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O desenvolvimento pela educação

EDITORIAL

O desenvolvimento pela educação

É ponto pacífico que de todos os recursos capazes de acelerar o progresso dos povos menos desenvolvidos a educação é o mais importante. Não é sequer exagêro considerá-la, mais do que um dentre vários recursos, verdadeira conditio sine qua non e até mesmo conditio causae agentis do desenvolvimento, pois somente por ela é possível garantir o aparecimento, a preservação e a ampliação dos demais meios de que se podem valer os países para sair de seu atraso econômico-social.

Muito menos pacífico, infelizmente, é o debate que se mantém vivo nesses países sôbre a quem atribuir a responsabilidade pelo oferecimento, a cada cidadão da comunidade, da oportunidade de educação compatível com sua inteligência e sua capacidade. Para uns essa responsabilidade é eminentemente pública, vale dizer, do Estado e de suas instituições; para outros é particular e se reserva à iniciativa de quem queira prestar serviços nesse sentido àqueles que possam pagar por êles.

Dos argumentos contra a atribuição da responsabilidade pela educação ao Estado impressiona particularmente o de que, havendo escassez de recursos públicos para êsse fim e sendo, portanto, impossível oferecer oportunidade igual a todos os cidadãos, é lógicamente insustentável que toda a comunidade arque com os custos da educação de alguns de seus membros, pois responsabilidade pública significa, na verdade, educação cujo custo é repartido por tôda a população.

Mas, os partidários da educação pública respondem a êsse argumento com outro pelo menos tão impressionante: o de que grande número de indivíduos que tiveram sua educação custeada pela comunidade - e portanto se colocaram na posição de contribuir para o progresso dessa comunidade - jamais poderia ter reunido recursos para educar-se. Não houvesse a repartição de custos, a comunidade teria deixado de educar também êsses indivíduos, com evidente prejuízo para seu próprio progresso.

Terá sido talvez pela força dêsses dois argumentos que a maioria dos países optou por dividir a responsabilidade pela educação entre o Estado e os educandos. No Brasil é vigente o sistema em que a educação primária, a secundária, a profissional e a superior são oferecidas por órgãos governamentais e por instituições particulares.

Porém, nem mesmo a soma de esforços, tal como até aqui tem ocorrido, vem sendo suficiente para educar cidadãos em número e nível suficiente para a tomada do ritmo de desenvolvimento que interessa aos povos em atraso. É notória, por exemplo, a falta de vagas nas escolas superiores brasileiras - públicas e privadas - em relação à procura cada vez maior de jovens que pretendem ingressar nas profissões liberais, na carreira pública, na administração de emprêsas e em outras áreas de ação que visivelmente estão, como as citadas, carentes de pessoas especializadas.

Não é por outra razão que há muito se proclama a urgente necessidade de novas soluções para uma situação que evolui de medo dramático. Dentre as novas soluções propostas para suprir a insuficiência de profissionais formados, destaca-se a de concessão, por entidades privadas - a exemplo do que se faz nos países desenvolvidos - de bolsas de estudos a alunos que de alguma forma demonstrem mérito escolar e/ou necessidade de auxílio financeiro para custeio de seus estudos.

Essa solução começa a popularizar-se entre nós, mas de forma assistemãtica. É oportuna, por isso mesmo, a constituição - recentemente aprovada pelo Conselho Diretor da Fundação Getúlio Vargas - de Fundo de Bolsas destinado a alunos dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da Escota de Administração de Emprêsas de São Paulo que de forma duradoura procura resolver o problema de insuficiência de profissionais para gerirem nossas emprêsas. Os recursos iniciais estão sendo levantados junto às emprêsas privadas. Mas o Fundo não se exaure aí, pois os beneficiários das bolsas se obrigam a restituir as importâncias que tenham recebido durante o curso quando estiverem em condições de fazê-lo. Assim, mediante contribuição inicial das emprêsas, garante-se base financeira para a formação acadêmica de jovens que, uma vez formados, devolverão ao Fundo o custo de sua educação, garantindo a formação de novos alunos que, por sua vez, garantirão a formação de outros, e assim por diante, pràticamente ad infinitum.

Ac propiciar permanentemente condições de ensino superior em Administração de Emprêsas àqueles que não têm condições econômicas para realizá-lo às suas expensas, a Escola está, na verdade, resolvendo o velho dilema entre educação pública e privada, pois, sem exigir sacrifício do jovem e sem depender indefinidamente de recursos da comunidade, contribui para a formação de administradores altamente qualificados em número que atenda ao reclamo básico de desenvolvimento econômico do País.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1966
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