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Observações sobre o problema do planejamento

EDITORIAL

Observações sobre o problema do planejamento

Das várias atividades que são desempenhadas pelos homens em posições administrativas, a que tem merecido maior destaque é o planejamento. A nosso ver é de interesse que se faça um breve retrospecto de seu desenvolvimento.

A consulta de textos sôbre administração e sobre a prática administrativa em fases recuadas do desenvolvimento industrial dos países, hoje desenvolvidos, não nos permite encontrar um tratamento adequado do problema. O planejamento era antes visto como uma contradição em termos, pois a atividade econômica, a conseqüentemente a atividade empresarial seriam por definição "naturais" e, portanto, auto-controláveis. A aplicação de um quadro conceituai de fundamentação fisiológica à consolidação da então nova ciência econômica, fazia com que se aplicasse ao campo da atividade econômica os padrões teleológicos do determinismo biológico segundo o qual a atividade em questão não estaria sujeita à intervenção exterior. A interferência no processo abriria a porta para que se arriscasse romper a "racionalidade" do sistema que se desenvolveria otimamente pela sua própria lógica interna.

Destarte, a idéia de planejar só foi aceita e gradativamente introduzida no setor da atividade econômica mediante duras e penosas experiências. Estas foram propiciadas pelas depressões que experimentava a atividade econômica definidas como "ciclos econômicos". A constelação de fatores negativos trazidos pelas recessões pouco a pouco foram tornando insuportável a simples idéia de sua reaproximação. O acompanhamento inevitável seria negação do esquema conceituai tomado de empréstimo às ciências biológicas e a decisão de aplicar às atividades econômicas o modêlo tradicionalmente utilizado nas ciências de tipo físico-matemático, ou seja, não limitar-se ao entendimento do processo, mas sempre que possível equacioná-lo matemáticamente e tentar controlá-lo pela manipulação das variáveis determinantes do processo.

A idéia de planejamento encontraria assim suas origens numa teoria econômica neo-capitalista, mais vinculada ao "keynesianismo" e marcaria o abandono definitivo do laissez-faire e a intervenção direta do homem nos mecanismos econômicos. O "keynesianismo" foi especialmente inspirador da ação governamental exercida através de políticas fiscais, que abandonaram a tradicional concepção de que a função primordial e exclusiva de qualquer política fiscal seria a de fornecer receita ao Estado a fim de que êste pudesse pagar as despesas decorrentes da manutenção de uma "burocracia", para que se visse na política fiscal um instrumento adequado para estimular e/ou inibir, segundo diretrizes prèviamente estabelecidas, determinados movimentes do sistema.

Ainda no setor governamental, podemos observar que gradativamente o Estado, particularmente nos países menos desenvolvidos, passou a assumir a responsabilidade direta pele crescimento econômico. Isto implica sua atuação não apenas na elaboração de uma política econômica, financeira e fiscal destinada a estimular a atividade do setor privado da economia, como também em intervir diretamente no processo, atuando como empresário através das grandes emprêsas estatais ou de economia mista.

No plano empresarial cremos ter o planejamento surgido e se imposto como uma necessidade por mecanismos e causas que não divergiram fundamentalmente das que levaram à implantação do planejamento no setor governamental.

Nos Estados Unidos, após os efeitos da crise que se estendeu por quase tôda a década dos trinta, assistimos ao estabelecimento definitivo das grandes "sociedades anônimas" com sua configuração atual. O fim do "esforço de guerra" criou a necessidade de que se volvessem os esforços empresariais para o mercado interno, onde se teria então a fonte de receita que permitiria a própria sobrevivência da emprêsa. Não seria mais possível, dado o caráter gigantesco das sociedades anônimas, a complexidade de suas operações e a diversificação de características de um mercado competitivo, prosseguir com os padrões de gerência que havia predominado em épocas onde a função de produzir sobrepujava em importância a de vender. Como adequadamente foi observado por K. GALBRAITH em seu livro The Affluent Society a produção perde importância numa economia de afluência, que tende a transferir-se para as atividades de mercadização. Estas não seriam exequíveis sem que um minucioso planejamento se implantasse que cobrisse todas as esferas da atividade empresarial, sem todavia olvidar a ênfase na mercadização que é o seu ponto de partida. Desta forma surge nos Estados Unidos e se estende por todo o sistema empresarial de tipo privado, mesmo que opere em países não desenvolvidos, a idéia do "corporate planning".

O "Corporate Planning" tem como fundamento que tôda atividade empresarial deve ser planejada sob pena de não se poder alcançar a eficiência máxima desejada como objetivo fundamental da atividade da organização de tipo econômico. Não importa qual o conteúdo que se dê a esta eficiência, seja a maior lucratividade, seja o atendimento do maior número possível de consumidores (vendas máximas) obtendo-se u'a margem razoável de lucro, ou simplesmente a prestação de serviços, ela não poderia ser atingida sem o instrumento que é o planejamento.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1967
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