia os papéis e identidades de gênero (Bullough et al., 2022Bullough, A., Guelich, U., Manolova, T. S., & Schjoedt, L. (2022). Women’s entrepreneurship and culture: Gender role expectations and identities, societal culture, and the entrepreneurial environment. Small Business Economics, 58, 985-996. https://doi.org/10.1007/s11187-020-00429-6
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; Ladge et al., 2019Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05...
).

São percebidas contribuições para a literatura sobre empreendedorismo. A associação de BEP à AEE mostrou que os construtos são capazes de ampliar o entendimento sobre a motivação na cognição empreendedora (Shepherd & Patzelt, 2018Shepherd, D. A., & Patzelt, H. (2018). Motivation and entrepreneurial cognition. In Entrepreneurial cognition (pp. 51-103). Palgrave Macmillan, Cham.). Maiores níveis de autoeficácia, quando conjugados a maiores níveis de bem-estar empreendedor, associam a eficácia e a persistência dos empreendedores (Bandura, 1977Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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, 1986Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Prentice Hall.) a melhores níveis de bem-estar, que, por sua vez, são associados a sentimentos positivos e podem produzir maiores níveis de otimismo e de motivação nos empreendedores.

Com isso, esta pesquisa revela que o estudo da relação entre AEE e BEP permite repensar o significado do termo sucesso empreendedor (Shir & Ryff, 2022Shir, N., & Ryff, C. D. (2022). Entrepreneurship, self-organization, and eudaimonic well-being: A dynamic approach. Entrepreneurship Theory and Practice, 46(6), 1658-1684. https://doi.org/10.1177/10422587211013798
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) e também o próprio desempenho do papel empreendedor por mulheres nos dois países. Aloca a importância de se considerarem esses elementos na formulação de políticas de promoção e fortalecimento do empreendedorismo por mulheres, apontando diversos elementos para promover a cooperação entre empreendedoras nos dois países. Por fim, a pesquisa contribui para que dirigentes de regiões fronteiriças levem em conta diferenças culturais, tais como as observadas, no cotidiano das ações e negociações nesses territórios.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Empreendedorismo e bem-estar psicológico

A definição de bem-estar apresenta duas perspectivas principais: eudaimônica e hedônica (Hahn et al., 2012Hahn, V. C., Frese, M., Binnewies, C., & Schmitt, A. (2012). Happy and proactive? The role of hedonic and eudaimonic well-being in business owners’ personal initiative. Entrepreneurhsip Theory and Practice, 36(1), 97-114. https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011.00490.x
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; Ryan & Deci, 2001Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2001). On happiness and human potentials: A review of research on hedonic and eudaimonic well-being. Annual Review of Psychology, 52(1), 141-166. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.141
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). A perspectiva hedônica foca o bem-estar subjetivo, que consiste em emoções positivas e satisfação com a vida, tendo mais peso do que emoções negativas. Essa abordagem foca a avaliação das pessoas sobre suas vidas, abrangendo valores pessoais, necessidades, crenças e expectativas. A perspectiva eudaimônica concentra-se na realização e desenvolvimento pessoal, autorrealização, individuação e autodeterminação. O bem-estar hedônico refere-se à felicidade, em termos de obtenção de prazer; o eudaimônico avalia a autorrealização e ter um propósito significativo na vida (Ryan & Deci, 2001Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2001). On happiness and human potentials: A review of research on hedonic and eudaimonic well-being. Annual Review of Psychology, 52(1), 141-166. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.141
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).

A abordagem eudaimônica do bem-estar atribui conteúdo à natureza humana, procura descobrir esse conteúdo e compreender as condições que o melhoram ou reduzem (Deci & Ryan, 2008Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2008). Hedonia, eudaimonia, and well-being: An introduction. Journal of Happiness Studies, 9(1), 1-11. https://doi.org/10.1007/s10902-006-9018-1
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). Além disso, considera que o bem-estar consiste em mais do que apenas felicidade (Deci & Ryan, 2008Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2008). Hedonia, eudaimonia, and well-being: An introduction. Journal of Happiness Studies, 9(1), 1-11. https://doi.org/10.1007/s10902-006-9018-1
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). Essa perspectiva sustenta que o bem-estar se refere a um processo de realização da verdadeira natureza e promove potenciais virtuosos por meio de uma vida satisfatória (Deci & Ryan, 2008Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2008). Hedonia, eudaimonia, and well-being: An introduction. Journal of Happiness Studies, 9(1), 1-11. https://doi.org/10.1007/s10902-006-9018-1
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). Waterman et al. (2008)Waterman, A. S., Schwartz, S. J., & Conti, R. (2008). The implications of two conceptions of happiness (hedonic enjoyment and eudaimonia) for the understanding of intrinsic motivation. Journal of Happiness Studies, 9(1), 41-79. https://doi.org/10.1007/s10902-006-9020-7
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apontam que o prazer eudaimônico está associado a sentimentos quando o indivíduo se move em direção à autorrealização, buscando o desenvolvimento do potencial individual e promovendo propósitos de vida individuais.

Ao definir a estrutura do BEP, Ryff (1989)Ryff, C. D. (1989). Beyond Ponce de Leon and life satisfaction: New directions in quest of successful ageing. International Journal of Behavorial Development, 12(1), 35-55. https://doi.org/10.1177/016502548901200102
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e Ryff e Keyes (1995)Ryff, C. D., & Keyes, C. L. (1995). The structure of well-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69(4), 719-727. doi:10.1037//0022-3514.69.4.719
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sugeriram seis dimensões do construto, que são: 1) autoaceitação: refere-se à capacidade de ter uma atitude positiva em relação a si mesmo e aceitar múltiplos aspectos de sua personalidade e sentir-se confortável com seu passado; 2) relacionamento positivo com os outros: ter relacionamento satisfatório e confiante com outras pessoas, capacidade de desenvolver empatia, intimidade e afeto, entender como é o relacionamento entre as pessoas; 3) autonomia: ser capaz de resistir às pressões sociais, ser autodeterminado e independente, bem como avaliar e analisar suas experiências de acordo com critérios pessoais; 4) domínio ambiental: ter senso de domínio e competência na gestão do meio ambiente, controlar atividades complexas, ser capaz de escolher e criar contextos apropriados para atender às necessidades e valores pessoais; 5) propósito de vida: ter metas e objetivos na vida e senso de direção, manter crenças e propósitos, perceber que há sentido na vida presente; 6) crescimento pessoal: estar aberto a novas experiências, percebendo seu potencial, buscando melhorias em si mesmo e em seu comportamento ao longo do tempo, percebendo seu crescimento e expansão. As dimensões do BEP abrangem condições de vida, relacionamentos, realizações pessoais, experiências passadas e expectativas futuras (Keyes & Ryff, 1998Keyes, C. L. M., & Ryff, C. D. (1998). Generativity in adult lives: Social structural contours and quality of life consequences. In D. P. McAdams & E. St. Aubin, Generativity and adult development: How and why we care for the next generation (pp. 227-263). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/10288-007
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; Ryff & Keyes, 1995Ryff, C. D., & Keyes, C. L. (1995). The structure of well-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69(4), 719-727. doi:10.1037//0022-3514.69.4.719
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).

O bem-estar dos empreendedores é a experiência de satisfação, afeto positivo, afeto negativo pouco frequente e funcionamento psicológico relacionado ao desenvolvimento, início, crescimento e administração de um empreendimento (Wiklund et al., 2019Wiklund, J., Nikolaev, B., Shir, N., Foo, M., & Bradleu, S. (2019). Entrepreneurship and well-being: Past, present, and future. Journal of Business Venturing, 34(4), 579-588. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019.01.002
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). De acordo com esse conceito, o bem-estar é relevante em todas as fases do processo empreendedor. Pode influenciar a ação (Hahn et al., 2012Hahn, V. C., Frese, M., Binnewies, C., & Schmitt, A. (2012). Happy and proactive? The role of hedonic and eudaimonic well-being in business owners’ personal initiative. Entrepreneurhsip Theory and Practice, 36(1), 97-114. https://doi.org/10.1111/j.1540-6520.2011.00490.x
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) e contribuir para o florescimento de longo prazo de alguns empreendimentos comerciais (Ryff, 2018Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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).

Ryff (2018)Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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ressaltou o papel crítico do bem-estar eudaimônico em diferentes etapas do processo empreendedor. Ela considerou que existem cinco espaços principais para estudos com abordagem eudaimônica em empreendedorismo: a) autonomia e bem-estar eudaimônico; b) empreendedorismo influenciado pela oportunidade e pela necessidade e bem-estar eudaimônico; c) eudaimonia em todo o processo; d) bem-estar e saúde dos empresários; e e) empresários e a eudaimonia de terceiros. Recentemente, Ryff (2023)Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer. abordou perspectivas para estudos futuros de BEP e reforçou a necessidade de examinar a interseção dos estudos empresariais com o bem-estar eudaimônico. Ryff (2023)Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer. argumenta que as concepções convencionais de sucesso empresarial se concentram nos lucros do negócio, porém o BEP do empreendedor constitui outra medida de sucesso que eleva questões de virtude, moralidade e ética para o mundo dos negócios.

Para Shir e Ryff (2022)Shir, N., & Ryff, C. D. (2022). Entrepreneurship, self-organization, and eudaimonic well-being: A dynamic approach. Entrepreneurship Theory and Practice, 46(6), 1658-1684. https://doi.org/10.1177/10422587211013798
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, é necessário levar em conta a dinâmica do processo empreendedor ao estudar bem-estar de empreendedores. Fatores como a autorresponsabilidade, atenção a muitos fatores e comprometimento provavelmente são críticos para desempenhar o processo empreendedor. Para as autoras, aqueles empreendedores que são guiados por um senso de vocação, alinhados com os significados centrais da eudaimonia, podem ter mais chances de prevalecer e persistir nos desafios que se apresentam.

Empreendedorismo e autoeficácia

A autoeficácia é entendida como um traço de personalidade que afeta a motivação para realizar tarefas ou como um grau de tolerância para enfrentar situações adversas, incluindo a percepção individual de risco (Bandura, 1977Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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). Representa também a crença na capacidade pessoal de realizar uma tarefa (Bandura, 2000Bandura, A. (2000). Exercise of human agency through collective efficacy. Current Directions in Psychological Science, 9(3), 75-78. https://doi.org/10.1111/1467-8721.00064
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; Bandura & Wood, 1989Bandura, A., & Wood, R. (1989). Social–cognitive theory of organizational management. Academy of Management Review, 14(3), 361-384. https://doi.org/10.5465/amr.1989.4279067
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; Brown et al., 2001Brown, K. M., Thomas, D., & Kotecki, J. (2001). Physical activity and health: An interactive approach. Lehigh Press.).

A autoeficácia é um dos conceitos centrais da Teoria Social Cognitiva (TSC) proposta por Bandura (1977)Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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. Pressupõe que as pessoas sejam intencionais, capazes de autorregular suas ações e comandar-se no processo de aprendizagem, buscando conscientemente experiências que possam favorecer seus próprios objetivos (Bandura, 1986Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Prentice Hall.). Nesse sentido, os indivíduos concentram-se em contextos nos quais acreditam que serão bem-sucedidos e, assim, a autoeficácia influencia as avaliações e decisões (Bandura, 1977Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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). Pessoas com maior autoeficácia tendem a ser mais persistentes e trabalhar mais para realizar uma tarefa. Além disso, pessoas com alta autoeficácia superam situações de ameaça à segurança que exercerão controle sobre elas. Isso pode ajudar a reduzir o estresse (Bandura, 1977Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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).

AEE é uma aplicação do conceito de autoeficácia de Bandura no campo do empreendedorismo, e refere-se à confiança que um indivíduo tem em desempenhar o papel de um empreendedor e as tarefas a ele associadas (Chen et al., 1998Chen, C. C., Greene, P. G., & Crick, A. (1998). Does entrepreneurial self-efficacy distinguish entrepreneurs from managers? Journal of Business Venturing, 13, 295-316. https://doi.org/10.1016/S0883-9026(97)00029-3
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). Para os empreendedores, a autoeficácia é tão importante quanto a autoestima e a autoconfiança (Bandura, 1993Bandura, A. (1993). Perceived self-efficacy in cognitive development and functioning. Educational Phychologist, 28(2), 117-148. https://doi.org/10.1207/s15326985ep2802_3
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). A autoeficácia desempenha um papel importante na autorregulação da motivação do empreendedor (Bandura, 1994Bandura, A. (1994). Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran, Encyclopedia of human behavior (pp. 71-81), Academic Press.; Salanova et al., 2001Salanova, M., Grau, R., & Llorens, S. (2001). Exposición a las tecnologias de lainformación, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia professional. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-90.), na persistência e na capacidade dele em lidar com a incerteza e com o fracasso (Bandura, 2000Bandura, A. (2000). Exercise of human agency through collective efficacy. Current Directions in Psychological Science, 9(3), 75-78. https://doi.org/10.1111/1467-8721.00064
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; Salanova et al., 2001Salanova, M., Grau, R., & Llorens, S. (2001). Exposición a las tecnologias de lainformación, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia professional. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-90.), bem como na capacidade criativa e inovadora (Law & Breznik, 2017Law, K. M. Y., & Breznik, K. (2017). Impacts of innovativeness and attitude on entrepreneurial intention: Among engineering and non-engineering students. International Journal of Technology and Design Education, 27(4), 683-700. https://doi.org/10.1007/s10798-016-9373-0
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). Mesmo antes da criação do empreendimento, a autoeficácia influencia as intenções empreendedoras (Tiwari et al., 2017Tiwari, P., Bhat, A. K., & Tikoria, J. (2017). The role of emotional intelligence and self-efficacy on social entrepreneurial attitudes and social entrepreneurial intentions. Journal of Social Entrepreneurship, 8(2), 165-185. https://doi.org/10.1080/19420676.2017.1371628
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; Zhao et al., 2005Zhao, H., Hills, G. E., & Seibert, S. E. (2005). The mediating role of self-efficacy in the development of entrepreneurial intentions. Journal of Applied Psychology, 90(6), 1265-1272. https://doi.org/10.1037/0021-9010.90.6.1265
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). A AEE explica a crença que os empreendedores têm em sua capacidade de realizar trabalhos ou criar novos empreendimentos (Sánchez et al., 2011Sánchez, J. C., Carballo, T. & Gutiérrez, A. (2011). The entrepreneur from a cognitive approach. Psicothema, 23(3), 433-438.). Além disso, a AEE modera a relação entre a percepção de incerteza e a identificação de oportunidades (Markowska, & Wiklund, 2020Markowska, M., & Wiklund, J. (2020). Entrepreneurial learning under uncertainty: Exploring the role of self-efficacy and perceived complexity. Entrepreneurship & Regional Development, 32(7/8), 606-628. https://doi.org/10.1080/08985626.2020.1713222
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; Schmidtt et al., 2018), influenciando a identificação e a exploração de oportunidades.

Noble et al. (1999)Noble, A. F. De, Jung, D., & Ehrlich, S. B. (1999). Entrepreneurial self-efficacy: The development of a measure and its relationship to entrepreneurial action. In Frontiers for entrepreneurship research (pp. 73-78). P&R Publication Inc. sugeriram seis dimensões para medir a AEE, que são: 1) desenvolvimento de novos produtos e oportunidades de mercado: relaciona-se com os conjuntos de habilidades que permitem o reconhecimento de oportunidades, ou seja, crença pessoal na capacidade criativa de encontrar oportunidades de mercado para desenvolver novos produtos e serviços, adaptando-se às mudanças; 2) construção de um ambiente inovador: trata-se de uma crença pessoal na capacidade de criar um ambiente de risco que favoreça a inovação; 3) iniciar relações com investidores: retrata a capacidade dos empreendedores em utilizar suas redes de contatos, buscando atrair novos recursos que auxiliem a criação de seus negócios; 4) definição do objetivo central do negócio: dimensão que explica que quanto mais o indivíduo focar um objetivo, maior será sua motivação para o empreendimento; 5) lidar com mudanças inesperadas: capacidade de trabalhar sob incerteza, ser tolerante a problemas e adaptar-se a mudanças; 6) desenvolvimento de recursos humanos chave: representa a crença na capacidade de atrair e reter talentos para a empresa.

Autoeficácia, bem-estar e mulheres empreendedoras

O crescimento de empresas criadas por mulheres é foco de pesquisas, principalmente quando as empresas são criadas por necessidade, como ocorre no contexto dos países de realização desta pesquisa. Um preditivo do crescimento de empresas de empreendedoras é a autoeficácia (Ladge et al., 2019Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
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). De acordo com esses autores, a autoeficácia contribui para que as mulheres se sintam mais seguras para traçar estratégias e perseguirem o crescimento.

Além disso, Ladge et al. (2019)Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
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salientam que a identidade social afeta a autoeficácia de empreendedoras, e, dessa forma, as normas sociais associadas a gênero influenciam a autoeficácia de empreendedoras. Talvez isso possa explicar variações entre os níveis de AEE em empreendedoras de diferentes países (Minniti, 2009Minniti, M. (2009). Gender issues in entrepreneurship. Foundations and Trends in Entrepreneurship, 5(7/8), 497-621. https://doi.org/10.1561/0300000021
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; Newman et al., 2019Newman, A., Obschonkab, M., Schwarzc, S., Cohena, M., & Nielsena, I. (2019). Entrepreneurial self-efficacy: A systematic review of the literature on its theoretical foundations, measurement, antecedents, and outcomes, and an agenda for future research. Journal of Vocational Behavior, 110, 403-419. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2018.05.012
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). Ao mesmo tempo, essa relação entre a AEE e a cultura sugere a possibilidade de haver variações na autoeficácia de empreendedoras brasileiras e argentinas.

Considerando que a autoeficácia influencia o bem-estar (Ribes-Giner et al., 2018Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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; Sánchez et al., 2011Sánchez, J. C., Carballo, T. & Gutiérrez, A. (2011). The entrepreneur from a cognitive approach. Psicothema, 23(3), 433-438.), essa relação pode ocorrer no caso de mulheres empreendedoras. Se isso ocorre, o bem-estar pode proporcionar às empreendedoras uma experiência satisfatória, com afeto positivo relacionado ao papel empreendedor em todas as etapas do empreendimento (Wiklund et al., 2019Wiklund, J., Nikolaev, B., Shir, N., Foo, M., & Bradleu, S. (2019). Entrepreneurship and well-being: Past, present, and future. Journal of Business Venturing, 34(4), 579-588. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2019.01.002
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). Presumindo a associação entre autoeficácia e bem-estar (Bandura, 2010Bandura, A. (2010). Self-efficacy. The Corsini encyclopedia of psychology (pp. 1-3). John Wiley & Sons, Inc.; Liu et al., 2010Liu, J., Siu, O., & Shi, K. (2010). Transformational leadership and employee well‐being: The mediating role of trust in the leader and self‐efficacy. Applied Psychology, 59(3), 454-479. https://doi.org/10.1111/j.1464-0597.2009.00407.x
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; Singh et al., 2019Singh, S. K., Pradhan, R. K., Panigrahy, N. P., & Jena, L. K. (2019). Self-efficacy and workplace well-being: Moderating role of sustainability practices. Benchmarking: An International Journal, 26(6), 1692-1708. https://doi.org/10.1108/BIJ-07-2018-0219
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), é possível que ocorram semelhanças nessa relação quando se avalia o contexto de países diferentes. Para esclarecer possíveis semelhanças ou diferenças na relação entre ESE e BEP, foi realizado um estudo de caráter exploratório, conforme será explicado a seguir.

MÉTODO

Design da pesquisa

O desenho da pesquisa foi concebido na abordagem quantitativa, descritiva e transversal. A amostragem ocorreu de maneira não probabilística por conveniência. O acesso às participantes ocorreu durante a realização de um programa desenvolvido por duas universidades – uma brasileira e uma argentina.

A coleta de dados ocorreu durante os meses de setembro e novembro de 2019. Três estratégias foram adotadas nesta fase. As participantes foram contatadas durante as reuniões do programa realizadas nas duas universidades. Aquelas que aceitaram participar tiveram acesso aos instrumentos (online ou durante o encontro). As participantes foram contatadas por meio de associações associativas (os pesquisadores solicitaram às associações que enviassem o convite e os instrumentos aos seus membros on-line para coletar as contribuições daquelas que aceitaram participar). Além disso, os pesquisadores enviaram o convite e os instrumentos online para as empreendedoras com quem se relacionam. O número de empresárias que participaram da pesquisa foi 404. As características sociodemográficas incluíram, além da nacionalidade, a idade, cidade de residência e nível de escolaridade, esse último equiparado pela tabela de equivalência definida pelo Governo Brasileiro (Decreto nº 6.729, 2009Decreto nº 6.729, de 12 de janeiro de 2009. (2009). Promulga o Protocolo de Integração Educativa e Reconhecimento de Certificados e Estudos de Nível Fundamental e Médio Não Técnico entre os Estados Partes do Mercosul, Bolívia e Chile, assinado em Brasília, em 5 de dezembro de 2002. Presidência da República. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6729.htm
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).

Como instrumentos para avaliar os construtos teóricos do estudo, em primeiro lugar foi aplicada a escala de AEE (Noble et al., 1999Noble, A. F. De, Jung, D., & Ehrlich, S. B. (1999). Entrepreneurial self-efficacy: The development of a measure and its relationship to entrepreneurial action. In Frontiers for entrepreneurship research (pp. 73-78). P&R Publication Inc.). A versão empregada é constituída por 23 itens em uma escala Likert de sete pontos, de “totalmente incapaz” (1) a “totalmente capaz” (7). As dimensões são 1) desenvolvimento de produtos e oportunidades de mercado (DO); 2) construção de um ambiente inovador (EN); 3) definição do objetivo principal do negócio (OB); 4) desenvolver recursos humanos chave para a empresa (RH); 5) estabelecer potenciais relações com investidores (IR); e 6) ser capaz de lidar com mudanças imprevistas (CC). Esse instrumento foi validado em estudos anteriores na Espanha por Moriano et al. (2006)Moriano, J. A., Palací, F. J., & Morales, J. F. (2006). Adaptación y validación en España de la escala de autoeficacia empreendedora. Revista de Psicología Social, 21(1), 51-64. https://doi.org/10.1174/021347406775322223
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, na Argentina por Mayoral e Ferrer (2014)Mayoral, L. A., & Ferrer, C. M. S. (2014). Empreendedorismo tecnológico y género en la Argentina: Factores determinantes en la percepción de autoeficacia emprendedora. Revista Facultad de Ciencias Económicas, 22(2), 97-108. https://doi.org/10.18359/rfce.628
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e no Brasil por Camozzato et al. (2017)Camozzato, E. S., Verdinelli, M. A., Lizote, S. A., & Serafim, F. K. (2017). Orientação empreendedora, autoeficácia dos gestores e satisfação com o desempenho: Um estudo em empresas incubadas. Revista de Ciências da Administração, 19(48), 68-83. https://doi.org/10.5007/2175-8077.2017v19n48p68
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.

Em segundo lugar, a escala de BEP (Ryff & Keyes, 1995Ryff, C. D., & Keyes, C. L. (1995). The structure of well-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69(4), 719-727. doi:10.1037//0022-3514.69.4.719
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). Esse instrumento é validado no Brasil por Machado et al. (2013)Machado, W. L., Bandeira, D. R., & Pawlowski, J. (2013). Validação da Psychological Well-being Scale em uma amostra de estudantes universitários. Avaliação Psicológica, 12(2), 263-272. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712013000200017
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e na Argentina por Rodriguez et al. (2012)Rodriguez, M., Sebastianelli, M. S., & Quiroga. E. G. (2012). Propiedades psicometricas de la Escala de Bienestar Psicologico de Ryff en docentes argentinos. Artigo apresentado no IV Congreso Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología XIX Jornadas de Investigación VIII Encuentro de Investigadores en Psicología del MERCOSUR, Buenos Aires, Argentina.. Esse instrumento utilizou um formato Likert de seis pontos, de “discordo totalmente” (1) a “concordo totalmente” (6). O número par de opções adotado para essa escala resulta da necessidade de avaliar afetos positivos ou negativos, não sendo possível uma resposta mediana. A correção do instrumento seguiu o protocolo definido pelos autores, que resultou em seis dimensões para sua avaliação: 1) relacionamento positivo (RP); 2) autonomia (AU); 3) domínio ambiental (ED); 4) crescimento pessoal (PG); 5) propósito de vida (LP) e 6) autoaceitação (SA). Uma vez concluída a coleta de dados, a base de dados foi transcrita e iniciou-se a etapa de análise dos dados.

Análise de dados

Com a coleta de dados concluída, o teste de fator único de Harman (Kimura, 2015Kimura, H. (2015). Editorial. Revista de Administração Contemporânea, 19(3), 1-1. https://doi.org/10/gm4w42
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) verificou a qualidade da base pelo controle do viés do método comum; o resultado mostrou 24,23% de variância acumulada. O teste alfa de Cronbach (1951)Cronbach, L. J. (1951). Coefficient alpha and the internal structure of tests. Psychometrika, 16(3), 297-334. https://doi.org/10/cc5
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avaliou a confiabilidade e mostrou resultado de α=0,94 para a escala de AEE e de α=0,86 para a escala de BEP. O teste ômega de McDonald (1970)McDonald, R. P. (1970). The theoretical foundations of principal factor analysis, canonical factor analysis, and alpha factor analysis. British Journal of Mathematical & Statistical Psychology, 23, 1-21. http://dx.doi.org/10.1111/j.2044-8317.1970.tb00432.x
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verificou a confiabilidade composta, e o resultado para a escala de AEE foi ω=0,95 e para a escala de BEP foi ω=0,90. De maneira multivariada, o teste de Mardia (1970)Mardia, K. V. (1970). Measures of multivariate skewness and kurtosis with applications. Biometrika, 57(3), 519-530. https://doi.org/10.1093/biomet/57.3.519
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e, de maneira univariada, o teste de Shapiro-Wilk (Razali & Wah, 2011Razali, N. M., & Wah, Y. B. (2011). Power comparisons of Shapiro-Wilk, Kolmogorov-Smirnov, Lilliefors and Anderson-Darling tests. Journal of Statistical Modeling and Analytics, 2(1), 21-33.) verificaram a não normalidade das distribuições (p < 0,05).

A análise fatorial confirmatória multigrupo (MGCFA) (Bialosiewicz et al., 2013Bialosiewicz, S., Murphy, K., & Berry, T. (2013). An introduction to measurement invariance testing: Resource packet for participants. Demonstration Session – American Evaluation Association, 37. http://comm.eval.org/HigherLogic/System/DownloadDocumentFile.ashx?DocumentFileKey=63758fed-a490-43f2-8862-2de0217a08b8
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; Milfont & Fischer, 2010Milfont, T. L., & Fischer, R. (2010). Testing measurement invariance across groups: Applications in cross-cultural research. International Journal of Psychological Research, 3(1), 111-130. https://doi.org/10.21500/20112084.857
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) validou os instrumentos. Devido à não normalidade das distribuições, foi utilizada a análise fatorial confirmatória robusta (Li, 2016Li, C.-H. (2016). Confirmatory factor analysis with ordinal data: Comparing robust maximum likelihood and diagonally weighted least squares. Behavior Research Methods, 48(3), 936–949. https://doi.org/10.3758/s13428-015-0619-7
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) com as estimativas extraídas pelo método MLM com a correção de escala de Satorra-Bentler. Os seguintes indicadores inspecionaram o ajuste do modelo: índice da raiz do erro quadrático médio de aproximação (RMSEA) (Steiger, 1990Steiger, J. H. (1990). Structural model evaluation and modification: An interval estimation approach. Multivariate Behavioral Research, 25(2), 173-180. https://doi.org/10.1207/s15327906mbr2502_4
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) e intervalo de confiança a 90%, raiz quadrada média residual padronizada (SRMR) (Pavlov et al., 2021Pavlov, G., Maydeu-Olivares, A., & Shi, D. (2021). Using the Standardized Root Mean Squared Residual (SRMR) to assess exact fit in structural equation models. Educational and Psychological Measurement, 81(1), 110-130. https://doi.org/10.1177/0013164420926231
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), índice de ajuste comparativo (CFI), índice de Tucker-Lewis (TLI) e qui-quadrado (x2) com seus graus de liberdade e nível de significância (p). A descrição do modelo ajustado utilizou a covariância fatorial (ϕ) das dimensões, as cargas fatoriais (λ) e covariância residual (δ) dos itens. O post hoc como valor limite 0,10 (Shi et al., 2018Shi, D., Maydeu-Olivares, A., & DiStefano, C. (2018). The relationship between the standardized root mean square residual and model misspecification in factor analysis models. Multivariate Behavioral Research, 53(5), 676-694. https://doi.org/10.1080/00273171.2018.1476221
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) demonstrou a matriz de correlação entre os resíduos observados. Para verificar a invariância de configuração, métrica e escalar entre as nacionalidades, foram observados os indicadores ∆SRMR, ∆RMSEA e ∆CFI (Chen, 2007Chen, F. F. (2007). Sensitivity of goodness of fit indexes to lack of measurement invariance. Structural Equation Modeling: A Multidisciplinary Journal, 14(3), 464-504. https://doi.org/10.1080/10705510701301834
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; Putnick & Borsntein, 2016Putnick, D. L., & Bornstein, M. H. (2016). Measurement invariance conventions and reporting: The state of the art and future directions for psychological research. Developmental Review, 41, 71-90. https://doi.org/10.1016/j.dr.2016.06.004
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).

As comparações foram realizadas com os escores padronizados. Primeiro, o teste U de Mann-Whitney (McKnight & Najab, 2010McKnight, P. E., & Najab, J. (2010). Mann‐Whitney U Test. In I. B. Weiner & W. E. Craighead (Orgs.), The Corsini encyclopedia of psychology (p. 1). Wiley. https://doi.org/10.1002/9780470479216.corpsy0524
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) executou a comparação entre as empreendedoras em ambas as nações das variáveis latentes que representaram as dimensões dos construtos. E, segundo, foram comparadas as correlações entre as dimensões de ambos os construtos. Após compor a matriz de resultados por meio do teste rho (ρ) de Spearman (Clef, 2013Clef, T. (2013). Exploratory data analysis in business and economics: An introduction using SPSS, Stata, and Excel. Springer Science and Business Media.), quando os coeficientes para ambas as nacionalidades se mostraram significativos, o teste de transformação r-to-z de Fischer (Colman, 2009Colman, A. M. (2009). A dictionary of psychology (3rd ed.). Oxford University Press.) verificou a diferença entre as forças de correlação.

O nível de significância adotado em todos os testes foi de 0,05. A linguagem R (R Core Team, 2022R Core Team. (2022). R: A language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. https://www.R-project.org/
https://www.R-project.org/...
), com auxílio dos softwares RStudio (Posit Team, 2022Posit Team. (2022). RStudio: Integrated development environment for R. Posit Software. PBC, Boston, MA. http://www.posit.co/
http://www.posit.co/...
), Jamovi (The Jamovi Project, 2022The Jamovi Project. (2022). Jamovi (Version 2.3) [Computer software]. https://www.jamovi.org
https://www.jamovi.org...
), Lavaan (Rosseel, 2012Rosseel, Y. (2012). Lavaan: An R Package for Structural Equation Modeling. Journal of Statistical Software, 48(2), 1-36. https://doi.org/10.18637/jss.v048.i02
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), MVN (Korkmaz et al., 2014Korkmaz, S., Goksuluk, D., & Zararsiz, G. (2014). MVN: An R Package for assessing multivariate normality. The R Journal, 6(2), 151-162.) e Psych (Revelle, 2022Revelle, W. (2022). Psych: Procedures for personality and psychological research. Northwestern University, Evanston, Illinois, USA. https://CRAN.R-project.org/package=psychVersion=2.2.9
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), executou os procedimentos de cálculo.

RESULTADOS

A amostra foi composta por 404 empreendedoras brasileiras (n=252) e argentinas (n=152). Apresentaram média de idade=35,59 anos (md=34,25, dp=10,14, mín=17,87, máx=77,39). Provenientes de 37 cidades diferentes em ambos os países, declararam possuir escolaridade equiparada em nível de ensino fundamental uma (0,25%) brasileira e seis (1,49%) argentinas. Em nível de ensino médio, 16 (4%) brasileiras e 36 (9%) argentinas. Em nível superior, 81 (20%) brasileiras e 102 (25%) argentinas. E, em pós-graduação, 153 (38%) brasileiras e oito (2%) argentinas.

A Figura 1 mostra o resultado da validação do construto de AEE em ambas as nações (Brasil/Argentina). Os indicadores da qualidade de ajuste do modelo encontrado pela MGCFA robusta mostraram valores de RMSEA=0.045 (IC90%: 0,030-0,057), SRMR=0,039, CFI=0,968, TLI=0,953, x2bra=72.788, x2arg=101.108 (df=124, p=0,002, SB=1,375). A matriz de correlação entre os resíduos observados utilizada como post hoc apresentou valores < 0,10. A MGCFA mostrou invariância de configuração, métrica e escalar (ΔSRMR=-0,009/-0,002, ΔRMSEA=0,000/-0,005, ΔCFI=0,001/0,009).

Figura 1
Validação de Autoeficácia Empreendedora

O resultado da validação do construto BEP em ambas as nações (Brasil/Argentina) está apresentado na Figura 2. A qualidade de ajuste do modelo encontrado pela MGCFA mostrou valores de RMSEA=0,046 (IC90%: 0,022-0,065), SRMR=0,043, CFI=0,966, TLI=0,948, x2bra=64.456, x2arg=72.226 (df =102, p=0,012, stc=1,263). A matriz de correlação entre os resíduos observados utilizada como post hoc também resultou em valores < 0,10. A MGCFA apontou invariância de configuração, métrica e escalar (ΔSRMR=-0,004/-0,002, ΔRMSEA=0,005/-0,006, ΔCFI=0,005/0,012).

Figura 2
Validação de Bem-estar Psicológico

Com a validação positiva dos instrumentos em ambos os grupos, os desfechos foram analisados primeiramente utilizando comparação de medianas dos escores padronizados obtidos na MGCFA. As argentinas mostram valores significativamente superiores às brasileiras em todas as dimensões de AEE e nas dimensões relacionamento positivo e autonomia de BEP, o que aponta diferença entre as empreendedoras de ambas as nações. Além disso, foram encontradas semelhanças nas dimensões domínio sobre o ambiente, crescimento pessoal, propósito na vida e autoaceitação do constructo BEP. A Tabela 1 apresenta os resultados dessa primeira comparação.

Tabela 1
Comparação das Dimensões dos Construtos

A segunda comparação foi realizada entre as correlações AEE-BEP obtidas para brasileiras e para argentinas. Três tipos de evidências foram encontrados. A primeira evidência apontou diferença entre as correlações de brasileiras e argentinas simplesmente porque um grupo não foi capaz de mostrar correlações significativas (Difa). A segunda, ao verificar estatisticamente a diferença significativa na força da correlação de ambas as nacionalidades quando apresentavam correlação significativa (Difb). E a terceira, por mostrar semelhança ao não haver diferença significativa da força entre as duas correlações significativas entre as nacionalidades (Semc). A Tabela 2 apresenta os desfechos da segunda comparação.

Tabela 2
Comparação entre Correlações das Dimensões dos Construtos

As correlações de BRP e BAU com todas as dimensões de autoeficácia mostram diferença porque, para as argentinas, a correlação é significativa e, para as brasileiras, não (Difa). As argentinas mostraram força maior de correlação do que as brasileiras nos pares de correlação entre BDO e BCP com todas as dimensões de autoeficácia (Difb). No mesmo sentido, em BPV foi encontrada força maior nas argentinas na correlação com as dimensões APO, AON, AGR, ACI e AEM (Difb). Também no mesmo sentido, BAA mostrou força maior nas argentinas com as dimensões AON e AGR (Difb). E, por último, foi encontrada semelhança entre os resultados das empreendedoras brasileiras e argentinas por não haver diferença significativa entre as correlações nos pares BPV-AAI, BAA-APO, BAA-AAI, BAA-ACI e BAA-AEM (Semc).

DISCUSSÃO

Na comparação entre medianas, quanto à AEE, em todas as dimensões as empreendedoras argentinas mostraram percepção superior às brasileiras, com diferença significativa. Em comparação às brasileiras, as argentinas demonstraram maior senso de capacidade de agir (Rosique-Blasco et al., 2018Rosique-Blasco, M., Madrid-Guijarro, A., & García-Pérez-de-Lema, D. (2018). The effects of personal abilities and self-efficacy on entrepreneurial intentions. International Entrepreneurship and Management Journal, 14, 1025-1052. https://doi.org/10.1007/s11365-017-0469-0
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), de atingir metas (Bandura, 1994Bandura, A. (1994). Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran, Encyclopedia of human behavior (pp. 71-81), Academic Press., 2001Bandura, A. (2001). Social cognitive theory: An agentic perspective. Annual Review of Psychology, 52(1), 1-26. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.52.1.1
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) e de se engajar (Newman et al., 2019Newman, A., Obschonkab, M., Schwarzc, S., Cohena, M., & Nielsena, I. (2019). Entrepreneurial self-efficacy: A systematic review of the literature on its theoretical foundations, measurement, antecedents, and outcomes, and an agenda for future research. Journal of Vocational Behavior, 110, 403-419. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2018.05.012
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).

Esse resultado corrobora os achados de Ladge et al. (2019)Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
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, Minniti (2009)Minniti, M. (2009). Gender issues in entrepreneurship. Foundations and Trends in Entrepreneurship, 5(7/8), 497-621. https://doi.org/10.1561/0300000021
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e Newman et al. (2019)Newman, A., Obschonkab, M., Schwarzc, S., Cohena, M., & Nielsena, I. (2019). Entrepreneurial self-efficacy: A systematic review of the literature on its theoretical foundations, measurement, antecedents, and outcomes, and an agenda for future research. Journal of Vocational Behavior, 110, 403-419. https://doi.org/10.1016/j.jvb.2018.05.012
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, que identificaram variações na autoeficácia de empreendedoras. A autoeficácia desempenha um papel crucial na autorregulação da motivação e persistência do empreendedor (Bandura, 1994Bandura, A. (1994). Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran, Encyclopedia of human behavior (pp. 71-81), Academic Press., 2000; Salanova et al., 2001Salanova, M., Grau, R., & Llorens, S. (2001). Exposición a las tecnologias de lainformación, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia professional. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-90.), na capacidade criativa e inovadora (Law & Breznik, 2017Law, K. M. Y., & Breznik, K. (2017). Impacts of innovativeness and attitude on entrepreneurial intention: Among engineering and non-engineering students. International Journal of Technology and Design Education, 27(4), 683-700. https://doi.org/10.1007/s10798-016-9373-0
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), na autoconfiança, na facilidade de networking e na tolerância ao risco (Wu et al., 2019Wu, J., Li, Y., & Zhang, D. (2019). Identifying women’s entrepreneurial barriers and empowering female entrepreneurship worldwide: A fuzzy-set QCA approach. International Entrepreneurship and Management Journal, 15, 905-928. https://doi.org/10.1007/s11365-019-00570-z
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). Nesta pesquisa, a AEE apresentou variações entre empreendedoras em duas culturas distintas, o que reforça a premissa de que a identidade social afeta a autoeficácia de empreendedoras e as normas sociais associadas a gênero influenciam AEE, tal como os achados de Ladge et al. (2019)Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
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. Ao mesmo tempo, esse resultado aponta para a necessidade de o Brasil atentar para as questões de gênero e AEE no âmbito do empreendedorismo por mulheres, uma vez que as barreiras de gênero podem reduzir a AEE de empreendedoras (Mozahem, 2021Mozahem, N. A. (2021). Gender differences in entrepreneurial self-efficacy: An educational perspective. The International Journal of Management Education, 19(3), 1-8. https://doi.org/10.1016/j.ijme.2021.100535
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). Vale lembrar que a Argentina implementou políticas de gênero anteriormente ao Brasil (Schwether & Pagliari, 2018Schwether, N. D., & Pagliari, G. C. (2018) Políticas de gênero para a Defesa: Os casos de Argentina e Brasil. Revista de Sociologia e Política, 26(65), 1-14. https://doi.org/10.1590/1678-987317266501
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), além do fato de o empreendedor ser mais valorizado na cultura argentina do que na cultura brasileira (Bosma & Kelley, 2019Bosma, N., & Kelley, D. (2019). Global Entrepreneurship Monitor 2018/2019. Global report. Andes, Chile.).

Ainda na comparação entre medianas, porém quanto ao BEP, a dimensão “relacionamento positivo” apresentou valores similares entre ambas as culturas, entretanto apresentou dispersões diferentes, com média inferior das brasileiras em comparação às argentinas. O relacionamento positivo refere-se à habilidade de entender e estabelecer relacionamentos satisfatórios e confiantes, capacidade de desenvolver empatia, intimidade e afeto (Ryff, 1989Ryff, C. D. (1989). Beyond Ponce de Leon and life satisfaction: New directions in quest of successful ageing. International Journal of Behavorial Development, 12(1), 35-55. https://doi.org/10.1177/016502548901200102
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; Ryff & Keyes, 1995Ryff, C. D., & Keyes, C. L. (1995). The structure of well-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69(4), 719-727. doi:10.1037//0022-3514.69.4.719
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). Esse fator é essencial para estabelecer e avançar em negociações. A habilidade de relacionamento positivo pode contribuir para acordos bilaterais (Carneiro, 2019Carneiro, C. P., Filho. (2019). La cooperación transfronteriza en las ciudades gemelas de la Frontera Sur de Brasil. Aldea Mundo, 24(47), 39-50. https://www.redalyc.org/jatsRepo/543/54364072012/html/index.html
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) e para buscas conjuntas de soluções em regiões fronteiriças (Desiderá & Penha, 2016Desiderá, W. A., Neto, & Penha, B. (2016). As regiões de fronteira como laboratório da integração regional no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 22, 33-50. https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/6733
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), especialmente aquelas pouco integradas ao centro das dinâmicas de desenvolvimento (Barros & Samurio, 2019Barros, P. S., & Samurio, S. E. (2019). A institucionalidade da integração fronteiriça na Unasul e no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 25, 35-43. http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9800/1/BEPI_n25_Institucionalidade.pdf
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), tal como as regiões que foram objeto deste estudo.

Na dimensão autonomia, também há diferença significativa, apontando maior mediana para as argentinas. A autonomia enfatiza que “a pessoa é autodeterminada e independente, bem como capaz de se avaliar por padrões pessoais e, se necessário, resistir às pressões sociais para pensar ou agir de determinadas maneiras” (Ryff, 2018, p. 4Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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). As empreendedoras argentinas, ao apresentarem maiores níveis de autonomia, estão inseridas em um ambiente que propicia melhores vínculos entre os indivíduos e suas condições de vida, seus relacionamentos, conquistas pessoais, bem como relação entre o passado e as expectativas para o futuro (Keyes & Ryff, 1998Keyes, C. L. M., & Ryff, C. D. (1998). Generativity in adult lives: Social structural contours and quality of life consequences. In D. P. McAdams & E. St. Aubin, Generativity and adult development: How and why we care for the next generation (pp. 227-263). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/10288-007
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; Ryff & Keyes, 1995Ryff, C. D., & Keyes, C. L. (1995). The structure of well-being revisited. Journal of Personality and Social Psychology, 69(4), 719-727. doi:10.1037//0022-3514.69.4.719
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). É possível que o menor nível de autonomia das empreendedoras brasileiras esteja associado à maior distância de poder na sociedade brasileira em relação à cultura argentina (Hofstede, 2015Hofstede, G. J. (2015). Dimension data matrix. https://geerthofstede.com/research-and-vsm/dimension-data-matrix/
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).

Por outro lado, nas dimensões “domínio do ambiente”, “crescimento pessoal”, “propósito na vida” e “autoaceitação”, os resultados mostraram não haver diferença significativa nos grupos. Ou seja, demostraram ser semelhantes. Características semelhantes têm potencial para promover identificação e, logo, aproximação. Esses aspectos mostram-se como forças no sentido de promover aproximação entre os grupos de ambas as nações e, portanto, poderão gerar integração (Barros & Samurio, 2019Barros, P. S., & Samurio, S. E. (2019). A institucionalidade da integração fronteiriça na Unasul e no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 25, 35-43. http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9800/1/BEPI_n25_Institucionalidade.pdf
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), cooperação e desenvolvimento (Pessoa & Souza, 2021Pessoa, L. O., & Souza, L. E. S. de. (2021). A integração fronteiriça no Mercosul: Histórico, balanço e perspectivas nos 30 anos do bloco. Brazilian Journal of International Relations, 10(1), 222-252. https://doi.org/10.36311/2237-7743.2021.v10n1.p222-252
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), além de contribuírem para superação de dificuldades no papel empreendedor (Lopes et al., 2023Lopes, I. R. M., Faria, L. C. C., & Gonçalves, J. R. (2023). Mercosul: Problemas estruturais e o dilema da classificação frente aos modelos de bloco econômico. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 6(12), 199-215. https://doi.org/10.5281/zenodo.7692527
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).

Entre as diferenças em ambos os grupos, as correlações entre relacionamento positivo e autonomia com todas as dimensões de AEE mostram diferença, sendo, para as empreendedoras argentinas, a correlação significativa e, para as empreendedoras brasileiras, não significativa. Além disso, as argentinas mostram força maior de correlação do que as brasileiras nos pares de correlação associados às dimensões do BEP “domínio do ambiente” e “crescimento pessoal” com todas as dimensões de AEE. No mesmo sentido, na dimensão “propósito de vida”, associada ao BEP, foi encontrada força maior de correlação no grupo das empreendedoras argentinas com todas as dimensões de autoeficácia, exceto para a dimensão “desenvolver um ambiente inovador”. Ainda no mesmo sentido, a dimensão “autoaceitação” apresentou força maior no grupo das argentinas com as dimensões “definição do objetivo do negócio” e “gerir recursos humanos chave”. Essas diferenças evidenciam modos distintos de gestão dos empreendimentos por empreendedoras brasileiras e argentinas.

No tocante às similaridades identificadas entre os grupos, observa-se que há semelhança por não haver diferença significativa entre as correlações nos seguintes pares de dimensões: “propósito de vida” com “desenvolver um ambiente inovador”; “autoaceitação” com “desenvolver novos produtos ou oportunidades de mercado”; “autoaceitação” com “desenvolver um ambiente inovador”; “autoaceitação” com “iniciar contatos com investidores”; e “autoaceitação” com “capacidade de enfrentar mudanças não previstas”. Como a abordagem eudaimônica do bem-estar tem princípios arraigados na psicologia positiva, que valoriza a potencialização dos aspectos positivos das pessoas (Ryff, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.), os resultados da pesquisa apontam para a valorização da autoaceitação por parte das empreendedoras como uma estratégia para desenvolver produtos, mercados e inovação, além de obtenção de recursos externos.

A autoeficácia é uma forma de buscar conscientemente experiências que possam favorecer objetivos próprios (Bandura, 1986Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: A social cognitive theory. Prentice Hall.), bem como de enfrentar situações de ameaça à segurança (Bandura, 1977Bandura, A. (1977). Self-efficacy: Toward a unifying theory of behavioural change. Psychological Review, 84(2), 191-215. https://doi.org/10.1037/0033-295X.84.2.191
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). Além disso, a autoeficácia é importante para fortalecer os empreendimentos das empreendedoras (Ladge et al., 2019Ladge, J., Eddleston, K., & Sugiyama, K. (2019). Am I an entrepreneur? How imposter fears hinder women entrepreneurs’ business growth. Business Horizons, 62(5). https://doi.org/10.1016/J.BUSHOR.2019.05.001
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), de regiões fronteiriças, expostas a dilemas típicos desse contexto (Lopes et al., 2023Lopes, I. R. M., Faria, L. C. C., & Gonçalves, J. R. (2023). Mercosul: Problemas estruturais e o dilema da classificação frente aos modelos de bloco econômico. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 6(12), 199-215. https://doi.org/10.5281/zenodo.7692527
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). Como exemplo, pode-se mencionar o efeito da AEE sobre a autorregulação emocional (Bandura, 1994Bandura, A. (1994). Self-efficacy. In V. S. Ramachaudran, Encyclopedia of human behavior (pp. 71-81), Academic Press.; Salanova et al., 2001Salanova, M., Grau, R., & Llorens, S. (2001). Exposición a las tecnologias de lainformación, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia professional. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-90.), a capacidade de lidar com a incerteza e com o fracasso (Bandura, 2000Bandura, A. (2000). Exercise of human agency through collective efficacy. Current Directions in Psychological Science, 9(3), 75-78. https://doi.org/10.1111/1467-8721.00064
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; Salanova et al., 2001Salanova, M., Grau, R., & Llorens, S. (2001). Exposición a las tecnologias de lainformación, burnout y engagement: El rol modulador de la autoeficacia professional. Revista de Psicología Social Aplicada, 11(1), 69-90.), além da ampliação da capacidade inovadora e criativa (Law & Breznik, 2017Law, K. M. Y., & Breznik, K. (2017). Impacts of innovativeness and attitude on entrepreneurial intention: Among engineering and non-engineering students. International Journal of Technology and Design Education, 27(4), 683-700. https://doi.org/10.1007/s10798-016-9373-0
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). Contudo, é importante que a AEE esteja relacionada ao BEP (Ryff, 2018Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.), a fim de conjugar a capacidade de enfrentar as situações inerentes ao papel empreendedor com a satisfação com a vida e com o desejo de autorrealização, associados ao BEP.

Em síntese, tanto as diferenças quanto as semelhanças na relação entre AEE e BEP identificadas entre os grupos podem contribuir para encontrar caminhos de integração entre os empreendimentos nas fronteiras, o que também pode fortalecer os negócios das empreendedoras em ambos os países. Ribes-Giner et al. (2018)Ribes-Giner, G., Moya-Clemente, I., Cervelló-Royo, R., & Perello-Marin, M. R. (2018). Well-being indicators affecting female entrepreneurship in OECD countries. Quality & Quantity, 53, 915-933. https://doi.org/10.1007/s11135-018-0796-4
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sugerem que a autoeficácia é como combustível para o bem-estar, especificamente para empreendedores. Assim, a AEE mostrou-se um promotor do BEP para mulheres empreendedoras, especialmente para as argentinas, que apresentaram correlações de grande ou média magnitude em mais dimensões. Enquanto as diferenças entre os grupos podem resultar em conflito se não forem consideradas como oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem, as semelhanças entre os grupos podem contribuir para a construção de novas alianças e identidades (Carneiro, 2019Carneiro, C. P., Filho. (2019). La cooperación transfronteriza en las ciudades gemelas de la Frontera Sur de Brasil. Aldea Mundo, 24(47), 39-50. https://www.redalyc.org/jatsRepo/543/54364072012/html/index.html
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), além de aumentar o BEP. Já se sabe que o bem-estar é relevante em todas as fases do processo empreendedor e pode contribuir para a sobrevivência de negócios de mulheres (Ryff, 2018Ryff, C. D. (2018). Entrepreneurship and eudaimonic well-being: Five venues for new science. Journal of Business Venturing, 34(4), 646-663. https://doi.org/10.1016/j.jbusvent.2018.09.003
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, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.).

CONCLUSÕES

Este estudo tinha como objetivo comparar a autoeficácia e o BEP e as relações entre os construtos entre empreendedoras brasileiras e argentinas. Os resultados apontaram semelhanças e diferenças entre elas. As principais diferenças quanto à AEE: em todas as dimensões, as empreendedoras argentinas mostraram percepção superior às brasileiras. Quanto ao BEP, a dimensão “relacionamento positivo” apresentou valores similares entre ambas as culturas, entretanto apresentou dispersões diferentes, com média inferior das brasileiras em comparação às argentinas. Na dimensão “autonomia”, também há diferença significativa, apontando maior mediana para as argentinas. Ainda quanto às diferenças nas correlações observadas, as correlações maiores ocorreram no grupo das argentinas (relacionamento positivo e autonomia; domínio do ambiente e crescimento pessoal e definição de objetivos do negócio e gerir recursos humanos chave, entre outras).

As semelhanças identificadas foram nas dimensões “domínio do ambiente”, “crescimento pessoal”, “propósito na vida” e “autoaceitação”. Ausência de correlação positiva foi identificada nos seguintes pares de dimensões: “propósito de vida” com “desenvolver um ambiente inovador”; “autoaceitação” com “desenvolver novos produtos ou oportunidades de mercado”; “autoaceitação” com “desenvolver um ambiente inovador”; “autoaceitação” com “iniciar contatos com investidores”; e “autoaceitação” com “capacidade de enfrentar mudanças não previstas”.

Os resultados contribuem para a literatura sobre empreendedorismo porque ampliam o entendimento sobre a autoeficácia de empreendedoras examinando sua relação com o BEP (Ryff, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.). Diversos estudos foram realizados sobre autoeficácia de empreendedores, contudo não relacionaram a autoeficácia ao bem-estar de empreendedores, o que pode contribuir para reduzir níveis de estresse de empreendedoras. Esta pesquisa também amplia a compreensão sobre o desempenho do papel empreendedor por mulheres em dois países da América Latina, onde os estudos com empreendedoras são ainda limitados (Amorós et al., 2019Amorós, J. E., Poblete, C., & Mandakovic, V. (2019). R&D Transfer, policy and innovative ambitious entrepreneurship: Evidence from Latin America countries. The Journal of Technology Transfer, 44, 1396-1415. https://doi.org/10.1007/s10961-019-09728-x
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).

Por fim, esta pesquisa aborda diferenças associadas ao desempenho de empreendedoras em regiões fronteiriças, o que é importante para fomentar aproximações e contribuir para a superação de desafios relacionados ao desenvolvimento econômico e social desses territórios (Barros & Samurio, 2019Barros, P. S., & Samurio, S. E. (2019). A institucionalidade da integração fronteiriça na Unasul e no Mercosul. Boletim de Economia e Política Internacional, 25, 35-43. http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/9800/1/BEPI_n25_Institucionalidade.pdf
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; Carneiro, 2019Carneiro, C. P., Filho. (2019). La cooperación transfronteriza en las ciudades gemelas de la Frontera Sur de Brasil. Aldea Mundo, 24(47), 39-50. https://www.redalyc.org/jatsRepo/543/54364072012/html/index.html
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; Lopes et al., 2023Lopes, I. R. M., Faria, L. C. C., & Gonçalves, J. R. (2023). Mercosul: Problemas estruturais e o dilema da classificação frente aos modelos de bloco econômico. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, 6(12), 199-215. https://doi.org/10.5281/zenodo.7692527
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; Miyazaki, 2023Miyazaki, W. E. (2023). Mercosul e parceria transpacífico (CPTPP): Uma análise comparativa e pontos de interesse para a economia brasileira (Dissertação de mestrado). https://dspace.mackenzie.br/handle/10899/31882
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; Pessoa & Souza, 2021Pessoa, L. O., & Souza, L. E. S. de. (2021). A integração fronteiriça no Mercosul: Histórico, balanço e perspectivas nos 30 anos do bloco. Brazilian Journal of International Relations, 10(1), 222-252. https://doi.org/10.36311/2237-7743.2021.v10n1.p222-252
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).

Como contribuições práticas, a pesquisa apresenta elementos para a formulação de políticas voltadas ao fortalecimento do empreendedorismo por mulheres, bem como a possibilidade de promover a cooperação entre empreendedoras nos dois países. Ademais, os achados da pesquisa contribuem para que dirigentes de regiões fronteiriças levem em conta diferenças culturais, tais como as observadas, na gestão desses territórios. Sugere-se fomentar networks de empreendedoras para troca de experiências e busca de apoio visando ampliar AEE e BEP, e, além disso, programas por parte dos municípios voltados à eliminação de barreiras encontradas pelas empreendedoras que afetem AEE e BEP.

Como limitações do estudo, há os aspectos típicos de estudos quantitativos de corte transversal. Portanto, no futuro, sugerem-se estudos longitudinais, que propiciem avaliar alterações na AEE e BEP e na sua relação. Estudos futuros também podem incluir variáveis adicionais de controle, como família (como sugere Ryff, 2023Ryff, C. D. (2023). Pursuit of eudaimonia: Past advances and future directions. In L. M. Heras, M. G. Grau, & Y. Rofcanin (Eds.), Human flourishing: A multidisciplinary perspective on neuroscience, health, organizations and arts (pp. 9-31). Springer.), porte dos empreendimentos e sucesso empresarial, por exemplo. E, ainda, podem ser realizadas comparações com países de outros continentes com desenvolvimento econômico semelhante, e também avaliar o potencial impacto histórico das influências europeias na colonização da América Latina, uma vez que o Brasil foi colonizado por portugueses e a Argentina, por espanhóis.

AGRADECIMENTO

As autoras agradecem o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC) para tradução do artigo (Termo de Outorga N. 2021TR001877).

  • Avaliado pelo sistema de revisão duplo-anônimo
  • Os/As avaliadore/as não autorizaram a divulgação de sua identidade e relatório de avaliação por pares.

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Editado por

Editora Associada: Indianna Minto-Coy

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    14 Out 2022
  • Aceito
    16 Fev 2024
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