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Administração de material - um enfoque sistêmico - teoria e prática

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt Ernst Weil

Fernandes, José Carlos de Figue¡redo. Administração de material - um enfoque sistêmico - teoria e prática. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1981. XIV + 251 p. ilustrado, brochura, bibliografia, índice remissivo.

Gostaria muito de começar esta resenha com a frase: finalmente um livro nacional completo sobre administração de material. Infelizmente, mais uma vez, sinto-me frustrado - o livro mais completo no mercado ainda é o de Dean Amer, que, apesar de algumas lacunas, enfoca a maioria dos problemas existentes. Antes de tudo, Fernandes escreve um livro excelente para o ensino, mas não pode ser o único, infelizmente. O Prof. Nogueira de Faria procura indicar que o livro deve ser usado com uma carga horária de 120 horas de administração de material (ver prefácio) o que, pessoalmente, acho impossível, tal o excesso de tempo que isso daria. Usando o método norteamericano de leitura, o livro pode ser lido em aproximadamente 12 a 15 horas e deve ter explicações de classe e exercícios de aproximadamente 25 a 35 horas.

Os capítulos são nove, mas o primeiro, "Gestão econômica de estoques" - o capítulo matemático de pesquisa operacional - tem 60 páginas, e o último, "Sistema de material", referente a rotinas, fluxogramas, formulários, etc, tem 88. Então praticamente 3/5 do livro estão aqui. O resto é tratado sucintamente, e bem, mas com lacunas. Os títulos dos demais capítulos são: 2. Instrumentos de gerenciamento; 3. Racionalização dos estoques; 4. Avaliação dos estoques; 5. Inventário dos estoques; 6. Movimentação dos estoques; 7. Armazenagem; 8. Classificação de material; 9. Sistema de material.

O autor estudou muito detalhadamente o assunto administração de material. Por exemplo, numa nota de rodapé ele comunica que o método UEPS não é aceito pela legislação do imposto de renda (p. 81). Ora, na realidade isto é possível, mas exigiria uma realização de reavaliação de todos os itens no estoque, cada vez que se queria retirar o último e entrar primeiro, pelo valor da última compra. E isso é impossível. Pensei antigamente em tentar um UEPS seletivo no Brasil, somente com itens A, mas mais uma vez o imposto de renda congelou qualquer idéia. Agora, partir dessa proibição para dizer que o custo médio é o mais adequado (p. 81) é exagerado - pois ele só o é quando não há inflação com reposição difícil de mercadorias importadas, e também quando não há estoque, de tal maneira que a ponderação do último sempre aproxima o preço ao valor real de reposição. Infelizmente, isso não acontece sempre, certos itens têm de ficar meses em estoque, por exemplo, ferro fundido em envelhecimento no pátio (o autor trabalhou em siderurgia e deve conhecer o problema). Do ponto de vista do administrador, diria que o sistema de custo médio é o mais fácil de aplicar, tanto manual quanto eletronicamente, é só isso.

No caso das empilhadeiras e dos sistemas de armazenagem, o autor apresentou um capítulo desatualizado, faltando os sistema de empilhamento alto, até 12/14 m por meio de empilhadeiras tipo Ameise, e outras, já fabricadas nacionalmente, e que diminuem não só a área de estocagem necessária pela maior altura, mas também pelo menor corredor entre estantes. Quanto à estocagem de itens pelo sistema PEPS (Fifo), afinal encontrei o primeiro livro a mencionar explicitamente o assunto e acredito muito boa a idéia, principalmente para estocagem farmacêutica e de produtos facilmente deterioráveis (p. 116/117).

Há muito tempo, este resenhista tem por regra não exigir tudo sobre uma área dentro de um livro, mas deixar ao autor a seleção do que é ou não importante. Infelizmente, esta obra é um livro-texto, que deve servir para um curso, e assim, com mais umas 100 páginas, o autor teria um trabalho realmente completo. Por exemplo, senti a falta dos seguintes itens - parcialmente cobertos em outros livros nacionais, tais como Schwember e Gonçales, ou traduzidos: a) fórmulas de correção de preço de venda por índices; b) cálculo do estoque total; c) estocagem de combustíveis e seus perigos; d) o seguro dos estoques e cuidados a tomar; e) decisões sob risco e incerteza nas compras; f) peças sobressalentes; g) compras sazonais; h) venda de sucata; i) ética de compras.

O livro tem inúmeros pontos positivos - principalmente, como livro de prática administrativa - abstraídos alguns vôos mais matemáticos do capítulo 1. O autor consegue mostrar praticamente como fixar o estoque de pedido e qual a quantidade a pedir cada vez. Pela primeira vez, não me lembro ter encontrado a restrição normalmente dada, que é, que a produção do fornecedor deve ser muito superior à demanda do comprador, ou então que o lote e o estoque mudam. Outro ponto mal explicado nesse capítulo é o fato de que o custo de comprar é bastante variável com uma série de fatores:

1. quantidade total comprada (em número de pedidos) por período, pois ninguém manda comprador embora quando o número de pedidos varia mais ou menos 10%; e

2. o custo da análise qualitativa.

Não encontro também o barateador novo, a "qualidade assegurada", invenção útil que coloca além do custo de manter estoque, também o custo e a conseqüência do controle de qualidade nas costas do fornecedor.

Também neste capítulo falta a divisão dos fornecedores em A-B (60-40) ou ABC, por item comprado.

Finalmente, uma falha muito comum, a não explicitação que o custo de pedido não é necessariamente o custo de comprar por item, pois um pedido pode ter mais de um item (ou posição, como é chamado).

Com todas essas restrições, no entanto, indicarei o livro para fins experimentais em diversos níveis, o de graduação, pós-graduação e de treinamento operacional. O motivo é simples, ele tem mais assuntos que os outros livros nacionais, e posso, sem dificuldade, incluir os pontos que eu procuro explicar no decorrer das minhas aulas. A dúvida é relativa a professores que não têm estudado pelos anos de prática o assunto compras. O que devem fazer eles - comprar o livro de Dean Amer, ou tentar reunir um curso por meio de apostilas mimeografadas ou xerografadas, em contrafação das leis do direito autoral? Lembro-me na Escola Politécnica dos três tipos de apostila: a) sem responsabilidade da ilustre cátedra; b) revista pela ilustre cátedra; e, finalmente, c) com autorização da ilustre cátedra, revista.

Assim, temos um livro de administração de material bom, mas não entusiasticamente; completo, não, mas bem extenso. Espero que os alunos possam apreciá-lo como eu, dando assim ao autor força (e dinheiro) para escrever mais 100 páginas sobre todos estes assuntos que mencionei.

É boa a apresentação gráfica e fácil a leitura. No entanto, o livro não tem problemas para resolver. Outrossim, a bibliografia de livros estrangeiros pára no início da década de 70. Provavelmente, o autor, como todo professor brasileiro, ficou vítima da falta de importação de novidades técnicas pelas livrarias, que estão obrigadas a não mais imobilizar o seu capital, formando estoques, de venda sob risco ou incerteza. Só aceitam encomenda com certeza. O fato é que o próprio Ministro de Planejamento, há alguns meses, falou que passou por Nova Iorque "para comprar livros" - o que provocou o riso dos homens da imprensa, mas não o meu. Qual é a livraria em Brasília que importa os últimos livros de economia e planejamento? Ou em São Paulo ou no Rio de Janeiro? E em quatro a cinco línguas, originários de seis a nove países?

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Mar 1982
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