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Images of organization

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Maurício Hidalgo Lopes de Oliveira

Mestrando em organização, recursos humanos e planejamento na EAESP/FGV

Morgan, Garath. Images of organization. 2, ed, London, Sage Publications, 1986.423 p.

O velho conto indiano do elefante e dos cegos é bastante ilustrativo da pluridimensionalidade das organizações. O primeiro cego toca no dente do elefante e toma aquilo por uma lança. O segundo tateia o dorso lateral e julga-o ser um muro. O terceiro, por ter sentido a perna, descreve-o como uma árvore. O quarto toca na tromba e inclina-se a pensar que está diante de uma cobra. O quinto cego, tendo priorizado a orelha, toma-o como se fosse um leque. E o sexto, tocando na cauda, afirma ser aquilo mais como uma corda.

A intrigante idáia, conforme o próprio autor levanta, de que as organizações são muitas coisas ao mesmo tempo serviu de base de inspiração para a obra. A premissa de Morgan é de que as "teorias e as explanações da vida organizacional são baseadas em metáforas que nos conduzem a visualizar e entender as organizações de modo parcial". Cada imagem fornece um ângulo de visão das organizações. Assim, foram selecionadas algumas das principais metáforas, sem a pretensão de esgotá-las, para demostrar um amplo espectro perspectivas, Sob o qual as organizações vêm sendo pensadas, vistas e analisadas.

Cada capítulo do livro explora uma metáfora diferente, vale dizer, uma imagem da organização. Este ente complexo é visto como máquina, como organismo, como cérebro, como cultura, como sistema político, como prisão psíquica, como fluxo e transformação e como instrumento de dominação.

O autor se posiciona frontalmente contrário à tendência de fornecimento de técnicas simplistas dadas rapidamente para solucionar os "problemas organizacionais". Acredita que as organizações são entes complexos e ambíguos e o desafio deve ser então localizado na aprendizagem em líder com a complexidade, ao invés de supor que esta não existe, Morgan opte por empreender tal desafio através de metáforas, forma que julga ser prioritária no modo como as organizações são entendidas. Nesta perspectiva, lidar com o paradoxo e enfrentar a contradição de um universo organizacional complexo requer o desenvolvolvimento contínuo da capacidade crítica de análise. Aliás, capacidade esta que deve ser posta "a romper o modo burocrático de pensar" e a estimular a criatividade.

Cada imagem consubstanciada em uma metáfora ganha um capítulo no livro. Assim, a imagem da organização como máquina explora basicamente a ascensão da organização burocrática, o scientific management e as formas mecanicistas de pensar e organizar. Ilustram esta metáfora as epígrafes "estabeleça objetivos e metas e vá atrás deles", e "organize de modo racional, eficiente e claro".

A organização como organismo tem o foco de atenção nas correntes que elegem as relações com o meio ambiente e as "necessidades" individuais e organizacionais como categorias prioritárias. A metáfora é ilustrada por exemplos retirados de teorias organizacionais como a escola de relações humanas, o movimento socio-técnico, os sistemas abertos, a teoria da contingência, entre outras.

A organização vista corno cérebro concentra o foco de análise em processamento de informação, sistemas de inteligência e exigências de flexibilidade e inovação nas organizações modernas. Já na. organização como cultura são explorados os valores, as idéias, as normas, os rituais, as cerimônias, enfim, aqueles traços que "sustentam as organizações enquanto realidades socialmente construídas".

A imagem da organizado como uma esfera política aborda questões relacionadas com interesses, conflitos e poder. Morgan dá ênfase nesta metáfora ao enfoque pluralista das organizações. No capítulo seguinte, o autor recorre a uma metáfora mais abstrata, ou seja, a idéia das organizações operarem como prisões psíquicas, Esta imagem tenta revelar como os indivíduos se tornam prisioneiros de processos conscientes e inconscientes, levantando aspectos ideológicos do universo organizacional.

Na metáfora da organização como instrumento de dominação é investigado como a essência da organização revela a imposição de vontade de uma elite sobre os demais grupos sociais.

Demonstra-se ainda como o mito da racionalidade inerente ao processo produtivo acaba por legitimar a ação de grupos dominantes.

O pensamento vivo de Gareth Morgan transpassa com freqüência os confins da teoria das organizações, recorrendo por vezes a contribuições da biologia, da psicanálise, da ciência política, da holografia, etc. A demais, vale salientar, a separação das metáforas e das imagens não deve ser interpretada de forma estática, mesmo porque "a divisão entre as diferentes dimensões está mais em nossa cabeça do que no fenômeno em si", isto é, na organização. Enfim, images of organization vem trazer uma rica contribuição a todos aqueles que se interessam por formas críticas e criativas de análise e de possibilidades de ação sobre um ente complexo e paradoxal.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1988
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