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A instituição imaginária da sociedade

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Fernando Cláudio Prestes Motta

Professor titular no Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos (ADM) da EAESP/FGV

Castoriadis, Cornélius. A instituição imaginária da sociedade. São Paulo, Paz e Terra, 1982. 418 p.

"Anuncia-se uma nova ética... não pelo caminho do medo, mas sim pelo do desejo."

(Jacques Lacan)

Na paisagem histórica que fixa nossas idas e vindas, o encontro com o marxismo é inevitável para quem se preocupa com a sociedade enquanto problema. Todavia, falar de marxismo tornou-se difícil, na medida em que é preciso saber de que marxismo se fala. Essa dificuldade se tornou ainda maior desde que o marxismo se tornou uma ideologia no sentido que Marx dava a esse termo, isto é, de um conjunto de idéias que se refere a uma realidade não para esclarecê-la e transformá-la, mas para encobri-la e justificá-la, de modo a permitir que as pessoas digam uma coisa e façam outra.

Será que toda teoria revolucionária precisa experimentar essa trajetória? Boa parte do texto de Castoriadis procura responder a esta questão. E o faz a partir da idéia de que a discussão sobre a relação do projeto revolucionário com a realidade deve ser deslocada da questão da inelutabilidade histórica do socialismo ou do não-socialismo, para a questão da possibilidade efetiva de transfornação social.

O capitalismo engendrou a oposição entre direção e execução, de modo não independente da relação entre capital e trabalho que a fundamenta. O capitalismo vive de heterogestão. Qualquer discussão sobre a possibilidade de transformação passa, portanto, pela questão da autogestão, e essa por sua vez, passa pela questão do instituinte e da autonomia.

Como afirma Castoriadis, "a história fez nascer um projeto; esse projeto nós o fazemos nosso, pois nele reconhecemos nossas mais profundas aspirações, e pensamos que ele é possível. Estamos aqui neste exato lugar do espaço e do tempo, entre estes homens, neste horizonte. Saber que este horizonte não é o único possível não o impede de ser o nosso, aquele que dá forma a nossa paisagem de existência."

Autonomia, desejo, instituinte, organização são, assim, as palavras-chave de um velho e novo projeto, cuja utopia, no sentido de impossibilidade, não cabe mais seriamente na cabeça de ninguém, a não ser nas daquelas que vivem do poder, do instituído.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1983
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