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Editorial

Editorial

Como faço habitualmente, dedicarei algumas palavras a alguns dos artigos que estamos publicando neste número. O fato de não mencionar outros não implica nenhuma atitude valorativa com relação aos artigos não mencionados.

Apresentamos um conjunto de artigos que integram o nosso Fórum de Redes Sociais e Interorganizacionais. Como

o leitor perceberá ao ler os artigos, especialmente a introdução ao fórum, o desenvolvimento do tema é recente. Surgiu há muito pouco tempo, não sendo possível estender suas raízes para além de três décadas atrás. Entre outras coisas, a abordagem de redes é um esforço para entender uma sociedade que já foi adjetivada de várias formas: complexa, múltipla, poliárquica e pós-moderna, entre outras qualificações. Na verdade, o esforço para elaborar uma explicação de nos-sa realidade social a partir das redes é o reconhecimento de que as abordagens passadas acabaram por se esgotar ou foram simplesmente insuficientes.

Dentre os corolários possíveis para uma explicação da realidade em termos de redes, uma é que esforços individuais e organizacionais são sempre limitados. Muita coisa dependerá de onde se está inserido. Se a inserção for favorável, o indivíduo ou a organização poderá ter um itinerário e um destino bem diversos de outros que não sejam tão beneficiados pela rede ou redes de que participam. Sob esse aspecto, temos um distanciamento da visão meritocrática individualista, em que as carreiras pessoais e os desempenhos organizacionais eram vistos como o resultado tão-somente de esforços e capacitações de indivíduos e de esforços das organizações.

A abordagem permite ainda uma leitura solidária. O desempenho de uma organização não resulta apenas de suas competências e esforços, mas depende de um complexo conjunto de relações que só podem ser percebidas e entendidas no contexto de uma rede. Essa é a razão pela qual a abordagem tem fascinado estudiosos de fenômenos da área organizacional e da sociologia econômica como os freqüentes processos de fusões e aquisições de empresas. Igualmente importante é a aplicação dos conceitos ao entendimento do relacionamento de uma organização com os diversos atores individuais e organizacionais aos quais está vinculada. O desempenho dependerá de uma rede de fornecedores, de organizações que atuam nos canais de distribuição, de agentes financeiros, de organizações que atuam no mercado de capitais, de agências governamentais e assim por diante. Todas essas considerações permitem constatar que a abordagem é extremamente fecunda e que muito pouco ainda foi feito para explorar todas as suas possibilidades de explicação da realidade social.

Gostaria de chamar a atenção sobre a “RAE-Documento”, que inclui as entrevistas de Antônio Carlos Kfouri Aidar e José Carlos Brunoro, no momento em que acabamos de ser excluídos da Copa 2006, não chegando às semifinais. Desonra imperdoável, segundo a torcida verde-amarela, para um futebol pentacampeão.

As duas entrevistas são convergentes, e, respondendo ao mesmo conjunto de perguntas, ambos lembram que o futebol brasileiro, jogado no Brasil e para torcedores e espectadores brasileiros, poderia ser bem melhor do que é. A maneira de se conseguir isso seria pela via da profissionalização dos clubes de futebol, afastando das gestões dos clubes

o amadorismo e o diletantismo, que infelizmente às vezes encobre procedimentos pouco éticos de dirigentes. A cartolagem tem produzido danos razoáveis ao nosso principal e mais popular esporte. Mas aqui nos deparamos com várias dificuldades institucionais. Não é apenas a legislação federal que é desfavorável, mas também o formato organizacional e societário onde o futebol é praticado. Este acontece no interior de clubes e não de organizações que tenham compromissos com desempenho e eficiência. A sociedade em forma de clube parece adequada ao exercício de atividades de lazer, mas onde não haja nem volume de operações nem aspectos financeiros importantes, como a geração de lucros e superávits. Quando qualquer dessas coisas ocorre, o formato de clube deve ser abandonado. Atualmente, o que se fez na Europa foi transformar vários clubes de futebol em negócios, tornando-os empresas, já que na verdade são negócios há muito tempo. Em nosso país estamos longe de poder caminhar nessa direção.

Mesmo que encontrássemos uma solução e que passássemos a administrar profissionalmente nosso futebol, restaria ainda uma dificuldade fundamental. Para poder fugir à sina de desenvolvedores de jogadores para venda no mercado europeu, amealhando bons milhões de dólares, teríamos que aqui reter nossos fenomenais craques. Mas esbarramos numa dificuldade, por ora intransponível, que remete à nossa pobreza e à riqueza européia. Os jogadores mais bem pagos no Brasil não chegam a ganhar um décimo do que ganhariam se jogassem na Europa. Algum ceticismo deveria aqui ser colocado com relação à profissionalização do futebol como forma de solucionar a questão. Isso não é uma defesa do formato atual e uma oposição à profissionalização. Simplesmente o futebol é mais uma realidade que aponta que ainda estamos na vala comum do Terceiro Mundo, apesar de pentacampeões.

Finalizamos chamando a atenção sobre os dois artigos reproduzidos na “RAE-Clássicos” sobre marketing de relacionamento e a apresentação de Angela da Rocha e Fernando Bins Luce. Fiéis ao espírito dessa seção, buscaram artigos que nos mostram as fontes de um movimento que acabou por transformar a prática e a teoria de marketing.

Aos nossos leitores, mais uma vez, desejamos uma leitura proveitosa.

Carlos Osmar Bertero

Diretor e editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Ago 2011
  • Data do Fascículo
    Set 2006
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